segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Quando os Mestres são Lembrados

Nada melhor do que viver na prática uma máxima clássica da qual se pode extrair belos ensinamentos. Foi o que me aconteceu no fim de semana, quando passeava pelo shopping com minha esposa e filho e vi, subindo a escada, uma chefe que trabalha comigo. Minha esposa a viu e, segundo ela, era quase certo que a recíproca foi a mesma. Ou seja, ela teria nos visto também. 

A questão nos parece boba, se não fosse o rosto teatral daquela com quem trabalho e se diz sensível às causas humanas, ter nos visto e não falado nada. Aquela pessoa que subia a escada rolante era minha chefe, cujo profissionalismo exacerbado era tanto que não sabia lidar com nada além daquilo com o qual vive e respira dentro de quatro paredes e um computador na sua frente. Normal. É um dos males humanos pensar que trabalho é tão importante quanto família, sociedade, seres humanos, amizades...

Amizades... taí uma coisa que não sei se tenho com minha querida boss, um ser estranho que endurece pela manhã e sorri maquiavelicamente a noite, como um robô programado para matar. Como um ser calculado, meticulosamente, para falar aquilo que a mente pensou quando acordou. estranho demais.

Poderia ser mais, se não fosse só comigo, um ser pobre, quase negro, meio humilde, íntegro, pai de família, que não pede a ninguém que não goste de mim, simplesmente pelo fato de que não poderia, nem se pudesse. O amor, a amizade, a compreensão ao próximo se dão de maneira voluntária e acredito que muitos têm esses três sentimentos por mim, ainda que eu não peça. Acho que tenho praticado junto a todos esses quesitos, e isso me dá frutos.

Nesse mesmo dia, um grande amigo, do qual não sei o nome, por incrível que pareça, me encontrou, me abraçou, sorriu, foi gentil com minha esposa, sentiu-se um privilegiado por me ver e eu a ele. Ao contrário da chefe, esse querido amigo é negro, não possui cargos de chefia, é um terceirizado, não possui filho em colégios particulares, nem mesmo carro do ano... E tenho a certeza de que se os tivesse, seria mais humano ainda, mesmo porque é uma dessas pessoas iluminadas que nos intimidam  com sua bela alegria, e nos faz melhor simplesmente pelo fato de sermos pessoas que o reconhecem como amigo.

Fiquei pensativo quanto aos dois personagens que encontrei. Um, constrangedor somente pela aparência, e o outro, amado pela alegria; um, cheio de pobreza espiritual, e o outro, apenas sorrisos fartos, como um grande ser que encontrou o céu, ou pelo menos o caminho dele. Um, preso em sua caverna material, cheia de preconceitos ao mundo, e o outro, salvador da humanidade, grande pessoa, transmitidor de paz e fé.

Sei o quanto há nesses dois características diferentes, e isso é o que somos, seres distintos, em pernas, mãos, braços, cores, gestos, ideias, e principalmente jeito de ser. Uns, constrangem, outros, te iluminam. Não poderia ser diferente, nem mesmo se quiséssemos ou se fôssemos divindades naturais com poderes maiores que as pessoas. Teríamos que ser observadores, no máximo, irrelevá-los e deixar que natureza de cada um vá para o oceano para qual se destina, com suas benesses ou não.

Entretanto... possuímos sentimentos, precisamos de reciprocidade quando somos educados com outra pessoa, ou mesmo com os animais, vida, etc. Porém, se observarmos bem, estaremos trabalhando inconscientemente para o próximo e não para nós, para o nosso próprio mérito e sim para o do amigo, da amiga, do irmão, da família e do filho. E aconteceu, mais um vez, nesse fim de semana, ao vir os dois personagens, tão diferentes, tão fantásticos, que, quando cheguei em casa, fiquei pensativo -- um pouco triste, evasivo -- mas sorri  ao lembrar, depois, de Epíteto, grande filósofo estoico quando disse há pelo menos quientos anos... "Não se paute pelas pessoas, se paute pelo seu próprio mérito".



Ave!


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