No estresse do dia a dia, e pelo estresse, vivemos pesados, como sacos de cimento, ou como servidores de um cais, a carregar mercadorias pesadas nas costas; nossas mentes cansadas, filhas do desespero, são como torres que captam a pior das energias humanas, advindas de outros que carregam a mesma energia.
Somos, ainda, uma estrutura biológica que não acredita nela própria, e se descarrega em outros inocentes, que, talvez, tenham se livrado do peso, o que não nos interessa, apenas retirar de nossos ombros e coração, egoisticamente, a dor que conseguimos durante meses ou anos.
E isso é um perigo. Nascemos com capacidades para captar o melhor da vida, contudo, ainda que nos desvencilhamos, nos vêm os pequenos problemas diários que se tornam bolas de neve em nossas almas, que se sobrecarregam, e, na maioria das vezes, se debruçam sobre um divã, na tentativa de explicar o inexplicável. Ou seja, ainda que tentemos sair do foco dos males da vida, vamos colher e transmitir àqueles que são ou não nossos inimigos – se não forem, serão. – e complicarmos mais nossos relacionamentos em qualquer nível.
Para quem pode pagar um psiquiatra, tudo bem. Há seres que possuem a natureza EM lidar com outros seres, dar chaves para a resolução de problemas alheios, e ganhar com isso. Mas estes também têm seus problemas familiares, conjugais, profissionais... mas, diferentes de alguns, sabem lidar com a matéria – com o problema.
Contudo, o psicólogo, que tanto ajuda a muitos, se revela, às vezes, sem experiência, e revela-se mais didático que real em suas reverberações. O que pode ser bom para uns vem a ser um desastre para outros, pois é preciso, sempre, ter a prática fria do dia a dia, e o psicólogo (como um professor de natação) não pode apenas ouvir pacientes, mas sentir na pele a razão da vida e seus porquês (ele deve saber nadar).
O estresse individual, quando remediado, vem a ser mais fácil de curar. Ele possui elementos mais fáceis de serem acessados pelo ouvinte – uma pessoa de bem, um bom médico, um psicólogo, sei lá... --, contudo, quando nos deparamos com um ar coletivo de dor, de baixa moral, de falta de estimulo... Com autoestimas baixas, é preciso que tenhamos uma força tangencial necessária. O precipício fica a um passo de todos, e se não acordarmos, iremos com todos eles.
Um filósofo um dia nos disse “Se entrares pelo cano, saias pelo cano”. É um conselho e tanto! Mas como fazê-lo...? No momento do “vamos ver”, quem vai se lembrar do cano? Não... É realmente difícil. Sem instrumentos, ferramentas, sem aquela consciência apaziguadora... Apenas à mercê de uma noite que não termina, a nossa vida se torna um útero do qual não queremos sair tão cedo.
Digo útero, para não dizer... Caverna. Uma grande caverna na qual residimos desde criança, na qual somos algemados, e cujas algemas nos foram colocadas desde pequenos sem saber quem foi quem as colocou; uma caverna fria, onde um fogo grande, atrás de nós, é grande graças ao consumo de nosso ‘vaidosismo’, interesse, mesquinhez, advinda de egocentrismos, entre outros problemas humanos.
E dessa caverna plantamos o mal, colhemos o mal, passamos o mal, e, após vários “verões”, entendemos que tudo porque passamos foi uma necessidade básica de crescimento natural, inerente a nós.
Infelizmente, conseguimos, um pouco, entender isso, porém, quando nos vem tal raciocínio, ainda que em uma fase prematura, podemos começar a viver um pouco sabiamente nossos princípios, o que é diferente de viver sem problemas! Vivê-los, resolvê-los, senti-los e transformá-los em carvão na medida de nossas experiências, que nos farão tão fortes quanto leões na selva.
Isso me lembra da história dos grandes senadores romanos, na época em que Roma era invadida pelos bárbaros. Conta-se que um dia o inimigo entrou na grande cidade e começou a quebrar as estátuas dos deuses, mas, ao longe, perto do Senado Romano, encontrava-se um senhor de aparência notável. Tinha uma barba comprida, uma vestimenta branca entrelaçada do ombro às pernas, estático, observando a falta de honra dos bárbaros a quebrar o legado romano em poucas horas.
Naquele dia, o bárbaro, que assassinava a todos que via, ao se deparar com aquele senhor, ficou estático, não disse nada, como se algo o tocasse a alma. Talvez, segundo contam, o senhor, que segundo falam, traspassou todo o seu respeito, sua moral, sua experiência, seu pudor e ética naquele momento, e evitou o pior – não foi morto; ainda que seja difícil de perceber em nós tais atributos, em raras pessoas, não, porque elas sabem colher da vida a razão de viver.
Outras histórias contam que em Esparta, quando havia torneios, os jovens, ainda que houvesse guerra, estavam lá, todos, a participar dos jogos, competições, pois havia os Jogos Olimpicos... E quando um senhor (homem-leão) chegava para assistir ao espetáculo, todos se levantavam, havia reverência até mesmo dos atletas, e o grande senhor sorria e se sentava. Era o respeito dos cidadãos àquele que havia passado por várias guerras, e ainda estava lá a observar novas e velhas gerações, como se o tempo não existisse para ele.
É a vivência, a sabedoria que se colheu durante anos em batalhas nas quais foram vencedores. E podemos ser, em nosso nível, tais quais homens-leões do passado, vencer problemas, e vivenciar nossos sonhos sem medo.
Ser homem-leão não é correr atrás das presas do dia a dia, nem mesmo cuidar da cria, enquanto a fêmea vai atrás do alimento. Ser homem-leão é ter colhido, durante toda a sua vida, experiências nas quais o sol foi o nosso referencial. E, como tal, iluminar um pouco a vida e sentir-se um pouco iluminado. Assim foram os grandes do passado...
A Leônidas
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