quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Homens Leões




No estresse do dia a dia, e pelo estresse, vivemos pesados, como sacos de cimento, ou como servidores de um cais, a carregar mercadorias pesadas nas costas; nossas mentes cansadas, filhas do desespero, são como torres que captam a pior das energias humanas, advindas de outros que carregam a mesma energia.

Somos, ainda, uma estrutura biológica que não acredita nela própria, e se descarrega em outros inocentes, que, talvez, tenham se livrado do peso, o que não nos interessa, apenas retirar de nossos ombros e coração, egoisticamente, a dor que conseguimos durante meses ou anos.

E isso é um perigo. Nascemos com capacidades para captar o melhor da vida, contudo, ainda que nos desvencilhamos, nos vêm os pequenos problemas diários que se tornam bolas de neve em nossas almas, que se sobrecarregam, e, na maioria das vezes, se debruçam sobre um divã, na tentativa de explicar o inexplicável. Ou seja, ainda que tentemos sair do foco dos males da vida, vamos colher e transmitir àqueles que são ou não nossos inimigos – se não forem, serão. – e complicarmos mais nossos relacionamentos em qualquer nível.

Para quem pode pagar um psiquiatra, tudo bem. Há seres que possuem a natureza EM lidar com outros seres, dar chaves para a resolução de problemas alheios, e ganhar com isso. Mas estes também têm seus problemas familiares, conjugais, profissionais... mas, diferentes de alguns, sabem lidar com a matéria – com o problema.

Contudo, o psicólogo, que tanto ajuda a muitos, se revela, às vezes, sem experiência, e revela-se mais didático que real em suas reverberações. O que pode ser bom para uns vem a ser um desastre para outros, pois é preciso, sempre, ter a prática fria do dia a dia, e o psicólogo (como um professor de natação) não pode apenas ouvir pacientes, mas sentir na pele a razão da vida e seus porquês (ele deve saber nadar).

O estresse individual, quando remediado, vem a ser mais fácil de curar. Ele possui elementos mais fáceis de serem acessados pelo ouvinte – uma pessoa de bem, um bom médico, um psicólogo, sei lá... --, contudo, quando nos deparamos com um ar coletivo de dor, de baixa moral, de falta de estimulo... Com autoestimas baixas, é preciso que tenhamos uma força tangencial necessária. O precipício fica a um passo de todos, e se não acordarmos, iremos com todos eles.

Um filósofo um dia nos disse “Se entrares pelo cano, saias pelo cano”. É um conselho e tanto! Mas como fazê-lo...? No momento do “vamos ver”, quem vai se lembrar do cano? Não... É realmente difícil. Sem instrumentos, ferramentas, sem aquela consciência apaziguadora... Apenas à mercê de uma noite que não termina, a nossa vida se torna um útero do qual não queremos sair tão cedo.

Digo útero, para não dizer... Caverna. Uma grande caverna na qual residimos desde criança, na qual somos algemados, e cujas algemas nos foram colocadas desde pequenos sem saber quem foi quem as colocou; uma caverna fria, onde um fogo grande, atrás de nós, é grande graças ao consumo de nosso ‘vaidosismo’, interesse, mesquinhez, advinda de egocentrismos, entre outros problemas humanos.

E dessa caverna plantamos o mal, colhemos o mal, passamos o mal, e, após vários “verões”, entendemos que tudo porque passamos foi uma necessidade básica de crescimento natural, inerente a nós.

Infelizmente, conseguimos, um pouco, entender isso, porém, quando nos vem tal raciocínio, ainda que em uma fase prematura, podemos começar a viver um pouco sabiamente nossos princípios, o que é diferente de viver sem problemas! Vivê-los, resolvê-los, senti-los e transformá-los em carvão na medida de nossas experiências, que nos farão tão fortes quanto leões na selva.

Isso me lembra da história dos grandes senadores romanos, na época em que Roma era invadida pelos bárbaros. Conta-se que um dia o inimigo entrou na grande cidade e começou a quebrar as estátuas dos deuses, mas, ao longe, perto do Senado Romano, encontrava-se um senhor de aparência notável. Tinha uma barba comprida, uma vestimenta branca entrelaçada do ombro às pernas, estático, observando a falta de honra dos bárbaros a quebrar o legado romano em poucas horas.

Naquele dia, o bárbaro, que assassinava a todos que via, ao se deparar com aquele senhor, ficou estático, não disse nada, como se algo o tocasse a alma. Talvez, segundo contam, o senhor, que segundo falam, traspassou todo o seu respeito, sua moral, sua experiência, seu pudor e ética naquele momento, e evitou o pior – não foi morto; ainda que seja difícil de perceber em nós tais atributos, em raras pessoas, não, porque elas sabem colher da vida a razão de viver.

Outras histórias contam que em Esparta, quando havia torneios, os jovens, ainda que houvesse guerra, estavam lá, todos, a participar dos jogos, competições, pois havia os Jogos Olimpicos...  E quando um senhor (homem-leão) chegava para assistir ao espetáculo, todos se levantavam, havia reverência até mesmo dos atletas, e o grande senhor sorria e se sentava. Era o respeito dos cidadãos àquele que havia passado por várias guerras, e ainda estava lá a observar novas e velhas gerações, como se o tempo não existisse para ele.

É a vivência, a sabedoria que se colheu durante anos em batalhas nas quais foram vencedores. E podemos ser, em nosso nível, tais quais homens-leões do passado, vencer problemas, e vivenciar nossos sonhos sem medo.

Ser homem-leão não é correr atrás das presas do dia a dia, nem mesmo cuidar da cria, enquanto a fêmea vai atrás do alimento. Ser homem-leão é ter colhido, durante toda a sua vida, experiências nas quais o sol foi o nosso referencial. E, como tal, iluminar um pouco a vida e sentir-se um pouco iluminado. Assim foram os grandes do passado...

 



A Leônidas


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Os Clássicos em Nossa Vida.



Há dias em que nos levantamos com aquela energia, com aquele dom de mudar as coisas, e mudamos, de alguma forma, em alguma nível, algo.  Acordamos com a fúria de Júlio César, ao invadir a Gália, ou com a perspicácia do imperador Napoleão, em suas decisões diárias. E por que não dizer como um Leônidas, em suas batalhas, levado, para o desespero do inimigo, em uma rede com se fosse um mero baiano, mas tão espartano quanto qualquer comandante, que vai à luta e vence... Ah, como eu queria ser esse grande homem!

