terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Carvão e o Ouro

Um dia, um grande professor de filosofia nos disse que o ser humano é como um carvão que, muito depois, vira ouro. Não muda de uma hora para outra. Falava daqueles que transformavam carvão em ouro em seu pequeno laboratório... Eram os Alquimistas – os quais possuíam uma natureza mítica, advinda dos antigos; um segredo que nunca poderia ser revelado.

Percebemos, por mais outros exemplos, em milênios, que, na natureza, as coisas se transformam, mas não a sua essência. Dela, desse desconhecido, vivem os sábios, aqueles que atravessam correntezas em nome da verdade; viveram os sacerdotes, homens míticos, que trabalhavam para realizar o sagrado nessa terra. Vivem, ainda, os religiosos, os reais praticantes do religare; e todos aqueles que se questionam acerca dessa grande caverna chamada mundo...

Heráclito já dizia que "não se nada no mesmo rio duas vezes". Era a afirmação de que não somos os mesmos nunca, seja em uma hora, ou mesmo em um dia, ou década para outra. Sempre há mudanças em nosso corpo, nossas mentes, nossas personalidades... Principalmente ela, com a qual nos identificamos, sem problemas.


Platão, discípulo de Sócrates, após a morte do mestre, fez suas viagens e em uma delas resolveu beber um pouco da sabedoria égipcia. No berço da humanidade, compreendeu intuitivamente o papel humano, e nos legou com seus clássicos a definição de valores pelos quais lutamos sempre: Verdade. Justiça. Amor. Bondade.

Tais valores, como segreda em suas obras, existem em cada um, assim como já o existem no mundo das ideias – mundo ideal --, o que nos faz refletir acerca de tudo, principalmente em nossa religião de cada dia...

Não apenas o sábio Platão, que vivera sempre em nome da busca interna, mas outros, em nome do conhecimento, já diziam que somos um amontoado de peles e ossos, unidos a desejos e sentimentos, dos quais não se pode tirar muita coisa, senão igualar-se aos animais, contudo possuímos a essência que nos dá acesso aos segredos do universo.

A paráfrase significa que somos parte de uma lei específica, no entanto, parece-nos fazer parte da lei que rege os quadrúpedes! Há vários exemplos nos quais podemos nos identificar. Mas que fique claro que não apenas os seres coloquiais nos veem assim, mas principalmente os cultos, racionais, intelectuais e eruditos, os quais juram que viemos dos macacos!...

Em contrapartida, temos outro extremo, a dos factoides cristãos, que transferem o peso simbólico da história nos termos míticos dos clássicos. Faço alusão a Adão e Eva, os quais são vistos tais quais pessoas naturais, que, segundo eles, viveram como a todos, ainda que, sob o manto de uma simbólica e profunda história de romance que não dera certo, são filhos sagrados que nasceram do barro e da costela, respectivamente, além de estarem vigiados por um deus-mandão. Dali, segundo a Bíblia cristã, vieram todos os seres atuais, mesmo que tenhamos nos afogado nas águas de deus, quando a Arca, mais uma vez simbólica, foi feita para salvar apenas os bons de coração... Então, somos descendentes de Adão ou Noé? – Noé.

Em várias culturas, contam-se histórias sobre o inicio da humanidade de maneira simbólica, e entre elas, a de Adão e Eva, com nomes de diferentes – isso, antes mesmo das histórias cristãs.

Na Grécia Antiga, por exemplo, a história de Noé também é contada de várias formas, em seus trechos simbólicos, mas com nomes gregos, com Zeus e Cia, afundando o mundo em águas e renovando as esperanças de um mundo melhor.
Os sábios foram esquecidos.

(volto no próximo texto).



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