quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Que sou?






Leão ou Hiena? 










É de se questionar acerca de Deus, dos deuses, de nossos papéis na terra. Questionar o porquê de nossa vida, de nossa morte. Para onde vamos, por que viemos; por quê? O que somos?... A realidade desses mistérios nos seduz há séculos e nos é respondida de acordo nossa educação, em nossa época. Ou seja, assim como tais perguntas nos eram respondidas na Idade Média pela Igreja, hoje, nos são respondidas, também, pela Igreja, o que não nos desvencilha de ser seduzidos – mesmo sem as fogueiras – a um arcaísmo sem fim, tal qual no século das Sombras.

Não nos prolonguemos em críticas. Vamos iniciar um processo de reformulação desses questionamentos, mas com premissas ocultas, reveladas por contos, lendas e mitos. A começar pela antiga Índia, local em que muitos inciados deixaram resquícios de sua sabedoria em fábulas.

Tais fábulas, como sempre, com o papel não apenas de responder os mistérios humanos, tinham como finalidade fazer com que o homem refletisse acerca de seu papel no mundo e no universo, assim como diante de si mesmo.

E uma das que mais me impressiona é a do Leão que fora adotado por hienas.

Uma vez, na grande selva, um filhote de leão, filho de uma última leva de grandes leões da África, fora deixado pela mãe, que morrera em troca de sua proteção. Um grupo de hienas, no entanto, vilãs e inimigas declaradas daquela raça, em vez de matá-lo, resolveu levá-lo para o esconderijo, educando-o, segundo o que eram, hienas.

E o filhote cresceu. Observando, assim, seu físico, seu comportamento, seu rugido, enfim, seus modos frente ao que seus pais adotivos eram. Contudo, o grupo de hienas nunca haviam falado ou queriam falar sobre sua infância, pois seria muito difícil dizer a ele que, além de ser um leão, era, também, por natureza, um dos maiores inimigos delas...

Mas não puderam esconder por muito tempo. O pequeno leão, que já não era mais tão pequeno, um dia, em nome de seus instintos, fora caçar. E de longe, via seus pais – hienas – comer o que restava da caça dos grandes animais com jubas e patas grandes (!), e serem obrigados por estes a correr de medo.

Um grande nó se fez em seu coração. Não sabia, agora, mais do que nunca, quem era. Será que seus pais eram aqueles que o haviam criado, educado, amamentado, e lhe dado tudo até então?.. Ou aqueles seres brutos, de juba, com patas imensas a correr atrás de outros animais para suprir suas necessidades instintivas?...

Um grande leão, depois de ver o pequeno adotivo estático a observar o bando, teria lhe perguntado “quem é você, meu irmão? Por que não está correndo como todo mundo em busca do seu alimento?”

Síntese

Assim como em todas as culturas que se foram, a carga simbólica em todos os contos e fábulas era enorme – e ainda o é. Mas isso não nos faz menos reflexivos. Ao contrário. A profundidade do que foi exposto pela história, talvez, nunca saberemos, mas, a priori, entendemos que se trata de uma fábula que nos remete a nós mesmos, ao que somos, ao pensamento intuitivo em torno do que mais subjaz a nós. O Espírito.

O leão, com certeza, somos nós; e as hienas, o mundo em que vivemos, a sociedade, a cultura, os meios e modos. Ou, como diria o sábio, seria nosso corpo, com o qual nos identificamos e acreditamos, desde criança, que nos encerramos nele, e somos ele (E isso nos remete a outro mito!).

E por pensar que somos a realidade que nos circunda, nos fechamos para os mistérios humanos, quiçá universais, nos deixando mais longe do que realmente somos. Ou seja, o leão. E por que leão? Em todas as culturas, o leão é um ser solar, que vem de sol, que ilumina a todos, e mais profundamente falando, o Bem.

Seríamos o Bem? Não necessariamente, mas teríamos, em nossa possibilidade, o reconhecimento consciente do que seria, isso quer dizer racionalmente, pois como diria Platão, na República, não há como, em nosso nível, entender o Bem, então fiquemos com o exemplo do sol, o que nos serve de parâmetro simbólico para reflexão.

Continuando... E quando nos encontramos conosco mesmos – o que veio a ocorrer com o nosso protagonista na fábula – é como se todas as perguntas inconscientes fossem respondidas de pronto. E tudo isso apenas em breves palavras... (aqui, o porquê da iniciação).

Ao nos depararmos conosco mesmos, e isso depois de várias revoluções físicas, como nos mostra o Bagavagita, a bíblia Hindu, nos deparamos com Krishina, o Cristo, em nós, o que há de mais sagrado e puro no homem. Ou seja, não é por intermédio de teorias ou práticas intelectuais que chegamos a Verdade, mas por meio de reflexões que nos levam à prática. 

E hoje, por meio de pequenos atos, o que para nós já são iniciações a curto prazo, nos questionamos o tempo todo, se somos leões ou hienas.






Mais revoluções à vista!

Um comentário:

  1. Nossa esse é um dos textos mais profundos que li desse blog, e isso me faz refletir sobre o ser hiena e ser leão, porque essa evidentemente é a questão . O que tenho duvida, é sobre o leão, sobre a diferença, pois por muito tempo viveu num mundo que não era dele, sem seguir a linha biológica, e isso o fez se perder, porque fora criado como Hiena, que no entanto elas não exerceram a função de explicar-lhe que ele realmente era. No meu ponto de vista as Hienas são os paradigmas da cultura familiar, porque estamos todos nesse mundo seguindo normas do cidadão porem há normas familiares que são as primeiras regras que encontramos na vida e a exercemos as vezes ate o fim de nossos dias. O leão no entanto seria o questionamento desses paradigmas, é como sair da caverna e enxergar outros mundos e questionar o porque do meu mundo ser diferente do outro. E ele estar perdido, seria os conflitos existenciais internos, ou seja, a diferença, não se sentir do mundo em que nasceu. Mas ai entra uma outra questão, a sequencia biologia, o carma para alguns, o destino para outros, a sina. Ele é um leão deveria agir como um leão, mas no caso não o faz. Mas ele não deixa de ser leão, deixa de ser como os outros leões , porque ele ainda tem os instintos, e como lidar com eles? Mas a vida é uma ironia, nela não a saber prévio total, vivemos a paideia poética constantemente mas as pessoas não veem isso e elas perdem muita das vezes essas questões filosóficas, " Porque estou aqui?", por causa das respostas que tentam infalivelmente enquadrar em nossas vidas e recebem isso passivamente sem questionamento, então por esse fator, há uma visão "hegemonia social das coisas" , e quando surgem questionamentos sobre os paradigmas, os saberes dados, ocasionam colapsos para os enquadrados passivos se é que me entende ! Se fui equivocada por favor esclarecer-me mais um pouco sobre essa fabula e sua concepção, porque essa foi a minha reflexão sobre ela. Ótimo texto !

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