Queria ser um Aquiles, cuja vontade e sabedoria traspassaram séculos, desde que Troia foi abatida pelos gregos. Ser esse herói, no entanto, seria revelar nossa parcimônia ante o perigo, certeza nas batalhas, vitória antes da conquista. Aqueles que leram e sentiram as palavras eternas de sua mãe, ao dizer que aquela guerra, a de Troia, o deixaria eterno, foi um pouco de nós eternizado, elevado, assim como nossos atos sagrados do dia a dia, nos quais fazemos de tudo com a figuração de deixá-los para sempre em nossa memória!

Nada melhor do que ser, além de tudo,  Pitolomeu e Julio César, que se armam em nome de Roma, em batalhas civis, e se encontram e se digladiam com formalidades, que deixariam ingleses  boquiabertos, e no fundo, sabem que precisam da batalha, assim como todos que amam a vida e dela tiram o sumo da experiência que ela traz, não apenas da vitória.

E a aula de vida continua sempre nos grandes clássicos, por meio dos grandes heróis, seja por meio de pequenos, mas significantes exemplos. Um deles, a do grande Alexandre, que um dia caminhando com suas tropas no deserto egípcio, se depara com um senhor, um árabe, que vinha com suas tralhas em cima do seu cavalo. Com muita sede, Alexandre e seus homens o fazem parar. Questiona-o acerca do que levava em suas coisas, e, no meio, havia água para apenas uma pessoa... O grande general olhou as suas tropas e pediu que o velho seguisse seu destino, sem tomar sequer um gole da bendita. “Se meus homens não puderem tomar a água, eu também não vou bebê-la”. E foi embora.

A essência que se esconde no heroísmo, em seus exemplos, eleva a pessoa a ser mais que humano, pois, a cada dia, a teatralidade nos revela que o homem precisa ser humano, em condições, como dizia outro grande general – Marcos Aurélio –, nas quais precisamos de referenciais ou “precisamos ser o que admiramos no outro”.

As guerras, sempre haverá. Homens com garras e força de vontade de levá-la ao extremo, homens físicos, homens emocionais, até mesmo homens animais, todos eles com um intuito... O de guerrear, de vencer, de saborear o sangue e contar a seus netos! Nunca, porém, com valores e com a educação de um Alexandre, Julio César, Ptolomeu, muito menos Leônidas, os quais, além da força física, levaram para a batalha a disciplina, a ordem e a estratégia humanas, baseadas em preceitos universais, além do respeito ao inimigo.

Há dias, no entanto, que somos todos eles, ou nenhum. Somos opacos e tristes como um Romeu que pede insistentemente o amor a sua amada, e dorme clamando aos deuses que ela jogue seu olhar pela janela, e lhe de um sorriso. Nesses dias, é melhor criar um vigor emotivo, um sentimento de vingança, daqueles em que Hamlet tenta se vingar do tio, que, segundo o fantasma do pai, o matou. Melhor assim, do que acordarmos sonolentos, sem objetivos, vazios de caminhos.

Acordar como se fosse a última guerra, na qual somos todos os generais, soldados suicidas romanos, persas, gregos, ao saber que a batalha não era o que esperávamos, mas, com propósitos de vencê-las com nossas ferramentas, ainda que parcas, traduzirmos nossos anseios aos que às assistem de longe.

E não relutar quando a derrota é clara, aceitemo-la; a batalha é apenas a ponta do iceberg de uma guerra travada em nós, desde que o homem é homem, assim diziam os samurais, aqueles que viveram a ordem como se fosse a própria roupa que vestiam; aqueles que nos inspiraram a fortaleza, como o grande Mussassi, antes de se tornar um Ronin – samurai errante. Não relutemos. Há sempre o momento de levantar e seguir em favor de ideais, sejam eles pequenos ou não. Mas sempre os seguindo com personalidade e Justiça.

E assim o faziam os samurais, guerreiros que comandaram batalhas com suas roupas pesadas, com arcos e flechas, e às vezes com apenas sabedoria. Hoje, apenas o nome (samurai) nos faz entrar em contato com um respeito intimo, e reverenciá-lo, pelo que foram – ou com diriam os seus ancestrais, depois de séculos – que são.

Todos são, hoje, samurais modernos, diferentes no vestir, no falar, no guerrear, são seres dotados de uma filosofia dentro da qual (talvez mais sólida que a de antes) ensinam como batalhar no dia a dia, através do respeito, da moral, da ética, até mesmo na dor, a qual servira de instrumento de ensino há muito. É Oriente nas veias do Ocidente.

E os sentimentos são clássicos ao se depararem com forças eternas; todas elas retiradas de heróis – filhos de Heros – que amaram a liberdade, o amor, a beleza, a Justiça, que pairam até hoje em nossos universos. Depende de cada um começar a batalha de todos os dias, com todos esses valores.


Aos Heróis do dia a dia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Insustentável Beleza de Ser...



Não sei quem "inventou" o homem, mas, hoje, percebo, é uma das melhores invenções que se tem notícia. Claro, assim como tudo que vemos e ouvimos, às vezes – para não dizer na maioria das vezes, nos desvirtuamos de nossas obrigações para com o mundo, com o universo...

Mas isso, penso, não é motivo de uma reflexão negativa acerca de nós mesmos, homens, que nos consideramos, sempre, a alavanca necessária e infinita do todo. Nossos caminhos, graças a esse pensamento, se destroem e se tornam areias ao vento... Tornam-se a descentralização moral de nós mesmos.

Não pensemos assim – ordeno – pois, quando as folhas farfalham uma nas outras, percebemos o som literal, sem armações, sem o vínculo com tomadas, apenas o som; quando o sol se põe, ao longe, ainda há aquele que o escuta tocar no oceano, seguido do fechar dos olhos e o sentir das ondas, ainda que não o toque. Esse som não existe, todavia baila nos sonhos da pureza da alma que o alimenta, desde a infância.

Somos frutos de uma árvore na qual, em um de seus galhos, vive o fruto da compreensão e da sabedoria. E por isso, vivenciamos e presenciamos o gruir das aves, o som de uma brisa, o cantar de uma mulher, o sorrir de um menino...

