Páscoa: é época de reflexão |
Estamos chegando a mais uma Páscoa. Uma semana de reflexões
acerca de nós mesmos, de nossos valores, de nossa tradição, raiz. Uma semana na
qual seremos obrigados a olhar para nós mesmos e tentar entender esse
microcosmo cheio de constelações misteriosas, do qual nascem e morrem cometas,
sem que saibamos de onde vêm e por quê.
Páscoa, uma passagem, segundo os judeus, da terra
da escravidão à terra prometida... No entanto, permita-me dizer, a passagem da
personalidade arcaica ao espiritual – passagem do ódio ao amor. E Cristo se
fez.
E todas as vezes que nos referimos a Jesus, acreditamos que
falamos de Cristo também. Mas Jesus tornara-se Cristo muito depois, ou seja,
tornou-se uma criatura universal após sua iniciação nos mistérios sagrados, o
que não relata a Bíblia, porém sabemos que, após sua morte, veio a ser um ser
solar, ou Cristo Solar, do qual emanam raios divinos a toda humanidade –
assim como outros que vieram para tanto.
Cristo nasceu no coração dos homens como música bela que
transcorre em nossas veias. Morreu crucificado em nossa alma valente, que,
desde que o homem é homem, luta para sair de sua dubiedade em relação aos
desejos de amor e paixão, paz e guerra, matéria e espirito. Cristo ressuscitou
em nós, como a maior das reflexões e nos fez mais humanos, a partir de nossos
atos, palavras e pensamentos...
Ressuscitou nossos valores, pelos quais lutamos fielmente,
todos os dias, no intuito de serem respeitados, e acima de tudo preservados,
porque temos um sol a obedecer, temos castelos a construir, temos colunas a
erguer – tudo isso dentro de uma alma que procura, assiduamente, seu caminho.
Hoje, em meio a um mundo desnorteado, sabemos que é
mais que necessário nos prontificarmos
perante a nós mesmos, no sentido de rever nossos defeitos, e canaliza-los;
revertê-los, e voltar à linha da vida, sabendo que dela vamos sair.
O importante, no entanto, é entender que há um céu em nós,
no qual possamos morar e realizar nossos
desejos mais sagrados. Estar consigo mesmo. Estar com Deus.
Um dia um grande general nos disse “Não precisamos viajar
para encontrar a paz que tanto desejamos. Em nossa alma há esse lugar, cheio de
paz, harmonia, de belezas... Um lugar idílico, organizado, ao qual podemos ir
sempre”.
E dentro desse pensamento, devemos passar a Páscoa, ainda
que signifique para algumas culturas a passagem de uma terra para outra, para
mim, vai significar sempre essa busca árdua pela paz interna, pelo Cristo
interno – não o cristo que sofre – ao qual temos direito desde o dia em que
somos humanos.
Vai significar, para mim, a ruptura de um ovo interno, do
qual sairá mais humanidade, mais amor, mais equilíbrio, mais desejo de
moralidade e ética, num mundo que morre por si mesmo, graças a forças
contrárias.
E quando Cristo se fez na cruz, mostrou-nos a consciência
Una, significando a morte do homem em meio ao espírito e à matéria –
significado da cruz (o vertical no horizontal) – pois o homem nada mais é que
essa tentativa de desdobrar-se em favor de seu Eu, de seu cristo. Contudo, se
depara com valores mesquinhos, filhos de um passado o que fez apegado ao
complexo, ao visível.
O homem, em seu entender, deve deixar um para abraçar o
outro, o que não é realidade para os avatares, pois, para estes, a unicidade
nada mais é que integração de tudo – Bem, Mal – guerra, paz, amor, ódio,
elementos nada análogos, mas que, assim como a luz e a escuridão, não vivem sem
o outro.
Nós, porém, descartamos essa possibilidade, e vamos ao
encontro apenas de uma paz que julgamos espiritual, e procuramos lugares vazios,
silenciosos, nos quais até mesmo o eco de nossos pensamentos é barulho, mas
depois temos dificuldade em lidar com a vida real.
Entretanto, a integração, a unificação, a religiosidade, a
espiritualidade dependem da real unificação do homem para com a humanidade, mas
para isso é preciso que vença seus preconceitos em tentar lidar com consigo,
sem que exclua dos seus planos a própria natureza que o cerca. A linha é
imaginária.
A Páscoa, ao meu ver, é uma reflexão a esse cristo que
reunifica, que sacraliza, e ressuscita em nós, com o eterno ideal de ser um
pouco mais buscador dos reais valores pelos quais lutamos desde o dia em que
fomos humanos, mas que, ao poucos, estão nos tirando.
A Páscoa é o Ovo Cósmico, do qual mistérios inatos saem em
forma de elementos que abnegamos todos os dias. É o ovo que se resguarda em
nossos corações, o qual está à espera do novo, ao passo tradicional mundo, a
revelar mais segredos que a própria vida nos revela.
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