quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Dédalo e Ícaro (ensaio II)




O homem moderno possui aspirações modernas, o que não o difere dos outros do passado que também a possuíam. Algo ( o objeto) que o difere na realidade são os valores pelos quais se vive. Não são mais os mesmos. O capitalismo se enraizou em nosso âmago como se fosse aquela espada que se fincara presa na pedra, no mito arturiano.

Mas falar de capitalismo é falar de uma bola de neve, não o que a tornou bola de neve. Na verdade, passamos por períodos sombrios – como a Idade Média --, os quais, até hoje, se deteriora nas colunas mais importantes da sociedade, como a religião, política, família, dentro das quais se pode perceber que há um resquício de voluveidade do passado frio por que passamos. A Idade Média, talvez, tenha sido o principio da grande bola de neve.

Esse estado de decomposição dos valores pode ser visto nas esquinas do esquecimento, nas quais crianças se marginalizam, são presas, mortas às escusas; nas quais, senhores de idade são desrespeitados, e não há legislação que os proteja do mundo de forma clara... Assim, o esquecimento se faz, não só do que realmente éramos como também do que realmente somos...

Por isso, fica um tanto quanto difícil interpretar um mito. Se não vivenciamos reais valores, como identificar de forma clara o que somos por meio de uma ponte que nos fora deixada há milênios? Isso serve para não somente os mitos, mas para toda literatura clássica semeada pelo passado, contudo colhida de forma pessoal, interesseira por um presente que reflete um futuro mais sombrio do que a própria Idade Média.

É preciso nos despir, um pouco, dessa roupagem que nos sufoca è medida que falamos, andamos, e consequentemente nos mata.

Nas Civilizações...

Em todas as civilizações, sempre houve um estudo profundo acerca da alma e do espírito. Todas elas tinham sua definição acerca do universo, do homem, e da natureza como um todo. O nome de tudo isso reunido era Deus. Desde a mais ínfima partícula, até a maior delas – fosse uma montanha, um cometa ou o maior planeta --, a palavra Deus (deuses, Zeus, etc) era pronunciada como uma definição única. Na matemática grega, o símbolo de Deus era o Zero (0), por ser o inicio e o fim de tudo; ou seja, ali estariam reunidos todos os enigmas, mistérios, desvendados ou não, sintetizados em um só símbolo.

Tudo era símbolo para os iniciados. Cada um possuía uma carga do todo, de Deus. Não só para os iniciados, mas a todos cuja cultura, vivência, dependia de fatores religiosos os quais foram criados a partir de outras culturas, mais ricas, mais sábias. Por isso é que se diz que o símbolo, o mito, o conto não possuem donos, são atemporais – a Grécia, como foi dito, talvez fosse a única a fazê-lo com maestria. Não se sabe quem os inventou, mas, de alguma forma, são estruturas que ensinaram a Europa Ocidental e Oriental na educação clássica, com leituras de Homero, Heródoto, Platão, Aristóteles, etc, a ser o que são hoje: potências em cultura e educação.

Voltamos para finalizar.



terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dédalo e Ícaro (ensaio I)

“- Icaro, meu filho – disse ele quando tudo ficou pronto -, recomendo que voes a uma altura moderada, pois se voares muito baixo, a umidade emperrará tuas asas, e se voares muito alto, o calor as derreterá. Conserva-te perto de mim e estarás em segurança”.





De acordo com a mitologia grega, os mitos serão sempre uma realidade tão cheia de mistérios, que se torna uma aventura encontrar uma resposta ao que eles nos oferecem. É o mistério.

Ao contrário do que se pensa hoje, a palavra mito não significa “mentira”, que desfaz o conceito tradicional, simplesmente porque foge a uma realidade literal a que estamos acostumados, mas uma forma de velar uma realidade na qual estamos inseridos.

É o caso do conto. O conto vem sendo passado há séculos, e nem por isso devemos levá-lo como uma mentira apenas pelo fato de levar, em seus elementos básicos, figuras criadas pelo imaginário do autor com a finalidade de desenvolver e explicar um universo no qual não estamos presentes, porém estamos sendo representados por outras figuras. Os Druidas que os digam.

O mito se desgarra do conto. É algo mais transcendente. Explica, em seu teor, o universo humano na sua essência mais profunda. E os gregos sabiam fazê-lo como nenhuma outra nação... Inserindo deuses, heróis, semideuses, guerreiros...

Assim, não é de forma gratuita que nos inserimos nesse contexto mítico e retiramos tesouros que alimentam a nossa imaginação e se revelam essenciais à sobrevivência do grande legado deixado pelos sábios de todos os tempos. Temos que nos referenciar, sempre, na essência humana, e naquilo que somos mais frágeis, ou seja, em nossa personalidade na tentativa de compreender o que é espírito.

Contudo, pela falta de uma educação clássica, temos que nos despir de nossos valores atuais e nos vestirmos de gregos, assim como um Sócrates, um Platão e Aristóteles, os quais passeavam, com pés descalços, e respirarmos um ar de sabedoria, vindos das montanhas gregas, as quais, sobretudo, eram expectadoras da história que por elas passava e deixava rastros, que, até hoje, nos inspiram.

Mais do que isso, entender que o povo grego possuía uma educação mais elevada baseada em princípios mais elevados, mais próximos do que hoje chamamos espírito.

Na realidade, a pedagogia grega não era semelhante a dos tempos atuais, claro, pois o que nos restou de clássico daqueles tempos foi a preocupação com o ensinar, passar ao outro, levar para entender e assim por diante – diferente da preocupação em entender e se fincar no sagrado.