São percepções que, ao ver de muitos, não equivalem nem mesmo o peso de uma pétala de rosa, no entanto, nenhum ser que se adentra nesse mundo, que voa, que corre, que se alimenta – sem ser o próprio homem – não tem essa voluveidade, ou melhor, essa vontade simples e duradoura de sentir em seus dedos a água derramar gelada (ou quente!); nenhum tem a capacidade de observar um pássaro, em seu ninho, e sorrir como criança, ou melhor como se ele próprio estivesse ali, no pequeno abrigo; não há nenhum ser que compreende a música ao tocar na alma e o faz chorar, seja pela lembrança de um passado, seja pela beleza de um presente ou mesmo pela sacralidade que a música nos traz...

Não, nenhum. E quando o sol se levanta, e o coração se espanta pela grandeza infinita daquele que um dia foi adorado por nações? Não há explicações racionais, apenas dizer que somos humanos, somos homens em busca do bom, do belo e do justo. Somos simplesmente assim, uma ponte a tudo que nos é inerente, seja bom ou não, mas que transpassa nossas veias como relâmpagos a nos atingir e a nos deixar caídos, ou, na melhor das vezes, acima de qualquer nuvem.

Deixar que tais percepções passem por nossas vidas não significa a diminuição de nossas condições humanas, mesmo porque a vida nos dá chances de recuperar -- em vidas -- o que perdemos e por vezes matamos. Contudo, as oportunidades e o próprio universo, por serem de algum modo físicos, se vão todos os dias, e o sol e o mar, a brisa, os pássaros, o sorriso... nunca são os mesmos.


Somos homens. E pronto.



Aos que acreditam na mudança.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Quando entrar Dezembro..




Percebem que, ao entrar novembro, já pensamos em dezembro, em suas festas, confraternizações, sorrisos em torno da árvore de Natal lotada de presentes, de bolinhas coloridas, respingando brilhos ao chão, ao teto, ao seu redor e em nossos olhos? Pois é verdade... E olha que eu falo de novembro, não o mês das festas, que é dezembro, no qual, ao chegar, transforma os corações, as almas mais doentes, mais frias, em manifestações raras de paz e beleza.

É incrível como podemos transformar as coisas do nada em algo que tenha uma transcendência maior que o próprio nome. Dezembro, por exemplo, não era apenas um mês em que se faziam festas, fosse de Natal ou não. Era simplesmente um mês e pronto.

O Natal, segundo o Cristianismo, é uma data em que se comemora o aniversário de Cristo, mas todos sabem que nem mesmo os cristãos sabem a data exata do nascimento do mestre, tanto que tal data fora adotada depois de séculos como a data do evento. Mais tarde, depois de adotarem até janeiro como o mês do ano um da história, dezembro foi adotado.

Muitos, no entanto, acreditam que o Natal é uma data a se refletir acerca dos mais pobres, miseráveis, pois sempre são os mais esquecidos durante todo o ano que se passou... Discordo. É uma data a refletir, mas não acerca dos mais necessitados, mas englobar nossas reflexões sobre tudo, incluindo os pobres, ricos, amarelos, pardos, dourados, opacos, japoneses, tailandeses...

Refletir também acerca de nossa riqueza, que não pode ser somente monetária, mas uma riqueza voltada ao saber, ao conhecimento, ao humano, ao sagrado, de forma que sejamos os mais divinos possíveis, onde quer que estejamos, porque sempre nos esquecemos, durante o ano todo, o que somos, e de onde viemos.

Sim, pois, a origem (a nossa origem) é aquela que jamais deve ser esquecida. Seja aqui ou no polo norte, com sentimentos regados de racionalismos, de vontade e de espiritualidade (o que é menos provável), todos devem ser observados à luz de nossa origem, pois ela é quem diz o que somos...

Numa cena de um dos filmes mais bem feitos da história, “Excalibur”, Merlin, o mago do rei Arthur, depois que os grandes cavalheiros da Távola voltam da vitória (da maior delas), pega seu cetro, levanta-o, e diz “Homens, prestem atenção! Não nos esqueçamos jamais desse dia, pois o maior mal da humanidade é o esquecimento!” E todos, sem exceção, levantam suas espadas, e clamam o nome do rei.

A nossa origem deve ser tratada assim. Jamais, nunca, devemos nos esquecer de onde viemos. Ela singulariza nossos traços, nossas virtudes, e nos dá um parâmetro do Caminho que podemos seguir. Porque a origem de tudo está no coração, o cérebro da alma.

E é por ela que passam todas nossas emoções elevadas ou não, e nos descentraliza do mal do mundo, de nós mesmos – esse ser tão egoísta, que levou a todos a acreditar que o que mostrara o ano todo era ele mesmo. Não, não era. O que somos a alma revela nos instantes em que recebemos um grande abraço de um ente querido, de um ser que há muito conflitua conosco, e naquele dia, o dia da reconciliação, do choro, da alegria... chega e nos diz... “feliz Natal!”.

Isso é o que vale! Pois nenhum sentimento de pena nos levará a exterminar a dor do próximo. Talvez muito pelo contrário. Nenhuma feição triste no Natal nos fará consertar as situações presentes ou passadas de um mundo em que pessoas só se integram em festas familiares. Não, jamais a dor e o desespero serão sanados com o medo de comemorar uma grande confraternização, com o medo de sorrir, com o medo de levantar da cama... Vai, com certeza, contribuir com o mal do mundo e, mais, pessoas que necessitam do seu sorrido, de seu abraço, do seu amor e carinho, sentirão sua falta e cairão emocionalmente em prantos, lá dentro do coração, cérebro de uma alma, que, em conflito, pensa, dorme e acorda, a espera do grande dia, o dia em que nos abraçaremos sem qualquer interesse, a não ser o de fazer-se e fazer o próximo feliz.

Quando entrar dezembro, que tenhamos, mais um vez, a alma banhada de siceridade e respeito ao próximo, ainda que não sejamos cristãos, mas que tenhamos a mente focada no grande sol que nos ilumina, sempre, que queremos suprir nossas necessidade internas, o sol de Cristo, esse ser solar, que, hostórico e mitológico, tornou-se um ser cujas potencialidades não podemos medir, nem imaginar, mas sempre nos tornar um pouco mais humildes e belos, assim como o é Buda, no Oriente, transformando a vida em algo melhor a ser vivido, pelo menos uma vez a cada ano.


