sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Presos pela Pressa

"O homem criou a época da velocidade e sente-se enclausurado dentro dela" - Charles Chaplin,



“Já beijou seu filho hoje?”, dizia um adesivo no vidro traseiro de um carro. Por que será que essa frase faz tanto sentido no mundo atual, ou melhor, hoje, aqui, agora? Há dez anos, ou menos, há cinco anos, não era assim. Pais acordavam sem a loucura diária, observavam sua cria ainda dormir, davam um doce beijo no menino e iam trabalhar...

Hoje, no mesmo mundo de sempre, deixam seus filhos na porta do colégio  -- hoje temos as vãs (ou ônibus) escolares – que minimizam nosso sofrimento, mas nos deixam com saudade de um abraço forte e longo. E nessa correria, sobra o amor relativo aos casais, no qual beijinhos e abraços rápidos são permitidos, mas usufruir de um momento pertinho um do outro, a assistir um bom filme sem dormir, é raro.

Atualmente há casais que não conseguem se ver mais e se amar, muito mais, graças a essa pressa descabida que se cria em meio a trânsitos de problemas que nós mesmos geramos. Digo nós porque, no fundo, a realidade a que nos acostumamos é a mesma de antes, porém, hoje, em nossa filosofia apressada, precisamos de mais ritmo, acreditando que solucionaremos todos os problemas tão rápido quanto antigamente... E, por fim, descansaremos o quanto antes.

É pura falta de respeito a si mesmo. Se temos uma vida a ser vivida, ela nunca vai se resumir em trabalhos, em escolas, em até mesmo no fim de semana articulado para se descansar... Mesmo porque podemos, antes desse descanso, refletir ao que estamos fazendo, o modo como estamos fazendo, ajustando nossos horários internos, harmonizando-nos com o que nos dão atualmente – horários de verão, outono, etc... – de modo que possamos transformar nossas pressas em algo prazeroso, e por fim, olhar o rosto do filho, conversar com ele, e nele dar um grande abraço.

Imagine um soldado antigo quando dizia... “obedeça à sua mãe. Seja homem!”, e ia para a guerra fazer o que mais amava, defender a liberdade de sua família, sociedade e de seu país. Contudo, não precisamos ser soldados diários, nos despedindo de nossos filhos ou esposas a defender seja qual for o idealismo, mas nos parece que o somos.

Colocamos nossos ternos e gravatas, nossos sapatos, como se fossem parte de uma armadura semelhante a dos grandes cavaleiros, e entramos em nossos carros, saímos sem olhar para trás, e a batalha diária se inicia. De alguma forma somos cavalheiros modernos, mas o que vamos defender é algo que um dia o cavalheiro Idade-mediano, dentro de suas possibilidades, defenderia... Conseguir proventos para alimentar sua prole.

E ao conseguir, ter o direito de ver o sol, sair com a família, brincar com seu filho, ir à casa de seus amigos, respirar um ar diferente, absorver novos ares, viajar... No entanto, os dias desse cavalheiro moderno vão diminuindo à medida que seu mundo vai se tornando uma bola de problemas, na qual ele mesmo entra e dela não consegue se livrar.


É a bola do desespero por não conseguir realizar seus sonhos – já citados – em tempo hábil, e nesse andar, vê-se preso, quase que enjaulado pela ignorância de não saber lidar consigo mesmo, ou seja, mal ele sabe que tudo começa com ele, esse pequeno e significante ser do universo que não consegue lidar com as leis naturais da vida.

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