quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Casados e casamentos, coisas que não mudam.

Sabe... Entre tantas coisas para lembrar, sempre fico com aquelas que me fizeram mais feliz. Não poderia ser diferente. Assim como todos se lembram de uma noite passada – de uma festa, de um baile, de um presente de aniversário, etc, --, de um dia em que tudo deu certo, lembro-me do passado.




Principalmente da época em que eu era solteiro, e saia com meus amigos aos chamados cines (não) proibidos, aos fliperamas, às pizzarias em conjunto... E muito mais.  É, por mais difícil que seja em acreditar, eu não vou mais a bailes, a festas, a pizzarias, teatros... O casamento puxou o freio de mão de tudo.

Penso: como adequar a vida de esposo à vida de um homem que quer voltar a ser feliz como antes? É difícil ser como antes, mesmo porque entramos em uma esfera da vida na qual tudo é diferente, até mesmo você. Se não és, vai ser. Mulher, filhos, sogra, família... são os ingredientes que nos farão melhores ou piores.

Se não vir assim, pelo menos como ferramentas para a ascensão vital ou mesmo barreira pelas quais podemos e temos que transpor. Casos há em que muitos não encaram a vida de casado assim, e sim como grades de uma prisão indeterminada, dentro da qual sogra e esposa são vigias constantes.

Falta de Exemplos..

Conheço um amigo que saía, ia às salas de cinema assistir àqueles grandes filmes franceses, irlandeses, até mesmo indianos, quando solteiro. Depois de casado, de ter conseguido dois filhos, um casal, sentiu-se na obrigação de cuidar deles, de dar mais apoio à esposa, de encarar o novo mundo. Resultado: nunca mais foi a cinemas, ou mesmo assiste a filmes em televisão. No máximo, pegava DVDs infantis para ver com os pimpolhos...

Sua esposa, sem compreender o que se passava no interior do marido, que ficava em casa, e só saia com os filhos quando dava, e com ela idem, iniciara uma perseguição mortal, acreditando que, no trabalho, durante os dias da semana, ele se encontrava com outra...

Acreditem se quiser. Porém, em nome da cultura – ou de uma liberdade que ele acreditava ter quando jovem --, ele se desfez do casamento, e claro, graças a elucubrações de sua dona, que nunca nele acreditava. Assim, hoje, feliz, não tem ninguém. Isso depois de anos sem a aliança. Com roupas novas, cheio da leveza moral que um homem (de meia idade) deve possuir, prossegue sua vida, na cultura, na informação e na busca pela sabedoria. E quando quer, encara uma paquera.

Isso não é o modelo de uma mudança na vida de um homem, mas um caso isolado de uma pessoa que se cansara das obrigações e preferiu abraçar seu passado. Acho que, de certa forma, é meio perigoso, ainda que seja válido em algum ponto o que ele fez, pois, se não encontrara a felicidade em seu casamento, tem todo o direito de ir atrás do seu passado ou catapultar para o presente e, quem sabe, realizar-se.

O perigo mora em obrigações que não são aceitas pelo homem atual. Obrigações que o fazem tropeçar, cair, levantar, mas sempre evoluir em algum nível. O casamento é um ato voluntário, mas, ao casar-se, nosso passado deve servir apenas como lembranças, ainda que tenham sido melhores que as do presente, e, na maioria das vezes, o é, mas isso não faz a vida de solteiro, jovem, etc, melhor do que a vida de casado, pois aquela vida sempre será desvinculada de uma obrigação que esta, a de casado, nos trará.

A de casado traz uma batalha. A da convivência. Conviver com o próximo é sempre um dos maiores desafios que temos atualmente. Tanto que há até uma ideia polêmica, no México, do casamento com prazo de validade. Se em dois anos o casal não renovar seu matrimônio, é dado como separados...

Para muitos, a ideia soa como a certeza da resolução das brigas entre casais, as quais não se consegue solucionar, apenas fomentar discussões, todos os dias. E pra dizer a verdade, eu penso muito nessa ideia... Mas fica fácil resolver essas questões nas quais se pode separar um do outro. Nunca se resolveu a questão do unir, resolver, conviver.. Amar, dar amor, carinho, entender, algo parecido com o que todos querem, mas temos medo de tentar. Não me venham com histórias de encontro de casais!

Sei que consultórios estão lotados, que precipícios de suicidas estão com filas imensas, que os homicídios a senhoras de idade aumentaram, que as leis em torno da violência feminina estão mais rígidas, que o homem está traindo mais, que filhos estão mais revoltos... Que a vida melhorou para os psicólogos de família...