Chega logo, dezembro!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cobras sem cabeças



Há pouco tempo, tivemos nos noticiários do Brasil e do mundo uma noticia que nos assombrou muito. A história dos universitários da USP que invadiram o interior desta com a finalidade de protestar contra três estudantes que haviam sido pegos e levados pela policia, pelo fato de estarem fumando maconha no estacionamento da universidade... Isso depois de a policia ter sido convocada, há muito, pela diretoria para protegê-los de assaltos, os quais já estavam em evidência.

Mas isso não foi relevante aos caros jovens, que, sem o mínimo pudor, quebraram, invadiram, e se fincaram nas salas de aula como se fossem suas próprias casas. E depois de se instalarem no local, tentaram negociar com o governo a soltura dos outros que tinham sido presos.

Dias se passaram, e a Justiça decretou a falta de bom senso daqueles que um dia serão o futuro do Brasil. Com medo de represália dos “pimpolhos”, a policia, a pedido do Estado, retirou-os de madrugada, sem que houvesse mais quebras e violações de patrimônio, o que surpreendeu muito o governo, pois os estudantes já tinham feito muito estrago...

Mas não estou aqui para falar dos estragos, falar dos policiais, falar de suas ações, mas, em especifico, da grande ideologia perdida em salas de aula que um dia fizeram a diferença, não somente em campus universitários, mas em lugares nos quais nem mesmo o exército ousava que estivessem: na rua.

Foi na rua, nas esquinas, nos porões de suas casas, que nasceu o sentimento de liberdade contra os regimes opressores, e dali, com mentes ávidas e quentes a enfrentar os cassetetes, as armas, e o lado frio de outro porão (o da ditadura!), estudantes do Brasil e do mundo conseguiram, aos poucos, com organizações disciplinadas, o que hoje chamam de liberdade de expressão, de imprensa, etc.

A chama em desafiar autoridades esfriou nesses mais de trinta anos. O que se faz hoje não é desafiar, mas mostrar-se infantil em relação ao que se quer. Ou seja, não se sabe o que se quer...

Depois de anos de ditaduras, até mesmo na queda por impeachment de um presidente corrupto, vimos o quão necessário é um corpo estudantil consciente de seus atos, na mudança comportamental de um país. E isso ocorreu, não só aqui, mas, principalmente, em repúblicas vizinhas, na America do Sul, como a do Chile, Argentina, as quais se mostram, depois de anos, mais conscientes do que a nossa.

A do Chile, por exemplo, ainda que seja a mais desenvolvida em termos educacionais, percebe-se que estudantes daquele país não se conformam com o pouco que têm... Fazem passeatas, piquetes, vão à luta e, antes de declinar-se, conseguem melhorar, ainda mais, o quadro educacional daquele país. Era o que esperávamos dos estudantes da USP, da UnB, da FUVEST e de outras que racionalizam suas ideologias estudantis e se conformam com o que têm.

A própria UnB, Universidade de Brasília, foi modelo no passado, entre muitas do Brasil, de resistência ao exército, que, às vezes sem delongas, “despachava” ali mesmo, na universidade, o manifestante-aluno para o céu. Hoje, a mesma universidade, com papel político, preocupa-se com uma democracia em frangalhos, a qual elege corruptos a cada quatro anos.

Ou seja, não há mais pelo que lutar, nos parece. Se nosso melhor foco, hoje, é nos preocupar em fumar maconha em estacionamentos, em ir para a sala de aula com vestidos justos e sensuais, em andar de sandálias em salas de aula, em cogitar saídas para baladas nas quais ninguém sabe se se vive para contar noutro dia... Podemos esquecer o futuro de um país cujo núcleo, os estudantes, é tão estragado quanto ovo podre.




segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Deus Silêncio

Na calada da noite, quando todos dormem, depois de horas, fico sentado refletindo acerca do mundo ou antecipando minhas preces, antes de dormir. Sintonizo uma canção em minha mente como se fosse um desses aparelhos de rádio pequeno, em busca de algo para se ouvir... Mas, não adianta... A música, em si, não necessita ser procurada nessas horas, parece que ela sabe o quanto necessitamos de ajuda, a grande ajuda do silêncio...

E escuto meus pensamentos, minhas batidas de coração, os pequenos insetos que voam, meu respirar... E pronto. Cessou. Não ouço mais nada... Às vezes, até mesmo o traspassar da luz pelo vidro da lâmpada não passa despercebido, mas, na maioria das vezes, o silêncio é total. É um momento em que podemos conversar a sós, e ouvir a voz do coração...

Cansado das loucuras do mundo, a repousar no peito em busca de algo a refletir, meu coração se isola no corpo com certo receio de doer pelo que pode ser lembrado, mas meu esforço se sobressai e me inclino apenas a uma oração, a pedir mais amor ao mundo, mais justiça aos estados, mais vida às crianças, além de proteção à minha família, aos meus amigos, e mais dedicação ao Bem, o qual não reflete aos homens graças a uma época de dor e desespero...  Tudo ao deus silêncio.

O mistério do silêncio se resguarda no fundo do coração do homem. Lá, naquele escuro centro, o homem não abre mão do que ele é, pois nem tudo é corruptível. Resguarda-se o mais simples e ao passo o mais complexo do que somos, pois não se pode racionalizá-lo, como um conceito de um dicionário. Dentro dele, luas e sóis se harmonizam tanto quanto os reais; dentro de nós, andamos no Caminho, transformando partículas frias em fogos de artifícios, ou mesmo sentimentos puros em larvas vulcânicas.

Aqui, a vida é livre. Somos livres. Sorrimos quando devemos sorrir, corremos quando nos der na telha, amamos o que (ou quem) quisermos, voamos tão melhor quanto pássaros, rugimos como leões na nossa própria África! Aqui, os valores, os reais, são obedecidos. Aqui somos éticos, virtuosos, cheios de ideologias, e as praticamos, pois elevamos nossos pensamentos a um mundo que realmente vale à pena: ao mundo em que acreditamos.

Nesse silêncio, gritamos ao vento, tomamos banho de chuvas, sentimos o cheiro da terra molhada, corremos entre crianças, sustentamos nossas personalidades, nossos princípios, e velamos pelos mais clássicos segredos, aquele que nos faz amar apaixonadamente a vida.

