terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Semântica Natural da Vida

Quando escrevo, sei o quanto envio mensagens às pessoas de bem, que se espalham nesse mundo divino e profano de Deus. E nesse envio, sei o quanto às palavras, em si, possuem a alma, ou melhor, a semântica que lhes é própria. Assim como tudo que mora no universo, assim como o grande uno que se expande, recua, se expande, em movimentos milenares os quais os indianos chamavam de Pralaya e Manvantara – as palavras têm seus próprios ideais.


Uma letra. Um universo.

As palavras possuem vida própria. As letras, cada uma delas, uma natureza, que, somada uma a outra, nos faz a silaba; e a união de várias silabas, uma palavra. E na união de várias palavras, temos um parágrafo, os quais unidos nos dão um texto...

Mas cada parágrafo, assim como na natureza da vida, tem um pequeno “gancho”, chamado conjunção, que o une a outro.

E no livro? Aqui temos um universo de caracteres harmônicos, dos quais podemos tirar silabas, palavras, parágrafos, períodos, que reunidos são com finalidades em atingir seus objetivos, contar uma história.

A história, agora um corpo com células, que compõem o coração, possui uma alma maior, a do autor do texto. A história deve vir para se somar a outras histórias, que, por si só, devem participar de um universo, o grande universo humano de experiências boas ou não. Tais experiências, contudo, soam como se fossem forças capazes de modificar o universo humano, não para ligar-se a ele. Nada, no entanto, deve vir com esse principio.

Tudo deve vir para religa-se. Exemplo disso são os belos poemas, as poesias, os belos textos, os belos contos, as histórias clássicas, nas quais sempre haverá elementos que se religam à nossa alma inquieta. E aquele que os lê participa de um universo tão grande e misterioso, ao ponto de modificar suas estruturas internas.

Se percebemos bem, estamos dentro de um texto no qual somos protagonistas ativos, quando vistos em primeira pessoa, em outros, porém, coadjuvantes... Há casos raríssimos nos quais pessoas valorizam tanto outros que se tornam coadjuvantes em sua própria vida, não personagens principais...

Assim, é a Vida. Cada um possui em si caracteres que se religam ao texto maior, a uma alma maior, e esta ao grande espírito do tempo, do qual nascem outros textos, do qual nascem os deuses, semânticas naturais da vida.





(mãe, que nossas semânticas estejam em consonância sempre com a maior das semânticas: Deus)

Fábrica de Asas



Hoje, quando observo fileiras de pessoas indo à igreja todos os domingos, penso na simplicidade de seus corações, e no receio que eles têm da vida, de viver a vida; e penso na falta de reflexão que os leva a tal ato. “Vou à igreja porque tenho que ir, se não, Deus não atende a nossas suplicas”, e outros motivos pelos quais vivem e revivem e sobrevivem em função de interesses pessoais que dariam livros, enciclopédias...

No entanto, não podemos julgar. Somos filhos de dúvidas as quais delas tiramos nosso pão de cada dia, nosso deus particular, que se engendra com o do vizinho, que se harmoniza com aquele que nos espera em forma de Jesus, lá no céu (quanto absurdo!)... Ou mesmo que se teoriza em nome de santos cuja reputação do passado ainda daria outros livros.

Somos filhos de uma ignorância bárbara que nos assola diariamente sem questioná-la, sem mesmo atencionar para fatores que nos levaram a ser humanos... Estou falando de fatores que estão em nossos subconscientes, e que os descartamos graças à leviandade como é tratada a questão.

Fatores como a própria divindade, que não pode ser questionada. Fatores que nos impedem de questionar até mesmo aquele que se diz pastor, ancião, bispo, padres... Pois dizem que são pontes intermediárias entre nós e Deus. Fatores que nos fazem acreditar naquilo que vimos, como curas desenfreadas de fiéis endemonizados, os quais, no passado, eram tratados como doentes enfermos, e pronto, pois tinham a cura, sem o espetáculo circense.

Tudo corrobora com gerações que se inundam com falsas evoluções, pois nascem, crescem e morrem, sem ao mínimo mudar de igreja, de padre ou pastor, em razão do medo divino que são a eles embutidos desde a fralda.

Mas também quero dizer que sou um desses seres que não se livraram completamente das algemas douradas da falsa evolução, porém, ao contrário do que me ensinaram, eu questiono, e me subrepujo à dúvida e caio no âmago da certeza de que preciso de experiências para viver meu questionamento, minha vida, mesmo porque os falsos heróis lotam os campos mentirosos de batalha, apenas com intuito de você viver em função do interesse deles...

Cuidado, de marionetes vivem os homens que entram em nossas vidas, nos dão pão, comida, afago, carinho, alegria... e um bando de ideais mentirosos pelos quais viver, simplesmente porque somos frágeis em problemas que exigem muito de nós. E por isso, choramos, pedimos a Deus ajuda, pedimos até esmolas simbólicas aos amigos, e a partir daí, aparecem seres que se dizem salvadores – para não dizer o contrário. Pessoas que ficam amigas de seus familiares, de seu filho – (opa!) – e conduzem sua esposa (ser frágil em ideias) a te convencer que não existem questionamentos, não existem livros além da bíblia, e fazem até mágica (magia negra) com intuito de convencer você e a sua família que existe apenas um salvador, e ele é o único a ter a verdade, a justiça e o amor ao humano...

