Sem palavras... |
Ontem, antes de dormir, seguido de um bom vinho, escutava Tchaikovsky, orquestrado por nada mais que nada menos que Herbert Von Karajan,
um dos mais sensíveis maestros de todo mundo, conhecido, principalmente, pela
sua leveza, sua paz e harmonia com que rege as obras dos grandes mestres da
música...
A primeira vez que o vi, a reger os atos da Nona Sinfonia, de
Beethoven, fiquei estático, preso às imagens daquele homem que sintetizava em
seus atos a beleza do ritmo que a música trazia. Não era algo...normal por
assim dizer, pelo menos dentro de meus contextos nos quais posso imaginar, mas
era um sonho cheio de brisas mansas, das quais nasciam flores em todos os
lugares... Era um manancial de vida brotando, se transformando, crescendo e me
fazendo acreditar que existia algo muito mais valoroso que o chão que naquele momento eu pisava...
Von Karajan quebrava destinos, sufocava a imperfeição,
renegava, com sua baqueta, pensamentos, e nos deixava, mais uma vez,
embriagados de sensações as quais nem mesmo ele sabia que nos estava
passando... Assim ele foi.
No tocante à beleza do ato que nascia, transbordava em forma
de harmonia, gestos que subiam, desciam, com uma violência livre de dor, com
uma paz tão sufocante, que poderíamos subir aos céus sem sair do sofá... Eu
apenas observava, me calava, e tentava soltar uma lágrima fiel a momentos como
esse, mas eu teria que amar primeiro, sentir no fundo de minha alma, romper com
minhas forças físicas, adentrar em outro mundo para, depois, exibir minha
emoção...Que veio.
Não sabia que era tanto, nem pensei que era menos. Pois não
se pode esperar de pequenos microuniversos outra coisa senão a perfeição na
beleza a que Platão diria, “temos direito, desde que somos humanos”, mas também
não morri de amores, mesmo porque minha parte racional viajava nas mãos, nos
sopros, nos gestos dos músicos, na eloquência que pedia o grande momento...
E nesse racional, imbuído de Alegro, iniciei pensamentos
acerca de outro mundo... o nosso. Esse cheio de imperfeições, regido por
maestros frios, sem caráter, por um povo, orquestrado por ditadores revestidos
de democratas, os quais, em nome de seu ego, nos faz perceber que precisamos rever
nossos conceitos sobre sistemas...
Não precisamos. Estamos percebemos que nos faltam regentes,
assim como um grande Karajan, que sinta a vontade do povo, dessa humanidade
que caminha em nome de seus objetivos básicos, e que se esqueceu do amor
verdadeiro, da paz real em suas vidas – graças ao buraco enorme em que caímos..
A credibilidade nos sistemas se foi, naqueles que o
comandam, em sua bases, em suas palavras, em seus espíritos, na voz aguda do
palestrante que se julga coerente com princípios maiores que ele... Em Deus.
Talvez nesse deus inventado, mas não naquele que não
subjuga, castiga, sobrepõe-se, e necessita, urgentemente, de reverências, mesmo
porque não estamos à sombra de nenhum outro homem e sim de belezas perdidas, harmonias
presas, ritmos esquecidos, de uma paz interna, de amores universais que nos
esperam para praticá-lo, de mestres que sintetizam essa grande verdade, e que
nos asseguram a Beleza eterna.
Esse grande mestre, filho de outros mais místicos, anda com
sua baqueta, dentro de seu coração, em busca do discípulo perdido, ou este em
busca de algum mestre que o ensine matérias da alma. Enfim, os dois se buscam,
e quando se encontram, é como um sol que nasce, uma chuva que adormece, uma
alvorada alaranjada ao entardecer, é a filarmônica (Philos>Harmônica), a
amor à harmonia!
Após meu levantar daquele sofá, pude perceber que dormiria mais
leve, e sonharia os sonhos dos justos, o de ver o mundo como uma orquestra:
cada um com seu instrumento, dentro de sua vocação, amando e trabalhando... em
nome daquele que nos rege.
Nenhum comentário:
Postar um comentário