sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tempestades




Escrevo em meio a uma tempestade, a uma intensa tempestade, e percebo o quanto somos passiveis de nos enganarmos a todo instante, frente à vida. Ela nos mostra com seus braços, pernas e pensamentos (como se fosse uma líder de torcida), o quanto somos precipitados, e às vezes loucos e desesperados em horas que podem definir nossa lenta evolução. E não vemos.

Quando a tempestade chega, percebo, não falo apenas da real tempestade, mas principalmente daquela metafórica, que nos decresce ou, como nunca, nos eleva, e tudo ao nosso redor desaparece. Ao chegar sem bater as portas da alma, é como se a verdadeira tempestade que arrasta casas, carros, bois, homens, fosse apenas um mero pingo no rosto...

E depois que ela se vai, vêm os choros, risos, bravuras, ou piadas acerca do que se foi... E assim, da maneira mais humana, nos desvencilhamos dela. A dor, as lágrimas, até mesmo a poeira não são tão lembrados; são formas psicológicas criadas em torno daquele momento mais tórrido, que nos faz trepidar em conflitos familiares, profissionais, amistosos, enfim, uma tempestade que está prestes a ter seu fim, mas que nós não o alvejamos graças a uma consciência que ainda não aprendeu que todas as formas psicológicas são relativas, por isso, se vão, mais cedo ou mais tarde.

Decerto olhemos para as vidraças da vida. Sejam vidraças reais ou simbólicas, todas elas possuem pingos, chuviscos, chuvas e, mais tarde, tempestades que se revelam fortes, mas que passam. Poucas vidraças se quebram, e a maioria delas se revela forte, pois sabemos que o intuito da tempestade é nos dar provas, e fortes, intensas, diferentes das que passamos em outras circunstâncias.

As tempestades vêm para mudar nosso mundo, nosso aspecto interno frente à vida. Assim como a real arrasta, porém renova, a nossa tempestade vem para desfazer o mal que fica rondando nossas mentes, que digladiam pelo passado, presente e futuro, em busca de alguma solução pelo meio mais virulento, a dor.

As tempestades, assim como os ciclones, maremotos, tsunamis são formas de uma outra Natureza que nos faz transcender ainda que sob grilhões, quebrando, levando, às vezes destruindo tudo que criamos desde o inicio. E do inicio começamos dentro de um corpo pesado que fora sujeito a carregar uma mente sobrecarrega de relâmpagos.

Não adianta, porém, fugir das tempestades (psicológicas). Na maioria das vezes, quem tenta delas fugir é atingido por um raio...

Ulisses

Quando Ulisses, o grande estrategista grego, conseguiu transformar Troia em cinzas com seus soldados, acreditou que seu trabalho como tal estivesse terminado. Ledo engano. Sua terra, Itaca, na qual deixara sua esposa e filhos, teria que esperar um pouco mais.



Poseidon, o deus mitológico das Águas, sentiu que o guerreiro possuía um vaidosismo extremo, no qual não conseguia ver outra coisa senão a si mesmo. O deus o fez perder-se em águas, em ilhas, e, após anos e anos, na tentativa de encontrar seu mundo (Ítaca), Ulisses enfrentou monstros, serpentes, maremotos, tempestades e outros infortúnios os quais foram o suficiente para fazê-lo entender que a vitória sozinha não significa nada, e que, se não tirarmos dela algum aprendizado, voltamos sempre à estaca zero. Os gregos sabiam tudo de ser humano!

De volta ao Real


Assim, em meio a tempestades, maremotos, sofremos, e na dor nos arriscamos para salvar vidas, ou mesmo as nossas vidas, como marinheiros em um grande navio em que somos comandante e marujo ao mesmo tempo e jogamos a água para fora – baldeando-a com um pequeno latão (quiçá com as mãos!), e cheios de esperanças de que ela – a grande tempestade – se vá – deixamos de lado o que mais necessita em uma escala, em uma ventania, em uma chuva, a consciência do aprendizado. Esta fica adormecida em meio às preocupações com botes, com a água, que sobe, sobe...!

As tempestades passam, como um grande monstro que nos vêm pisando a alma, o corpo e nos deixando um tanto quanto longe do espírito – do qual jamais, em hipótese alguma,  devemos nos esquecer em provas como essas.

Todas (as tempestades) se infiltram nas paixões, nos conflitos, nas guerras, na educação de um filho, na comunicação e na união de uma família, se infiltram nas diferenças entre irmãos, amigos, na inveja, na cobiça e, quando o grande vento a precede soprando em nossas veias, estufamos o peito e nos tornamos aço, o qual se arrebenta como linha frágil, e nos leva como papel ao vento.

As tempestades nos fazem falar coisas indizíveis, fazer gestos deselegantes, e nos cega para os inocentes, dando-lhes o que não merecem. E assim, depois de percebidos os estragos, começamos a organizar cadeiras, mesas... Como se realmente tivessem sido tais objetos vitimas de tudo. Nós é que fomos.

Se não aprendemos com as tempestades, pelo menos nos resta entender que “alegria passa, mas a tristeza também”.









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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....