E, para terminar, dizem que o passado, onde houve grandes homens, não serviu de nada. Pois eles não nos ensinaram nada, e o único que nos ensina é aquele que sai de seus lábios mentirosos, cheios de interesses financeiros, escusos, dentro de sua alma. E assim, são feitos os fiéis, de uma cultura que pisoteia as possibilidades de conhecimento, de engajamento em batalhas pessoais, que podem ser vencidas pelo próprio ser que as conduz. E em nome de uma simplicidade mentirosa, pastores, padres e bispos, castram tudo isso, todos os dias, graças a um pequeno dom que nos tiraram desde que começamos a viver... o dom do questionamento... o dom de voar.


A fábrica de asas se fechou.







(Mãe, a senhora vai sair desse hospital. Acredite!)




segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Deus: partícula insondável


Partículas: Deus.

As partículas invisíveis da vida, que vêm da vida, nunca morrem. Aliais, a morte nada mais é que partículas invisíveis indo ao encontro de outras partículas, para a renovação. E, dependendo do ponto de vista universal, cósmico talvez, somos tão partículas quanto as invisíveis, pois temos consciências que nos direcionam a realidades, mas também a fantasias, a sonhos e pesadelos; a descobertas, a mistérios, ao que os deuses nos deram no nosso limite -- estou falando de humanos.

Não se pode, no entanto, entender como partículas, sejam elas atômicas ou não, como a menor unidade no universo, pois, como diria o grande filosofo, depende do lugar em que estão; e até mesmo o átomo, em sua mínima dimensão, tem sua proporção avantajada em relação a outra, e assim por diante...
Demócrito, filósofo grego, já nos alertava acerca dos átomos. Muitos acreditam que eram partículas que poderíamos ver, trabalhar em laboratórios, contudo referia-se o mestre grego a outras formas de partículas – aquelas das quais um dia tomaríamos consciência. Assim, pensavam os grandes iniciados, não somente gregos mas também egípcios, os quais trabalhavam sempre em função desse meio, com as parcas ferramentas que possuíam.

Os pré-socráticos, chamados filósofos da natureza, tinham teorias acerca do universo. Cada um explicava-o de acordo suas formação, pois eram iniciados, mas nenhum deles se afastou da dimensão real ao que o outro propunha. Não me vem à mente agora seus nomes (Anaxágoras, Anaxímenes...), mas, se eu não me engano, pegaram os elementos básicos – água, terra, ar e fogo – e deles iniciaram suas reverberações acerca do Universo, e que a maior parte foi perdida com o tempo. Sabiam, acima de tudo, que falavam de partículas que se uniam para a formação de um todo -- cada uma dentro de sua capacidade.

Enfim, os pré-socráticos sabiam de uma realidade maior que nós mesmos, até maior que a esfera em que nos encontramos, assim como aqueles que resguardavam e, ao passar de discípulos a discípulos, resguardam até hoje.

Até mesmo a bíblia cristã possui elementos dos quais podemos racionalizar acerca do universo, mas não compreendê-los, então racionalizamos, e pronto, já sabemos de tudo! (?). As chaves de todos os enigmas clássicos foram guardadas a mil chaves. Então, o que fazemos? Voltar ao tempo? Não... Vamos retirar o véu da ignorância, buscar, de preferência, sermos menos preconceituosos em relação à tradição que nos legou conhecimentos que serão eternos...

De volta às partículas


Demócrito falava das partículas que se escondiam nas palavras, nos pensamentos, na consciência, daquelas que escondiam em cada ato de amor e ódio, e se mostravam em suas consequências fossem elas benéficas ou não... Falava das partículas que compunham o todo; todas elas teriam papeis naturais e gêmeos aos das partículas visíveis. De que ele falava, pelo amor de Deus? Falava de Deus.

Mas Deus não é bondade, amor e sabedoria?... Sim, e muito mais. Seriam partículas incompreensíveis aos olhos humanos, mas também seriam a junção de vontade, amor, conflitos, guerras, paz... já dentro do nosso nível de compreensão. A questão é que dividimos todas elas e as denominados, de acordo com nossos valores, nossa cultura, e as chamamos de potencialidades naturais... E são; cada uma em seu lugar, trabalhando para a edificação do Uno, sua expansão, ou para a sua Desconfiguração – ou recolhimento, já sendo aristotélico.

Na antiguidade, como todos sabem, não só, como também em determinadas culturas não cristãs, denominamos tais potencialidades por deuses e deusas. Todas elas, sem exceção, com seus respectivos nomes, não aleatórios – Zeus, Heros, Vulcano, Venus, Maia, Osíris... etc. – cada uma dessas potencialidades revestidas de mistérios os quais sintetizam outros, e assim por diante...

Já que são partículas, por que temos que transformá-las em formas, em seres? É mais que natural. Precisamos, desde sempre, plasmar as potencialidades, transformá-las em agentes naturais de nossa cultura, pois elas sintetizam um pouco da verdade sagrada que o universo esconde. E, se cada povo nela acreditar, respeitar, estarão participando um pouco não só da ideia universal de ordem e disciplina, mas também dos mistérios que os envolvem – por isso, a necessidade dos “rituais” em cada cultura.

Por exemplo, se eu sei que em mim há partículas universais, comungando a mesma ordem das partículas superiores, posso, dentro desse pensamento, me pautar para ser uma pessoa justa, correta, disciplinada, e que aceita, conscientemente, minhas dores, pois sei que, em algum nível, errei ou vou errar.

Agora, nesse minuto, nesse texto, tenho a consciência das partículas físicas e não físicas, que trabalham em função da busca pela verdade. É um caminho e tanto...





