Assim como o samurai que se apresenta ao seu mestre amedrontado, e que depois percebe que seu inferno e céu nada mais são que estados de consciência, temos nossos infernos e céus de cada dia. Contudo há relatos nos quais pessoas de crenças diversas, cujas formas em lidar com o desconhecido é casual, fazem questão de dizer que o inferno é literal – cheios de fogos em caldeirões, com pessoas (?) ao redor pedindo perdão pelos pecados, e pequenos diabitos puxando o individuo ao fogo eterno; e o céu, um paraíso imenso que abrigaria apenas os perfeitos (?), os bons, os obedientes, os santos...
Se nos evadirmos, um pouco, da cultura cristã ortodoxa, na qual tantos e tantos se infiltram todos os dias, e nela creem, podemos também tangenciar nossas informações a respeito do que podem ou não ser algumas alegorias ditas como reais pela cultura.
Heleba P. Blavastyscki*, por exemplo, a respeito de várias alegorias escreveu em sua Doutrina Secreta, a qual não sou digno de descrever aqui, nesse humilde blog; contudo, o pouco que se sabe de suas teorias a cerca dos símbolos é que a teósofa adquiriu notório conhecimento com (e em) diversas culturas – além de obras nunca dantes vistas – e nos fez um grande serviço em nome da verdade.
Segundo HPB, capeta, por exemplo, seria junção de vários simbolismos advindos do paganismo, o qual foi discriminado, modificado e desconceituado por culturas cristãs, que iniciaram seu processo de civilização em massa em muitas outras, principalmente na egípcia, romana, grega... Tal processo foi algo planejado com o intuito de reverter conceitos simbólicos dos quais vivia o paganismo.
Pã e Hades
O deus Pã, como todo estudioso sabe, é representado por chifres, patas e um corpo de touro, exatamente o que vem ao imaginário coletivo quando nos referimos ao “deus do mal”. Todavia, esse deus, o Pã, não tinha sequer esse adjetivo (de ser mal), mas de simbolizar cada aspecto universal contido na natureza e no homem – assim como muitos deuses o são...
Segundo o paganismo, há mais semelhanças ao criador de tudo, no deus Pã, que nos Demônios; pois Pã, de acordo com a etimologia da palavra, significa tudo – daí também vem paganismo (aqueles que viam Deus em tudo). Então, de acordo com a natureza do deus, ele tinha que representar simbolicamente tudo. Ou seja, seus chifres, patas, corpo haviam de ter uma representatividade universal.
O Deus Hades, assim como o Pã, que representava o mistério mais profundo da alma humana, teve que ser igualado, em essência, ao que os cristãos chamam de diabo. Por quê? Além de Hades ser a outra parte de deus, ou seja, o lado negro da vida, era, necessariamente, preciso.
Quando se tem uma religião, tem-se uma ideia, não várias. E a Igreja, á época, precisava exterminar qualquer ideia que viesse de encontro a seus projetos, artifícios, o que levaram milhões a adotarem (às vezes, à força) a ideia da Igreja. E deu certo.
Hoje, reforçado milhões de vezes, e com praticamente um Ocidente inteiro a favor das formas literais de interpretação, temos um conflito celeste, entre deus e o diabo – cada um na busca pelo seu fiel discípulo. Na antiguidade, isso era visto como mitológico.
Zeus
Todos sabem que Zeus fora um Titã que venceu seu pai, e salvou seus irmãos de serem devorados por ele. Sabem que, após essa vitória, Zeus iniciara um processo de divinização, transformando-se, várias vezes, em um ser mortal (como ave, homem, etc) com a finalidade de povoar a terra com seus semideuses.
Claro que não fora isso que a tradição nos legou, mas sim a profundidade de uma potência que significava mais que ela própria, e por isso somos obrigados a ler e reler os mitos para uma compreensão mais filosófica, baseada em preceitos platônicos, ou seja, sem que transformemos um e outro em personalidades com ou sem caráter – o que não acontece nos filmes hollywoodianos...
Mas Zeus, por assim dizer, foi uma referência para que entendêssemos o comportamento do deus cristão. Seja Ele antes ou depois de Cristo. A complexidade da compreensão da Divindade nos faz ver que há comportamentos estruturados e refletivos no homem, e assim trás o mito grego quando trata das “aventuras” de Zeus na terra, sob forma de pássaro, humano...
Tais aventuras lembram a ferocidade divina em épocas do rei Davi, e noutras, o de Moisés, ao atravessar as águas do mar vermelho; sem falar em épocas nas quais o divino deus quebra muralhas, salva o pupilo, extermina povos em seu nome... etc, etc.
Mas a grande figura de Deus está e sempre foi baseada na grande bondade, na justiça e no amor. E o contrário vai sempre representar, em qualquer hipótese, a do Diadorim, que sempre quer levar o homem para o seu caldeirão, e Deus, para o seu Céu.
Para os mais insistentes na verdade, são fenômenos pelos quais passamos, no dia a dia, que serão regados a simbolismos, assim como o pequeno centavo que ganhamos, vem do céu; e o mesmo centavo, se vier dos caminhos errados, será sempre vinda do inimigo.
Em outras circunstâncias, veremos o duelo em nossa consciência ao decidirmos algo de cunho interesseiro. Muitos desenhos nos mostram (de forma inteligente) um anjinho branco de um lado; e outro, com asas, porém vermelho e com chifres do outro, atazanando nossas escolhas...
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