segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Perfume das Rosas

Em dias de frio, ficamos em casa, buscando fazer algo, como se ali fosse o único lugar do mundo no qual podemos correr, brincar, jogar, tomar cervejas, entre outras coisas, enfim, nos alojamos dentro de nossas cavernas modernas, acreditando piamente que, ali, jardins serão feitos, rosas serão regadas, frutos colhidos... Criamos ilusões.

É de matar esse frio. As dores na coluna, a desconfiança do próximo, o medo de levantar – não só pelo frio que faz, mas pelo enfrentar da vida --, o andar pela casa, o tropeçar na criança... As pequenas brigas. Tudo de maneira como se nosso universo estivesse ali, reunido entre paredes bem ou mal estruturadas, servindo de suporte a quadros, a estantes, TVs...

Até mesmo aquele vaso de flores de plástico começa a fazer sentido. Suas cores, seu cheiro-sem-cheiro. O sentido daquilo que nunca tinha sentido começa a ter... Sentido. Apresentadores de televisão, revistas antigas, o espaço da casa, do banheiro, o comportamento dos sexos em meio a uma casa que nunca teve gente o suficiente, o piso... Coisas que geralmente passam despercebidas e que começam ter vida, ainda que não mereçam.

Nosso mundo diminuiu. Nosso universo, frio, agora regado a reclamações, caras feias, a choros de crianças, choros de adultos, se torna pequeno, sem direito ao sol de cada dia.

Contudo, lá de fora, como uma mão oculta que ultrapassa janelas e nos chama para entender a vida, vem o perfume das rosas. Vermelho, fino, constante, embriagador, ele vem das crianças que passam sorridentes nas ruas, dos homens cujo sol, ainda que pálido, opaco, e frio, revela-se quente a medida de nossos passos frente à janela.

E no parapeito, nas grades daquele pequeno espaço, percebo outro mundo, o real, no qual famílias contemplam outras famílias, homens reúnem-se, como heróis, em meio ao frio da manhã, em conversas sorridentes, e de longe percebo que minha caverna nada mais é que uma compilação do medo de sair às ruas e deparar-me com pessoas, com o estranho, com o misterioso de cada um, assim, fico realizado em criar outro universo – o das paredes.

E o perfume continua a me trazer mais rosas em forma de pessoas jogando bola, correndo, caminhando, sorrindo, ainda que encolhidos em casacos finos, o que me fazia ficar invejado daquela coragem... Todavia, eu não conseguia sair, apenas sorrir fracamente pela minha fresta gigante, gradeada, como se preso eu estivesse. Talvez, como diria uma grande professora minha, talvez.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....