Mãe, como uma das partículas mais belas do universo, a senhora vai melhorar, temos a certeza disso.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Filhos de dona Esperança



Hoje, quase de madrugada, percebi uma ventania sinistra chicoteando o telhado de casa. As paredes me pareciam que iam desabar, juntamente com as janelas que, ainda que sejam de ferro entrelaçados, possuem fragilidades à parte. Achei que o "barraco", que fica no segundo andar de uma barbearia, sairia ao vento como naquele filme twister, de Spielberg, quando uma vaca sobrevoa um carro em meio a um ciclone, depois uma grande casa, desapregoada do chão, invade a tela do carro em velocidade.

Um frio de dar nó no coração do mais valente dos homens. Tomei meu café feito pela esposa; refleti acerca do ocorrido, andei dentro de casa como um rato de laboratório, pensando como iria trabalhar com aquele tempo chuvoso e decadente. Não que eu deteste chuva, contudo, havia um sentimento de tristeza em mim, que se igualava àquele momento tão opaco...

É, meu coração estava tão chuvoso quanto o dia lá fora. Estava pior. Com tempestades tão frias e obominavelmente fortes, que precisei ser consolado pelas mãos de minha senhora.

Eu estava com uma dor inconsolável, ou uma semântica afetada, ferida, quase morta. Meu físico não conseguia se deslocar da cadeira, meus olhos tentavam se erguer ante as paredes azuis da cozinha, pequena, contudo, aconchegante, e que me trazia, todavia, em seu centro ideias de morte.

Eu tinha que me levantar e vir trabalhar. Minha mente não poderia me dominar como uma senhora feudal e me fazer acreditar que sou o que ela pensa, o que ela manda... Eu, no fundo, queria e quero me livrar das ideias tristes, sair do submundo dos pensamentos fúteis e racionalizar um futuro melhor ao meu filho. Este, graças aos deuses, trabalha inconsciente – ou seja, brincando o tempo todo – assim, norteando-se para descobertas, alegrias poucas e sutis, agradáveis ou não, mas vivendo, aprendendo, sob pequenos grilhões que ele mesmo cria...

Somos nós. Filhos de intempéries que nós próprios criamos, e delas vivemos ou... morremos. Somos filhos da ignorância que só nos é descoberta quando o mal se fez em nossa mente, corpo ou mesmo espírito – Platão já dizia que sofremos graças a nossa ignorância. E hoje, essa máxima se faz em nossos olhos, e percorrem nossas vistas, se fazem e se desfazem como edifícios pobres e podres numa avenida que se chama vida.

Nada mais há de viver, eu disse, tenho poucos elementos fortes para sobreviver a um mundo que nos destrói, nos corrompe, nos atrela às suas correntes imorais, e antiéticas, tão fortes quanto algemas reais. Nada mais a de fazer. Apenas assistir ao enterro nosso de cada dia, nos enganando com fatos corriqueiros de alegrias e felicidades teóricas, das quais nem mesmo o mais sábio pode nos dar forças internas.

O fim, para mim, está próximo. Está aqui, realizando-se em meu coração. Não sei se existe o inferno, nem mesmo o céu. Apenas sei que dores tais quais essa que sinto e sentirei daqui para frente farão o mais endiabrado dos homens a refletir acerca do que fez, ou mesmo o mais cristão, acerca do inferno, que, para ele, é a pior penitência aos homens...

E figuras metafóricas se fazem. Se revelam em forma de imagens distorcidas, como quadros abstratos feitos por amadores de rodoviária. A consequência disso tudo – desse estado mental pelo qual passo – é mais desejo de sair, e me unir à chuva que cai incessantemente, com suas rajadas de vento, a qual respinga nas paredes frágeis de minha casa, e de minha alma...

Eu, filho de uma grande mãe, de um pai que viveu do trabalho, percebo o quanto não estou fazendo jus aos meus genitores, pois estariam, tão loucos a manobrar suas vidas, correr no meio da chuva, enlamearem-se e mostrar que era apenas uma chuva... Mais nada...

E Era...

Ao abrir a porta, percebo que há águas transpassando as vias da pista que fica no fim da escada que dá acesso à parte inferior do andar. Todavia, me aproximo do fim dos degraus, e consigo ver o que não houve, ou melhor, apreciar o que a natureza havia deixado para os olhos dos mais atentos...

As ruas estavam como que lavadas, e o frio não era aquele do Alasca, e a chuva? Que chuva? O intrometido e belo deus solar já estava clareando as únicas e poucas nuvens que estavam lá para recebê-lo. E o seu show estava prestes a iniciar, com pequenas claridades – maravilhosas – as quais torneavam o alto das árvores e dos prédios com sua simplicidade laranjada, transformando o grande pico do mundo em algodão doce queimado... Sem palavras!

E o caminho para o trabalho foi-me iluminado constantemente pela beleza da vida que se esconde dentro e se revela fora de nós graças à grande esfera amarela do dia.

Talvez o mundo não seja tão mal assim, talvez a esperança não seja apenas uma ancora a se apoiar nas horas mais herméticas, mas sim uma realidade oculta na qual temos que nos apegar, viver, sentir, trabalhar, conviver, e dela sobreviver, pois somos humanos, e não temos apenas que colher resquícios de nossa ignorância não. Somos também parte de uma divindade que se revela em forma de chuvas intempestivas, mas, muito mais, em forma de um sol que nos diz todos os dias “trabalhe o que há de bom em você; ame mais o próximo, pratique o bem, e se esqueça da chuva do tempo, porque a verdadeira chuva é aquela que cai de nossos olhos, em homenagem aos grandes homens e mulheres que fazem de nossas vidas um sol”.






