quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Amanhã, quem sabe...





Amanhã eu mudo para um novo apartamento, menor, porém, com o aluguel menor do que o atual. Mudo porque fui despejado. O dono do apê nos deu um mês, já vencido, para que pudéssemos encontrar um outro “galho” para refazer nosso ninho. Encontramos.

Depois de tentativas, todas vãs, conseguimos, com a assinatura dos deuses, um pequeno, aconchegante, ventilado, barato, humilde, com vistas para o dominó do Ramalho (um senhor que adora jogar dominó nas horas vagas na praça com o seu nome...), além da marmita do Besouro – um senhor que se parece com tal por possuir uma cara de escaravelho --, a qual nos satisfaz nas horas do aperto.


E não menos pior – para não dizer socorrrrrro! – na rua da minha genitora, minha mãe, da qual sai há mais de quarenta anos, contudo, pode parecer estranho, mas ela não sabe disso! Todos os dias, eu me sinto mais moleque, e estou achando que voltarei ao útero dela a qualquer momento...!

Minha esposa, depois de saber que estamos nessa rua maravilhosa, está em TPM constante. Mesmo sendo uma mãe-sogra maravilhosa, minha mãe não é santa, ainda que converse com Deus sempre, e tem levado todos à loucura, com sua preocupação na mudança, procurando caixas, empurrando, quase que literalmente a todos, para a mesma piração!

Daí surge a frase do conforto: “Mãe é assim mesmo...”. Mas até que ponto? Não me interessa saber, pesquisar, buscar, ler, apenas mudar do meu lugar presente e nunca mais voltar, ainda que gloriosos momentos tive no meu atual apê, com vários amigos, com meu filho, com minha esposa, e com... ah deixa pra lá, o mais importante é que toda mudança pede um pouco de sacrifício de cada um, seja no psicológico, seja no físico,e até mesmo no espiritual – convocando os deuses do Olimpo para um conselho, implorando uma força em todos os níveis!

Na realidade, eu queria mudar, mas mudar mesmo, de verdade, como num ato em que se pede vinho depois de toneladas de água ingerida pelo corpo humano. Da água para o vinho, já ouviram essa? É, somos passivos de mudar, sim, somos filhos de uma imensidão de modificações pelas quais podemos optar; mas a questão é que sempre somos iludidos acreditando que somos diferentes no quesito mudança, pois queremos ser melhores do que o outro, do que até mesmo o Papa, Luther King, Jesus, Gandhi etc!

Não é assim, vamos devagar! Se somos passivos de mudança, então vamos mudar! Seja de um lugar para o outro, o que é mais fácil; de camisa, de calças, de país; de cidade... Enfim, mudemos, quando queremos! A solução está em nossas mãos.

Todavia, o que mais nos dá medo é a real Mudança. Aquela que nos faz mais reflexivos antes de qualquer ato, palavra, gesto... A real mudança que nos leva os valores arcaicos e nos coloca em sintonia com o universo, seja ele humano ou não. Aquele que nos faz divinos. Será que estamos preparados para tais mudanças?



Uma coisa é optarmos por ser gentis, humildes, amigos da hora, irmão, pais... até mesmo salvadores da pátria, mas ser universal (não me refiro à Igreja, bláhh) nos faz nos remeter a um legado que ainda claudicamos em definir.

Então, hoje, aqui, agora, nada melhor do que enamorar a lua e o sol, com um olhar romântico e ao mesmo tempo filosófico, na tentativa de elucidar os mistérios que os fazem tão harmônicos entre si... Nada melhor do que sentir o cheiro das flores, o perfume das ruas molhadas, o porquê das mães, ainda que instintivas, saírem do seu ninho e se sacrificarem pelo filho que caiu dele; nada melhor do que sair às ruas e ter um olhar acerca da liberdade da águia, e, quem sabe, ter um olhar físico, como observar a tangência dos carros nas pistas, o porquê daquela tangência, da sua necessidade...

Depois de tudo, sentar-se e observar cada movimento seu, e atencionar para a realidade de outra harmonia, a universal, que nos faz simultâneos com os movimentos daquela... Pensar na vida, na morte, não como duas faces, mas como a continuação da outra (mas qual é a continuação de que?), organizar nossos pensamentos em função do próximo que nos ensina, ainda que bruto, fraco, desesperado, e às vezes anti-herói, um pouco do que devemos ser ou não... Pensar em Deus, constantemente.

Enfim, mudar exige uma gama de decisões, simples e complexas, as quais, aos poucos, irão refletir como água, desfigurando ou não a imagem real – nós.

Uma coisa é certa, hoje não vai dar, tenho que fazer uma mudança mais simples rs. Amanhã, quem sabe...


Ao Antakarana de cada um

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