Percebem que, ao entrar novembro, já pensamos em dezembro, em suas festas, confraternizações, sorrisos em torno da árvore de Natal lotada de presentes, de bolinhas coloridas, respingando brilhos ao chão, ao teto, ao seu redor e em nossos olhos? Pois é verdade... E olha que eu falo de novembro, não o mês das festas, que é dezembro, no qual, ao chegar, transforma os corações, as almas mais doentes, mais frias, em manifestações raras de paz e beleza.
É incrível como podemos transformar as coisas do nada em algo que tenha uma transcendência maior que o próprio nome. Dezembro, por exemplo, não era apenas um mês em que se faziam festas, fosse de Natal ou não. Era simplesmente um mês e pronto.
O Natal, segundo o Cristianismo, é uma data em que se comemora o aniversário de Cristo, mas todos sabem que nem mesmo os cristãos sabem a data exata do nascimento do mestre, tanto que tal data fora adotada depois de séculos como a data do evento. Mais tarde, depois de adotarem até janeiro como o mês do ano um da história, dezembro foi adotado.
Muitos, no entanto, acreditam que o Natal é uma data a se refletir acerca dos mais pobres, miseráveis, pois sempre são os mais esquecidos durante todo o ano que se passou... Discordo. É uma data a refletir, mas não acerca dos mais necessitados, mas englobar nossas reflexões sobre tudo, incluindo os pobres, ricos, amarelos, pardos, dourados, opacos, japoneses, tailandeses...
Refletir também acerca de nossa riqueza, que não pode ser somente monetária, mas uma riqueza voltada ao saber, ao conhecimento, ao humano, ao sagrado, de forma que sejamos os mais divinos possíveis, onde quer que estejamos, porque sempre nos esquecemos, durante o ano todo, o que somos, e de onde viemos.
Sim, pois, a origem (a nossa origem) é aquela que jamais deve ser esquecida. Seja aqui ou no polo norte, com sentimentos regados de racionalismos, de vontade e de espiritualidade (o que é menos provável), todos devem ser observados à luz de nossa origem, pois ela é quem diz o que somos...
Numa cena de um dos filmes mais bem feitos da história, “Excalibur”, Merlin, o mago do rei Arthur, depois que os grandes cavalheiros da Távola voltam da vitória (da maior delas), pega seu cetro, levanta-o, e diz “Homens, prestem atenção! Não nos esqueçamos jamais desse dia, pois o maior mal da humanidade é o esquecimento!” E todos, sem exceção, levantam suas espadas, e clamam o nome do rei.
A nossa origem deve ser tratada assim. Jamais, nunca, devemos nos esquecer de onde viemos. Ela singulariza nossos traços, nossas virtudes, e nos dá um parâmetro do Caminho que podemos seguir. Porque a origem de tudo está no coração, o cérebro da alma.
E é por ela que passam todas nossas emoções elevadas ou não, e nos descentraliza do mal do mundo, de nós mesmos – esse ser tão egoísta, que levou a todos a acreditar que o que mostrara o ano todo era ele mesmo. Não, não era. O que somos a alma revela nos instantes em que recebemos um grande abraço de um ente querido, de um ser que há muito conflitua conosco, e naquele dia, o dia da reconciliação, do choro, da alegria... chega e nos diz... “feliz Natal!”.
Isso é o que vale! Pois nenhum sentimento de pena nos levará a exterminar a dor do próximo. Talvez muito pelo contrário. Nenhuma feição triste no Natal nos fará consertar as situações presentes ou passadas de um mundo em que pessoas só se integram em festas familiares. Não, jamais a dor e o desespero serão sanados com o medo de comemorar uma grande confraternização, com o medo de sorrir, com o medo de levantar da cama... Vai, com certeza, contribuir com o mal do mundo e, mais, pessoas que necessitam do seu sorrido, de seu abraço, do seu amor e carinho, sentirão sua falta e cairão emocionalmente em prantos, lá dentro do coração, cérebro de uma alma, que, em conflito, pensa, dorme e acorda, a espera do grande dia, o dia em que nos abraçaremos sem qualquer interesse, a não ser o de fazer-se e fazer o próximo feliz.
Quando entrar dezembro, que tenhamos, mais um vez, a alma banhada de siceridade e respeito ao próximo, ainda que não sejamos cristãos, mas que tenhamos a mente focada no grande sol que nos ilumina, sempre, que queremos suprir nossas necessidade internas, o sol de Cristo, esse ser solar, que, hostórico e mitológico, tornou-se um ser cujas potencialidades não podemos medir, nem imaginar, mas sempre nos tornar um pouco mais humildes e belos, assim como o é Buda, no Oriente, transformando a vida em algo melhor a ser vivido, pelo menos uma vez a cada ano.
Chega logo, dezembro!
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