Mãe, a senhora vai ficar boa.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Amor Despido

Não existem palavras ou meios de concretizar o que achamos, pensamos ou vemos como amor. Por isso, músicas belas, sinfonias inteiras, e uma pitada de sentimento puro religando o homem ao ser mais próximo ou mesmo ao Todo. E ainda sim, nos falta algo.


Amor: diferente de instintos

Somos pequenos demais pra isso. Às vezes, precisamos ser cientistas e racionalizar os sentimentos, deixá-los em outra margem da vida e ficarmos sentados, observando-os como crianças em parque; outras vezes, como professores, calados, sorrindo e encantados com a bagunça de seus alunos. É preciso, às vezes, realizar meios estratégicos para sentir... Ou seja, saber o que se sente.

O amor, quando o vejo de longe, não se iguala a nada de tão perfeito que é. Pois participa de tudo – até mesmo da chuva que cai. Não há de excluir o que pode ser o verdadeiro amor, pois, se o vemos, entendemos, e dele participamos, não pode ser algo que aprisiona, mas liberta, no sentido mais profundo da palavra...

O sol, que inicia o seu ritual, proporcionando a beleza física e espiritual a todos; seus efeitos, antes de surgir, sua enormidade natural possuída de força e paz, configura ao ser humano a necessidade de buscar seus mistérios, assim como o amor.

Nosso maior mal, no entanto, é opinar. Opinamos acerca de tudo, e acreditamos em nossas opiniões ainda que superficiais. Em relação aos valores, nem se fala. Aos princípios, que seriam como fortes feitos de tijolos dourados, hoje, nada mais são que relatividades humanas, baseadas em aspectos familiares, conjugais, religiosos, o que configura a falta de mais princípios, pois estes são a soma de todos, não apenas um.

O amor, como principio, deve ser, no mínimo, visto como aquele que vai reger do alto as bases de tudo em que se acredita. Sem ele, não há principio. Mas, em razão de opiniões, ou mesmo educações arcaicas, trocam-se as cúspides das pirâmides dos valores pelos interesses políticos, os quais não têm nada a ver com humanos.

O amor não se opina. Se percebe nas mínimas coisas, assim como um Deus, cujos raios se manifestam em suas primeiras aparições, ao longe, sem semelhanças a qualquer coisa. Ele está em qualquer lugar, e nós estamos nele.

Nas formigas que trabalham coerentemente no inverno, no tamanduá que as come, no predador do tamanduá, nas folhas que caem, viram formas, alimentos para alguns, sumos para outros; na abelha rainha que espera seu mel; no homem que colhe seu alimento, que distribui ao seu semelhante; nas ondas do mar, manipuladas pela lua; nas borras de café, no tomar de um drink, no gelo que vira água... Na criança que dorme, nas flores que enfeitam o mundo, nas mulheres que trabalham, e nos homens que compunham o corpo do mundo, do espaço, do cosmos...

Nos elementos que se destinam a física e simbolicamente explicar os mistérios divinos, dos quais participamos, buscamos e estamos sempre deles estamos a duvidar. O amor está na casca dos frutos que são descartados, nos vermes que compõe a terra mal cheirosa que nos enterra; o amor está nos ventos que nos inspiram, na brisa, na alma humana, de onde vem tantas poesias, textos, histórias que se religam a universos que nós próprios criamos; o amor está no colo da mãe, na canção de ninar dos pais, nos contos, nos mitos, no choro do recém-nascido, na lágrima da mulher-mãe.

O amor está no espaço frio, em seus cometas que ziguezagueiam e nos dão provas de que o universo não é casual; o amor está nas estrelas e seus desenhos astronômicos, em seus brilhos noturnos, em forma de saudade, pois já se foram há muito. Está nos planetas visíveis e invisíveis, nas pinturas clássicas, nas estátuas gregas e romanas, nos descobrimentos dos grandes heróis, em suas grandes façanhas, em nome da humanidade... O amor está na paz e na guerra, no conflito e no acordo.


O amor não tem dono, não tem canção. Mas, em nome dessa ignorância gostosa que se arrasta por séculos em nosso ser, tentamos desvendá-lo, e mesmo assim achamos que o temos por meio de atos, palavras, o que pode ser uma realidade, contudo estes devem vir da mais pura santidade, sacralidade, pureza humana – caso contrário, não é amor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Simbolismo das Árvores, o fruto nosso de cada dia.


A Árvore e o Homem: semelhanças

A árvore na Antiguidade, principalmente na Grécia e Roma, tinha um simbolismo voltado aos céus, assim como a maioria dos simbolismos nas civilizações. Nelas, as árvores representavam o homem como um todo. Por serem fortes, e quase indestrutíveis, por terem uma estrutura singular na qual chuvas, tempestades, e às vezes furacões retirariam suas folhas, frutos, mas nunca a derrubariam, fizeram da espécie um símbolo universal de preponderância em beleza, força e verticalidade.

Por serem verticais, subindo sempre aos céus, até mesmo no antigo Egito as árvores tinham seu poder universal simbólico. Antes de cortar qualquer árvore, teria que ser autorizada pelo faraó, pois nada melhor do que uma árvore para mostrar o caminho do homem.

Em muitas outras culturas, na indiana, por exemplo, tínhamos, em seus textos sagrados, a citação da Árvore de Cabeça para Baixo, a qual simbolizava que a raiz de tudo que se manifestava estava nos céus, e não na terra (...Olha o Mundo das Ideias de Platão aí!...), o que, na realidade, deu inicio uma série de pensamentos dos quais podemos retirar a árvore de Natal, com seus enfeites, com seus presentes em sua base, a representar o manifestado, mas às avessas.