E o silêncio, num breve segundo, se desfaz. Temos que acordar da utopia por ele formada. Mas uma utopia da qual podemos tirar mais segredos. Temos que acordar, e dormir, para que possamos, pelo menos, na manhã do outro dia, respirar a leve brisa deixada pelo mundo nosso de cada silêncio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Nas mínimas coisas...

Hoje, 11 de novembro de 2011. Uma data esotérica. Mas o que significa esotérica? Na Antiguidade, significava uma linguagem não acessível ao grande povo, mas apenas aos poucos iniciados que se adentravam na linguagem sagrada. Assim, o fora a escola Pitagórica, a escola de Eleusis, a escola estoica, etc... Isso na Grécia, lugar de uma filosofia clássica e prática que pairava no ar, na vida e na educação de todos.

Hoje, esotérico não tem nada mais a ver com o passado. Muitos, em razão de notícias que circulam nas redes e jornais impressos, se impressionam com o teor da matéria acerca do grande dia (11/11/11!) e vão atrás do que se trata. Outros, em razão da formação moderno-budista, ou xintoísta, tanto faz... Organizam passeatas, eventos nos quais a meditação é o foco principal, e mais adiante, mais alguns que acreditam no fim do mundo... Há aqueles que, cientificamente, opinam, sorriem, e dizem “nada nos vai acontecer, as datas são invenções humanas” – nada mais racional.

Contudo, só se esquecem de que somos seres humanos e participamos de um Todo  -- todos os dias. E isso não é invenção humana. É algo inato, que se “discutia” e se respeitava nas escolas iniciáticas da Grécia antiga, e por isso, temos que, diariamente, não apenas em datas gêmeas (12/12/12... 10/10/10...), elevar nossas mentes à quietude da vida, em algum lugar que corresponda a esse silêncio. Não possível, pensar em algo belo, bom e justo, dentro do que realmente o é. Algo que traspasse nossos valores individuais e caiba na casa dos valores humanitários, mais profundos e menos egocêntricos.

Realmente é algo que, desde que o homem é homem, vem sendo feito. No entanto, o que é sagrado para um, hoje, não é para o outro. Antes, tudo havia de ser sagrado, assim também o homem o era, pois todas as coisas participavam (e ainda participam) de tudo, sem divergências, como uma grande engrenagem, cuja sombra dela era a sua essência (mundo das ideias de Platão).

Não deixemos que se vá a prática dessa virtude tão humana, que é a busca pelo sagrado, ainda que seja de maneira moderna, física, mental, diferente da dos grandes iniciados, mas que nos traga sinais de que estamos e somos seres que se espiritualizam nas mínimas coisas, por mínimas coisas, e criaremos, assim, não só em datas gêmeas, mas em datas heterogêneas, mais seres que vivenciam o lado que realmente nos interessa. O lado humano.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Casados e casamentos, coisas que não mudam.

Sabe... Entre tantas coisas para lembrar, sempre fico com aquelas que me fizeram mais feliz. Não poderia ser diferente. Assim como todos se lembram de uma noite passada – de uma festa, de um baile, de um presente de aniversário, etc, --, de um dia em que tudo deu certo, lembro-me do passado.




Principalmente da época em que eu era solteiro, e saia com meus amigos aos chamados cines (não) proibidos, aos fliperamas, às pizzarias em conjunto... E muito mais.  É, por mais difícil que seja em acreditar, eu não vou mais a bailes, a festas, a pizzarias, teatros... O casamento puxou o freio de mão de tudo.

Penso: como adequar a vida de esposo à vida de um homem que quer voltar a ser feliz como antes? É difícil ser como antes, mesmo porque entramos em uma esfera da vida na qual tudo é diferente, até mesmo você. Se não és, vai ser. Mulher, filhos, sogra, família... são os ingredientes que nos farão melhores ou piores.

Se não vir assim, pelo menos como ferramentas para a ascensão vital ou mesmo barreira pelas quais podemos e temos que transpor. Casos há em que muitos não encaram a vida de casado assim, e sim como grades de uma prisão indeterminada, dentro da qual sogra e esposa são vigias constantes.

Falta de Exemplos..

Conheço um amigo que saía, ia às salas de cinema assistir àqueles grandes filmes franceses, irlandeses, até mesmo indianos, quando solteiro. Depois de casado, de ter conseguido dois filhos, um casal, sentiu-se na obrigação de cuidar deles, de dar mais apoio à esposa, de encarar o novo mundo. Resultado: nunca mais foi a cinemas, ou mesmo assiste a filmes em televisão. No máximo, pegava DVDs infantis para ver com os pimpolhos...

Sua esposa, sem compreender o que se passava no interior do marido, que ficava em casa, e só saia com os filhos quando dava, e com ela idem, iniciara uma perseguição mortal, acreditando que, no trabalho, durante os dias da semana, ele se encontrava com outra...

Acreditem se quiser. Porém, em nome da cultura – ou de uma liberdade que ele acreditava ter quando jovem --, ele se desfez do casamento, e claro, graças a elucubrações de sua dona, que nunca nele acreditava. Assim, hoje, feliz, não tem ninguém. Isso depois de anos sem a aliança. Com roupas novas, cheio da leveza moral que um homem (de meia idade) deve possuir, prossegue sua vida, na cultura, na informação e na busca pela sabedoria. E quando quer, encara uma paquera.

Isso não é o modelo de uma mudança na vida de um homem, mas um caso isolado de uma pessoa que se cansara das obrigações e preferiu abraçar seu passado. Acho que, de certa forma, é meio perigoso, ainda que seja válido em algum ponto o que ele fez, pois, se não encontrara a felicidade em seu casamento, tem todo o direito de ir atrás do seu passado ou catapultar para o presente e, quem sabe, realizar-se.

O perigo mora em obrigações que não são aceitas pelo homem atual. Obrigações que o fazem tropeçar, cair, levantar, mas sempre evoluir em algum nível. O casamento é um ato voluntário, mas, ao casar-se, nosso passado deve servir apenas como lembranças, ainda que tenham sido melhores que as do presente, e, na maioria das vezes, o é, mas isso não faz a vida de solteiro, jovem, etc, melhor do que a vida de casado, pois aquela vida sempre será desvinculada de uma obrigação que esta, a de casado, nos trará.

