Há momentos em que não suportamos o outro, porque sempre acreditamos que "o inferno é o outro", não o que trazemos em nós, como ferramentas, em circunstâncias nas quais não nos importa quem é ou o que realmente importa -- apenas fugir do outro.
"a fuga na maioria das vezes é um mal" |
Não adianta fugir, correr, fechar
portas, janelas, “que o problema entrará pelas portas do fundo”. O melhor de
tudo é enfrentar, mesmo com o pouco que temos, “como formigas a enfrentar o
fogo”, ou como passarinhos, “a apagar um incêndio”... Devemos enfrentar o
convívio.
O teatro da vida, esse excêntrico
teatro grego que não se esvai nunca pelas frestas da ignorância moderna, nos
desloca para o centro, ou melhor, para o olho do furacão. Essa é a tônica.
Participar, falar, ou pelo menos se comunicar com o próximo, mesmo que discuta
o nada, se rebele pelo tudo, chore pelo fútil. Tudo funciona como roldanas
presas, que com o tempo, se soltarão.
Essência
...A essência da vida, esse
pequeno ser que se esconde em nós, e também em todo universo, nos pede, quase
que implorando que a ouçamos. Entretanto ouvidos há somente para um mal que se
mostra em sociedades, em famílias, em grupos, além – ou antes de tudo – no próprio
homem – que é a fuga em razão dos próprios conflitos, os quais geram, por si,
necessidades de estar juntos, integrados, seja pelo convívio, conflitos... Não
há outro modo.
Para ilustrar, lembre-se de
que...“se há problemas no homem, há na família, se há na família, há nos
grupos, e se há nos grupos, há nas sociedades e por sua vez no mundo... Mas
tudo começa no homem”, o que é uma realidade, seja partidária, social,
religiosa, enfim, como lidar com essa questão se fugimos de nós mesmos?...
A Fuga
Um dia me disseram que um grande
ator de cinema, que sempre fez filmes fabulosos, entre eles O Poderoso Chefão,
Apocalipse Now, entre outros marcantes, com sua fortuna, comprou uma ilha...
Motivo, detestava seres humanos. E quem não detesta, às vezes? Eu pelo menos
detesto muitos, mas muitos outros, a maioria, eu os amo.
Marlon Brando não queria ficar ao
lado de esposas, filhos, amigos, parentes, e sim, solitário, como um ser que
nascera sozinho e que queria morrer assim... Sozinho. Não sabia, porém, que sua
alma, aquele outro ser que necessita elevar-se (ou necessitava...), não
conseguiu cultivar elementos melhores do que uma boa conversa, um diálogo
direcionado, um sorriso fértil de uma pessoa feliz por ele está ali, do lado
dela...
Esqueceu-se o ator, assim como
nós nos esquecemos, de que a melhor forma de fugir dos problemas é ir ao
encontro deles, assim como “Teseu o foi em busca do minotauro”, não ir de
encontro – como se fôssemos para um conflito armado...
Desconhecido
Para muitos, a vida nada mais é
que isso, esse conflito, essa dor louca, que nos subtrai as esperanças a partir
da violência que o outro (humano) nos trás por meio da maior de todas, o
desconhecido.
O desconhecido, por si só, é uma
parte do que somos. É uma parcela do mistério a ser resolvido, e que não
estamos, como sempre, nenhum pouquinho favoráveis a essa prática – e quando o
somos, nos tornamos psiquiatras ou psicólogos, a angariar fundos em cima de
problemas alheios. Não precisamos ser assim. Nem profissionais, nem pacientes
de causas das quais não conseguimos descobrir o porquê dos conflitos.
Precisamos, apenas, ter
paciência.
Primeiro, recompor as energias
frente ao que mais acreditamos como algo superior entre nós. Eu me debruço, na
maioria das vezes, frente ao mistério do sol, e peço que sua natureza branda
esteja um pouquinho ao meu lado, e assim volto à batalha com o pouco que tenho:
minha fé em terminar meu trabalho, minha educação frente às pessoas – na qual
acredito tem me feito um homem de bem a cada dia --, meu filho, minha família,
e principalmente o tempo, ao me deparar com injustiças...
Pois, “quando, em um banquete sua
(a minha) refeição for servida, não se alvoroce, tenha a calma dos justos, nada
mais”...
Quando no passado, em uma Atenas
maravilhosa, quando seus valores já não estavam tão claros, um homem chamado
Zenão, depois de Platão, Isócrates, Aristóteles, Alexandre... , nos veio como
um ser que, em seu entender, precisávamos nos elevar, baseados em premissas
antigas, nas quais o próprio homem se infiltraria não como político, religioso,
filósofo teórico, e sim prático, com ferramentas fortes... E principalmente,
como um ser como é sempre foi: Natural, voltado ao seu Eu.
Disse Zenão,
“Não deixai que nada ou ninguém
te incomode, nem mesmo as doenças, nada, mesmo porque nada disso faz parte do
seu Eu verdadeiro”.
Ficamos aqui, com esse grande
estoico.
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