Na calada da noite, quando todos dormem, depois de horas, fico sentado refletindo acerca do mundo ou antecipando minhas preces, antes de dormir. Sintonizo uma canção em minha mente como se fosse um desses aparelhos de rádio pequeno, em busca de algo para se ouvir... Mas, não adianta... A música, em si, não necessita ser procurada nessas horas, parece que ela sabe o quanto necessitamos de ajuda, a grande ajuda do silêncio...
E escuto meus pensamentos, minhas batidas de coração, os pequenos insetos que voam, meu respirar... E pronto. Cessou. Não ouço mais nada... Às vezes, até mesmo o traspassar da luz pelo vidro da lâmpada não passa despercebido, mas, na maioria das vezes, o silêncio é total. É um momento em que podemos conversar a sós, e ouvir a voz do coração...
Cansado das loucuras do mundo, a repousar no peito em busca de algo a refletir, meu coração se isola no corpo com certo receio de doer pelo que pode ser lembrado, mas meu esforço se sobressai e me inclino apenas a uma oração, a pedir mais amor ao mundo, mais justiça aos estados, mais vida às crianças, além de proteção à minha família, aos meus amigos, e mais dedicação ao Bem, o qual não reflete aos homens graças a uma época de dor e desespero... Tudo ao deus silêncio.
O mistério do silêncio se resguarda no fundo do coração do homem. Lá, naquele escuro centro, o homem não abre mão do que ele é, pois nem tudo é corruptível. Resguarda-se o mais simples e ao passo o mais complexo do que somos, pois não se pode racionalizá-lo, como um conceito de um dicionário. Dentro dele, luas e sóis se harmonizam tanto quanto os reais; dentro de nós, andamos no Caminho, transformando partículas frias em fogos de artifícios, ou mesmo sentimentos puros em larvas vulcânicas.
Aqui, a vida é livre. Somos livres. Sorrimos quando devemos sorrir, corremos quando nos der na telha, amamos o que (ou quem) quisermos, voamos tão melhor quanto pássaros, rugimos como leões na nossa própria África! Aqui, os valores, os reais, são obedecidos. Aqui somos éticos, virtuosos, cheios de ideologias, e as praticamos, pois elevamos nossos pensamentos a um mundo que realmente vale à pena: ao mundo em que acreditamos.
Nesse silêncio, gritamos ao vento, tomamos banho de chuvas, sentimos o cheiro da terra molhada, corremos entre crianças, sustentamos nossas personalidades, nossos princípios, e velamos pelos mais clássicos segredos, aquele que nos faz amar apaixonadamente a vida.
E o silêncio, num breve segundo, se desfaz. Temos que acordar da utopia por ele formada. Mas uma utopia da qual podemos tirar mais segredos. Temos que acordar, e dormir, para que possamos, pelo menos, na manhã do outro dia, respirar a leve brisa deixada pelo mundo nosso de cada silêncio.
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