sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Na casa da Mamãe...


Sabe...às vezes me bate uma saudade de minha família... É como se ela não existisse, pois sinto tanta falta dela... Aquele núcleo inspirado em fazer alegrias nos fins de semana, e quando no meio... parecia que a sexta-feira (ou sábado) tinha mudado de lugar. Mas não... Era realmente um bando de filhos nordestinos, cuja mãe, de aparência forte e bela, não se entregava e caía na risada dos marmanjos. Meu pai nunca foi assim, mas temos grandes lembranças dele – e que lembranças!

Um senhor alto, de cabeça triangulada, bigode firme, andando claudicante, cujas experiências teríamos que usá-las e fazer um filme de um grande pioneiro que ajudou na construção da Cidade do Futuro; mas o que nos fazia lembrar dele, e rir, eram o seu jeito sutil e elegante de lhe dar com as pessoas e animais. Na realidade, não sabemos se ele fazia distinção rs, era tudo a mesma coisa pra ele!

Chutava cães, pessoas, corria atrás de filhas para bater, batia, ameaçava quebrar tudo... Não quebrava, bebia muito. Depois de doente, começou a cuspir seus pigarros de outrora, tanto que tivemos que colocar jornais ao seu lado, sempre que se sentava. Depois de doente, ainda, trocava os nomes das pessoas por carros – sua paixão. Os carros, que fique bem claro!

Enfim, tudo isso é natural a uma pessoa que não tivera oportunidade de estudar ou mesmo passar perto de uma sala de aula. Quanto às pessoas, criou ódio delas em razão de sua infância que não fora umas das melhores, pois sempre teve que obedecer a seus parentes, e nunca tivera uma vida digna quando se refere a esse contexto. Todos, sem exceção de seu núcleo, eram pessoas que não tinham amor à família, e nunca pensavam em se unir para um dialogo básico. A união nunca foi o forte de meu pai por isso. Resultado, foi obrigado a vir para Brasília, ainda em pedaços, ajudar na construção.

Por outro lado, minha mãe tivera pai e mãe amorosos, dos quais ao se lembrar as lágrimas ao seu rosto vêm. A dona da casa sempre teve seu pai; a mãe morrera cedo. E pelo amor a ele, trabalhou muito em casa de famílias, estudou muito pouco e não pôde continuar. Hoje, ao me ver com um livro, sempre se vê na mesma situação, porém com um ar saudoso. Ela desistiu dos projetos para criar os filhos – João (falecido), Mundão, Rosângela, Rejane, Rosemeire, Reginaldo (eu), Ruth e Rosemar – os quais são sua preciosidade e que jamais lhes deixou em momento algum --, e que nunca, jamais, desistiu de torná-los pessoas de bem. E acho que ela conseguiu.

E todos eles, em fins de semana, ou de preferência em uma data comemorativa, iam cantar e dançar ao som dos anos setenta, que eu fazia questão de manter como sonoplastia da grande família. Ver Mundão contando lorotas – todas elas repetidas, mas com saber agradável, bêbado, dançando, é apreciar um ser que, além de tentar ser um grosseirão, educado nos parâmetros que ele mesmo criou, é ver uma pessoa de bem com a vida, com a família e com todos. Na parte dos homens, se ele faltar a alguma reunião nossa, minha mãe passa o dia mal, assim como todos que não adimitem rs.

E quando se juntava a João, ninguém sabia o que ia dar, pois, juntos, os momentos eram de descontração geral ou briga total. Mas sabemos que nossa mãe lhes dera princípios básicos, os quais diziam: ‘briguem somente aqui em casa’.

João, quando chegava, trazia sua música, trazia sua alegria, mas não trazia sua cerveja, rs, o que dava margem para mais briga... Também me lembro dele dançando como um “bailarino” pisando nos próprios pés, e do seu sorriso solto, além, é claro, das blusas repetidas que nos fazia assombrados pela dedicação – as do Fluminense. Ele poderia abrir mão das festas, das loucuras lá de casa nos fins de semana, mas nunca tirava as blusas do Flu, nem mesmo em batizados.





...Continuo no próximo texto.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Vento Ácido


Sinto o corpo doer dos pés a coluna,

Em minha pobre e divina vida... Lacunas.

Tão sóbrio me vou e chego ébrio de sofrer,

São ilusões que dançam, me fazem morrer.


Nada me eleva ao topo da alma, tão calada,

E ao tempo fadada a me dizer

Que teus olhos não são nada,

Apenas meu pequeno ninho do viver.


E me vou pelas ruas em pesadelos,

Clamando ao céu teus segredos,

Imaginando ventos e cabelos,

Falecendo por ti em desejos...


Não vejo nada além do mundo,

sem flores, sem jardins, nada.

Estou cego das belezas aladas,

Que, um dia, me trouxeram

o amor profundo]


Não mo deixe assim morrer.

dê-me a chance de amar de novo,

Tirai-me do tormento terrestre,

eleve-me ao teu colo, leve-me somente

a você]


Carvão e Ouro: queremos e podemos.


"As vezes parecia que de tanto acreditar

Num mundo que achávamos tão certo,

Teriamos o mundo inteiro, e até um pouco mais.

Faríamos florestas no deserto"

L. Urbana.


...Pelo que me consta, os idealistas atuais não têm direção. São possuídos por fibras e forças políticas, mas não possuem direção. Armados até os dentes, cheios de vigor e ódio a governos, se enfileiram na frente de tropas mais armadas ainda, quebram e são quebrados. Trazem a esperança de um governo melhor, ainda que não consigamos ver seus rostos. Trazem a fé nos regimes, mas não são ainda filhos da esperança de um mundo melhor, pois suas identidades desabam como pranchas em altas ondas; caem em desuso, não são referenciais, e, quando o são, depreciam suas imagens corrompendo os outros e a si mesmos, nos instante em que se depara com seu objeto maior, o poder.

São atos esses de loucura que transformam jovens em seres indignados com tudo -- os chamados rebeldes sem causa. Atos adivindos de idealistas cujas energias são mal canalizadas e jogadas ao vento, desencadeando protestos, criando seres aguerridos até mesmo em família, o que traspassa do objetivo comum de cada um, que é a mudança, que é o fim sem terror...

Daí, as canções...

Hoje, ainda se cantam músicas em incentivo aos jovens do mundo todo (pelo menos algumas), músicas de esperança de um mundo melhor a partir da democracia, do voto, das urnas, do pobre que sai de seu cantinho e vai, dificultosamente, apertar uma tecla e eleger um imbecil, às vezes pobre, às vezes rico que não quer sair do grande rio de capital que corre nos corredores dos congressos...