Todavia, não era uma preocupação, mas sim uma natureza advinda da origem grega, a qual tinha a complexidade de inteirar o homem com o uno. A complexidade, no entanto, para eles, não existia, era simplesmente um valor adequado ao que o homem, desde épocas douradas, se integrava, não com participe, e sim como integrante de um cosmos.

Tal ensinamento perpetuou-se em escolas iniciáticas (como a de Eleusis), assegurando que nem tudo poderia ser passado ao homem comum. E o foi. Até hoje, claudicamos em entender a mitologia grega, que, para nós, nada mais é que um monte de deuses mandões, em conflitos com seres humanos, retratados, infielmente, pelos enlatados americanos.

Infidelidade já dita por Platão em “A República”, ao se referir aos deuses referidos por Homero, os quais estariam sendo tratados como seres antropomórficos. Quase humanos. E hoje, sente-se à distância o que o filósofo previra.

Contudo, sente-se também a filosofia grega não fora um tanto quanto incompreendida com o passar do tempo. O simbolismo antigo fora apenas desgarrado de suas pretensões, e iniciou-se a chamada relativa degradação do conceito das formas antigas, dentro das quais guardava-se a essência natural.

E ainda se guarda! O homem moderno sofre apenas pelo desapego ao fora o símbolo, assim, ficando mais fácil desvirtuar, inventar, cada um com a sua personalidade opinosa, o que há muito tinha apenas um significado.

O mito era assim.

Voltamos no próximo texto.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Perfume das Rosas

Em dias de frio, ficamos em casa, buscando fazer algo, como se ali fosse o único lugar do mundo no qual podemos correr, brincar, jogar, tomar cervejas, entre outras coisas, enfim, nos alojamos dentro de nossas cavernas modernas, acreditando piamente que, ali, jardins serão feitos, rosas serão regadas, frutos colhidos... Criamos ilusões.

É de matar esse frio. As dores na coluna, a desconfiança do próximo, o medo de levantar – não só pelo frio que faz, mas pelo enfrentar da vida --, o andar pela casa, o tropeçar na criança... As pequenas brigas. Tudo de maneira como se nosso universo estivesse ali, reunido entre paredes bem ou mal estruturadas, servindo de suporte a quadros, a estantes, TVs...

Até mesmo aquele vaso de flores de plástico começa a fazer sentido. Suas cores, seu cheiro-sem-cheiro. O sentido daquilo que nunca tinha sentido começa a ter... Sentido. Apresentadores de televisão, revistas antigas, o espaço da casa, do banheiro, o comportamento dos sexos em meio a uma casa que nunca teve gente o suficiente, o piso... Coisas que geralmente passam despercebidas e que começam ter vida, ainda que não mereçam.

Nosso mundo diminuiu. Nosso universo, frio, agora regado a reclamações, caras feias, a choros de crianças, choros de adultos, se torna pequeno, sem direito ao sol de cada dia.

Contudo, lá de fora, como uma mão oculta que ultrapassa janelas e nos chama para entender a vida, vem o perfume das rosas. Vermelho, fino, constante, embriagador, ele vem das crianças que passam sorridentes nas ruas, dos homens cujo sol, ainda que pálido, opaco, e frio, revela-se quente a medida de nossos passos frente à janela.

E no parapeito, nas grades daquele pequeno espaço, percebo outro mundo, o real, no qual famílias contemplam outras famílias, homens reúnem-se, como heróis, em meio ao frio da manhã, em conversas sorridentes, e de longe percebo que minha caverna nada mais é que uma compilação do medo de sair às ruas e deparar-me com pessoas, com o estranho, com o misterioso de cada um, assim, fico realizado em criar outro universo – o das paredes.

E o perfume continua a me trazer mais rosas em forma de pessoas jogando bola, correndo, caminhando, sorrindo, ainda que encolhidos em casacos finos, o que me fazia ficar invejado daquela coragem... Todavia, eu não conseguia sair, apenas sorrir fracamente pela minha fresta gigante, gradeada, como se preso eu estivesse. Talvez, como diria uma grande professora minha, talvez.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Abra as Asas, minha Liberdade!

Singrar nos mares bravios da vida, ancorar em terras inóspitas, descobrir mistérios além-vida, a vida, a sorte, re-velar a morte, sangrar até a última veia em nome do amor. Sorrir ao vento, sem medo de correr, voar, cair, tornar a levantar, levitar, ser mágico, ser vivo, ser humano!

Abrir os braços à vitória, e a derrota que venha em forma de nuvens, e nós, em forma de sol, chuva, arco-íris, amar, como nunca Isis, e dela retirar o véu; ir para o céu, dar bom dia a Deus, penetrar nos vícios e deles sair sem arranhões, sem saudade; dar ao mundo o que tenho, o que temos, o que posse ter, o que eu sou, em nome de uma humanidade que ama, trabalha, sofre e está sempre em busca da paz.

Sonhar o melhor sonho! Sonhar com Deus, apertar-Lhe as mãos, e dar graças à nossa aventura diária de estar vivo, contemplando o sol que nos ronda, que se esconde e sempre nos aparece belo, independente do mal do homem mau. E nesse sonho, alcançar a alma, dar-lhe referenciais naturais pelos quais viver, e, acima de tudo, alcançar, por ela, o grande espírito em nós, que amável e leve, nos espera no terceiro andar de nossa pirâmide interna.