Em contos e Mitos, temos o agrupamento de árvores, ou melhor, o bosque – aquela parte escura da floresta na qual passeiam indivíduos inocentes a espera do lobo mal, não necessariamente, claro, mas que – dentro de um outro contexto, podemos chamar de lado obscuro do ser humano, no qual nos perdemos e ao mesmo tempo encontramos o mistério mais profundo.

Também vista como símbolo fálico, a Árvore, por ter sua natureza voltada para cima, verticalmente, representou a fertilidade divina, como se deuses estivessem sempre a dar frutos (filhos semideuses) às mulheres. Assim como o foi Zeus na terra.

Havia também os druidas, que não eram nada céticos, e tinham a certeza de que as árvores possuíam espíritos, e clamavam bem-aventurança a elas, e faziam orações em torno de determinadas árvores, como a oliveira.

Para terminar (?),  temos o paganismo que criou diversas formas de elevar as árvores a seres que se religavam com os deuses, de modo que algumas vezes troncos eram vestidos de deusas, com mantas em seus troncos, e em suas bases ornamentos que simbolizavam presentes a eles. Contudo, esse modo de ver a árvores como símbolo sagrado se foi, “graças” ao cristianismo que modificou o modo de ver do pagão, que se cristianizou; no entanto, há ainda, em algumas culturas, o predomínio dessa visão, mas não tão respeitada como na antiguidade.

O fruto disso tudo talvez seja o da árvore, que nos ensina, todos os dias, a lidar com o tempo. Ela muda de acordo com a natureza, não de acordo com os interesses alheios. O fruto dessa ideia nada mais é, além de tudo, a fortaleza e a beleza de ser ponte entre o sagrado e o profano, ou seja, um pouco de nós.




(pesquise; leia e aprenda mais sobre o simbolismo das árvores)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Clássicos: os Contos.


O Lobo Mau e os Três Porquinhos: forte simbolismo.

Em pequeno, escutamos nossas mães, avós, ou pais, antes de dormir, a contar histórias de lobo mau, meninas desamparadas em bosques, e um bosque, sempre impedindo a bela de alcançar seus objetivos, além do próprio lobo. Ouvimos histórias de personagens, sempre em três, a lutar pelos seus sonhos, como três porquinhos, três mosquiteiros, ou mesmo em sete, como os sete anões – que possuem, cada um, uma característica de nossa personalidade.

É maravilhoso. E quando chegam aos príncipes matando dragões, em nome de princesas que nem mesmo seus olhos viram... Como diria uma grande professora... “o que faz aquele príncipe chegar do nada e querer matar um dragão em nome de uma princesa quem nem mesmo sabe quem é?!”... Mas as crianças sabem, fala ela, bem baixinho...

Os contos, desde sempre, são histórias fantásticas, contadas com o passar dos séculos, com vários objetivos. Um deles, lá trás, quando os druidas existiam, era resguardar os segredos do homem. Não os segredos materiais, esse pelos quais vivemos e amamos e na maioria das vezes odiamos, eram os segredos mais internos, que eram ressaltados, desvendados, mas também levados a todos em forma de contos.

Basicamente, falavam da alma, da busca sensata (e humana) do homem em conhecer a si mesmo; falavam dos mistérios que religavam o homem a Deus, não ao deus pessoal, mas àquele deus no qual, se houvesse uma fagulha fora dele, não seria Ele... Era o Deus natural, sem apegos, desejos, ódios, vontade pessoal, egoísmo, ira... Esta ultima bem difundida pelos cristãos, bem mais tarde. E assim, eram ensinados todos os homens desde criança, sem muito apego à matéria.

Os contos, hoje, não são tão levados a sério. Tanto que qualquer pessoa pode pegá-los e levá-los a qualquer tradução, seja ela pessoal ou coletiva; pessoal ou religiosa; profissional ou familiar... Sem mencionar autores literatos que infringem histórias, reinventando contos, com um olhar superficial e, no mínimo, sexual, num gesto tão homicida quanto jogar um gás venenoso em uma geração inteira.
Entretanto, se buscarmos com outros olhos, com olhos de filósofo, não o didático, que quer até mesmo impressionar o aluno impondo formas modernas, e sim buscar em meio àquele mundo simbolismos fortes dentro dos quais esconde-se um pouco de nós – assim como vários mitos – vamos entender a que veio o conto.

Há elementos, como o lobo, que significam a soma de todo nosso mal, por isso, em vários contos, ele aparece para “atrapalhar” o personagem principal. Lembram-se da Chapeuzinho Vermelho, dos Três Porquinhos...? Nada melhor que ter um lobo mau para nos mostrar que há sempre elementos, em nós, vilões, os quais se manifestam na tentativa de vencer no fim. Do resto sabemos.

Outros elementos, como a maçã, que sempre se manifesta não somente em contos como também em mitos – Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Adão e Eva... – relatam algo tão forte, que raramente se sabe o significado. Muitos falam em amor, outros em guerras, em conflitos, mortes... Mas fico com o significado do amor, que une a todos.

Há contos complexos, que passamos entender apenas com um olhar mais afincado no desejo de conhecer a alma humana, melhora-la, ou mesmo elevá-la. Fora isso, o príncipe será apenas aquele ser intrometido que chega do nada e mata o dragão e fica com a princesa...

