... Fiar, passar pelo mais difícil e ultérrimo tecido, sem titubear, cintilando pelas linhas magras, ou mesmo pelas vias estreitas nas quais somos obrigados, desde a tenra idade, passar. Fiar pelas ondas, pelos erros, pelos acertos, pelas montanhas, pelo mundo a fora, e no mais tardar pelo universo, tal qual um astronauta a sorrir perdido nas estrelas.
Fiar, fiar, fiar... Com alguém. A segurar nas mãos de outrem, partilhar a vida, cantar a música mais lastimável e na sensatez ouvir, antes do castigo, a Nona, as Quatro Estações e morrer fiando em Bach. Olhar ao sol, sentir seu rosto a bater no seu, pisar ao chão que fia, que penetra na mais simples artéria dos pés, que nos alivia pensamentos frios e egoístas; olhar ao céu, fechar os olhos, sentir que somos parte, e que esta parte, a menor, porém melhor, burlar como criança inquieta dentro de nós. a arrebentar o Deus em forma de energia que se eleva, ao passo nos destrói em dúvidas racionais, tais quais paralelepípedos em ruas, que se quebram tão somente para renovar.
Fiar em nome do confiar, do subir, do eu superior que, quase inalcançável, nos espreita com seus agentes elementais, ao que fazemos ou que deixamos de fazer para sua honra e glória. E nesse fiar interno, cheio de mistérios, descobre-se o mais superior de si mesmo, o mais mítico dos mitos, o mais assombroso dos Homens, que adormece em colchões quentes, a tomar seu banho em cachoeiras de mel, a ser amamentado por virgens celestes das quais tiramos a intuição e o respeitos às senhoras, às damas, ao logos feminino...
E fiando. confiando em si, apodera-se da vida, em uma simplicidade tão bela, que o igualar-se ao sol, ao cheiro da chuva, ao poder transformador da rosa, torna-se divino ainda sem ser. Aqui, nesse fiar, nesse emaranhado de fiações, penetramos no obscuro dos deuses, na compreensão idílica do coração, da alma humana e universal. e tudo se fiará em um.
Con-fiamos em nós.
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