Mas, como sou persistente, fico pensando em soluções do tipo, tenho que fazer minha esposa amar o que eu amo, e eu amar o que ela ama; saber o que eu sei, tentar entender o que ela sabe; aprofundá-la em questões psicológicas, filosóficas, sociais, familiares, das quais se pode um compreender o outro, cuidar mais do nosso filho de maneira que haja mais humor, ou, se não der, que haja mais leveza nas palavras impensadas. Difícil. A mulher, em si,  lembra um totem. Se a vir com uma cara, será sempre a mesma. Minha esperança morreu antes da sogra...

Se houvesse essa possibilidade de mudança,  meu passado tornar-se-ía mais passado do que nunca e não me atormentaria tanto na hora de uma decisão. Claro que é impossível ela gostar do que gosto, mas o que interfere na evolução familiar e que há sempre uma tendência feminina ao mito da caverna, na qual os dois seriamos os seres algemados, e o filho, o inconsciente, também algemado, assistindo à televisão. Os amos da caverna seriam os apresentadores.

Falo isso porque há mulheres que amam o lar e ficam tão fiéis a eles que se esquecem do mundo que nos enriquece, das amizades que nos fizeram fortes; esquecem dos livros, das músicas, da lua que os uniu, do sol que nos vivificou, enfim, lembram-se apenas do aniversário de casamento!

Toda mulher sabe que o homem tem tendências de descobridor, de ser livre como um general de guerra, ou seja, que quer descobrir o mundo, disciplinando seu filho (ou filhos), e mais, subir montanhas, acampar, comentar a vida, ir atrás de novas sensações, de realizar sempre algo diferente, mexer com a terra, fazê-la girar!

Não consigo tudo isso, mas sei que é muito bom acordar, vir trabalhar, brincar com meus amigos, soltar piadas, trabalhar com afinco, dedilhar um texto, expor minhas ideias... Solucionar problemas nacionais, internacionais, sim, porque, quando se discute política e religião em ambientes de trabalhos, tem-se todas as soluções do mundo sentado em uma cadeira giratória rs. Assim vive o servidor público! Falar de ideologias passadas e futuras, e me sentir útil.

Gosto de comida simples, viver de bem com meus amigos, sair com eles e comer pizza, ainda que seja uma vez por ano (!), caminhar, falar sozinho, responder-me, e concordar, e nunca brigar, pois sei com quem estou falando... (depois de casado, acontece...). Gosto de filmes, músicas, desenhos, comédias, tudo clássico. E amo a subtilidade, graciosidade, feminilidade da mulher – por isso, me casei.

A vida de casado não me dá essa abertura, talvez porque não sabemos o que se resguarda no coração de cada um. A alma fica no precipício dos valores morais quando algo de ruim acontece com o casal, mas, ao aparecer a solução, o paraíso é pequeno em semelhanças. Tudo se explica, e sorrisos se esticam.

Mas é por pouco tempo. A convivência, realmente, é algo humano por excelência. Ela nos mostra quão frágeis somos, e como egoisticamente vivemos. Quando realizamos tudo em conjunto, com a premissa de que tudo vai dar certo, com possibilidade de cinquenta por cento dar errado (!) as coisas podem se iniciar.

Vamos abrir o leque!

Eu ainda tenho exemplos de amigos que se casaram apenas por se casar. O grande amigo viu seus amigos colocarem alianças, ficou com inveja e foi atrás de uma donzela, ainda que  fosse frigida em relacionamentos, fraca em pensamentos, mas, em educação, era a mais cristã possível. Teve uma filha com ela, e não aguenta ouvir choro, mulher, sogra, sogro, irmãos, etc... E esqueceu-se de que, em casado, o leque de opções de direitos é pouco e o de obrigações é muito. Sua última fala foi “se eu soubesse que a vida de  casado era assim...!”.

O que nos falta talvez seja justamente a abertura desse leque. Saber o porquê de sua existência, o que traz nele, o que podemos fazer, o que não podemos, e se pudermos, tentar abrir mão do que queremos, mas de maneira lenta, gradual. E o que não podemos, dialogar, ainda que seja difícil, com o sexo oposto, mesmo que se pareça com uma empreitada, mas não podemos passar o resto de nossas vidas falando sozinhos! E mais, planejar estratégias humanas, não apenas financeiras, fisiológicas, etc, ma principalmente humanas. Não o somos?

Outro exemplo é de um amigo que se casou, teve vários filhos – um que não é dele, motivo pelo qual o  fez casar-se à força com uma esposa tão brava quanto o pai dela, o qual fora peça importante em sua decisão... Mesmo assim, após anos de casamento, conseguiu “abraçar” a causa, tornou-se religioso para criar uma evasiva psicológica, e, hoje, sai de casa tanto quanto seus filhos (a maioria dele, claro...), já crescidos, mas este amigo vai para a igreja, em vez de farras e faculdades... Tudo para não encarar sua esposa, aquela a qual, se a amasse, casar-se-ía por algum atributo dela.

