terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Clássicos: os Contos.


O Lobo Mau e os Três Porquinhos: forte simbolismo.

Em pequeno, escutamos nossas mães, avós, ou pais, antes de dormir, a contar histórias de lobo mau, meninas desamparadas em bosques, e um bosque, sempre impedindo a bela de alcançar seus objetivos, além do próprio lobo. Ouvimos histórias de personagens, sempre em três, a lutar pelos seus sonhos, como três porquinhos, três mosquiteiros, ou mesmo em sete, como os sete anões – que possuem, cada um, uma característica de nossa personalidade.

É maravilhoso. E quando chegam aos príncipes matando dragões, em nome de princesas que nem mesmo seus olhos viram... Como diria uma grande professora... “o que faz aquele príncipe chegar do nada e querer matar um dragão em nome de uma princesa quem nem mesmo sabe quem é?!”... Mas as crianças sabem, fala ela, bem baixinho...

Os contos, desde sempre, são histórias fantásticas, contadas com o passar dos séculos, com vários objetivos. Um deles, lá trás, quando os druidas existiam, era resguardar os segredos do homem. Não os segredos materiais, esse pelos quais vivemos e amamos e na maioria das vezes odiamos, eram os segredos mais internos, que eram ressaltados, desvendados, mas também levados a todos em forma de contos.

Basicamente, falavam da alma, da busca sensata (e humana) do homem em conhecer a si mesmo; falavam dos mistérios que religavam o homem a Deus, não ao deus pessoal, mas àquele deus no qual, se houvesse uma fagulha fora dele, não seria Ele... Era o Deus natural, sem apegos, desejos, ódios, vontade pessoal, egoísmo, ira... Esta ultima bem difundida pelos cristãos, bem mais tarde. E assim, eram ensinados todos os homens desde criança, sem muito apego à matéria.

Os contos, hoje, não são tão levados a sério. Tanto que qualquer pessoa pode pegá-los e levá-los a qualquer tradução, seja ela pessoal ou coletiva; pessoal ou religiosa; profissional ou familiar... Sem mencionar autores literatos que infringem histórias, reinventando contos, com um olhar superficial e, no mínimo, sexual, num gesto tão homicida quanto jogar um gás venenoso em uma geração inteira.
Entretanto, se buscarmos com outros olhos, com olhos de filósofo, não o didático, que quer até mesmo impressionar o aluno impondo formas modernas, e sim buscar em meio àquele mundo simbolismos fortes dentro dos quais esconde-se um pouco de nós – assim como vários mitos – vamos entender a que veio o conto.

Há elementos, como o lobo, que significam a soma de todo nosso mal, por isso, em vários contos, ele aparece para “atrapalhar” o personagem principal. Lembram-se da Chapeuzinho Vermelho, dos Três Porquinhos...? Nada melhor que ter um lobo mau para nos mostrar que há sempre elementos, em nós, vilões, os quais se manifestam na tentativa de vencer no fim. Do resto sabemos.

Outros elementos, como a maçã, que sempre se manifesta não somente em contos como também em mitos – Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Adão e Eva... – relatam algo tão forte, que raramente se sabe o significado. Muitos falam em amor, outros em guerras, em conflitos, mortes... Mas fico com o significado do amor, que une a todos.

Há contos complexos, que passamos entender apenas com um olhar mais afincado no desejo de conhecer a alma humana, melhora-la, ou mesmo elevá-la. Fora isso, o príncipe será apenas aquele ser intrometido que chega do nada e mata o dragão e fica com a princesa...

O príncipe é um elemento maior. Claro que somos nós! Quando não pensamos em nada e fazemos, e vamos, e conseguimos! É a Vontade humana e divina ao mesmo tempo. O dragão, nossos maiores problemas, os quais se tornaram quase indestrutíveis, graças à nossa preguiça, nossa parcimônia, nossos medos, nossas pequenas dores que se tornaram grandes dores... Enfim, o dragão também somos nós. Em outras culturas, o dragão possui outro significado.

A princesa, a alma humana. Aquela que pede auxilio a uma forma maior para derrotar o mundo dos males que ele mesmo criou. E, com espada, que em muitas civilizações significava virtude, morre o dragão. O mundo precisa disso.

Crianças

Para as crianças que escutam com olhos arregalados cada palavra do genitor, mais tarde saberá (ou mais cedo que isso...) e entenderá que cada ser (animal, pessoa, florestas escuras...) do conto significa algo em sua vida. Vai passar por experiências sutis e vai prosseguir apesar de tudo, porque sabe que, no fim, o lobo mau – o elemento que a faz ter medo do escuro – nada mais é que uma necessidade natural da vida. Assim, vai trazer à tona outros elementos sem que perceba, e vai buscar mais forças em leituras clássicas, nas quais o simbolismo ali não é algo aleatório... Por isso que se diz que os clássicos são tão modernos quanto qualquer livro feito agora, pois possuem ensinamentos práticos para o dia a dia.

E crescendo, tornar-se-á um adolescente voltado ao respeito, à disciplina, será menos sectário, ainda que seus pais sejam religiosos. Verá com seus próprios olhos realizações em sua frente, e, com seus olhos de filósofo que aprendeu a ter, buscará infinidades de símbolos amontoados, em qualquer programa, desenhos, filmes...

Enfim, em cada conto resguarda uma infinidade de mistérios que podem ser desvendados, involutariamente. São histórias incriveis nas quais o mal nunca vence, nas quais principes e princesas têm papéis semelhantes aos nossos; onde dragões e lobos podem ser vencidos com pequenos atos de virtude e amor. E mais, são histórias em que mergulhamos, desde criança, e, quando adultos, jamais esquecemos.

 
 
 
 
 
 
Ao Meu Filhão Pedro.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....