A de casado traz uma batalha. A da convivência. Conviver com o próximo é sempre um dos maiores desafios que temos atualmente. Tanto que há até uma ideia polêmica, no México, do casamento com prazo de validade. Se em dois anos o casal não renovar seu matrimônio, é dado como separados...

Para muitos, a ideia soa como a certeza da resolução das brigas entre casais, as quais não se consegue solucionar, apenas fomentar discussões, todos os dias. E pra dizer a verdade, eu penso muito nessa ideia... Mas fica fácil resolver essas questões nas quais se pode separar um do outro. Nunca se resolveu a questão do unir, resolver, conviver.. Amar, dar amor, carinho, entender, algo parecido com o que todos querem, mas temos medo de tentar. Não me venham com histórias de encontro de casais!

Sei que consultórios estão lotados, que precipícios de suicidas estão com filas imensas, que os homicídios a senhoras de idade aumentaram, que as leis em torno da violência feminina estão mais rígidas, que o homem está traindo mais, que filhos estão mais revoltos... Que a vida melhorou para os psicólogos de família...

Mas, como sou persistente, fico pensando em soluções do tipo, tenho que fazer minha esposa amar o que eu amo, e eu amar o que ela ama; saber o que eu sei, tentar entender o que ela sabe; aprofundá-la em questões psicológicas, filosóficas, sociais, familiares, das quais se pode um compreender o outro, cuidar mais do nosso filho de maneira que haja mais humor, ou, se não der, que haja mais leveza nas palavras impensadas. Difícil. A mulher, em si,  lembra um totem. Se a vir com uma cara, será sempre a mesma. Minha esperança morreu antes da sogra...

Se houvesse essa possibilidade de mudança,  meu passado tornar-se-ía mais passado do que nunca e não me atormentaria tanto na hora de uma decisão. Claro que é impossível ela gostar do que gosto, mas o que interfere na evolução familiar e que há sempre uma tendência feminina ao mito da caverna, na qual os dois seriamos os seres algemados, e o filho, o inconsciente, também algemado, assistindo à televisão. Os amos da caverna seriam os apresentadores.

Falo isso porque há mulheres que amam o lar e ficam tão fiéis a eles que se esquecem do mundo que nos enriquece, das amizades que nos fizeram fortes; esquecem dos livros, das músicas, da lua que os uniu, do sol que nos vivificou, enfim, lembram-se apenas do aniversário de casamento!

Toda mulher sabe que o homem tem tendências de descobridor, de ser livre como um general de guerra, ou seja, que quer descobrir o mundo, disciplinando seu filho (ou filhos), e mais, subir montanhas, acampar, comentar a vida, ir atrás de novas sensações, de realizar sempre algo diferente, mexer com a terra, fazê-la girar!

Não consigo tudo isso, mas sei que é muito bom acordar, vir trabalhar, brincar com meus amigos, soltar piadas, trabalhar com afinco, dedilhar um texto, expor minhas ideias... Solucionar problemas nacionais, internacionais, sim, porque, quando se discute política e religião em ambientes de trabalhos, tem-se todas as soluções do mundo sentado em uma cadeira giratória rs. Assim vive o servidor público! Falar de ideologias passadas e futuras, e me sentir útil.

Gosto de comida simples, viver de bem com meus amigos, sair com eles e comer pizza, ainda que seja uma vez por ano (!), caminhar, falar sozinho, responder-me, e concordar, e nunca brigar, pois sei com quem estou falando... (depois de casado, acontece...). Gosto de filmes, músicas, desenhos, comédias, tudo clássico. E amo a subtilidade, graciosidade, feminilidade da mulher – por isso, me casei.

A vida de casado não me dá essa abertura, talvez porque não sabemos o que se resguarda no coração de cada um. A alma fica no precipício dos valores morais quando algo de ruim acontece com o casal, mas, ao aparecer a solução, o paraíso é pequeno em semelhanças. Tudo se explica, e sorrisos se esticam.

Mas é por pouco tempo. A convivência, realmente, é algo humano por excelência. Ela nos mostra quão frágeis somos, e como egoisticamente vivemos. Quando realizamos tudo em conjunto, com a premissa de que tudo vai dar certo, com possibilidade de cinquenta por cento dar errado (!) as coisas podem se iniciar.

Vamos abrir o leque!

Eu ainda tenho exemplos de amigos que se casaram apenas por se casar. O grande amigo viu seus amigos colocarem alianças, ficou com inveja e foi atrás de uma donzela, ainda que  fosse frigida em relacionamentos, fraca em pensamentos, mas, em educação, era a mais cristã possível. Teve uma filha com ela, e não aguenta ouvir choro, mulher, sogra, sogro, irmãos, etc... E esqueceu-se de que, em casado, o leque de opções de direitos é pouco e o de obrigações é muito. Sua última fala foi “se eu soubesse que a vida de  casado era assim...!”.

O que nos falta talvez seja justamente a abertura desse leque. Saber o porquê de sua existência, o que traz nele, o que podemos fazer, o que não podemos, e se pudermos, tentar abrir mão do que queremos, mas de maneira lenta, gradual. E o que não podemos, dialogar, ainda que seja difícil, com o sexo oposto, mesmo que se pareça com uma empreitada, mas não podemos passar o resto de nossas vidas falando sozinhos! E mais, planejar estratégias humanas, não apenas financeiras, fisiológicas, etc, ma principalmente humanas. Não o somos?

Outro exemplo é de um amigo que se casou, teve vários filhos – um que não é dele, motivo pelo qual o  fez casar-se à força com uma esposa tão brava quanto o pai dela, o qual fora peça importante em sua decisão... Mesmo assim, após anos de casamento, conseguiu “abraçar” a causa, tornou-se religioso para criar uma evasiva psicológica, e, hoje, sai de casa tanto quanto seus filhos (a maioria dele, claro...), já crescidos, mas este amigo vai para a igreja, em vez de farras e faculdades... Tudo para não encarar sua esposa, aquela a qual, se a amasse, casar-se-ía por algum atributo dela.

Criar meios para distanciar-se do problema dentro do próprio problema é perigoso, ainda que sejamos craques nisso; deixar de ver a sogra, encontrando desculpas para tanto, sumir de casa e dizer que havia mais obrigações fora do que dentro, deixar filho com mãe, etc, nos tornam filhos inconscientes, pedindo aos deuses para não crescer e ficarmos apenas a brincar com aquele carrinho de caçamba que a mamãe nos deu...

