quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Passado que passou.

Completei cinquenta anos, no último dia dezesseis. Por mais incrível que pareça, tornei-me um pré-idoso. Não sou mais o mesmo física e mentalmente, e espero outras agruras da idade daqui pra frente. Meus olhos, minhas pernas, meu corpo não são mais aqueles heróis bio e fisio dos anos oitenta -- ano em que trabalhei e estudei como louco. Diziam até que eu era inteligente! Que absurdo!

Passados os anos noventa, achei que seria eterno, mas os anos dois mil me jogaram na parede. Pareciam dizer "Peguei você, hahahaha!" -- é as saliências da vida existem e temos que enfrentá-las como aqueles protagonistas de mitos gregos que pulam de torres, voam, sobem e... morrem. Mas antes do rasante, sobrevivem o máximo para dizer que são imortais. Assim fui eu (ou nós) a contemplar a eternidade por alguns anos, dificultando até mesmo a compreensão do porquê dos cabelos brancos que nasciam sem permissão.

Tudo em mim (em nós) se solidifica como passageiro, como qualquer coisa física que nos padece. Menos a alma, esse ser invejável que desestrutura nossa compreensão científica, biológica, semântica e filosófica da vida. Por não ser tão clara, objetiva, visível, muitos se relevam contra ela, e a detém como um ser à parte, como que não fizesse parte de tudo. E faz.

Mas as lembranças, essas nas quais tento me deter e delas... lembrar, ficam como sendo a própria contradição entre o corpo e a alma. Simplesmente porque, ao serem mentais, e que se edificam graças à nossa nossa experiência -- seja ela física ou não -- me faz acreditar até certo ponto que não são interessantes. Para mim, hoje, agora, com essa idade, com a essa perda de memória -- ou como diriam os cientistas, da membrana cerebral, responsável pela guarda de dados, que perde suas células, não tenho mais amor ao passado.

Talvez eu não tenha tido um grande passado. Talvez eu até teria tido, mas não me lembro... Se me pedirem para me sentar, escrever algo parecido com aquilo que passei, não sei se alguém o leria, compraria, gostaria... ou mesmo amaria. O pouco do que me vem à mente me faz rir, sentar, refletir, pensar... mas nunca voltar a ele ou nele ficar.

O que me faz amar o passado, viver dele, não é ele exatamente; mas o ar que me traz e vai me trazer sempre quando dele bebo, o chamado espírito natural com o qual aprendemos realmente andar.

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