Um dia, um mestre samurai estava sentado em seu tatame, quando que, de repente, aparece um dos seus discípulos. Vendo seu mestre a meditar, o rapaz de estatura média, com uma roupa preta, faixa roxa, embainhando uma espada na cintura, sentou-se ao lado do sábio, e perguntou-lhe “mestre, muitos se perguntam, o que é o céu, o que é o inferno?, e sempre me causam uma grande confusão na cabeça com as respostas que aparecem... Assim, eu queria tirar essa dúvida que me fascina. Mestre, o que é o céu e o inferno?”.
Ainda sentado, sem que fosse acometido com qualquer coisa, o mestre ficou passivo. E repetindo a pergunta, o discípulo, achando que o mestre estivesse um tanto quanto velho para ouvir, repetiu pelo menos umas duas vezes... E vendo que o mestre, depois de tantas vezes ouvindo e não respondendo, ainda soltava um leve sorriso com seus olhos semicerrados, levantou, pôs as mãos na espada, e disse “o senhor está me ouvindo! E mais, não responde!” – e quando o pequeno homem enraivecido iria tirar sua espada da bainha, o senhor lhe disse, “isso é o inferno, meu filho”. Impressionado, o discípulo retirou suas mãos da cintura, sentou-se, e declinou a cabeça... “Isso é o céu”, disse o velho sábio.
A Razão do Pensamento Dual
Não há porque subjugar a todos pelos erros de conceitos advindos dessa esfera, desse âmbito, ou seja, não podemos criticar qualquer que seja o individuo que não tenha uma base cultural, intelectual, formada acerca do exposto. Mesmo porque, além de humanos, somos todos buscadores, em algum nível, de respostas, ainda que sejam as mesmas, das mesmas pessoas, das mesmas fontes.
Contudo, é de praxe que nos voltemos a nós mesmos, no sentido de responder a muitas outras perguntas, e de tentar entender o porquê da vida, desse manancial que nos acorda, nos levanta, e nos faz acreditar que somos homens e mulheres que valham à pena estarmos vivos, na busca concreta e espiritual de nossos objetivos. E mais, em cada átomo, partícula que se vai, em outro nível, o somos também, pois a diversidade é maior que o uno, e uma partícula pensante é melhor do que milhões de outras que se infiltram nos raios do sol sem mesmo entender o porquê...
Mas não somos assim... |Somos questionadores!| Pois sabemos que os mistérios que rondam nossa breve alma são tão impressionantes que nos apegamos a um Deus, a uma forma maior que nós próprios, pois não sabemos as respostas internas – que são milhões – que tanto fazemos... E então, nos surgem perguntas do tipo: “Pra onde vamos quando morremos? Para o céu ou para o Inferno?”...
... No fundo sabemos que precisamos de um Céu, e que nossas más ações precisam ser depositadas em um caldeirão, por uma entidade não muito simpática. Se nossas ações simpáticas são vistas pelo grande e divino Deus, as nossas más, pelo infernal Diadorin, Capeta, Anjo Mal, etc... Porque somos justos, isso é uma condição inata – nasce conosco, morre conosco, mas passamos por trivialidades temporais as quais se tornam meios necessários para se conhecer o belo da vida – estou me referindo à injustiça. Sem ela, e sem os males que nos conduzem às estradas do bem e do mal, somos apenas ambulantes cegos, a cair em abismos, tão profundos quanto o próprio espaço.
E aí, em meio a uma filosofia de destruição, a obrigação do homem nada mais é que viver em função de seus interesses, de seus objetivos falhos, do poder e do autoritarismo, com exceção de poucos, os quais se elevam com finalidades brilhantes, nada além-humano; todavia, com a decadência dos valores que um dia permearam o mundo, ainda em frangalhos, os poucos que nos norteiam adotam princípios atemporais, advindos do universo, do sagrado, e daqueles que sempre resguardaram os mistérios de Deus, tais quais tesouros sem mapa.
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