Mas não queremos apenas músicas, queremos seres nos quais nos basear, não incoerentes, cujas canções são alívios às almas e ao passo com um caráter nazista, que não se pode questionar o passado...! Queremos indivíduos que levam para si e para todos a realidade conectada ao céu...

Queremos a simplicidade do coração cantada em flauta, em violinos, violoncelos... Pianos; traduzida, ampliada, tocada ao volume máximo, e mesmo assim que nos faça dormir, sorrindo, sonhando com os deuses! É preciso, para isso, trabalhar a personalidade, a qual precisa de desafios, não de vícios, de loucuras, de aventuras loucas, mas de experiências nas quais se pode e deve tirar algo delas. Assim, poderemos crescer um pouquinho, a fim de que possamos sentir que temos “algemas”, e mais tarde, quem sabe, forçar a sua saída de nossas mãos... A personalidade deve sentir êxtase natural, não o êxtase forçado das drogas, dos vícios em geral, ou mesmo das vaidades pornográficas, as quais afundam o homem na miséria interna. O homem deve ser eterno, assim como a música....

Cavões Frios...

A questão é que ainda somos carvões frios, isolados em cavernas cujo meio para que possamos nos transformar em ouro é apenas um: a consciência. Alguns, os sábios de todas as épocas, que legaram seu fino ouro codificado, esperam no “alto da montanha”, e dependendo da cultura... do “céu” de cada um de nós – ou apenas alguns – essa elevação interna tão natural quando o ar que respiramos, mas tão difícil quanto subir à lua por escadas. O conhecer a si mesmo.

Somos mórbidos, invejosos, temos ambições contrárias, temos defeitos que, juram os homens, não conseguem voltar. Como dizia um mestre, se plantamos bananas, teremos bananas; se plantamos mandioca, teremos... Mandioca. A esperança, porém, desvirtuada pela consciência voltada ao mal, nos faz entender que somos donos do mundo, e teremos ouro plantando drogas; teremos paz plantando guerras genocidas; teremos alivio, plantando... dor; teremos respeito posando nus ou nuas em revistas....

Não nascemos complexos. Apenas somos voltados a valores secundários, como ter casa, carros, dinheiro, família, empregos... Não que tais valores sejam inúteis não, mas antes teríamos que estudar a nós mesmos, profundamente, saber do porquê de termos tendências contrárias ao que nos vale à pena. Talvez teríamos que substituir a educação atual pela educação clássica, na qual homens virtuosos nasceram e viveram, e deram exemplos de vida; talvez devíamos destronar reis e rainhas e começar do zero; mas destronar para iniciar a revolução humana, aquela que nos sujeita a sermos mais coerentes com nossos princípios, não apenas aqueles básicos, os dos pais e mães, mas também princípios adquiridos pelos grandes, e viver deles, ainda que para nós seja penoso.

Princípios...

Os princípios não mudam. Apenas a maneira de levá-los à vida é que mudam. Posso vir a construir uma casa com os mesmo tijolos que os do vizinho, mas posso ser melhor do que ele, pois não foram apenas tijolos que levantaram minha casa, e sim força de vontade, espiritualidade, amor, dedicação... Respeito. Os mesmos tijolos, ao lado, na casa do vizinho, foram postos de forma abrupta, sem vontade, com vaidosismo, sem amor, e com muito interesse de fazer outros serem menos do que ele. Assim somos nós... Ou seja, podemos ter um pouco de Cristo e de César em nós.

Podemos mudar, podemos elevar qualquer casa, castelo, prédio de maneira que, nós mesmos, sejamos os prédios, a casa, o muro... Mas temos que refletir que estamos elevando algo que nos pareça forte, tão forte que não deixa traspassar os ventos do mal nas frestas de nossas mutantes personalidades.

Por isso, dizem os clássicos, somos donos de nossos próprios caminhos. E, hoje, por sermos seres sem caminhos, batemos cabeça no racional encontrando valores que mudam com o tempo – não princípios. Somos seres que preferem a dor à calma, preferem o descaminho à reta; preferimos beliscar o mal, a procurarmos primeiro o bem...

Daí, nasce o vício. Das provas inconsequentes, nas quais nos afundamos pelo simples fato de beliscar e, mais tarde (mais cedo do que tarde), não conseguir delas sair. Somos volúveis demais!

O ouro...

O ouro não pode ser homem, mas o homem pode, um dia, vir a ser ouro. Contudo, seus instintos, em relação ao mundo, aos valores maiores, o levam para a depreciação, e isso, dentro do grande laboratório da vida, o distancia do seu áureo ideal -- ser, um dia, humano, tornando-o mais animal, mais vegetal, mais pedra, mais verme... Tudo é uma questão de escolha. E na escolha, ser forte, ser homem, ser eterno!





terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Carvão e o Ouro: humanidade.


A Humanidade, como um imenso corpo, tem um caminho. Nela, se encontram seres maravilhosos, seres odiáveis que tentam dominar o mundo, e há outros que são dominados por estes. Há seres que, se fossemos incutir nesse texto, teríamos a eternidade para fazê-lo e ainda não terminaríamos...

Ela é razão dos grandes homens que vieram (e vão vir?) ao mundo com a finalidade de serem o norte daqueles que desejam, dentro desse imenso corpo, o Caminho. Por quê? Dizem os clássicos que temos uma evolução a cumprir, assim como todos os seres viventes – plantas, pedras, animais --, cada um no seu ritmo, dentro de sua grande lei.

Não se pode interferir, jamais, segundo eles, na problemática natural de cada espécie. Há um legado cármico em cada ser, como traz a filosofia indiana clássica. Há, na alma de cada espécie, uma prova histórica, da qual se vive, e razão porque nascem. Há um circulo para cada espécie, e dentro dele subimos e descemos. Muitas tradições demonstram isso em forma de relevos que sobem e descem, a demonstrar a subida e a descida de cada nação em seu período áureo e decadente além de mostrar, esse gráfico, os problemas humanos indo e vindo, em forma de provas naturais, nas quais apenas poucos percebem a sua necessidade.

Percebendo, no entanto, ainda não temos a prova de sua necessidade. Apenas uma racionalidade passageira em que suspiramos quando a dor acaba. Buda já dizia que a “dor ensina”, mas, se prestarmos atenção, apenas a dor natural, não aquela que buscamos, como chicotadas, murros, eletrochoques, paixão ao extremo... Essas criam o vício, e este está fora da evolução humana, e sim da sua involução.

