segunda-feira, 30 de maio de 2011

Homens e Elefantes

Cada vez que me sinto preso ao meu abrigo alugado – minha casa --, vem-me sentimentos fechados tanto quanto, em razão de uma série de problemas os quais ficam visíveis ao sentar-se num sofá ou mesmo ao se ler um livro, ainda que não se queira fazê-lo. Meu rosto fica com ar impassível, meu coração, que poderia ser mais perene de todos, acelera em meio a notícias tristes, das quais os jornais, cansados de noticiá-las, fazem até mesmo shows à parte para, agora, chamar mais atenção do que nunca...

Estou me referindo à falta de sentimentos humanos. É algo que, até o momento, tem sido fruto de uma série de audiências, mas que, por trás, são apenas universos nos quais o capital fala mais alto. Ou seja, quem mostrar mais o rosto mais depressivo das emissoras ganha mais.

Hoje, ao ver os âncoras das principais emissoras noticiando as piores tragédias sabe bem o quanto somos dotados de falsidades. Nestes mesmos jornais, o que vale é a simpatia sutil, a alegria fácil, então ao passo que nos informam o desastre de um avião, milésimos de segundos depois, com aquele ar sério, no mesmo instante, quase simultâneo, ligam-nos uma notícia boa... (nada contra!).

É claro que existem notícias que, realmente, pelo desastre, pelo horror, pela tragédia que fora, merecem total destaque, porque ainda há um público o qual, por detrás das câmaras, que se importa e que não possui falsidades, por isso a necessidade de permanecerem naquele contexto... Caso contrário...

Natureza Complexa

Sei o quanto somos complexos, mas nem por isso precisamos deixar de lado o que sentimos. Até mesmo uma manada de elefantes para durante dias em homenagem a um elefante que morrera durante a “viagem”. Ficam horas observando o corpo com cabeça baixa, como se estivessem chorando – e estão.

Nossa natureza, que não é de elefante, pode até mesmo fingir, mas não pode fugir para sempre da dor da falta de alguém, principalmente quando é alguém de nossa “manada”. Mas não podemos ser autômatos ao ponto de calcular do que podemos chorar ou não, o que podemos fazer pelo outro ou não. Sabe por quê? Nossa “manada” é a humanidade! Não apenas nossa família.

Não que choremos a todos, mas que haja sentimentos nobres de humanidade em relação àqueles que se vão no dia a dia, pois, como diria Yung, “Naquele que morreu, se foi um pouco de mim”. Porém não somos tão reflexivos assim. Há um egoísmo profundo que nos toma a alma, dando graças porque não foi um dos nossos que morrera, que sofrera, etc. Se pensarmos bem, foi sim...

Até mesmo o sentimento cristão está desvirtuado. Antes havia aquele que orava ou chorava pelo próximo ainda que fosse do outro lado do mundo. Não há mais. As seitas religiosas a cada dia que passam desfilam insegurança com relação às suas filosofias levando ao cenário a competitividade crua e, em nome de Cristo, inventam santos, demônios, apenas para trazer o fiel ao seu rebanho de origem, como se fosse um boneco disputado por duas crianças. E no meio disso tudo, os sentimentos de amor ao próximo e paz circulam acima dos homens como dois deuses esquecidos.

Mensagem

A única forma, porém, de voltarmos a ter o real sentimento pelo próximo é conviver com ele, em meio a crises ou não. Pois, sabemos que somos complexos, somos criaturas que desenvolvem tecnologias, vamos à lua e voltamos tal qual o menino que vai para a escola e volta de noite; que montam estruturas imensas apenas para o governador passar. Somos elegantes, amáveis, alegres, educados quando queremos; somos até humanos quando queremos. Então vamos “treinar” o amor ao próximo e quem sabe, um dia, voltar a tê-lo realmente...

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....