sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Manhã


Sabe quando o sol nos vem pela manhã conversando com as nuvens, e num diálogo simples, tão manso, claro e belo, revelando seu amor ao azul, enveredando seus raios em meio aquele espaço, misturando cores, clareando o dia... ‘Laranjeando’ nossos olhos de vida e mistério...? Não? Então, acorde pela manhã, num esforço descomunal, vá até a sua janela – e se não der para vê-lo --, saia às ruas, ainda escuras do resto da noite, e sente-se, para de pensar, e veja. Não chore. Nem sorria. É indescritível.

Depois de se maravilhar com as cores espectrais, pense em uma música de Bach, qualquer uma que se infiltre em sua mente de maneira fixa. Aos poucos, o deus sol, o tão esperado, vem num espetáculo que, de tão simples e harmonioso, não nos passa pela cabeça compreender, e sim ver, assimilar, respirar fundo, transcender e... Cantar bem baixinho, como num coral de uma só voz, aquela canção bachiana, filha daquele momento tão belo.

Entender? Não. Não conseguimos. Mas por que nos deslumbramos com tais coisas que nos fazem parar e refletir, como crianças prestes a receber a mamãe que acaba de chegar? Somos humanos (ponto). Não há nada que supere este estigma perfeito entre nós e natureza, entre nós e tudo que nos é sagrado. Há explicações cientificas, no entanto; mas prefiro dizer que nenhum animal, planta, pedra, ou seja, qualquer elemento que se eleve com músicas, poemas, por do sol... Não, não há.

Nossa alma precisa se elevar, tocar naquele elemento solitário que, há anos, espera para ser lembrado, e não o é devido ao nosso cotidiano apressado, que, embora haja um por do sol perfeito, poemas belos, musicas idem, nos faz viver nas sombras. Temos que nos reconciliar com a vida que está acima ou mesmo dentro de nós. Ter um tempo para fechar os olhos – e se não temos como ver o sol real pela manhã --, pensar nele, dentro de nós, naquela calmaria divina, na qual até mesmo o mais bruto dos homens se rende.

Temos que cantar a melhor canção, aquela que não nos relembre um passado frio, opaco, denso... Mas uma canção que nos faça sentir felizes, lá dentro de nós, sem aquela raiva costumeira. Dessa forma, como na manhã, cujos raios aparecem modificando o céu, o nosso Céu, o de dentro, inicia uma transformação, lenta. Em razão disso, palavras serão ditas de forma pensada, sem berros, gritos, simplesmente com a finalidade de fazer o outro ouvir e parar para te ouvir. É o sol em nós.

No vestir, nos esquecemos das modas com as quais nossa personalidade se depara todos os dias com o velho mundo, com as novas e velhas modas, e pegamos a mais simples, porém bela roupa que se harmoniza com todos e com tudo. Estamos prontos para transmitir nossos raios, nossa juventude, ainda que sejamos arcaicos em ideias, em comportamentos, mas também somos um pouco da beleza que se esconde nesse místico universo.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....