Tais vícios nos distorcem a realidade, são naturezas contrárias a da vida natural, a qual pede que sejamos compassivos com ela, em todo o sentido. Todavia, dentro de nosso meio, a imprensa nos leva a crer que não há formas naturais de se viver, apenas aquela que é feita pelos “amos da caverna”, como diria Platão.

Os amos da caverna, tão implícitos quanto segredos arcaicos, materializam-se em seus atos, nas formas mais incríveis possíveis, desvirtuando a humanidade de seu crescimento, em forma de políticas, religiões, más educações, ilusões, competições, sistemas, urnas... Enfim, se fossemos enumerar os métodos usados em nome da involução humana, teríamos que voltar ao tempo e começar de novo.

Hoje, como eu já disse em textos anteriores, a internet, -- umas das ferramentas tão necessárias à humanidade --, serve para propagar não somente a involução, mas também a destruição da espécie, ou menos que isso... A vegetatividade! Claro que tal meio, assim como uma faca de dois gumes, pode ser usado para o bem da humanidade, e o é, porém os artifícios para o mal são maiores e mais devassadores.

Crianças já nascem de olhos fixos nas telas dos computadores, atrofiando seus pensamentos em relação aos seus deveres humanos, como o de ser bom, justo e verdadeiro, qualidades com as quais só nos deparamos, às vezes, depois que sabemos que nossa vida é passageira.

Mas os amos comandam tudo, têm exércitos de pastores, padres, bispos, filósofos, políticos, os quais revezam, na calada da noite, para saber se suas algemas estão realmente presas à grande caverna.

Mas Platão também diz que podemos nos desvencilhar dela, da grande caverna. Quando cita o individuo saindo aos poucos das algemas, passando pelos amigos, subindo as estreitas vias do local, descobrindo a grande fogueira que dava sombras em forma de gente nas grandes paredes, percebendo uma saída, e, mais tarde, o sol, o qual quase o cegara.

Podemos nos desvencilhar, a cada encarnação, dessas “algemas”. A saída é ser a cada dia mais humano. Tudo isso nos faz repensar o que somos, o que viemos fazer nesse mundo e para onde nós vamos.

Não precisamos (nem adianta) largar nossas ferramentas atuais e partir para a rua, dizendo que não queremos mais internets, televisões, computadores, roupas chiques, trabalho, dinheiro, em troca de algo que queremos ser, ou seja, mais humanos, buscadores, divinos, cristos, avathares... Não, não façamos isso.

Se somos parte desse todo e nascemos em contextos justos, assim como Giordano Bruno um dia nasceu e morreu em uma época maldita, podemos também ser um pouco de Giordano Bruno, Marcos Aurélio, Cristo, Sócrates, Platão...etc, trabalhando um pouco nossas atitudes frente a esse ideal – ser mais humano.

Na internet, sei que é um tanto quanto difícil, mas tente pesquisar acerca de algo que religue com algo que seja bom, cuja finalidade seja chegar ao céu de uma alegria ainda que passageira, mas que seja bela e natural, não viciosa, vulgar, fria, e que mexa com seu corpo, emoção; mas, se mexer com as emoções, que seja para eleva-las, não descê-las ao pior nível. É preciso, nesse caso, abrir o computador com se fosse ganhar uma luta, caso contrário a guarda baixa e você perde todos os rounds, pois há nela – na grande rede – seres que se alimentam de seu vicio, e ganham muito, muito, muito dinheiro com ele.

Nas TVs, programas voltados à família, para não dizer vampirizá-la. Homens que acreditam ser donos de nossas mentes, sorrindo o tempo todo e soltando palavras a torto e à direita com a finalidade de impedir um pensamento sequer de sua parte. Pessoas que vivem em função daqueles que adoram envelhecer enganados. Sem falar na imprensa, tão partidária ao terror quanto os xiitas de aeronaves que explodem em prédios. A televisão nos fez viver menos.

Há os livros tendenciosos. Livros que subjugam o tempo todo tradições, ainda que o autor não as tenham conhecido ou pesquisado sobre elas; livros de biografias inúteis, de seres que nunca jogaram sequer um papel na lata de lixo a vida inteira, e são vistos como heróis, salvadores, cristos, budas...

Nesse caso, precisamos nos referenciar naqueles autores que respeitam as tradições, e naqueles que sempre viram nos heróis os verdadeiros idealistas, não nos atuais, que amam quebrar, destronar ditadores, mas não têm espiritualidade para prosseguir com seu plano de melhorar o seu país. Os heróis antigos tinham planos. Não conquistavam a liberdade por conseguir, mas que era preciso resgatar a identidade daquele povo subjugado em outrora.

É... A caverna é maior que pensamos.






segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Liberdade







Fugidia como agua que brinca



em ribeiroes de outrora,



Em maos traiçoeiras,



Em sombras de uma flora...




Vai, vida, vai navegar sozinha,



N um oceano azulado,



Que desemboca suado,



no maior oceano da Vida..




Vai, criatura mistica,



correr sem pernas o grande Campo,



Envolver divinas criaturas,



Sem saturar os santos.



Nas vias, nas ruas, no espaço,



alem do mundo opaco,



vai sem saudade das estrelas,



ilusoes belas deixando rastros.














(Regis)




sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Submundo, final (?)


Quando observo meu filho, sinto que detenho em mim uma prova maior do que a da própria terra em rodar em translação e rotação, para todo o sempre. Meus movimentos são andar em linha reta, com ânimo, com paz, respeito a mim mesmo e ao próximo; amar a mim mesmo, me dá valor, entender que ainda sou um pingo dágua em busca do oceano perdido – o qual ainda irei encontrar.

Sei o quanto sou incoerente com meus princípios, pois estes estão acima de nós como formas arquetipais, pedindo e implorando-nos para se ter um lugar em nossas almas nobres (ou pobres), nas quais existem elementos que sempre nos atrapalham em olhar para cima, e cair em devaneios pelo velho mundo...

Ainda sei o quanto somos incoerentes em nossas teorias humanas a respeito dos valores que nos fazem (ou pelo menos tentam fazer) humanos. A busca por eles deve ser desenfreada, sem respiração, caso contrário, estaremos dando margem ao ódio, a desesperança, a dor em excesso, a injustiça e ao mal propriamente dito.

A questão é que somos... Incoerentes. Temos que levantar a âncora dessa mentira que se instala em nossos corpos desde pequeno, que nos faz desalinhados, fora da rota de colisão com o Amor e a Verdade.