Criar meios para distanciar-se do problema dentro do próprio problema é perigoso, ainda que sejamos craques nisso; deixar de ver a sogra, encontrando desculpas para tanto, sumir de casa e dizer que havia mais obrigações fora do que dentro, deixar filho com mãe, etc, nos tornam filhos inconscientes, pedindo aos deuses para não crescer e ficarmos apenas a brincar com aquele carrinho de caçamba que a mamãe nos deu...

Tenho um outro caso, o de um amigo que se casou duas ou três vezes, e que fez filho pelo menos duas. Paga pensão à ex-esposa, ao filho que não cria, e agora, casou-se mais uma vez, a terceira. Sua situação é a mesma de quando era adolescente... Seu  mundo atual, com o “novo casamento”, é velejar, descansar, dormir, comprar violões, arranhar (e muito) nas cordas, fingir que sabe tudo e por aí vai... 

Seu compromisso com o casório talvez seja o mesmo dos da época em que fez o primeiro e o segundo filho. Hoje, para se ter uma ideia, depende de sua mãe para morar, para comer, e sua esposa, à margem dessa sociedade criada por ele, está cheia dos problemas, dos quais nenhum deles está sob a responsabilidade do esposo.

Observando de forma genérica, posso admitir que o homem ainda carrega aquela clava dos brutos da caverna. Vão atrás de comida, e, depois de um longo tempo, voltam com a carne nas costas. A mulher, refinada, ainda se deixa arrastar pelos cabelos, quando sai de casa com ele, graças ao ciúme.

O homem, hoje, carrega o moralismo-pedra. Ou seja, acredita que o mundo roda em torno dele (devo confessar...), pensamos ainda que somos donos do mar, da terra e do ar, e, assim, nos passa filhos e mulher como simples empregados naturais de um relacionamento no qual tentamos ser felizes baseados no que o esposo pensa. O caso acima ilustra bem isso. E a mãe dele é uma das que foi criada sob esse manto frio do  machismo, dentro do qual todos os filhos homens são bens valiosos, ainda que não tenham força para serem...

O casamento...

Claro que o casamento é um dos meios mais eficazes de saber lidar com o ser humano. Se não casar-se, tudo bem. Haverá, em nós, outro tipo de casamento. O casamento do homem com a busca implacável em melhorar seus atos por meio de outros relacionamentos, pois não há outro meio – em nosso nível – que não aceite a evolução (a nossa) sem que passemos com outra pessoa o mistério do desconhecido. E o desconhecido somos nós.

E o casamento, com prazo de validade ou não, ainda serve como ponte para o conhecimento de si mesmo. Repetindo: em nosso nível. Não adianta padres, pastores, bispos ficarem à margem desse episodio, pois precisam lidar com alguma pessoa amada, de forma intima, seja física, seja emocional, espiritual, comungando ideias diferentes, encontrando-se no fim das retas opostas.

O casamento como prova é reprovável. Temos que vê-lo como uma beleza necessária, pois somos os únicos seres do mundo que transformam tudo em símbolos profundos, que se ligam com o sagrado. E o casamento precisa ser um símbolo do que somos e do que queremos com a vida... Não deixar que seja uma árvore que envelheça com tempo, sem frutos.

O casamento, com amor, é uma forma abstrata. Ou seja, sabemos que existe, mas não sabemos lhe dar forma. É belo, mas a depender de que o observa pode ser interpretado de maneira errônea. O amor, aqui, mais que todos os sentidos, não pode ser apenas um meio, uma peça de um casamento, ou um rótulo (pois que ama, amará sempre), mas um grande ideal de compreensão.

E para você que ainda não se casou, eu parafraseio o grande Fernando Pessoa, "amar é preciso; casar não preciso".

Um comentário:

  1. RegisBama,

    casamento é mesmo uma pancada na cabeça... Mas acredito que o menos sofrido é cada um respeitar o espaço do outro, a individualidade do outro e as saídas com os amigos do outro. Se cada um mantiver a sua forma de diversão (de maneira constante) ninguém ficará tão sufocado. Não vejo mal nenhum em sair com as minhas amigas ou o meu marido sair com os dele. Para eu fazer o que eu gosto de fazer e ele fazer o que ele gosta de fazer. Há tempo para tudo. E há tempo também para ficar com os filhos. Ficar 100% apenas no seu parceiro(a) ou com os filhos é um passo para a loucura e a infelicidade.

    Abraço fraterno,

    Lulupisces.

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