"O homem criou a época da velocidade e sente-se enclausurado dentro dela" - Charles Chaplin,
“Já beijou seu filho hoje?”,
dizia um adesivo no vidro traseiro de um carro. Por que será que essa frase faz
tanto sentido no mundo atual, ou melhor, hoje, aqui, agora? Há dez anos, ou
menos, há cinco anos, não era assim. Pais acordavam sem a loucura diária, observavam
sua cria ainda dormir, davam um doce beijo no menino e iam trabalhar...
Hoje, no mesmo mundo de sempre, deixam
seus filhos na porta do colégio -- hoje
temos as vãs (ou ônibus) escolares – que minimizam nosso sofrimento, mas nos
deixam com saudade de um abraço forte e longo. E nessa correria, sobra o amor
relativo aos casais, no qual beijinhos e abraços rápidos são permitidos, mas
usufruir de um momento pertinho um do outro, a assistir um bom filme sem
dormir, é raro.
Atualmente há casais que não conseguem
se ver mais e se amar, muito mais, graças a essa pressa descabida que se cria
em meio a trânsitos de problemas que nós mesmos geramos. Digo nós porque, no
fundo, a realidade a que nos acostumamos é a mesma de antes, porém, hoje, em
nossa filosofia apressada, precisamos de mais ritmo, acreditando que
solucionaremos todos os problemas tão rápido quanto antigamente... E, por fim,
descansaremos o quanto antes.
É pura falta de respeito a si
mesmo. Se temos uma vida a ser vivida, ela nunca vai se resumir em trabalhos,
em escolas, em até mesmo no fim de semana articulado para se descansar... Mesmo
porque podemos, antes desse descanso, refletir ao que estamos fazendo, o modo
como estamos fazendo, ajustando nossos horários internos, harmonizando-nos com
o que nos dão atualmente – horários de verão, outono, etc... – de modo que
possamos transformar nossas pressas em algo prazeroso, e por fim, olhar o rosto
do filho, conversar com ele, e nele dar um grande abraço.
Imagine um soldado antigo quando
dizia... “obedeça à sua mãe. Seja homem!”, e ia para a guerra fazer o que mais
amava, defender a liberdade de sua família, sociedade e de seu país. Contudo,
não precisamos ser soldados diários, nos despedindo de nossos filhos ou esposas
a defender seja qual for o idealismo, mas nos parece que o somos.
Colocamos nossos ternos e
gravatas, nossos sapatos, como se fossem parte de uma armadura semelhante a dos
grandes cavaleiros, e entramos em nossos carros, saímos sem olhar para trás, e
a batalha diária se inicia. De alguma forma somos cavalheiros modernos, mas o
que vamos defender é algo que um dia o cavalheiro Idade-mediano, dentro de suas
possibilidades, defenderia... Conseguir proventos para alimentar sua prole.
E ao conseguir, ter o direito de
ver o sol, sair com a família, brincar com seu filho, ir à casa de seus amigos,
respirar um ar diferente, absorver novos ares, viajar... No entanto, os dias
desse cavalheiro moderno vão diminuindo à medida que seu mundo vai se tornando
uma bola de problemas, na qual ele mesmo entra e dela não consegue se livrar.
É a bola do desespero por não
conseguir realizar seus sonhos – já citados – em tempo hábil, e nesse andar,
vê-se preso, quase que enjaulado pela ignorância de não saber lidar consigo
mesmo, ou seja, mal ele sabe que tudo começa com ele, esse pequeno e
significante ser do universo que não consegue lidar com as leis naturais da
vida.
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