O Titanic bateu em um iceberg e afogou mais de setecentas pessoas, mas nosso navio-homicida nos faz sair da rota e bate em icebergs muito maiores, o da desumanidade conosco mesmos, assassinando milhões por ano – é só observar no rosto dos mortos-vivos, todos os dias, interagindo em internets, assistindo a reality shows, dormindo assistindo a sábios apresentadores de domingo, etc...

Somos tão incoerentes, que cuspimos no chão, jogamos papel ao ar livre, maltratamos os amigos, criamos filhos sem querer, mal educamos a nós mesmos, depois... mais filhos!

Enfim, a realidade do fosso mora em nós. Nada melhor que encará-lo. Dizer: “vou tentar, todos os dias, sair dele”, mas tentar... tentar... faz mal. Temos que conseguir nas vias mais simples até a mais estreita, da hora em que descobrimos que estamos sendo enganados, até a hora da morte – a qual divaga entre paraísos, infernos e reencarnações. O que nos dá uma boa margem para conseguir, porque, se formos para o inferno, é possível que não seja tão pior quanto o que vimos e passamos aqui. Pelo contrário, seremos o bam-bam-bam de lá e, quem sabe, tornaremos o inferno um lugar aprazível! Kkkk!

Quanto ao céu, bem... Não era o que eu procurava, porque fica chato demais dormir a acordar sem ter o que buscar – porque, dizem, o céu é o limite! O céu, pra mim, seria o inferno, kkkkkk! Quanto à reencarnação, temos que dizer uma coisa, estamos ferrados! Poxa, tentar de novo, de novo, de novo... Seria chato, mas só pelo fato de acordar, ver o sol, sentir o cheiro da terra molhada, da chuva caindo nas tarde de sábado...Puxa, que maravilha!

Mas não é só isso, não. E não é mesmo. Os dragões, as cobras, os leões, as onças... esperando você criar uma mentalidade formal a respeito de algo para que te restrinjam a fala, o grito, a alma... Mais do que isso: quando você nasce, quando você pensa, começa a falar... Já está em uma jaula completa de animais ferozes, tentando te ensinar o contrário da vida...

Não quero criar desesperança, mas ela reside em nós. E, a partir de nós, é que transitaremos em paraísos terrenos ou celestes – depende da cultura. Mas adoramos criar infernos, daqueles que significam o pior meio de se viver. Não gostamos das pessoas, não gostamos do mundo, de trabalhar; só amamos quem nos faz um favorzinho...; não vivemos de acordo com nossas leis, vivemos como animais, a cada dia que passa, e estes, a cada dia mais humanos – será que teremos uma real revolução dos bichos?! Kkkkkkk!

É possível que nossas revoluções pessoais caiam no fosso e não voltem mais. É possível que as teses cientificas de que o mundo não tem volta pode ser verdade; mas não acredito nisso, porque não somos donos do universo e não podemos criar leis apenas porque somos infiéis a ele.

Acredito em ideais humanos de evolução pessoal; que neste ideal, podemos transcender e encontrar a paz real em nós. Tal ideal, todavia, não se consegue de um dia para outro nem mesmo de uma vida para outra. Há dificuldades de caráter a serem sanadas, e mais, há dificuldades até mesmo de ser ‘ser humano’...!

Acreditar, no meu caso, pelo menos, não tem muito efeito. Pois me perdi em ideias e em opiniões fora do senso claro; perdi as práticas de observar a flor, o sol, o cântico das aves, e ouvir as pessoas; hoje, nada mais sou que um filho do desespero em busca do pai sossego. Por isso, talvez, eu tenha baixado a guarda e direcionado minhas experiências a coisas sem sentido, e, quando o ser humano faz isso, o fosso se abre aos poucos em forma de pensamentos de práticas, de conversas sem sentido, e quando menos se pensa... O submundo está te dando parabéns.

Hoje, querem nos dar um sol mentiroso, um ar artificial; querem nos dar até mesmo amigos de mentira. Hoje, querem nos levar a crer que somos parte de um bem, mas realidade é um mal interminável, e eu queria dizer que, enquanto houver sábios, homens de realmente bem, de seres iluminados, avatares do passado, os quais um dia vieram apenas para dizer que o Amor é tudo, terei o prazer de dizer que tenho a honra de ser um ser que anda, que fala, que pensa, que ama, que vive, que corre, sorri, que faz o bem, sempre em nome de uma esperança que rascunha nossa alma, apesar do crescimento diário de submundos e de seus discípulos.



À Carla.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Submundo


Todos, sem exceção, sabem o que é um submundo. A palavra já nos diz: abaixo do mundo. De alguma forma, passamos por essa via estreita da vida sem que queiramos, mas apenas para saber se somos capazes de suportar a dor e o desespero dentro de nós, tanto quanto uma ferida que dói loucamente após a amputação de uma perna...

E eu sinto isso agora. Meu submundo me fez conhecer o outro lado de uma pessoa a qual vive no real submundo – o da prostituição, da venda de corpos. Talvez, graças a sua educação desvirtuada, ao seu egoísmo infantil, não perceba que nele se encontre, graças a um mundo que nos faz cair em devaneios pelo sucesso a qualquer preço.

Na realidade, a venda de seu corpo já era feita, involuntariamente. Vendia-se aos olhares dos homens, dos adolescentes, acreditando que aquilo era algo talentoso e único. Ela se julgava a única. Nada mais normal. A questão é que ela me encontrou... ou eu a encontrei. Havia charme, beleza, inocência e um pouco de vulgaridade que me fez amá-la tal qual um faraó pelas cheias do Nilo. Eu havia caído nas garras da vulgaridade, e traspassei meus limites: menti, escondi, quebrei regras, fui incoerente com meus princípios, não fui marido, não fui pai... Apenas um homem se arriscando em busca de vida que lhe desse mais ânimo, mais paixão...

É acho que encontrei a palavra: paixão. O submundo ao qual eu me referia fora o da paixão. Esta me levou a conhecer os rios podres da vida; rios que desaguavam em mares de esgotos nos quais lá estavam alguns que eu conhecia, outros passei a conhecer, e outros, a obedecer...

Um mundo sem regras, no qual se faz de tudo para desrespeitar os valores humanos, aqueles que um dia milhares de sábios um dia defenderem, praticaram e que nos deixaram como legado eterno. Ali, naquele mundo, a dor é tão natural, e ao mesmo tempo bestial, que se veem até mesmo familiares caindo no maldito rio...