Vamos duelar, batalhar, criar guerras, porque através delas subimos, nos elevamos, vencendo ou perdendo. Vamos, mais uma vez, evitar o evitável, não nos deixando corromper pelo frágil, simples, mas também complexo e negro lado monstruoso o qual nos subtrai as esperanças – artigo do qual vivemos, ainda que seja debaixo de chuvas ácidas.

Não nos deixamos levar pelo mal; lutemos até o ultimo grisalho que conosco se vai ao caixão. Mesmo que seja tão difícil, nada melhor do que viver em função de algo que nos torna mais humanos, melhores e até mesmo deuses caminhando com sapatos furados...

E por fim, respirar fundo, e estar pronto para as armadilhas da vida. Caindo, todavia, ser mais esperto do que aquele cavalo que se afundou na areia movediça, e morreu por ignorância. Ser esperto, mas não desconfiar do próximo. Este, devemos amar sempre ainda que seja um tolo.

Aos Amigos de sempre.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Integração, harmonia e outras coisas.

Ninguém é uma Ilha.

Depois que se nasce, há muitos que “perambulam” ao nosso redor, na tentativa de nos fazer sorrir, nos acalentar, pois choramos, choramos, como que um bezerro desmamado, ou mesmo um cãozinho perdido da mamãe. Depois que crescemos, nos enturmamos, falamos as gírias do grupo, nos divertimos... Após um tempo, criamos mais energias para o estudo, para a vida, e encontramos, nas faculdades, universidades ou em viagens, mais pessoas, e por fim, mais amigos... Nunca ficamos sozinhos, por mais que queiramos. Não é um fardo.

Uma ilha não é uma porção de terras no meio do mar. É o mar integrado pela força de uma porção de terras que exige sua amizade, o qual sempre a corresponde com suas batidas. Não é um pequeno ninho (ou grande ninho) de terras solitário (ou não), esperando que o mar o invada, não, não é. É a nossa visão de vida que nos isola do outro e de tudo, e nos faz ver as coisas de maneira separadas.

Há muitos humanos que se subjulgam especiais e querem a privacidade eterna, e, na clausuridade, clamam ao deus do nada, gritam e pedem socorro internamente, simplesmente porque não conseguem aceitar o fato de que precisam de alguém, ali, ao seu lado. E nessa teimosia, esperam que haja “discípulos” dessa filosofia gerada pelo medo do próprio ser humano.

E nesse ritmo, vão-se os conceitos humanos nos quais a própria vivência em conjunto não vale à pena; aqui, ideias de que humanos não prestam, de que cachorros são melhores amigos, de que é melhor adotar um animal que um ser humano, contaminam gerações. O resultado, nas ruas, se vê. Crianças abandonadas, homens feitos caídos ao chão sem o mínimo de ajuda. Homens que um dia foram milionários, hoje, caídos em esquinas, filhos de um sistema que diz “é melhor dinheiro na conta do que amigos na praça, pois podemos comprar tudo, até amigos”.

Não se pode comprar amigos, apenas conquistá-los. Até mesmo os irmãos, às vezes, temos que conquistá-los, pois são almas diferentes, e, como pequenas plantas, temos que regar sua irmandade, todos os dias, ou então nos afastamos de seu carinho e compreensão. Enfim, a família, como um todo, toda ela, é um reflexo de que precisamos nos integrar, seja por meio de festas, churrascos, fofocas, diálogos informais chulos, formais, cultos, líricos, clássicos rs, é um laboratório natural da vida, no qual, se não formos bem educados por meio de regras que nos integrem, sairemos às ruas procurando algo que nos faça. Daqui vêm os inimigos-amigos.

Família

Já perceberam que a mãe tem um poder incrível de união? Em todos os casos que conheço, o pai, ainda que seja o grande disciplinador da casa, não tem tanto poder quanto à mãe no quesito união. Sabe por quê? Por causa do amor que ela distribui à família. O amor, como peça principal, é a ponte para a união, integração e harmonia do todo, e na família, a mãe o representa de forma maravilhosa.

Pode ser o filho que mais erra; a filha mais desgarrada; não importa. A mãe sempre vai trazer para o seu ninho, com o devido amor que merece, aquele ser. Não, não importa o que dissemos, ela terá sempre uma palavra bruta e ao passo justa e carinhosa ao filho que se julga culto ou inteligente em demasia para enfrenta-la. E assim, predominam todos unidos dentro do grande circulo chamado família...

Integração

Há hiatos nos separando. E isso nos faz isolados, ainda que em meio a um maracanã lotado. Para integrar-se é preciso levar em consideração que somos psicologicamente complexos – cada um com seu cada um. Não há meio de fazer com que uma pessoa cheia dos conflitos que a cercam se emanar junto com outros que não têm nada a ver com o que ela passa, apenas se estes forem psicólogos que gostam e têm vocação para ouvir o ser.

Fora isso, não temos a chamada paciência, sem falar que o que atinge o próximo nunca é da nossa conta, mas quando é conosco... Enfim, não somos dotados ou mesmo educados para nos integrar. O que acontece, na realidade, é que somos problemáticos, amargurados, cheios de depressões que nos levam a cair em precipícios por causa de bebidas em excesso, drogas, e a falta delas também.

Há outros problemas, no entanto, de pequenos níveis. Mas sempre serão responsáveis pela falta de diálogos, de um aperto de mão, ou mesmo de um olá. Isso porque o medo de ser “chacotado” é muito grande.

A raiz da falta de integração, todavia, se esconde em algo maior, bem mais misterioso, o qual está espelhado e ao mesmo tempo invisível aos nossos olhos. Estou me referindo à falta de (mais uma vez) humanidade.

