Quando somos filhos, nos exaltamos com a juventude, e dela tentamos tirar o máximo de proveito desde que nunca nos faça mal ou que o mal nunca nos direcione. Mas as luas se passam, e claudicamos em nossos deveres e obrigações. Esquecemos os símbolos, as raízes, a família, o amor que ela nos traz, e abrimos caminhos não férteis, na maioria das vezes, e colhemos conflitos maiores que nossos pensamentos.
E por não exaltar os deuses, declinamos em nossa personalidade, que já nasce bruta, sem mesmo dar a ela a oportunidade de se lapidar com o tempo... O tempo, um deus tão estranho e perfeito, que nos oferece a dor como ensinamento, sorri do alto de nossos sonhos nos distanciando dele.
Daqui, nascem as lágrimas conjugadas de sorrisos sem lei. Morrem gerações em meio a tiroteios de palavras sem nexo, atos filhos do desespero, e assassinatos sem pingos de sangue. E primaveras sem rosas se rompem pelo mundo, assim como verões que nos inundam de chuvas incompreensíveis.
Entretanto, quando somos pais, a lua é a esposa, e o filho, nosso maior sol. Exaltamos seus atos, ainda que enraizados em inocências, sem trilhas, sem rumos. Amamos até a desordem que deles provém. E nos tornamos loucos por criaturas que serão o nosso oposto, mesmo que nos sigam em nossas religiões, partidos, vocações...
Somos, depois das Estações, pequenos deuses que necessitam de um deus maior. Por isso, clamamos ao Principio universal para que nos alimente de forças e de inteligências a fim de nos iluminar nesse mundo tão injusto. Assim, procuramos uma Justiça maior, e nos deparamos com um Bem maior ainda, não tão distante do Amor.
Tudo pelos filhos, que nos dão razões – ainda que mal interpretadas – para amar a vida, e tirar dela o sumo de nossa terra, mesmo não sendo agricultores; e ensinou-nos que somos árvores cujos frutos começam a cair sempre na medida de nossas experiências, de nossas consecuções frente ao Todo.
Nosso maior medo, no entanto, é das grandes crateras que, quando filhos, deixamos abertas no coração Sagrado da vida, e que nunca conseguiremos fechar. Mesmo assim, prosseguimos com fé junto a outros homens de coração e ideias gêmeas às nossas. Prosseguimos feitos gladiadores em arenas invisíveis, a matar leões diariamente, ou duelando com hienas sem alma, que sempre estão à espreita de nossos alimentos, ou seja, de tudo que temos ou teremos.
Mais tarde, ao morrer, seremos santos amados pelos filhos; seremos luas ou sóis que perambulam como vagalumes em sonhos. Mais tarde, seremos um grande sol, que ilumina a todas as almas humanas, e no mais tardar traremos chuvas, daremos os frutos, as árvores, daremos a terra, não teremos mais imperfeições!
E depois do grande Dia, teremos o universo como sonho, as estrelas como pingos de chuva, cometas como transportes, e o grande escuro do espaço como o mistério “indisvendável”, em nossa grande Consciência. Seremos tudo, seremos imortais.
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