Os segredos humanos... Eu os vi. De uma monstruosidade! Não sei se comparar a monstros faz sentido. Nós, seres humanos, filhos da eternidade, conseguimos chegar ao fosso sorrindo, sem que nada precise nos empurrar para ele. Os segredos são submissos a outros segredos maiores, ao da personalidade humana, esta infeliz que comanda todos, a levar ao inferno das possibilidades, e nos degrada sem igual.

E eu, filho da resistência, pedia aos deuses que me retirassem desse mal que me assolava, que me possuía. Eu já mergulhava no rio. Mas o desejo de ter aquele ser em meus braços, presa como uma figura quente sem dono, trazia-me a incoerência diária. Noutro dia, no entanto, eu me arrependia quando para o meu filho olhava.

Em mim, o inferno se fazia. Não podia confiar em ninguém, não podia gritar de paixão, dizer que a saudade de tê-la era tanto que a morte era apenas um alivio para mim. A morte... outra palavra da qual eu poderia me sustentar, mas fui forte e pedi aos deuses, todos os dias, que retirassem aquele sentimento fugidio...


Todavia, antes de tirarem-me, davam-se provas a minha personalidade, a qual, sem piscar, era reprovada todos os dias... Mas no fundo, borbulhava o sentimento de fuga daquela vida de degradação pela qual eu passava. No fundo, era só corpo, era só desejo, era só uma fuga de uma outra realidade: a do casamento.

Meu casamento nada mais era que uma problemática psicológica, sustentado em um ato impensado há cinco anos. Ato esse que me tirou o poder de escolher, de viver, de amar e de ser eu mesmo.

Hoje, no submundo, quando eu olho para o alto e vejo minha esposa, vejo um ser que prontificou, ainda que involuntariamente, a me amar do seu jeito: transformando nossas vidas em uma prisão perpétua, cheia de preocupações, medos... Porém, ainda que seja com todos os seus defeitos originados pelo meu ato precípuo, é o céu comparado ao submundo a que me submeti. Lá em cima, eu tento, com minhas ferramentas psicológicas, filosóficas... viver.

No submundo da paixão, não há psicologia, não há filosofia, não há família, não há pudor, apenas a degradação, a vulgaridade em forma de mulher em poses sensuais, se mostrando a um público tão vil quanto o próprio mal.

A vileza não conta. O que conta são as formas sensuais, o sucesso esperado, a vontade de enlouquecer os homens a todo custo, a desesperada via do estrelado pela opinião de vulgares, de canalhas, de estupradores, sem ter medo de virar pó em meio aos valores familiares, divinos, éticos, morais... Nada!

O medo não existe. E sim o vaidosismo ao extremo. Pessoas que posam nuas em revistas o fazem pelo dinheiro, pessoas que querem ser reconhecidas vendendo sua imagem em internet o fazem esperando o sucesso – ou seja, o dinheiro. Pessoas que largam tudo, desrespeitam tudo até mesmo as pessoas que dizem amar, o fazem pelo dinheiro.

O dinheiro, a fama, o sucesso vêm, mais cedo ou mais tarde. Todos eles, um dia, conseguem, pois há de convir que, para se sujeitarem a mentir, a não ter pudor, a não ter caminho, a dizer que amam sem amar, a dizer que têm família, sem ligar pra ela, a falar em educação, sem ligar para o filho / ou filha, e depois colocar o belo corpo à venda... Um dia eles conseguem.

A prostituição não é apenas a venda do corpo em troca de dinheiro. É a necessidade de se mostrar fisicamente, dando margem a qualquer pessoa pensar o que bem entender de um bem que é só seu. Porém, em nome do sucesso (maldito), a pessoa nasce de novo, com valores frios, desumanos, encontrando ali o seu conforto completo.

Eu vi nos olhos do submundo. Lá estavam vários de codinome, que, mais tarde, viraria nome, que mais tarde, abriram mais portas, para aqueles que amavam a si mesmos, não seu próprio corpo.

A porta do submundo não existe. É um buraco no qual, todo santo dia, há pessoas de bem se transformando em mal, graças aos iniciantes, aqueles que trabalharam com afinco a fim de que o buraco seja mais largo ainda... A porta do submundo, como se vê, não é igual a do céu. Nem chega perto. A do céu, pessoas pedem todos os dias para entrar, indo a igrejas, fazendo bons atos; a do submundo está ali, no seu trabalho, na sua casa, pertinho de você, te devorando, pedindo, escravizando, te deixando bem claro que você é dono de si mesmo – que argumento lindo esse, hein! É como um senhor feudal dizendo a um escravo que está livre, mas as correntes nunca deixariam suas pernas; o submundo diz que a liberdade é isso, viver, viver, sem olhar para trás, sem ouvir as pessoas, não ter compromisso; o submundo te elogia na voz dos homens que estão mergulhados no lixo – há famílias inteiras nisso; o submundo é um ser que te diz que o céu, esse que tem aí dentro de ti, não existe, que é coisa de babaca, de gente certinha que morre cedo, e que o que vale é morrer com oitenta e noventa anos, sem amor, sem família, sem alguém que te ame realmente. É tudo que você quer! Kkkkkk!

O submundo esquece, no entanto, que somos humanos, que temos o livre-arbítrio, e que podemos, também, escolher a vida, a real vida, aquela que um dia eu li na Bíblia, aquela que um dia meus pais me passaram, aquela que um dia meus mestres me trouxeram, aquela que, um dia, foi falada por um grande sábio do ocidente... Cristo.

O submundo copia os dizeres dos grandes homens e te faz acreditar nele, tal quais seus melhores professores. Assim, corrompidos pelo mal, estão preparados para viver a grande vida, se submetendo à degradação, à vulgaridade, ao amor barato, mergulhados na dor, que, agora, é apenas é só um detalhe.

Hoje, agora, me sinto como se estivesse saindo – é, ainda não saí – de diversos socos e pontapés. Nesse minuto, me sinto sozinho, mas com esperança de que um dia eu me esqueça do submundo.

E espero que você também saia do seu.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Carvão e o Ouro

Um dia, um grande professor de filosofia nos disse que o ser humano é como um carvão que, muito depois, vira ouro. Não muda de uma hora para outra. Falava daqueles que transformavam carvão em ouro em seu pequeno laboratório... Eram os Alquimistas – os quais possuíam uma natureza mítica, advinda dos antigos; um segredo que nunca poderia ser revelado.

Percebemos, por mais outros exemplos, em milênios, que, na natureza, as coisas se transformam, mas não a sua essência. Dela, desse desconhecido, vivem os sábios, aqueles que atravessam correntezas em nome da verdade; viveram os sacerdotes, homens míticos, que trabalhavam para realizar o sagrado nessa terra. Vivem, ainda, os religiosos, os reais praticantes do religare; e todos aqueles que se questionam acerca dessa grande caverna chamada mundo...