Esperança

A única esperança, talvez, seja encarar o desafio de nos integrar aos poucos. Parece-nos fácil, mas não é. Até mesmo falar com o melhor amigo, de vez em quando, fica difícil. Não podemos nos afastar dessas provas que nos são válidas para o dia a dia, quiçá para a vida inteira, ou melhor do que isso, para nosso crescimento individual.

A esperança ainda paira em nossas vidas, de forma natural, assim como pedras que rolam e rolam e nos e fazem encontrar pessoas que há muito queríamos, ou pessoas que não queríamos, apenas para que possamos dela ser grandes amigos... E isso já aconteceu comigo.

A solução sem espera

Não podemos esperar a esperança, no entanto. Na primeira calada do dia, tente olhar com bom humor as pessoas, ainda que tenha deveras problemas, pois elas não são culpadas de nossas vidas transgressoras. São seres humanos com problemas, cheios de dívidas, dúvidas, com medo...

No outro dia, a cara é a mesma, sem graça, sem aquela vontade de dizer “oi”, então... Comecemos noutro dia. E lembremos que todo átomo começou do nada, e até mesmo o “nada” tinha alguma coisa, e hoje estamos aqui, com estruturas complexas, integradas, fortes, assim como um dia podemos ser.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Erro de ser Mau e do Mal


Ao cair da tarde, meu coração se isola dentro do meu peito, e triste pelos pensamentos que correm em minha mente corrupta aos valores que se formam, chora. Não transborda; não se mostra, ou mesmo se inclina frente ao que se vê, mas ao que está oculto aos olhos.

Venho a pensar no mal que separa os homens, e que há muito se veem como únicos nessa galáxia onde há tantas e quantas espécies! Penso nas fileiras de assassinos que se criam a cada dia, nas formas do terror, por uma indignação política, à qual todos chamam de religiosidade...

Reflito; e entro em colapso só de pensar que somos o que somos: seres que discriminam, assassinam e destroem vidas a troco de nada. Onde estão os heróis? Não falo de heróis da Marvel Comics, mas daqueles que se infiltraram nas guerras ideológicas para salvar o mundo, ou antes disso, as pessoas?! Onde estão os seres que vieram e sustentaram suas bandeiras e até hoje, quando o céu brilha, os vemos como uma simbologia constante, flamejando, entre lágrimas daqueles que ainda deles se recordam?...

Não sabemos... Mas o erro de ser mau nos faz ser compatriotas do próprio mal. Não adianta nascer e crescer com ideais se somos corrompidos a todo instante por políticas miseráveis que nos fazem sucumbir em fome, em dor, em tudo, simplesmente porque não temos um carro, uma casa, uma roupa... E não adianta ser do bem, se não somos do bem. Temos que ter coerência, ou como diria Buda “Não podemos ser palavras ao vento, pois pior do que isso são flores de plástico, que não têm perfume algum. Isso não podemos ser.” – e estamos sendo... Não adianta ter “parlatória”, se descemos do palco e esquecemos tudo que dissemos.

A falta de coerência nos faz ir atrás de salvadores nas religiões, na política, nas ruas – no pedir, nas passeatas, nas greves, nas reclamações... – enfim, atrás da própria incoerência, e, por isso, temos que refletir acerca disso também, pois as palavras “coerência” e “salvação” devem ser repetidas vezes questionadas como “salvação de quê ou de quem”, “coerência de quê ou de quem”, porque estamos perdendo o fio da meada! Se não soubermos, então... Podemos voltar ao nosso sofá e lá morrer na calada noite.

O erro de ser mau, voltando, nos faz amar a maldade como caminho, como uma vivência sem freio, sem causas ou consequências. Faz-nos amar a dor como forma natural da vida, sem o mínimo de ensinamento, sem o mínimo de pudor... Faz-nos mergulhar no fosso, tentando encontrar um caminho para o céu. Faz-nos sábios às avessas, batendo no peito, tento como referência uma pedra, ou mesmo uma besta, ou um grupo de bestas.

Essa é a questão da ideologia em excesso. Buscar, por meio de interesses próprios, a felicidade. Não há felicidade sem que haja direção, conceito, humildade, ou mesmo um pouco de divindade em si. E isso o mal não tem. A exemplo disso, temos diversas organizações que acreditam ser portadoras, pontes, escolhidas para a felicidade “geral da humanidade”, e não são.

A máfia, por exemplo, seja ela em qualquer âmbito, produz em seu favor a ética baseada em seus preceitos, mas não de acordo com os reais preceitos, pois como diria o sábio “o que é ético aqui é ético em qualquer lugar”. A máfia possui o seu código de ética para produzir, em segredo, homicidas, terroristas, falsos padres, falsos políticos, falsos profissionais, porém, se revelam disciplinados tanto quanto qualquer ordem.

Assim, prevalece, sempre, uma megaorganização clássica que se infiltra em congressos, câmaras, igrejas, famílias, com a finalidade de manter seu patrimônio ao custo de muito sangue.

E o mal prossegue.

Prossegue porque não há como estacioná-lo, ele não é uma viatura; mas funciona como um trem no qual pessoas de bem são levadas, corrompidas e deixadas em seus lares. Não há maquinista, mas funciona à base do pior desejo humano: de ter sempre tudo a qualquer custo.

Todavia, sem o mal não saberíamos relutar em favor do bem. Podemos dizer que o bom é como uma grande linha imaginária na qual todos por ela passam, como um raio, e voltam ao mal, que fica a ela paralelo.  Quando sentimos o bem em nossos corações, já é tarde, partimos para o mal como em um rio...

