quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Bons e Raros Momentos




Alguém já abriu os olhos bem de manhazinha, ao som de Beethoven, em sua canção Sonata ao Luar? Pois é... Senão fizeram, façam sempre que puder. É como se Deus estivesse burlando em nossos corações, como força máxima de expressão divina tentando sair pelos olhos, boca, mente, alma ao encontro de sua Origem.

É como se andorinhas sagradas rondassem o nosso sol interno, sem a mínima vontade de pousar... E Belo! Eu, em minhas andanças, em meus erros cotidianos, encontro sempre uma pequena virtude em meus atos – ainda que pobres – quando a escuto.

Dizem que Beethoven, o músico que ficou surdo, e que compôs a mais bela música de todos os tempos (a Nona Sinfonia), estava passeando pelas ruas de sua cidade natal, quando vira uma senhorita na sacada de sua casa de dois andares, a sorrir para o alto, como se estivesse presenciando a lua – ela era cega! – porém, o músico, ao saber, foi por ela questionado acerca da bem aventurada lua, no tocante à sua beleza, à sua natureza... Então, sem palavras expressivas para detalhá-la, fez “Sonata ao Luar”, na tentativa de descrever a Lua para aquela senhora.

Não sabemos se conseguiu ser vitorioso em sua semântica musical, mas quem a escuta sente o sabor divino dos astros, não somente da lua, mas do universo inteiro, isso até que ela termine. É um raro momento.

O mesmo sentimento, assim, deposito em canções de Bach, principalmente em “Jesus Cristo, Alegria dos Homens”. Deixando de lado nosso lado separatista, ouço com a finalidade de encontrá-lo (Cristo) em mim, de forma que me faça mais forte, sem medo e quem sabe um pouco mais sábio. E encontro.

Todo nosso aspecto físico, nesse instante, serve, nada mais, como meio no qual as canções dançam, se encontram, nos transportam e nos elevam ao pico de uma alma solitária, e que recebe a vista de deuses em forma de notas musicais.

As palavras, aqui, perdem seu sentido. Não há como encontrar um termo, seja ele pequeno ou grande, inglês, francês, português... Apenas um ouvido, uma mente, um coração, uma alma, na espera e ao passo dentro de seu âmbito natural – ouvir, refletir e sentir...

Semelhante momento, vivemos em um teatro, quando ouvimos uma sinfônica (ou filarmônica, cujo termo vem de “buscar harmonia”), e em seus preparativos. Ao sentar-se, todos se falam, cochicham, sorriem, se abraçam... Porém, ao iniciar o primeiro Ato, de outros quatro ou cinco Atos, o silêncio nos vem. Todos, calados, sentados, como numa sessão de hipnose coletiva, ouvem.

Ali, cheios de problemas cotidianos e diferentes, revelam-se iguais em comportamentos, em educação. A música, assim, faz o seu papel. Penetra quente em nossas almas crianças à espera da Musa, que tomará até mesmo nosso espírito emprestado por alguns instantes, até o termino de todos os atos.



Esse teatro, lotado, imune a loucuras, sorri lá dentro de seu coração, como se uma entidade o tivesse visitado, e todos se embriagado por suas palavras. Mas ali, não havia palavras, não havia nada, apenas o som do passado ressoando como uma voz distante e ao mesmo tempo presente, invocando o nosso melhor lado, o humano. Sem palavras!

Água e Fogo.

Dizem que Mozart fora influenciado por Bach, seu contemporâneo, por visitas que aquele fazia a este, quando tinha problemas diários. Mozart, como todos sabem, não fora bem aceito em lugares que, hoje, é visto como um Deus. No entanto, à época, seus sonhos estavam frios, suas músicas revelavam-se sem personalidade, e Mozart não conseguia sucesso... Então suas visitas eram constantes a Bach.

Com ele, Mozart sentia-se um filho de um pai espiritual, o qual possuía dons não compreensíveis pela sociedade da época. Na realidade, Bach tinha apenas um dom: o de ver a simplicidade em tudo. Seu caráter, baseado em tal premissa, nos legou canções que, com o tempo, com certeza, mudará o rumo de uma humanidade irascível.

Bach se aprofundava em si mesmo, buscando a beleza humana da alma, de sua alma. Ao contrário de Mozart, que, em adolescente prodígio, embora possuísse dons belíssimos para compor clássicos, também tinha problemas familiares, o que o atrapalhava na consecução de seus fins musicais. Mesmo assim, este músico cresceu, desenvolveu-se e se tornou inesquecível por canções idem.

A música, por si só, seja de Bach, Beethoven Mozart, tinha uma vertente: elevar o homem, fazê-lo encontrar o cimo de sua alma ao encontro de Deus, o espírito no homem. A música dos clássicos tinha a sua finalidade, integrar o que há de mais belo no ser humano, ao que há de mais belo na natureza. Assim, não era difícil, naqueles tempos, em todas ocasiões, consertos ao ar livre, consertos em festas, consertos em vários lugares aos quais hoje chamamos de parque, auditórios, palanques... E não era cansativo. A música, quando cumpre sua finalidade, ou cumpria, trazia aos homens mistérios dos quais eles faziam questão de buscar, pois sabia que, nela, ele – homem – também estaria, não como um ser louco, débil, paranoico, mas semelhante a um criador de universos, nos quais quem escutava nele mergulhava, e jamais sairia...

Os bons momentos somos nós que fazemos, seja escutando um clássico pela manhã, nos lembrando de entes queridos, ou criando meios de elevar-nos sem aquele pensamento corrosivo que nos consome diariamente, graças ao terror do mundo, e nos faz crescer como pessoa, nem que seja pelo breve momento daquela canção que vagou por alguns minutos em nossos corações.




Ao Mestre Carlos Ilha,
que me "ensinou" a ouvir.



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