Heráclito já dizia que "não se nada no mesmo rio duas vezes". Era a afirmação de que não somos os mesmos nunca, seja em uma hora, ou mesmo em um dia, ou década para outra. Sempre há mudanças em nosso corpo, nossas mentes, nossas personalidades... Principalmente ela, com a qual nos identificamos, sem problemas.


Platão, discípulo de Sócrates, após a morte do mestre, fez suas viagens e em uma delas resolveu beber um pouco da sabedoria égipcia. No berço da humanidade, compreendeu intuitivamente o papel humano, e nos legou com seus clássicos a definição de valores pelos quais lutamos sempre: Verdade. Justiça. Amor. Bondade.

Tais valores, como segreda em suas obras, existem em cada um, assim como já o existem no mundo das ideias – mundo ideal --, o que nos faz refletir acerca de tudo, principalmente em nossa religião de cada dia...

Não apenas o sábio Platão, que vivera sempre em nome da busca interna, mas outros, em nome do conhecimento, já diziam que somos um amontoado de peles e ossos, unidos a desejos e sentimentos, dos quais não se pode tirar muita coisa, senão igualar-se aos animais, contudo possuímos a essência que nos dá acesso aos segredos do universo.

A paráfrase significa que somos parte de uma lei específica, no entanto, parece-nos fazer parte da lei que rege os quadrúpedes! Há vários exemplos nos quais podemos nos identificar. Mas que fique claro que não apenas os seres coloquiais nos veem assim, mas principalmente os cultos, racionais, intelectuais e eruditos, os quais juram que viemos dos macacos!...

Em contrapartida, temos outro extremo, a dos factoides cristãos, que transferem o peso simbólico da história nos termos míticos dos clássicos. Faço alusão a Adão e Eva, os quais são vistos tais quais pessoas naturais, que, segundo eles, viveram como a todos, ainda que, sob o manto de uma simbólica e profunda história de romance que não dera certo, são filhos sagrados que nasceram do barro e da costela, respectivamente, além de estarem vigiados por um deus-mandão. Dali, segundo a Bíblia cristã, vieram todos os seres atuais, mesmo que tenhamos nos afogado nas águas de deus, quando a Arca, mais uma vez simbólica, foi feita para salvar apenas os bons de coração... Então, somos descendentes de Adão ou Noé? – Noé.

Em várias culturas, contam-se histórias sobre o inicio da humanidade de maneira simbólica, e entre elas, a de Adão e Eva, com nomes de diferentes – isso, antes mesmo das histórias cristãs.

Na Grécia Antiga, por exemplo, a história de Noé também é contada de várias formas, em seus trechos simbólicos, mas com nomes gregos, com Zeus e Cia, afundando o mundo em águas e renovando as esperanças de um mundo melhor.
Os sábios foram esquecidos.

(volto no próximo texto).



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Manhã


Sabe quando o sol nos vem pela manhã conversando com as nuvens, e num diálogo simples, tão manso, claro e belo, revelando seu amor ao azul, enveredando seus raios em meio aquele espaço, misturando cores, clareando o dia... ‘Laranjeando’ nossos olhos de vida e mistério...? Não? Então, acorde pela manhã, num esforço descomunal, vá até a sua janela – e se não der para vê-lo --, saia às ruas, ainda escuras do resto da noite, e sente-se, para de pensar, e veja. Não chore. Nem sorria. É indescritível.

Depois de se maravilhar com as cores espectrais, pense em uma música de Bach, qualquer uma que se infiltre em sua mente de maneira fixa. Aos poucos, o deus sol, o tão esperado, vem num espetáculo que, de tão simples e harmonioso, não nos passa pela cabeça compreender, e sim ver, assimilar, respirar fundo, transcender e... Cantar bem baixinho, como num coral de uma só voz, aquela canção bachiana, filha daquele momento tão belo.

Entender? Não. Não conseguimos. Mas por que nos deslumbramos com tais coisas que nos fazem parar e refletir, como crianças prestes a receber a mamãe que acaba de chegar? Somos humanos (ponto). Não há nada que supere este estigma perfeito entre nós e natureza, entre nós e tudo que nos é sagrado. Há explicações cientificas, no entanto; mas prefiro dizer que nenhum animal, planta, pedra, ou seja, qualquer elemento que se eleve com músicas, poemas, por do sol... Não, não há.

Nossa alma precisa se elevar, tocar naquele elemento solitário que, há anos, espera para ser lembrado, e não o é devido ao nosso cotidiano apressado, que, embora haja um por do sol perfeito, poemas belos, musicas idem, nos faz viver nas sombras. Temos que nos reconciliar com a vida que está acima ou mesmo dentro de nós. Ter um tempo para fechar os olhos – e se não temos como ver o sol real pela manhã --, pensar nele, dentro de nós, naquela calmaria divina, na qual até mesmo o mais bruto dos homens se rende.

Temos que cantar a melhor canção, aquela que não nos relembre um passado frio, opaco, denso... Mas uma canção que nos faça sentir felizes, lá dentro de nós, sem aquela raiva costumeira. Dessa forma, como na manhã, cujos raios aparecem modificando o céu, o nosso Céu, o de dentro, inicia uma transformação, lenta. Em razão disso, palavras serão ditas de forma pensada, sem berros, gritos, simplesmente com a finalidade de fazer o outro ouvir e parar para te ouvir. É o sol em nós.

No vestir, nos esquecemos das modas com as quais nossa personalidade se depara todos os dias com o velho mundo, com as novas e velhas modas, e pegamos a mais simples, porém bela roupa que se harmoniza com todos e com tudo. Estamos prontos para transmitir nossos raios, nossa juventude, ainda que sejamos arcaicos em ideias, em comportamentos, mas também somos um pouco da beleza que se esconde nesse místico universo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

De Volta ao Aprendizado, final


Hoje, com tantas experiências colhidas (extraídas) dessa criatura que Deus nos enviou, penso que cresci muito, mas não o bastante para dizer que solidifiquei meu caráter em torno na palavra pai.

De longe, observo que tenho muito a caminhar. Hoje, carrego um peso, amanhã, posso estar mais leve; hoje, meus pensamentos são como locomotivas expressas, amanhã, quem sabe, posso comer uma pizza sentindo o gostinho dela! Gosto da marguerita, e vocês?