O príncipe é um elemento maior. Claro que somos nós! Quando não pensamos em nada e fazemos, e vamos, e conseguimos! É a Vontade humana e divina ao mesmo tempo. O dragão, nossos maiores problemas, os quais se tornaram quase indestrutíveis, graças à nossa preguiça, nossa parcimônia, nossos medos, nossas pequenas dores que se tornaram grandes dores... Enfim, o dragão também somos nós. Em outras culturas, o dragão possui outro significado.

A princesa, a alma humana. Aquela que pede auxilio a uma forma maior para derrotar o mundo dos males que ele mesmo criou. E, com espada, que em muitas civilizações significava virtude, morre o dragão. O mundo precisa disso.

Crianças

Para as crianças que escutam com olhos arregalados cada palavra do genitor, mais tarde saberá (ou mais cedo que isso...) e entenderá que cada ser (animal, pessoa, florestas escuras...) do conto significa algo em sua vida. Vai passar por experiências sutis e vai prosseguir apesar de tudo, porque sabe que, no fim, o lobo mau – o elemento que a faz ter medo do escuro – nada mais é que uma necessidade natural da vida. Assim, vai trazer à tona outros elementos sem que perceba, e vai buscar mais forças em leituras clássicas, nas quais o simbolismo ali não é algo aleatório... Por isso que se diz que os clássicos são tão modernos quanto qualquer livro feito agora, pois possuem ensinamentos práticos para o dia a dia.

E crescendo, tornar-se-á um adolescente voltado ao respeito, à disciplina, será menos sectário, ainda que seus pais sejam religiosos. Verá com seus próprios olhos realizações em sua frente, e, com seus olhos de filósofo que aprendeu a ter, buscará infinidades de símbolos amontoados, em qualquer programa, desenhos, filmes...

Enfim, em cada conto resguarda uma infinidade de mistérios que podem ser desvendados, involutariamente. São histórias incriveis nas quais o mal nunca vence, nas quais principes e princesas têm papéis semelhantes aos nossos; onde dragões e lobos podem ser vencidos com pequenos atos de virtude e amor. E mais, são histórias em que mergulhamos, desde criança, e, quando adultos, jamais esquecemos.

 
 
 
 
 
 
Ao Meu Filhão Pedro.

A Difícil Arte de Viver no Caminho


Quando a hipocrisia tomar conta das flores, quando o mau humor tomar conta do sol, ou mesmo a chuva, quando, um dia, resolver, por livre arbítrio, molhar apenas os homens de bem... Não haverá a grande natureza mãe, sedenta de vontade divina, a transbordar de amor – o qual, como dizia Platão, desde os primórdios assume o papel de unir a tudo. E mais, nada mais será divino.

Quando os animais, como em parábolas, criarem aspectos humanos não em seus andados, mas em falas, advindas de pensamentos egoístas, presos a cavernas criadas pela sua psique, não mais teremos homens, não mais teremos animais, pois o que teremos serão seres semelhantes, desrespeitando a si próprios.

E nessa trilha de imaginações frias, podemos configurar o mundo para um plano mental no qual seres diferentes obedecem a uma mesma lei, contudo com aspectos físicos, biológicos e psicológicos diferentes, e cairíamos em contradições. Porque a grande Natureza nos ‘pensou’ dessa forma; pensou os animais, as plantas, as pedras, de maneira que fossem passiveis de serem eles mesmos, não animais-homens, plantas-homens, pedras homens...

Todavia, “depois que Prometeu no legou o fogo divino”, os homens se confundem com as espécies, revelando-se pedras, animais e até plantas em seu comportamento. Graças ao uso de sua mente, de sua vontade, cujo oficio, assim como qualquer outra ferramenta, nasceu para fazer seu papel (elevar o homem a Deus), mas revela-se na mão do humano um martelo às avessas, batendo em parafusos, numa parede de isopor.

Sua vontade, a que o difere dos demais seres, nasceu para o seu livre arbítrio, no entanto, assim como um automóvel que sai da estrada, e volta, a vontade nos faz caminhar em estradas retas, curvas, sem ladrilhos, cheias de crateras, em nome de objetivos, às vezes, tão pobres, que, na maioria das vezes, nos fazem perder uma vida inteira.

Para nos diferenciar dos grandes seres, e nos portar como reais humanos, houve mestres que nos mostraram, e ainda mostram, com seu legado, o grande Caminho, e sempre, a depender da época, as dificuldades a ela inerentes. E desde que as grandes civilizações existem, e caíram, graças ao mau uso da vontade, grandes sábios tentam construir impérios nos coração do homem, castelos inexpugnáveis, mas há sempre o mal que corrompe, destrói, nos obrigando sempre a reiniciar o processo de civilização, humanização...

Coletivamente, teremos sempre a grande dificuldade de entender tais caminhos, pois os “falsos pastores” – como diria a bíblia cristã – estão à espreita dos mais fracos de coração e por que não dizer de inteligência... O que nos remete à grande maioria iletrada, romântica, sem acesso à cultura, estagnada, presa a valores arcaicos, enfim, àqueles humanos que precisam realmente ser “salvos”.

É mais fácil individualmente, ainda de maneira trôpega, a busca de ideias firmes para a concretização de um mundo seja ele interno, ou externo. Um filósofo um dia disse “É mais fácil hoje em dia fazer um foguete com as próprias mãos e ir à lua, do que conhecer a si próprio” – é vero!

