O reflexo de Narciso. Um eco. |
Quando em montanhas estamos, ou à
beira de um precipício, damos aquele grito em direção ao nada, e ouvimos o ressoar
nosso que vem de dentro, a bater nas paredes rochosas dos deuses de pedra e
voltar em questão de segundos, deixando-nos maravilhados por ouvir a nós
mesmos, quase que literalmente... É o eco.
É um aprendizado eterno. Do que
fazemos, pensamos, refletimos, amamos, nos apaixonamos, enfim... Vivemos, seja
em prol de ou contra algo, alguém... Com todos e com tudo. É a lei da ação e
reação...
Ao gritar, a voz bate nas
montanhas, e como ondas que batem nas rochas volta de forma “mágica”, quase
grave, contudo, percebe-se nitidamente que é a nossa voz, a repetir nosso
grito. Não é metáfora, é real.
No concreto
Ou seja, o que vestimos agora, o
que bebemos nesse instante, onde estamos nesse exato momento, o que fazemos
aqui, nada mais é do que nosso grito a curto ou a longo prazo, de um passado em
que demos um berro em forma de decisões, das quais saíram, hoje, o que temos e
o que somos.
Reflitamos... O que estamos a
fazer agora como um grito? O que desejamos ressoar para nós? Coisas boas ou
ruins? O certo ou o errado? As mesmas coisas, ou coisas diferentes? Estamos
trabalhando? Pensando no bem, no mal, em nada, vivendo em função de algo, de
alguém, esperando, andando...?
Não importa... Com certeza vem de
forma justa, e claro, na maioria das vezes, não com os mesmos elementos do grito, mas sempre com um tom mais grave,
divergente – a dar dúvidas ao nosso entender se somos ou não os culpados pelo
ele... Não adianta, sempre o somos.
Grito dos grandes
Quando Sócrates, em seu último
dia, bebera seu veneno, não se deixando contaminar pelo maior deles, a
Democracia ateniense, vivendo sua filosofia mais branda possível, tanto quanto
a qualquer outro depois dele, deu seu Grito. E hoje, séculos depois, ressoa em
forma de caráter àqueles que apregoam a busca pela Verdade e Justiça...
Assim o foi Cristo, após sua
morte – a qual não sabemos como foi, depois de tanto séculos! – dizem que foi
crucificado, mas outros dizem que não, e sim o foi Judas em seu lugar, mas que
não soa como mera importância, e sim o que fora em vida, articulando caminhos,
a gerar formas de sementes das quais nasceram grandes cristãos, homens de bem,
os quais, de algum modo, tentam aproveitar desse Grito, que fora dado há mais
de dois mil anos.
Não menos ressoados saíram os
gritos de Platão, em sua ideal República, da qual homens de ideais fortes
retiraram ecos enormes do que realmente somos e para onde devemos ir. Os gritos
que até hoje ressoam de sua lendária Caverna talvez espelhem melhor o que foram
– pois coadunam o que somos e fazemos nessa escuridão histórica.
Sem eles, sem esses gritos,
seríamos apenas meros simpatizantes de outros que batem e voltam como pequenas
ondas que não saem de suas margens, sem ir ao encontro de seu manancial.
Sem esses grandes gritos do
passado, nada teríamos em nossos corações, em nossas almas, em nossa vida,
apenas gritos de formigas modernas vislumbradas pelo pouco que criam em forma
de palavras, de artes, tão deturpadas de sua origem, além da música, hoje tão
fria de sentido quanto o amor real, esquecido nas ruas, confundido com paixões
rápidas, ou não, sem mesmo deixar rastros de humanidade... E humildade.
No Espírito
Não somente em aspectos visíveis
nos sentimos vítimas ou donos desse grito, que há muito existe em forma de
atos. Nossos princípios, na maioria das vezes, baseados em castelos de areia,
que caem com qualquer brisa, podem ser a maior prova de que, no emocional, o
grito bate e leva anos para sair de nós...
Ele, em forma de dor interna, nos
faz buscar vinganças, ou mesmo ficar solitários, em meio a multidões, ou mesmo
desabar em prantos sem saber o porquê – é o
eco se fazendo em forma de sentimentos caídos.
Contudo, quando temos a força em
forma de ideais, sejam eles fortes ou fracos, mas que nos façam levantar do
sofá em que estamos, pode-se dizer que o grito está-se por fazer, pois a
consequência é andar em águas turvas ou calmas a depender de nossa força, a
qual na maioria das vezes atravessa-nos naquele grande mar mitológico de
Moisés, no qual vários idealistas não sucumbiram a outros ideais e atravessaram
o mal, com seus próprios princípios...
Fim..
O Grito deve ser dado por todos.
Até a criança que chora, ao gritar, sabe que seu grito vai bater no ouvido da
mamãe e ela vai escutar. Vai amamenta-lo. E a mãe ficará atenta... Nós, não como crianças, mas como seres
conscientes que somos, damos gritos e acreditamos que seu ressoar não existe,
e, quando há, colocamos culpa em divindades extra-sensoriais, ou mesmo no
cunhado...
Ser conscientes é gritar em nome
do que é Belo, Justo e Verdadeiro, não esperando a volta do que fazemos. E se
voltar, vamos caminhar em nome desses valores, os quais num passado tão
distante eram vistos, falados, ouvidos, praticados e graças a estes andamos,
falamos, pensamos, refletimos e subimos degrau por degrau na escala da evolução
humana.
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