Vamos buscar, aos poucos, o significado do mal em nossas vidas, com a finalidade de usa-lo como peça essencial na busca pelo bem; vamos racionaliza-lo, não senti-lo, tentando entender cada parte de seu corpo, de sua alma. Vamos pegá-lo no colo, mas não olha-lo nos olhos, como um filhote de leão, cujos olhos e garras ainda em pequeno nos dá medo, porque pode nos devorar em segundos!

Vamos aprender com o mal, mas não fazer parte de suas organizações, de sua ética enganadora, de sua ordem sem ponte, de seu amor mentiroso... Vamos transgredir ao próprio mal, mesmo sabendo que nunca nos deixará em paz, e por isso mesmo cortar, aos poucos, suas garras, e com o tempo, ter de volta nossa vida.

Na dúvida, olhemos para o eterno.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tempestades




Escrevo em meio a uma tempestade, a uma intensa tempestade, e percebo o quanto somos passiveis de nos enganarmos a todo instante, frente à vida. Ela nos mostra com seus braços, pernas e pensamentos (como se fosse uma líder de torcida), o quanto somos precipitados, e às vezes loucos e desesperados em horas que podem definir nossa lenta evolução. E não vemos.

Quando a tempestade chega, percebo, não falo apenas da real tempestade, mas principalmente daquela metafórica, que nos decresce ou, como nunca, nos eleva, e tudo ao nosso redor desaparece. Ao chegar sem bater as portas da alma, é como se a verdadeira tempestade que arrasta casas, carros, bois, homens, fosse apenas um mero pingo no rosto...

E depois que ela se vai, vêm os choros, risos, bravuras, ou piadas acerca do que se foi... E assim, da maneira mais humana, nos desvencilhamos dela. A dor, as lágrimas, até mesmo a poeira não são tão lembrados; são formas psicológicas criadas em torno daquele momento mais tórrido, que nos faz trepidar em conflitos familiares, profissionais, amistosos, enfim, uma tempestade que está prestes a ter seu fim, mas que nós não o alvejamos graças a uma consciência que ainda não aprendeu que todas as formas psicológicas são relativas, por isso, se vão, mais cedo ou mais tarde.

Decerto olhemos para as vidraças da vida. Sejam vidraças reais ou simbólicas, todas elas possuem pingos, chuviscos, chuvas e, mais tarde, tempestades que se revelam fortes, mas que passam. Poucas vidraças se quebram, e a maioria delas se revela forte, pois sabemos que o intuito da tempestade é nos dar provas, e fortes, intensas, diferentes das que passamos em outras circunstâncias.

As tempestades vêm para mudar nosso mundo, nosso aspecto interno frente à vida. Assim como a real arrasta, porém renova, a nossa tempestade vem para desfazer o mal que fica rondando nossas mentes, que digladiam pelo passado, presente e futuro, em busca de alguma solução pelo meio mais virulento, a dor.

As tempestades, assim como os ciclones, maremotos, tsunamis são formas de uma outra Natureza que nos faz transcender ainda que sob grilhões, quebrando, levando, às vezes destruindo tudo que criamos desde o inicio. E do inicio começamos dentro de um corpo pesado que fora sujeito a carregar uma mente sobrecarrega de relâmpagos.

Não adianta, porém, fugir das tempestades (psicológicas). Na maioria das vezes, quem tenta delas fugir é atingido por um raio...

Ulisses

Quando Ulisses, o grande estrategista grego, conseguiu transformar Troia em cinzas com seus soldados, acreditou que seu trabalho como tal estivesse terminado. Ledo engano. Sua terra, Itaca, na qual deixara sua esposa e filhos, teria que esperar um pouco mais.



Poseidon, o deus mitológico das Águas, sentiu que o guerreiro possuía um vaidosismo extremo, no qual não conseguia ver outra coisa senão a si mesmo. O deus o fez perder-se em águas, em ilhas, e, após anos e anos, na tentativa de encontrar seu mundo (Ítaca), Ulisses enfrentou monstros, serpentes, maremotos, tempestades e outros infortúnios os quais foram o suficiente para fazê-lo entender que a vitória sozinha não significa nada, e que, se não tirarmos dela algum aprendizado, voltamos sempre à estaca zero. Os gregos sabiam tudo de ser humano!

De volta ao Real


Assim, em meio a tempestades, maremotos, sofremos, e na dor nos arriscamos para salvar vidas, ou mesmo as nossas vidas, como marinheiros em um grande navio em que somos comandante e marujo ao mesmo tempo e jogamos a água para fora – baldeando-a com um pequeno latão (quiçá com as mãos!), e cheios de esperanças de que ela – a grande tempestade – se vá – deixamos de lado o que mais necessita em uma escala, em uma ventania, em uma chuva, a consciência do aprendizado. Esta fica adormecida em meio às preocupações com botes, com a água, que sobe, sobe...!

As tempestades passam, como um grande monstro que nos vêm pisando a alma, o corpo e nos deixando um tanto quanto longe do espírito – do qual jamais, em hipótese alguma,  devemos nos esquecer em provas como essas.

Todas (as tempestades) se infiltram nas paixões, nos conflitos, nas guerras, na educação de um filho, na comunicação e na união de uma família, se infiltram nas diferenças entre irmãos, amigos, na inveja, na cobiça e, quando o grande vento a precede soprando em nossas veias, estufamos o peito e nos tornamos aço, o qual se arrebenta como linha frágil, e nos leva como papel ao vento.