Mas na consecução de ideias ou ideais precisamos nos manter firmes, com nossas ferramentas que nos foram dadas pelos deuses, e saber usá-las de acordo como os mestres nos ensinaram; fazê-los de referenciais, pois trazem, daqueles grandes homens de bem, que até hoje se encontram no anonimato, mas graças a eles o mundo não se foi, um meio de ladrilhar nossos caminhos com sabedoria, ainda que o mal – nosso egoísmo, interesses, ignorâncias, preconceitos, tente nos resgatar e nos enganar (e agarrar) com seus milhões de braços.

Mas, segundo os mestres, é preciso que passemos pelo mal, pois nada nos vem de bom grado sem a luta, sem aquele combate, ou mesmo traspassando a linha da vida para a morte. Até mesmo nos pequenos objetivos, é preciso nos afincar em realizá-lo, pois nos testa a cada segundo, com a finalidade de nos elevar ainda que seja um pouco. Mas o mal está preso aos nossos interesses de crescimento, de evolução, por isso, sempre que for preciso, fazer tudo com amor e dedicação divinos, não deixando que a mente decline para fora da estrada, e sair, trazemo-la de volta.



Uma pequena vitória é melhor do que nenhuma. E isso conseguimos, todos os dias, seja fora de nós, seja dentro.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sonho, ponte de nós mesmos.

Às vezes sonho com pequenas coisas que me fazem refletir o dia todo. Acho que todos são assim.  No entanto, o sonho se esvai nas linhas da realidade de nosso dia a dia e nos deixa com saudades, (ou não ) do que poderíamos tirar dele. Para muitos, todavia, é quase uma crença. Ou melhor, o sonho já foi um método pelo qual muitos se referenciavam para viver e trabalhar – como era o caso dos grandes reis, faraós, etc – os quais, na sua corte, tinham especialistas em interpretações.

Esses, dotados de uma vocação que não há como explicar, e na maioria das vezes, astrólogos iniciáticos, eram consultados pela majestade e não poderiam errar. Era uma ciência respeitada, pois havia guerras e a figura real era tão importante quanto deuses na terra.

Assim, depois de consultarem seus especialistas, voltavam a suas vidas... E nós? Como podemos entender os sonhos, a quem confiar? Não há meios. Não há nenhum especialista, e não adianta buscar em livros de bancas de revistas a resposta, pois o sonho não é algo vulgar, ou mesmo um objeto de manipulação de massas, ainda que o façam.

Sonhos possuem em si grandezas, e cabe a cada um, dentro de si, buscar interpreta-lo de acordo com sua vivencia, dentro do seu contexto. Ou seja, não é algo gratuito, fácil, simples.

Cabe ao homem entender que a vida possui respostas a suas perguntas mais internas, mais difíceis, e não adianta buscar em livros ou subir montanhas, sermos mais sábios no fim de uma vida ou ir atrás de um, como fôssemos desenfreados buscadores do nada.

O sonho, em sim, traz uma carga forte de simbolismos, por isso a razão de grandes especialistas no passado. Cada elemento natural possui uma abrangência to tamanho de uma dimensão, cada um realiza seu papel e ao mesmo tempo religa-se ao homem, ao sonhador.

A exemplo disso, um faraó que se preocupava com seu povo, sonhava com o Nilo, o maior dos rios egípcio. Se em seus sonhos o rio estivesse cheio, era a bonança, não só na agricultura, mas em tudo. O oposto se fazia quando nos sonhos o rio se apresentava pouco ou seco. Havia mortes, tristeza, guerras, quedas de faraós...

O mesmo se um cientista, afincado no desejo de descobrir elementos químicos (ou sua utilidade), sonha com animais simbólicos – como cobras, grilos, etc --, sabe que há algo que o interliga em sua realidade, e enfim descobre o que havia estudado há anos.

É a persistência. É a eloquência da vida. É a força de tentar entender certos aspectos misteriosos com a finalidade de elevar a alma ou descobrir as nuances do espírito que nos faz sonhar. Não é o cotidiano, com aspectos frios, relativos, interesseiros, que nos fazem ver a “imagem divina” depois que dormimos. Não é o mundo, com suas decrepitudes, que nos faz buscar soluções no sonho. Mas a prática de um sonho metafórico, aquele do qual participam idealistas de todo o mundo, na tentativa de melhorar um pouco nossas vidas.
  
O sonho é uma ponte. Uma ponte sagrada na qual precisamos ter os pés limpos antes de pisar nela. E não há mais nada que possamos fazer senão buscar em nós mesmos soluções elevadas, nas quais eu e o próximo, o próximo e a humanidade estejam dentro delas, e mesmo assim, seremos portadores de sonhos mentirosos se fizermos desse passo uma forma de sermos deuses. O sonho, para se realizar com um, não possui interesse, pois ele nos vem como uma águia no meio do sol nos mostrando quando somos elevados ou com micro-organismos, nos revelando, sem que percebamos, nossa frialdade inorgânica pela matéria.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Grande Segredo

Quando somos filhos, nos exaltamos com a juventude, e dela tentamos tirar o máximo de proveito desde que nunca nos faça mal ou que o mal nunca nos direcione. Mas as luas se passam, e claudicamos em nossos deveres e obrigações. Esquecemos os símbolos, as raízes, a família, o amor que ela nos traz, e abrimos caminhos não férteis, na maioria das vezes, e colhemos conflitos maiores que nossos pensamentos.

E por não exaltar os deuses, declinamos em nossa personalidade, que já nasce bruta, sem mesmo dar a ela a oportunidade de se lapidar com o tempo... O tempo, um deus tão estranho e perfeito, que nos oferece a dor como ensinamento, sorri do alto de nossos sonhos nos distanciando dele.

