(Degraus iv)
...Ontem, em uma tentativa de explicar a meu filho o que era Ordem, meus pensamentos foram além do esperado. (Mesmo porque) Em um país cuja a expressão "Ordem e Progresso" não significa muita coisa, e mesmo assim dorme estampada no meio de uma bandeira linda, a flamular de graça nas esplanadas da vida, em frente a prédios imensos, embaixadas no exterior, tal qual propaganda enganosa de um produto que pede para ser comprado e ao mesmo tempo sem sabor, vazio, frio como uma marmita de trabalhador braçal, quando o provamos.
Ordem, eu disse a ele, ao meu filho, é uma dádiva do universo a tudo que precisa do seu lugar, a começar pelo mais simples ao mais complexo, e quando eu digo isso me refiro não somente às coisas com as quais vivemos -- brinquedos, meias, gravatas, roupas em geral, que devem, por obrigação, ter o seu lugar -- mas, principalmente, a nós mesmos, como nosso temperamento, nas emoções, no falar, no andar, no viver, enfim... A Ordem se faz em tudo.
De início, acredito, fui um pouco além do necessário, mas depois que meu filho iniciou uma leitura acerca do assunto, sabia, intuitivamente, do que eu falava, e vi que começara a gostar do assunto, e perguntou, e parou, e perguntou de novo, e o interesse subiu. Meu orgulho, mais uma vez, também subiu, e falei das estrelas, da terra, das cidades, das ruas, dos números, e lancei questionamentos, e mesmo titubeando nas palavras percebi que ele já tinha pego a essência da coisa...
"De qual assunto meu filho gostou mais? -- sobre Justiça ou sobre Ordem?"... E fazendo aquele barulhinho com a voz antes de responder disse... "Hummm.... Ordem!". E eu concordei. Mas acrescentei que não haveria, em nosso tempo, em nosso mundo, não muita ordem se não houvesse justiça, e que as duas, em algum ponto, se confundem ou se fundem, simplesmente pelo fato de que, um dia, Justiça significava Ordem em um passado distante.
Queria muito falar com ele a respeito da Ordem no sentido mais sutil possível, como a de Mâat, a deusa do Equilíbrio, da Justiça, da Ordem, no sentido mais uno possível. Mas vamos deixá-lo crescer um pouco mais né.
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