As tempestades nos fazem falar coisas indizíveis, fazer gestos deselegantes, e nos cega para os inocentes, dando-lhes o que não merecem. E assim, depois de percebidos os estragos, começamos a organizar cadeiras, mesas... Como se realmente tivessem sido tais objetos vitimas de tudo. Nós é que fomos.

Se não aprendemos com as tempestades, pelo menos nos resta entender que “alegria passa, mas a tristeza também”.









quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E ela se foi...



Se foi...

Como pássaros ao luar, sem ninho.
Semelhantes a uma dor profunda,
Que se enraíza nas veias,
E nos confunde com teias...
Ela se foi
Como a paz no mundo...


Ela se foi com o atrito da vida,
Como aquela água bendita
Que se encalha na calha,
E se esvai na descida...

Como a libido do idoso,
Que se esconde tristonho,
Nos prazeres da sala,
Que se cala no escuro.

Ela se foi...
Como o sol distante da alvorada,
Tão belo e presente,
Porém amante, ausente e calado.

Talvez se fora pra sempre,
E pra minha sorte,
Vem a morte,
Como abutre sorridente...


RF/CW

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Poder da Amizade

 Quando, um dia, entrei para as asas da filosofia, um professor nos disse: “Um bolo você pode repartir para muitas pessoas se quiser, mas a música, esta não se reparte, ela é universal. A integração dela com todos é imediata, por isso é mais espiritual que o bolo...”

Hoje, após anos de pensamentos voltados a essa área, percebo, agora, a importância dessa grande frase, dita pelo grande professor. Pois nela, consigo refletir acerca do que é verdadeiro para o ser humano, do que é realmente espiritual.

Com os valores em baixa, sinto a falta de um exemplo que possa se encaixar nessa frase, de um algo especifico e necessário, além da música, além do sol, do qual tiramos tantas lições... e por incrível que pareça a mim – ou a nós humanos – podemos colocar a amizade como um desses valores pelos quais vivemos e lutamos acima de algum valor nato, concreto, criado pelo próprio homem.

A Amizade, essa com “a” maiúsculo, nos foge às vezes das mãos, ainda que dela precisamos como se fosse o pão de cada dia, o remédio, ou mesmo o próprio sol da gente. A amizade, filha da grande necessidade de ser social, irmã da paz e da solidariedade, gêmea da esperança, pode ser a salvação ante a deterioração de um mundo vazio e cheio de uma solidão que nos traz desamor, frio e depressão... É a música do mundo.

Hoje, infelizmente só hoje, percebo o quanto o mundo precisa de amizades puras, em pessoas que necessitam da nobreza, da ética e de uma moral, assim como precisamos de água no deserto.

A música da Amizade me veio quando percebi, no fim de semana, que tenho amigos, reais, sem rancores, sem medo, e com grande coragem, fidelidade, confiança, etc, etc... Todos eles advindos da humildade, um substantivo que precisa ser decifrado em lugares nos quais o coração humano ainda desconhece. Estou falando de maus caráteres que residem dentro de roupas elegantes, sorrisos falsos, faces frias, as quais enganam e transformam o mundo em uma grande melancia podre.

Meus amigos, hoje posso falar, residem dentro do meu coração, assim com o meu próprio coração reside em meu corpo. Tais amigos, cuja amizade se torna mítica, me honram com suas presenças, pois deram, mais uma vez, um grande sinal de que a terra é uma geradora de grandes seres.

Sábado.

Eu já os havia procurado para me ajudar na grande mudança que seria feita num prazo de uma semana. E eu os procurei em apenas três. Notórios amigos, deram-me suas palavras em conseguir caixas, caminhão, ajudantes, e, assim, o foi. No grande dia, acordei por volta de sete da manhã, apreensivo, com o coração na mão, esperando os grandes gladiadores do presente chegarem.


Telefonei para todos. Num total de três. E pude perceber o quanto eu estava sendo ingênuo em relação aos meus sentimentos de desconfiança, pois todos – digo todos – já estavam de pé naquele sábado, como que esperando o general para dar as ordens. E a cada telefonema, eu me emocionava lá no fundo de meu coração.

Mudança


Nesse dia, tudo transcorreu de maneira leve e rápida, alegre e cheio de paz. Não houve nada com que me preocupar, apenas pela molecagem natural dos grandes soldados que vão à guerra, como se vai brincar de bolinhas de gude...

O aprendizado que me deixaram jamais sairá de minha alma, pois todos eles se foram – cada um para a sua casa – como se nada tivessem feito, ou melhor, como se tivessem feito um trabalho para o sagrado, para Deus, e é assim que devemos nos comportar sempre, como se fôssemos apenas meros instrumentos naturais da vida (na vida), agindo com amor e graça, nas horas mais difíceis, e nas mais fáceis.

Eu, nesse dia, senti-me um dos seres mais privilegiados do mundo, porque sei que ainda precisamos rever nossos conceitos acerca de muitos valores, mas também acerca de outros nos quais cabemos, mas não damos valor... A amizade, descobri, é um dos valores dos quais se pode tirar tantas coisas, tantas! Pois ela, além de tudo, nos faz dormir bem, acordar bem, pois sabemos que, ao abri nossos olhos, estaremos prontos para aprender mais sobre ela...


Ao grande Guarná, Alex, Piauí, e ao meu grande sobrinho Junior,

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Amanhã, quem sabe...





Amanhã eu mudo para um novo apartamento, menor, porém, com o aluguel menor do que o atual. Mudo porque fui despejado. O dono do apê nos deu um mês, já vencido, para que pudéssemos encontrar um outro “galho” para refazer nosso ninho. Encontramos.