Ontem, eu ia ao teatro, ao cinema, lia livros, estudava, saia com os amigos, contudo... São experiências incríveis das quais posso dizer que ninguém, a não ser o próprio individuo quem tem filho, pode passa-las com exatidão, e, é claro, ao ser pai – ao real homem que se vestiu os trajes de pai.

Nessas férias, via meu filho quebrar tudo, correr nosso apartamento, cuja sala mede menos de cinco metros quadrados, todinho. Eu tenho inveja dessa força louca que se enraíza nesses seres que nascem e não conseguem parar nem mesmo na hora de dormir.

Pedro, um claro exemplo deles, jogava seus brinquedos pesados para cima, para saber que barulho faziam ao cair no chão; se eu não interviesse, não haveria mais de que brincar... Fazia estripulias, se jogando em cima de mim, dando-me tapas no tórax, com toda sai força, só pra me ver berrar de brincadeira. E na hora de assistir a vídeos, posso dizer que os de carros falantes eu já decorei as falas, mas Pedro não. Um tal de Speed Racer, sucesso na década de oitenta, foi a sensação. Eu, que amava o seriado, passei a desgostar aos poucos; meu filho o vê todos os dias!...

Mas a aparência natural, pura, bela de como se faz o ser como esse, disposto a aprender, viver, amar, correr, viver, sempre, de acordo com sua natureza, lembra-me muito o conceito de Justiça platônico. “dar a cada um o que lhe é devido, de acordo com sua natureza e capacidade”. Pedro nada mais é que uma criança de sua idade. Não extrapola nem fica aquém do que é. Ele está seguindo – por enquanto – o ritmo que lhe convém seguir. Pra mim, isso é belo.

Belo, mas nem tanto, foi trocar suas fraldas, dar-lhe banhos; segurar-lhe as pernas para passar-lhe cremes; escovar os dentes...hum! Foi mais fácil do que mergulhar num rio e segurar a boca de um jacaré!... Esse era Pedro.

Nessa relação tão paterna, descobrimos que somos pai e filho, não porque ele saiu do ventre de sua mãe, a qual engravidei. Mas pelo fato de que somos semelhantes em algo – não sei dizer --; temos gênios, caricatura, modos... E muito mais. Mas o que nos difere é o que nos harmoniza.

Acho que o aprendizado nem começou ainda. A estrada pela qual não só pai, mas também mãe passam, apesar de estarem juntos, não é a mesma. Porém, se encontram no final dela como dois bons amigos a relatar acerca de uma pessoa da qual cuidam e amam.

Há muito o que dizer, mas fico por aqui. Acho que vou esperar por mais um momento desses nos quais uma nova e bela experiência vai me fazer um pouquinho mais pai do que ontem... rs.






segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De Volta ao Aprendizado, segunda parte.


Por um momento, achei que não teria coragem de digitar mais um texto relacionado às minhas férias looongas, como eu havia lhes dito. Mas a procura da verdade que baila como princesa em nossas almas me fez retroceder e mudar esse fato. Na verdade, não há mais o que dizer, apenas viver.


Não que o que dissera no texto anterior tenha sido objeto de menosprezo, muito pelo contrario, realmente sempre vimos as coisas com o olhar lúdico, o que dá uma ideia de que sentimentos – emoções, vivencias a parte – são naturezas que estão em desuso humano, mas por quê? É uma historia complexa, então continuemos o texto anterior...


Como eu dizia, o Toy Story, da Pixar, nos fez repensar nossos valores, ainda que arcaicos, e nosso apego em relação a eles. Fez-nos parar no tempo e no espaço, como uma célula perdida no cosmos a procura de seu grupo, porém sem saber por onde começar a jornada. Tudo isso porque nos apegamos a tudo – a tudo mesmo – sem que saibamos a consequência.


Ainda não sei qual meu grupo, minha jornada, meu caminho, todavia, coisas simples semelhantes a que passei com meu filho podem me dar uma linha imaginária do que fazer para achar.


Somos seres humanos, como todos sabem (será?), e que nos expressamos de forma inconsequente até a morte, de forma que não saibamos o que fazer depois que nos aparecem as dores. Mas a prática, ou seja, a outra parte da teoria pode nos salvar – e acho que me salvei um pouco nesses quase quarenta dias em casa, preso, trocando fraldas, alimentando, sustentando, vivendo em função de um outro ser humano... Imagino outras pessoas como se sentem ao se depararem em suas funções de babas, pedagogos, baby siter, sei lá... E que são obrigadas a cuidar de uma criança que não é delas... Realmente á uma imensa responsabilidade...


Pra mim, no entanto, vendo por esse lado, não foi tão difícil. A criança era minha. Claro que a responsabilidade não muda, mesmo porque era a primeira vez que eu estava cuidando de alguém que não fosse acima de cinquenta anos. Estou falando de minha família... Eu sempre cuidei dela, dos meus irmãos, de meus sobrinhos, talvez um pouco, mas, dentro do que se pode chamar de auxilio em algum sentido, acho que cuidei deles também...!


Não posso me gabar disso. Foi algo involuntário. A vida me deu esse mundo, e não posso me retirar dele assim, sem mais nem menos, e acredito que ganhei o gosto por isso também. Agora, volto com um zelo maior ainda ao meu filho. Este que já estava no ventre de minha esposa por dois meses quando o descobrimos.


Foi assim: ela, minha esposa, tinha comido um cachorro quente, e, achando que fosse uma linguiça mal cozida, sentindo dores por isso, me fez levá-la ao medico, e lá, depois de uma hora esperando sentado na sala de ‘espera’, uma loira (que loira!) me veio como uma fada e disse... “O senhor é que é o senhor Reginaldo?”, e eu, olhando aquele ser de outro mundo, rapidamente lha disse “Sim, sou eu!”. Fazendo gestos com a mão direita, a loira, quase sussurrando me disse... “Por favor, a sua esposa quer lhe falar”.


Foi maravilhoso o momento. Deitada em uma cama que parecia uma maca, Luciene, a senhora França, deitada de barriguinha de fora, com uma medica simpática ao lado, passando-lhe um gel abaixo do umbigo, sorria. “Ta aqui o cachorro quente!” disse a doutora.


De cabeça baixa, olhando a cena de minha esposa deitada, passei a levantar meu olhar para um ser que brincava dentro daquele ventre, tal qual uma criança de dois anos, rs ! Mas tinha apenas dois meses... Dois meses!


Daí por diante, nunca mais tivemos uma dormida, um almoço, uma janta, uma noitada sossegados. Pedro Achilles, o guerreiro mirim, nos faz batalhar, todos os dias, em busca da paz tão almejada.


