terça-feira, 25 de novembro de 2014

A Batuta de Von Karajan

Sem palavras...



Ontem, antes de dormir, seguido de um bom vinho, escutava Tchaikovsky, orquestrado por nada mais que nada menos que Herbert Von Karajan, um dos mais sensíveis maestros de todo mundo, conhecido, principalmente, pela sua leveza, sua paz e harmonia com que rege as obras dos grandes mestres da música...

A primeira vez que o vi, a reger os atos da Nona Sinfonia, de Beethoven, fiquei estático, preso às imagens daquele homem que sintetizava em seus atos a beleza do ritmo que a música trazia. Não era algo...normal por assim dizer, pelo menos dentro de meus contextos nos quais posso imaginar, mas era um sonho cheio de brisas mansas, das quais nasciam flores em todos os lugares... Era um manancial de vida brotando, se transformando, crescendo e me fazendo acreditar que existia algo muito mais valoroso que o chão que naquele momento eu pisava...

Von Karajan quebrava destinos, sufocava a imperfeição, renegava, com sua baqueta, pensamentos, e nos deixava, mais uma vez, embriagados de sensações as quais nem mesmo ele sabia que nos estava passando... Assim ele foi.




No tocante à beleza do ato que nascia, transbordava em forma de harmonia, gestos que subiam, desciam, com uma violência livre de dor, com uma paz tão sufocante, que poderíamos subir aos céus sem sair do sofá... Eu apenas observava, me calava, e tentava soltar uma lágrima fiel a momentos como esse, mas eu teria que amar primeiro, sentir no fundo de minha alma, romper com minhas forças físicas, adentrar em outro mundo para, depois, exibir minha emoção...Que veio.

Não sabia que era tanto, nem pensei que era menos. Pois não se pode esperar de pequenos microuniversos outra coisa senão a perfeição na beleza a que Platão diria, “temos direito, desde que somos humanos”, mas também não morri de amores, mesmo porque minha parte racional viajava nas mãos, nos sopros, nos gestos dos músicos, na eloquência que pedia o grande momento...

E nesse racional, imbuído de Alegro, iniciei pensamentos acerca de outro mundo... o nosso. Esse cheio de imperfeições, regido por maestros frios, sem caráter, por um povo, orquestrado por ditadores revestidos de democratas, os quais, em nome de seu ego, nos faz perceber que precisamos rever nossos conceitos sobre sistemas...



Não precisamos. Estamos percebemos que nos faltam regentes, assim como um grande Karajan, que sinta a vontade do povo, dessa humanidade que caminha em nome de seus objetivos básicos, e que se esqueceu do amor verdadeiro, da paz real em suas vidas – graças ao buraco enorme em que caímos..

A credibilidade nos sistemas se foi, naqueles que o comandam, em sua bases, em suas palavras, em seus espíritos, na voz aguda do palestrante que se julga coerente com princípios maiores que ele... Em Deus.

Talvez nesse deus inventado, mas não naquele que não subjuga, castiga, sobrepõe-se, e necessita, urgentemente, de reverências, mesmo porque não estamos à sombra de nenhum outro homem e sim de belezas perdidas, harmonias presas, ritmos esquecidos, de uma paz interna, de amores universais que nos esperam para praticá-lo, de mestres que sintetizam essa grande verdade, e que nos asseguram a Beleza eterna.

Esse grande mestre, filho de outros mais místicos, anda com sua baqueta, dentro de seu coração, em busca do discípulo perdido, ou este em busca de algum mestre que o ensine matérias da alma. Enfim, os dois se buscam, e quando se encontram, é como um sol que nasce, uma chuva que adormece, uma alvorada alaranjada ao entardecer, é a filarmônica (Philos>Harmônica), a amor à harmonia!

Após meu levantar daquele sofá, pude perceber que dormiria mais leve, e sonharia os sonhos dos justos, o de ver o mundo como uma orquestra: cada um com seu instrumento, dentro de sua vocação, amando e trabalhando... em nome daquele que nos rege.





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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....