Depois de tentativas, todas vãs, conseguimos, com a assinatura dos deuses, um pequeno, aconchegante, ventilado, barato, humilde, com vistas para o dominó do Ramalho (um senhor que adora jogar dominó nas horas vagas na praça com o seu nome...), além da marmita do Besouro – um senhor que se parece com tal por possuir uma cara de escaravelho --, a qual nos satisfaz nas horas do aperto.


E não menos pior – para não dizer socorrrrrro! – na rua da minha genitora, minha mãe, da qual sai há mais de quarenta anos, contudo, pode parecer estranho, mas ela não sabe disso! Todos os dias, eu me sinto mais moleque, e estou achando que voltarei ao útero dela a qualquer momento...!

Minha esposa, depois de saber que estamos nessa rua maravilhosa, está em TPM constante. Mesmo sendo uma mãe-sogra maravilhosa, minha mãe não é santa, ainda que converse com Deus sempre, e tem levado todos à loucura, com sua preocupação na mudança, procurando caixas, empurrando, quase que literalmente a todos, para a mesma piração!

Daí surge a frase do conforto: “Mãe é assim mesmo...”. Mas até que ponto? Não me interessa saber, pesquisar, buscar, ler, apenas mudar do meu lugar presente e nunca mais voltar, ainda que gloriosos momentos tive no meu atual apê, com vários amigos, com meu filho, com minha esposa, e com... ah deixa pra lá, o mais importante é que toda mudança pede um pouco de sacrifício de cada um, seja no psicológico, seja no físico,e até mesmo no espiritual – convocando os deuses do Olimpo para um conselho, implorando uma força em todos os níveis!

Na realidade, eu queria mudar, mas mudar mesmo, de verdade, como num ato em que se pede vinho depois de toneladas de água ingerida pelo corpo humano. Da água para o vinho, já ouviram essa? É, somos passivos de mudar, sim, somos filhos de uma imensidão de modificações pelas quais podemos optar; mas a questão é que sempre somos iludidos acreditando que somos diferentes no quesito mudança, pois queremos ser melhores do que o outro, do que até mesmo o Papa, Luther King, Jesus, Gandhi etc!

Não é assim, vamos devagar! Se somos passivos de mudança, então vamos mudar! Seja de um lugar para o outro, o que é mais fácil; de camisa, de calças, de país; de cidade... Enfim, mudemos, quando queremos! A solução está em nossas mãos.

Todavia, o que mais nos dá medo é a real Mudança. Aquela que nos faz mais reflexivos antes de qualquer ato, palavra, gesto... A real mudança que nos leva os valores arcaicos e nos coloca em sintonia com o universo, seja ele humano ou não. Aquele que nos faz divinos. Será que estamos preparados para tais mudanças?



Uma coisa é optarmos por ser gentis, humildes, amigos da hora, irmão, pais... até mesmo salvadores da pátria, mas ser universal (não me refiro à Igreja, bláhh) nos faz nos remeter a um legado que ainda claudicamos em definir.

Então, hoje, aqui, agora, nada melhor do que enamorar a lua e o sol, com um olhar romântico e ao mesmo tempo filosófico, na tentativa de elucidar os mistérios que os fazem tão harmônicos entre si... Nada melhor do que sentir o cheiro das flores, o perfume das ruas molhadas, o porquê das mães, ainda que instintivas, saírem do seu ninho e se sacrificarem pelo filho que caiu dele; nada melhor do que sair às ruas e ter um olhar acerca da liberdade da águia, e, quem sabe, ter um olhar físico, como observar a tangência dos carros nas pistas, o porquê daquela tangência, da sua necessidade...

Depois de tudo, sentar-se e observar cada movimento seu, e atencionar para a realidade de outra harmonia, a universal, que nos faz simultâneos com os movimentos daquela... Pensar na vida, na morte, não como duas faces, mas como a continuação da outra (mas qual é a continuação de que?), organizar nossos pensamentos em função do próximo que nos ensina, ainda que bruto, fraco, desesperado, e às vezes anti-herói, um pouco do que devemos ser ou não... Pensar em Deus, constantemente.

Enfim, mudar exige uma gama de decisões, simples e complexas, as quais, aos poucos, irão refletir como água, desfigurando ou não a imagem real – nós.

Uma coisa é certa, hoje não vai dar, tenho que fazer uma mudança mais simples rs. Amanhã, quem sabe...


Ao Antakarana de cada um

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Planta e a Água

Em meio a critérios desordenados de uma sociedade que não sabe o que é ético, moral e humano, penso muito em uma professora a qual me disse um dia que tudo que se faz atualmente, seja para os meios materiais seja para os espirituais, temos que trazer à tona a metáfora da planta e da água. Regar e observar, e quem sabe colher.

É inexorável, dizia. Outra palavra que daria uma dissertação. Mas estamos aqui para nos referir a essa grande simbologia que nos remete ao mundo de hoje, ao que chamamos mistérios reais pelos quais se vive, se ama, digladia-se.

A Planta

Esse dias, meu filho ganhou do colégio um feijãozinho para regar. Estava dentro de um copo de plástico. Além da semente, um pouco de terra. Minha esposa, criteriosa, involuntariamente filosófica, pedia a Pedro, nosso filho, que jogasse água na terrinha. Em poucas horas (digo horas!), começara a nascer uma folhinha (incrível!), e, daí, me lembrei, é claro, do conto de “Joãozinho e o Pé de Feijão”, no qual uma família pobre troca seu último vintém com alguns feijões. O menino – Joãozinho –, que tinha feito o estrago, dormiu dizendo que as sementes eram mágicas, e que iriam ficar muito ricos... E assim, depois de desacreditarem na criança, jogaram-nos (os feijões) no quintal, acreditando que o menino tinha sido muito ingênuo.

