terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dédalo e Ícaro (ensaio I)

“- Icaro, meu filho – disse ele quando tudo ficou pronto -, recomendo que voes a uma altura moderada, pois se voares muito baixo, a umidade emperrará tuas asas, e se voares muito alto, o calor as derreterá. Conserva-te perto de mim e estarás em segurança”.





De acordo com a mitologia grega, os mitos serão sempre uma realidade tão cheia de mistérios, que se torna uma aventura encontrar uma resposta ao que eles nos oferecem. É o mistério.

Ao contrário do que se pensa hoje, a palavra mito não significa “mentira”, que desfaz o conceito tradicional, simplesmente porque foge a uma realidade literal a que estamos acostumados, mas uma forma de velar uma realidade na qual estamos inseridos.

É o caso do conto. O conto vem sendo passado há séculos, e nem por isso devemos levá-lo como uma mentira apenas pelo fato de levar, em seus elementos básicos, figuras criadas pelo imaginário do autor com a finalidade de desenvolver e explicar um universo no qual não estamos presentes, porém estamos sendo representados por outras figuras. Os Druidas que os digam.

O mito se desgarra do conto. É algo mais transcendente. Explica, em seu teor, o universo humano na sua essência mais profunda. E os gregos sabiam fazê-lo como nenhuma outra nação... Inserindo deuses, heróis, semideuses, guerreiros...

Assim, não é de forma gratuita que nos inserimos nesse contexto mítico e retiramos tesouros que alimentam a nossa imaginação e se revelam essenciais à sobrevivência do grande legado deixado pelos sábios de todos os tempos. Temos que nos referenciar, sempre, na essência humana, e naquilo que somos mais frágeis, ou seja, em nossa personalidade na tentativa de compreender o que é espírito.

Contudo, pela falta de uma educação clássica, temos que nos despir de nossos valores atuais e nos vestirmos de gregos, assim como um Sócrates, um Platão e Aristóteles, os quais passeavam, com pés descalços, e respirarmos um ar de sabedoria, vindos das montanhas gregas, as quais, sobretudo, eram expectadoras da história que por elas passava e deixava rastros, que, até hoje, nos inspiram.

Mais do que isso, entender que o povo grego possuía uma educação mais elevada baseada em princípios mais elevados, mais próximos do que hoje chamamos espírito.

Na realidade, a pedagogia grega não era semelhante a dos tempos atuais, claro, pois o que nos restou de clássico daqueles tempos foi a preocupação com o ensinar, passar ao outro, levar para entender e assim por diante – diferente da preocupação em entender e se fincar no sagrado.

Todavia, não era uma preocupação, mas sim uma natureza advinda da origem grega, a qual tinha a complexidade de inteirar o homem com o uno. A complexidade, no entanto, para eles, não existia, era simplesmente um valor adequado ao que o homem, desde épocas douradas, se integrava, não com participe, e sim como integrante de um cosmos.

Tal ensinamento perpetuou-se em escolas iniciáticas (como a de Eleusis), assegurando que nem tudo poderia ser passado ao homem comum. E o foi. Até hoje, claudicamos em entender a mitologia grega, que, para nós, nada mais é que um monte de deuses mandões, em conflitos com seres humanos, retratados, infielmente, pelos enlatados americanos.

Infidelidade já dita por Platão em “A República”, ao se referir aos deuses referidos por Homero, os quais estariam sendo tratados como seres antropomórficos. Quase humanos. E hoje, sente-se à distância o que o filósofo previra.

Contudo, sente-se também a filosofia grega não fora um tanto quanto incompreendida com o passar do tempo. O simbolismo antigo fora apenas desgarrado de suas pretensões, e iniciou-se a chamada relativa degradação do conceito das formas antigas, dentro das quais guardava-se a essência natural.

E ainda se guarda! O homem moderno sofre apenas pelo desapego ao fora o símbolo, assim, ficando mais fácil desvirtuar, inventar, cada um com a sua personalidade opinosa, o que há muito tinha apenas um significado.

O mito era assim.

Voltamos no próximo texto.

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