Tenho um outro caso, o de um amigo que se casou duas ou três vezes, e que fez filho pelo menos duas. Paga pensão à ex-esposa, ao filho que não cria, e agora, casou-se mais uma vez, a terceira. Sua situação é a mesma de quando era adolescente... Seu  mundo atual, com o “novo casamento”, é velejar, descansar, dormir, comprar violões, arranhar (e muito) nas cordas, fingir que sabe tudo e por aí vai... 

Seu compromisso com o casório talvez seja o mesmo dos da época em que fez o primeiro e o segundo filho. Hoje, para se ter uma ideia, depende de sua mãe para morar, para comer, e sua esposa, à margem dessa sociedade criada por ele, está cheia dos problemas, dos quais nenhum deles está sob a responsabilidade do esposo.

Observando de forma genérica, posso admitir que o homem ainda carrega aquela clava dos brutos da caverna. Vão atrás de comida, e, depois de um longo tempo, voltam com a carne nas costas. A mulher, refinada, ainda se deixa arrastar pelos cabelos, quando sai de casa com ele, graças ao ciúme.

O homem, hoje, carrega o moralismo-pedra. Ou seja, acredita que o mundo roda em torno dele (devo confessar...), pensamos ainda que somos donos do mar, da terra e do ar, e, assim, nos passa filhos e mulher como simples empregados naturais de um relacionamento no qual tentamos ser felizes baseados no que o esposo pensa. O caso acima ilustra bem isso. E a mãe dele é uma das que foi criada sob esse manto frio do  machismo, dentro do qual todos os filhos homens são bens valiosos, ainda que não tenham força para serem...

O casamento...

Claro que o casamento é um dos meios mais eficazes de saber lidar com o ser humano. Se não casar-se, tudo bem. Haverá, em nós, outro tipo de casamento. O casamento do homem com a busca implacável em melhorar seus atos por meio de outros relacionamentos, pois não há outro meio – em nosso nível – que não aceite a evolução (a nossa) sem que passemos com outra pessoa o mistério do desconhecido. E o desconhecido somos nós.

E o casamento, com prazo de validade ou não, ainda serve como ponte para o conhecimento de si mesmo. Repetindo: em nosso nível. Não adianta padres, pastores, bispos ficarem à margem desse episodio, pois precisam lidar com alguma pessoa amada, de forma intima, seja física, seja emocional, espiritual, comungando ideias diferentes, encontrando-se no fim das retas opostas.

O casamento como prova é reprovável. Temos que vê-lo como uma beleza necessária, pois somos os únicos seres do mundo que transformam tudo em símbolos profundos, que se ligam com o sagrado. E o casamento precisa ser um símbolo do que somos e do que queremos com a vida... Não deixar que seja uma árvore que envelheça com tempo, sem frutos.

O casamento, com amor, é uma forma abstrata. Ou seja, sabemos que existe, mas não sabemos lhe dar forma. É belo, mas a depender de que o observa pode ser interpretado de maneira errônea. O amor, aqui, mais que todos os sentidos, não pode ser apenas um meio, uma peça de um casamento, ou um rótulo (pois que ama, amará sempre), mas um grande ideal de compreensão.

E para você que ainda não se casou, eu parafraseio o grande Fernando Pessoa, "amar é preciso; casar não preciso".

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dédalo e Ícaro (Ensaio Final)

O inicio de um grande voo.


Dédalo, arquiteto, e seu filho, Ícaro, presos e condenados pelo rei de Creta, que se desagradou pela construção do labirinto, o qual também era uma construção do hábil grego – ficam exilados em um grande castelo cujas torres são as mais altas da Grécia. Lá, com seus artifícios manuais, do nada, reinventa, da forma mais espetacular possível, asas de seda para alçar voo e fugir.

Nesse dia, o da fuga, Dédalo pede a Ícaro que não voe alto demais, pois suas asas poderão se desintegrar com o calor do sol. Avisa, ainda, que não poderá voar baixo demais, porque a água do mar poderá molhá-las e ele, seu filho, afogar-se.

Contudo, ainda que avisado diversas vezes, o jovem Ícaro, ao pular da janela do castelo no qual estava preso, juntamente com seu pai, salta e ganha o céu. Maravilhado com o feito, olha toda a paisagem, faz rasantes, mas não se contenta em voar em paralelo ao idoso, que o havia avisado...

“- Icaro, meu filho – disse ele quando tudo ficou pronto -, recomendo que voes a uma altura moderada, pois se voares muito baixo, a umidade emperrará tuas asas, e se voares muito alto, o calor as derreterá. Conserva-te perto de mim e estarás em segurança”.


Ícaro sobe, sobe... e não volta. Dédalo, receoso, grita o nome do filho em vão. Este, tão fascinado pela beleza da liberdade, vai em direção ao sol... Suas asas, de seda, não aguentaram. Ícaro cai. O mar o engole.

“- Ícaro, Ícaro, onde estás?” – gritou o pai, aflito.


Retidão



Em todas as culturas antigas – Incas, Maias, Hindu --, havia uma filosofia a respeito da retidão universal. Na antiga Índia, por exemplo, o nome dessa retidão chamava-se (ou ainda se chama...) Darma. Em cada nível no qual vivemos, e no maior dele, o universo, tudo estaria sujeito a uma Lei, a lei dármica. O contrário disso chamar-se-ia Carma. Era a lei da Ação e Reação.

Ao homem comum, essa lei também vigoraria, dentro dos níveis a que ele passaria nessa e noutra vida, como acreditavam os antigos. Então, por que em sua vida diária não seria possível a concretização dessa lei?

Sim, e é nela que o homem tradicional se baseia, vive e se educa. Exemplo disso é a vida egípcia, ao falar de Maât, sua deusa maior da Justiça, à qual todo povo obedecia e nela se pautava para decidir seus atos. Sem esse parâmetro, não havia como viver.

Em outras tradições, repetia-se, com outros deuses. Na Grécia, com Zeus e seu oposto, Hades. No Egito, Seth ao oposto de Osíris; Odin, na mitologia nórdica, e Loki, o seu oposto. E assim, por diante...

Mas nossa cultura se distanciou de tais preceitos, e transformou tudo isso em folclore, ou como dizem hoje, no pior sentido da palavra, em mito.