No conto, Joãozinho sobe no pé de feijão, que dá direto ao céu; encontra um grande castelo, onde há grandes tesouros, tudo como se fosse um grande universo material, e por ser um castelo, a certeza de haver um grande morador veio lhe perturbar depois do encanto com tantas coisas lindas e gostosas. Ali, deparou-se com a sua falta de comida e que foi alimentada, com a falta de dinheiro, que fora lhe fora suprida com todo o ouro que vira...

Contudo, pela humildade que residia em seu ser, Joãozinho vira uma harpa dourada, cuja beleza era de esquecer todo o resto – com um detalhe, havia nela uma escultura de uma deusa que cantava e tocava-a sem sequer tocar no instrumento. O amor àquela musica foi de imediato.

Sem perceber que o grande morador (o gigante) estava adormecido, tentou levar o máximo de coisas para a sua casa, mas fora impedido. Após sofrer com as investidas do gigante, que de alguma forma queria ter aquele pequeno personagem para si, Joãozinho conseguira fugir, com seu único tesouro, a Harpa-Falante.

Descendo ligeiramente o grande pé de feijão, e com a harpa em seus braços, o menino ainda era perseguido pelo grande morador, o qual não soubera descer – graças ao seu tamanho – a planta, que mais parecia uma grande árvore. Joãozinho conseguira o que queria. E o gigante morreu na queda.

Meras Conjecturas

Remete-me o conto ao pouco que me sobra a refletir acerca de um grande assunto – como regar nossos valores, vê-los crescer e deles usufruir.

No conto, o feijão, ao ser uma planta que cresce rápido, foi usada para estabelecer um tipo de mensagem ao homem, ao mundo, mas qual seria a mensagem?..

É preciso entender que as plantas, pelo menos a maioria delas, sobem verticalmente, assim como tudo que quer alcançar o céu, por isso as árvores eram símbolos espirituais nas grandes civilizações, assim como o fogo, outro elemento forte, cujas chamas nunca declinam em horizontal, mas sempre para cima... Já perceberam?

Dessa forma, o feijão de Joãozinho, no conto, é possível que nos queira transpassar algo desse nível: espiritual. No conto, assim como em muitos, há sempre dificuldades em esclarecer alguns pontos clássicos, que nos faz repensar o que significa subir aos céus, conseguir o grande tesouro, descer, mudar a personalidade, e ser outra pessoa. É quase mitológico.

No conto, o menino conseguiu “subir aos céus”, enfrentar o gigante, descer ao seu mundo e trazer para ele um elemento primordial: a humildade. A harpa era o maior tesouro do castelo, pois adormecia o gigante com suas musicas, e o gigante, em nós, são os grandes problemas que enfrentamos. Assim como Teseu enfrentou o Minotauro no grande labirinto de Dédalo e o matou, a criança, com toda sua simplicidade, o fez de sua maneira.

Assim o somos. Enfrentamos mares revoltos, gigantes, minotauros, potencialidades (até mesmo a TPM feminina! Rs) em nome de uma paz passageira ou mesmo ideal que nos espera para ser um pouquinho mais humano...

E depois de várias tentativas, às vezes vãs, pelos caminhos ditos como estreitos da vida, encontramos nosso tesouro – seja ele em forma material ou não, espiritual ou não – mas que sempre, em cada um – vai refletir como se fosse um céu, um paraíso.

Assim, para aquele que ama a paz, a busca será sob os grilhões! Para o homem voltado à riqueza, o mesmo, mas sempre com certa dificuldade, ou muita. Para os ingênuos, a busca pelo simples-complexo; para o intelectual, a busca pela verdade através do racional.. E para o homem que quer singrar pelos mares em busca dos tesouros mais caros e belos, deve amar o mar, e arte de navegar. Mesmo assim, a busca não será gratuita.

Contudo, como diziam os grandes, nada se faz sem humanidade (a música da harpa)! E isso significa criar meios internos de lidar com os problemas, sejam eles pequenos ou grandes (gigantes), criando referenciais fortes, à medida de experiências individuas, não de terceiros. Ou seja, embora eu possa ter uma ideia daquilo que o outro sofreu, mas nunca terei a realidade do sofrimento em mãos. Porque todos passamos dificuldades, mas apenas poucos sabem o porquê delas, e estes simplesmente vivem sem regras, ou regras que excluem o ensinamento primordial da vida – que são as experiências.

E assim, cada um tem o seu feijão, e o rega, e sobe nele! Mas a tradição (leia-se todo conhecimento deixado pelas grandes civilizações) nos diz que o caminho vertical é próprio dos homens de Bem, daqueles que exercem a espiritualidade, com lastro em valores universais, não individuais ou coletivos, sociais, humanitários, ideológicos... Claro que estes podem ser degraus para o alcance dos primeiros, mas não podemos nos bastar, sendo apenas ideológicos, sociais, coletivos, temos que ser universais nesses quesitos, caso contrário, tudo soará como grãos de feijão perdidos na terra...

Para começar a cultivar, então, essa tal espiritualidade, a que temos direito como homens, regamos, aos poucos, nossa simplicidade, humildade, e ao mesmo tempo fortes em nossos caminhos. O crescimento da planta, nós, vai refletir em nossos atos.


 
Aos Amigos

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....