Daqui, nascem as lágrimas conjugadas de sorrisos sem lei. Morrem gerações em meio a tiroteios de palavras sem nexo, atos filhos do desespero, e assassinatos sem pingos de sangue. E primaveras sem rosas se rompem pelo mundo, assim como verões que nos inundam de chuvas incompreensíveis.

Entretanto, quando somos pais, a lua é a esposa, e o filho, nosso maior sol. Exaltamos seus atos, ainda que enraizados em inocências, sem trilhas, sem rumos. Amamos até a desordem que deles provém. E nos tornamos loucos por criaturas que serão o nosso oposto, mesmo que nos sigam em nossas religiões, partidos, vocações...

Somos, depois das Estações, pequenos deuses que necessitam de um deus maior. Por isso, clamamos ao Principio universal para que nos alimente de forças e de inteligências a fim de nos iluminar nesse mundo tão injusto. Assim, procuramos uma Justiça maior, e nos deparamos com um Bem maior ainda, não tão distante do Amor.

Tudo pelos filhos, que nos dão razões – ainda que mal interpretadas – para amar a vida, e tirar dela o sumo de nossa terra, mesmo não sendo agricultores; e ensinou-nos que somos árvores cujos frutos começam a cair sempre na medida de nossas experiências, de nossas consecuções frente ao Todo.

Nosso maior medo, no entanto, é das grandes crateras que, quando filhos, deixamos abertas no coração Sagrado da vida, e que nunca conseguiremos fechar. Mesmo assim, prosseguimos com fé junto a outros homens de coração e ideias gêmeas às nossas. Prosseguimos feitos gladiadores em arenas invisíveis, a matar leões diariamente, ou duelando com hienas sem alma, que sempre estão à espreita de nossos alimentos, ou seja, de tudo que temos ou teremos.

Mais tarde, ao morrer, seremos santos amados pelos filhos; seremos luas ou sóis que perambulam como vagalumes em sonhos. Mais tarde, seremos um grande sol, que ilumina a todas as almas humanas, e no mais tardar traremos chuvas, daremos os frutos, as árvores, daremos a terra, não teremos mais imperfeições!

E depois do grande Dia, teremos o universo como sonho, as estrelas como pingos de chuva, cometas como transportes, e o grande escuro do espaço como o mistério “indisvendável”, em nossa grande Consciência. Seremos tudo, seremos imortais.

A Mãe e o Sol

O sol, ao nascer, se prepara para fazer o bem a todos, independente de quem quer que seja; não pergunta, não questiona acerca de quem é ou não um bom ser humano, e ilumina a todos – inclusive os animais, os vegetais e seres que se escondem em meio a florestas desconhecidas pelo homem.

A mãe, antes de dormir, faz suas orações. Nela, cita todo o seu rebanho, e pede ao Criador para protegê-lo; sonha com a felicidade das crias, um por um... Ao acordar, espera que todos, naquele dia, estejam bem, e faz mais uma oração para exaltar a Deus e ressaltar os seus pedidos.

O sol, pela manhã, sorri com seus belos raios e nos deixa confiantes de que haverá um dia melhor, no qual podemos caminhar em favor de nossos deveres e obrigações; o sol, tão belo e disciplinado, esconde-se no Ocidente e se levanta no Oriente ainda mais firme, de modo que outras nações possam vê-lo e respeitá-lo.

A mãe, durante o dia, ilumina a todos com a sua presença, ainda que esteja zangada, com nervos à flor da pele. Não sabe, no entanto, que sua presença fortalece a todos, e nos faz mais homens e mulheres para enfrentar o dia. Não sabe, ainda, que suas palavras, tão fortes quanto os raios do sol da tarde, nos fazem efeito, e ficamos como seres pensantes, sentados à beira da esquina – pois fizemos algo de errado, fora de suas leis.

O sol, como um grande Deus, se inclina com decência, ética, moral, paz, justiça, bondade e amor, na realização de seu oficio: ser sol. E a mãe, tão pura em sua proteção, resguarda o filho em situações extremas, tal qual lobas a proteger seus filhotes, desrespeitando às vezes, de forma ética, as leis da vida.

Os Filhos


Iluminados pelo grande sol, não olham ou mesmo agradecem pelo dia que vem nem mesmo pelo dia que vai. Correm enlouquecidos pelos caminhos sagrados semelhantes a formigas cabeçudas a carregar suas folhas para dentro de suas tocas. Batem cabeças, choram, pedem à mãe conselhos, choram pela vida que não possuem, não agradecem sua genitora, e, às vezes, a entristecem.

Os filhos, milhões deles, querem pular do ninho sozinhos, sem saber para onde vão. Não esperam conselhos, não sabem o que é perdão. Esquecem-se dos deuses dos pais, fogem como matilha e voltam para os braços da grande mãe pedindo amor.

Quando adoecem os pais adoecem, cuidam de seus interesses, e se esquecem do grande sol que foi a mãe (que foi o pai). Esquecem-se do dia em que fora pego no colo e acordou várias vezes a pedir leite, e a grande mãe, na calada na noite, enquanto a grande maioria dormia, claudicou, mas deu-lhe o que sempre queria.

Nós, filhos, que ainda não sabemos o que somos, talvez um emaranhado de carne e ossos ignorantes que perambulam em busca do nada, passamos por diversas experiências, colhemos frutos, pescamos pequenos peixes, mas nunca sabemos direito para que ou por que passamos.

E nesse intervalo sofre aquela que um dia se encontrou e jurou a Deus que por nós tudo faria. Até o último suspiro.

Que o sol ilumine a todas as mães.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....