Mas a simbologia persiste. E como um coração que muda de corpo, mas não de cor, a semântica dela nos permite atravessar mares e entender um pouco do que os deuses nos reservaram...

O significado

Na mitologia budista, diz-se que Buda, antes de iniciar-se, ainda um garoto debaixo da grande árvore da sabedoria, ouviu ao longe um som tocar. Era o alaúde de um menino que, ao lado do pai exigente, tentava sonorizar em vão algum som. O pai, paciente, teria dito: “Não toque com as cordas frouxas, pode não sair som algum; e não as deixe esticadas demais, pois podem arrebentar”.

Era o inicio de uma das grandes filosofias adotadas por um dos maiores iniciados de todos os tempos. Sindarta, naquele dia, teria se transformado em Buda, graças a sua “percepção” (siting, visão...) em torno do acontecido que o fez ‘ver’ com os olhos do espírito a razão de tudo.

Antes, dele, porém, outros iniciados já descreviam, com seu entendimento, por meio dos seus sitings, a lei dármica, ou melhor, o Justo Meio – como reza a filosofia budista. Assim, temos em vários mitos não somente gregos, como também hindus, maias, de forma diferente, descrições acerca dessa grande lei.

No mito de Dédalo e Ícaro, quando aquele pede ao filho para que este não voe em direção ao sol, muito menos baixo demais ao ponte de lamber as águas, em razão das asas serem de seda, presumimos o mesmo entendimento.

Ícaro não poderia voar nem muito alto ou muito baixo, caso contrário, não voaria, ou melhor, morreria afogado nas águas do mar. E Ícaro, símbolo dos homens que acreditam que as leis não geram causa e efeito, teve suas asas derretidas, e morreu afogado.

Assim como o jovem Ícaro, somos embriagados, desde sempre, a conceitos relativos, dos quais somente sabemos que o são quando erramos o bastante, caímos, sofremos, e às vezes morremos, e percebemos por meio de questionamentos do tipo “por que isso só acontece comigo?”, “Por que isso está acontecendo, eu não fiz nada!”... E assim por diante.

Contudo, a história está cheia de exemplos dos quais, se não fôssemos tão teimosos, poderíamos tirar proveito, mas não somos sábios o bastante. Não precisamos, claro, nos refinarmos em livros, em conselhos, pois a própria vida nos belisca na alma, no físico, no espírito, e às vezes nos deixa amargurados até o fim de nossos dias – se não nos matarmos, é claro – cheios de sofreguidão, graças aos nossos erros presentes e passados.


Ícaro é mais que uma metáfora. Ele alude uma lei de ação e reação que nos banha todo os dias, seja em pensamentos, em atos, dos quais só criamos consciência depois de idosos, ou nem isso. O jovem representa muito mais que a teimosia humana, Ícaro representa a humanidade e sua dificuldade em entender a própria vida, dentro da qual fazemos o que queremos, confundindo conceitos, principalmente o de liberdade.

Segundo os Estoicos, liberdade nada mais é que “Seguir a lei divina”. O que estaria fora disso chamar-se-ia debilidade humana. Dentro da liberdade, então, teríamos uma natureza que estaria seguindo a lei dármica, com ou sem carma, pois até mesmo os seres de espécies diferentes da dos homens também estariam dentro, sem exceção. Todavia, apenas o homem, na sua evolução, teria a consciência – ou poderia ter.

Liberdade do sol, da chuva, dos pássaros em serem pássaros, dos frutos de serem frutos, das árvores em serem árvores, e do homem e ser Homem, o que, na realidade, é menos possível do que todos os exemplos.

Dédalo seria a Lei. Dono da perfeição, o senhor, cujas asas seriam feitas para a liberdade real, chega a mostrar as duas faces da Lei (ação e reação) ao jovem, porém, assim como todo ser humano, se desfaz dos conceitos tradicionais, cai na personalidade interesseira, esquece as leis universais; cai no mal, assim como muitos de todos os mitos o fazem, e nos mostra quão volúveis somos ao passageiro, ao efêmero, sujeitando-nos à dor, ou ao mal.


O sol

O sol e o Mar.



O sol, o invisível ser em cada um, tornar-se Ideal. Todavia, de forma não gratuita, buscamos com nossas parcas ferramentas, contudo eficazes, a depender de quem as manuseia. Como ‘Ícaros’ que somos, nos iludimos com a perfeição de nossas asas, e vamos ao encontro de sóis efêmeros, dos quais não se pode tirar nada, a não ser a grande experiência de levantar de uma grande queda. Às vezes, não.

O Mar, símbolo de nossas horizontalidades, funciona como o próprio homem em sua ignorância, mas, a depender do próprio homem, harmoniza-se e serve de apoio ao mundo espiritual. Em nosso caso, mergulhamos como ‘Ícaros’, todas as vezes que caímos, ou seja, sempre. Subir será sempre (sempre!) mais difícil que descer. Seja no aspecto físico, seja no aspecto espiritual.

E o céu, sempre simbolizado, em todas as culturas, como o lugar paradisíaco dos homens bons, esforçosos, e de bem, será sempre a meta coletiva – ainda que relativa. E quando temos asas para alcançá-lo, nos distanciamos a cada voo, ao contrário do pássaro. E a terra, o mar – tudo que se refere à horizontalidade --, nos darão escadas imensas, mas sempre nos apaixonaremos pelos degraus...








sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Alimentos da Alma






Quando alimento meu filho
Sedento de sorriso nos lábios,
Sedento de vida nos olhos,
Encontro Deus.

Quando o levanto em meu colo
Aperto como um filhote de animal cujo pai sou eu,
E escuto as canções de ninar de minha mãe,
Passando por minha cabeça...
Encontro Deus.

Quando meus olhos saem lagrimas puras
Ao vê-lo correr em gramas,
Atrás de uma bola
Que corre mais que seus
Pezinhos...

Contudo a alcança, chuta,
E sorri, e me chama para brincar,
Ainda que cansado esteja...

Quando os mesmos olhos,
Cansados, se rendem ao sono,
Desmaiam em nuvens de sonho,
Ali, Deus com ele adormece...

E dentro de mim pulsa
O coração de um homem feliz,
Enraizado em proteção
Em amor, em vida...
Um coração que encontra Deus,
E mais que isso,
Encontra a si mesmo...
Vou dormir.







Ao Filhão.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....