Contudo, tem nos sido uma batalha deliciosa de confrontar. Com dois anos, Achilles joga, brinca, pula, fala, cria frases, chora a cada negativa, arrebenta corações, pois sua beleza, como a do seu pai, desequilibra a todas.


Hoje, com dois anos, pega a lixeira, sobe nela, pega água. Pula em cima da cama até se cansar, mas, quando se depara com o espelho, para, pensa r sorri bem alto, como se tivesse encontrado o amiguinho perdido. Com relação a amizades, ainda titubeia. Seu grau de sociabilidade aos dois anos me preocupa. Mas, como diria a pediatra, temos que respeitar a maneira pela qual sua vida transcorre ainda que haja coisas que não entendemos e tentamos frear. Bem, se for so isso... Tudo bem!

Pedro é ciumento. Com dois anos de idade, ainda não suporta ninguém chegando perto de seus pais; nem mesmo seus pais próximos um a outro. Motivo: ele ama a mãe, loucamente... E vive-versa. Coisas de criança! Eu sempre digo a minha esposa que é melhor aproveitar essa paixão, pois, quando tiver quinze anos, nem mesmo benção vai pedir a nós.


Volto no próximo texto...


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

De Volta ao Aprendizado


Hoje é o ultimo dia de minhas loooongas férias. E como perceberam, não havia outros textos senão aqueles de dezembro de dois mil e dez, para trás. Fiquei sem meios para blogar. Minha internet ficou de férias, assim como eu. Mas, não querendo ser prolixo, foi até bom, porque pude refletir acerca daquilo que escrevi no passado, e de meus atos neles referenciados – às vezes vice e versa – não tem como ser diferente, somos aleatórios demais e precisamos nos basear em algo fixo, ainda que esse fixo sejam textos utópicos. A utopia precisa de credibilidade...

No entanto, a tônica deste texto não tem nada a ver com referenciais, e sim com meu filho, esse reizinho, para o qual vivo e me inclino a repensar meus valores, minha vida, enfim, tudo. Esse ser que me levou a dar uma volta em mim mesmo e descobrir que somos feitos de obrigações muito mais que direitos. Me fez ainda repensar meus critérios ao ter um filho, uma filha, uma esposa... ou melhor, mais uma vez, refletir sobre o papel do pai, da mãe e dele próprio – meu filho. Foi um “passeio”.

Foi mais que isso. Uma experiência voltada ao fortalecimento do caráter, do físico, do emocional, do coração... Não foi circunstancial, ou seja, um encontro voltado a uma união de duas pessoas apenas porque não havia outro jeito – quem quiser que acredite, contudo prefiro dizer que a lei maior nos uniu com a finalidade de nos conhecermos um pouco mais, e nos tornarmos mais pai e filho, no sentido mais amplo que se pode pensar.


Quando se abre esse leque, qualquer necessidade extrema se torna uma alegria, uma viagem numa onda semelhante à desses surfistas que fecham os olhos no tubo criado pelas imensas salinas marítimas. Foi mais que uma necessidade, foi filosófico.

Hoje, com dois anos de idade, suas palavras soam como descobertas a cada instante. Ele olha, pensa, fala e sente a necessidade de pronunciar a parte léxica com a semântica, mas não o faz. Na realidade, imita o que o falamos, de forma bela, com seus lábios meio fechados, outra vezes abertos demais, quando palavras mentalizadas são fáceis de repetir. Assim, nessa tentativa hercúlea, quebra seu próprio medo e grita. Haja ouvidos!


Com a idade de dois anos e meio, nada mais do que desorganizar o que se organiza pra ele. É um meio para chamar a atenção. E eu, seu pai, nunca me abaixei tanto para pegar, levar, trazer... Tentando lhe passar que tudo tem o seu devido lugar... E mais tarde, mais crescido, perceberá que não somente os cubos, mas também as esferas, as partículas (como legos ou não) se encaixam em determinados lugares, se formam, viram corpo, alma, universo... Deuses! Enfim, sempre se transformam ainda que não as observamos.


Mas Pedro precisa ser desorganizado. Ele é criança! Precisa adentrar naquele mundo do ‘desencaixe’ e saber o que tem dentro, assim como nós que, um dia crianças, fizemos o mesmo, mas, hoje, desenvolvemos a pesquisa, descobrimos coisas, vivemos em função da verdade que há na vida, e que precisa ser descoberta, ou pelo menos dentro de nossas possibilidades!

Assim entramos na esfera psicológica, fazendo comparações metafóricas e até transcendentes em relação a nós mesmos. E a criança que nos ronda – no meu caso, o meu filho – serve de parâmetro para o crescimento, desenvolvimento e até evolução do humano adulto. Chegamos a entender que ainda possuímos brinquedos dos quais não nos separamos, como nossos carros, aquele que não emprestamos nem mesmo a nossa mãe; às vezes, de nossos brinquedos que deixamos para trás e ao mesmo tempo trazemos sua figura em uma conversa, e até mesmo na hora da compra do brinquedo do filhão rs... É somos mais crianças que pensamos!


Mas o apego fica dentro daquele baú interno, do qual nem mesmo você abre. Lá existe o ursinho, o dragão, o boneco... etc, etc, etc , e você acredita piamente que cresceu, ficou maduro e pode enfrentar o mundo com seus terrores, assassinos, não, não pode.


Um exemplo dessa jornada ao centro de nós mesmos é a animação Toy Story, bem divulgada, vista e revista e elogiada por críticos e não críticos de cinema, na qual o Studio Pixar talhou essa realidade em todos os aspectos, levando-nos a uma viagem interna, na qual apenas você e você sabem da realidade que se passa em seu coração ainda cheio de algemas pelos bens que ainda te deixam criança eterna.


Nela, na trilogia, somos vistos no Woody, no Bus, no Wendy – menino dono dos brinquedos-personagens, dos quais se desenrolam aventuras incríveis, nas quais a tônica maior é o amor, a amizade, o carinho de um Cowboy de brinquedo ao seu dono, além da profundidade com a qual é exposta a emoção do abandono, do apego aos nossos valores arcaicos, dos quais nunca nos desfizemos e jamais o faremos.


No último episódio, há essa separação das algemas e do grande ser humano, quase iniciado, Wendy, talhado em um menino com um pouco pais de dezessete anos, que vai pra faculdade e tem a grande dificuldade em deixar seus brinquedos amados – que, quando criança, levou a sério todas suas aventuras ainda que lúdicas a nosso ver.


Mais uma vez a arte (ou animação) imita a vida.

(volto no próximo texto)

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....