O mito sempre vaga nos lugares mais inóspidos do mundo: como no coração do homem. (Último texto antes das merecidas férias) |
Há muito conversamos a respeito do mito – esse legado doce que ultrapassa as portas do tempo, e nos abre muitas outras ao conhecimento – e nos inclinamos sempre a nos perguntar “pra que serve o mito?, se ele ainda persiste em nosso tempo com os mesmos objetivos do passado?”... Será?
Não sabemos. Apenas sabemos que no passado foi uma forma de ponte natural que as civilizações criaram com o objetivo de entender o universo no qual nascemos, morremos, e, para muitas culturas, voltamos... Sem falar que vários mitos nos contam histórias assim, de personagem que um dia fizeram parte de um meio e que, mais tarde, tornou-se um mito, não no sentido atual, como se entende, isto é, de um homens que fizeram da música, da escrita, da guerra sua história e mereceram ser rotulados de mito...
Não. Na realidade, não podemos aqui ir ao encontro desse conceito, que titubeia entre o homem que é lembrado apenas como uma figura hodierna, porém que não tenha passado nada mais do que uma sua personalidade voltada àquilo que fez..., outras vezes, a palavra mito refere-se a algo que não existe (um mito, como dizem), e que nasceu como forma de tabu criado pela própria sociedade, a qual pode, mais cedo ou tarde, dele mesmo (do mito) se desfazer, quebrando-o .
O mito quando se referir ao homem deve, por sua natureza, ter aspectos simbólicos profundos retirados de histórias de culturas que há muito sobreviveram necessariamente como ele, não sem propósito, muito pelo contrário, sempre com a finalidade de o homem entender a si mesmo e ao universo que o circula.
Um grande exemplo disso seria quando Hércules, o grande herói dos doze trabalhos, nasceu. Já havia, segundo conta a história, muitos com outros nomes em civilizações diferentes, mas sempre dentro do interesse de cada uma, o que não quer dizer que seria completamente diferente em sua ideologia religiosa (não confundamos com o nosso conceito...), social, político... Enfim, o que sempre diferi-lo-ia era a aparência, mas a essência era mesma...
Hércules
Conta-se que houve um grande herói de nome Heracles na Grécia, que mais tarde, em Roma, dar-se-ia o nome de Hércules, em razão de uma pronuncia a qual os romanos não tinham familiaridade, porém, os dois tinham os mesmos trabalhos, tais quais heróis guerreiros que um dia iniciaram sua luta mítica sempre em torno de um trabalho que o levaria à imortalidade.
O Hércules, em sua origem pessoal, veio talhado de um povo que necessitava de um herói, e que um dia o encontrou em um homem simples, porém forte, belo e que não tinha medo de nada, graças a maneira como fora criado. Foi mais ou menos assim... Depois de matar um suposto monstro, o simples homem se vai, deixando apenas rastros de ingenuidade, coragem e heroísmo por fazer algo que há muito o povo rumes, significando a todos, deuses atemporais, não poderia ter feito... Eliminar um monstro que há muito atormentava a comunidade...
Depois, tornou-se uma lenda. Foi falado e amado em todos os lugares nos quais era lembrado. E foi crescendo e se tornando um personagem maior que o próprio nome, maior que o próprio homem... Hércules tornou-se um semideus, após criarem formas poéticas de suas lutas nas quais ele teria que superar a si mesmo, realizando feitos em nome dos deuses. Tornou-se um mito.
E assim, já como filho de Júpiter, o deus dos deuses romano, o semideus fora realizando trabalhos que, em sua essência, não tardariam em religar-se com o universo, pois explicavam o inicio das constelações – de câncer, de leão, a matemática da vida, os pormenores que um dia eram evidências simples, mas que ainda não tinham respostas esotéricas, e mais... Muito mais.
Os Hércules de hoje
Assim como Hércules, que realizou seu trabalho para se tornar imortal, o homem de hoje busca também tornar-se imortal, mas sendo lembrado como um político, um religioso, como um empresário que se reestruturou em velho e iniciou uma jornada em direção ao bem; quer ser lembrado pela caridade que fizera em vida, ter a satisfação de elevar-se em multidões, seja de incautos, ou mesmo de intelectuais, com suas máximas – as quais são sempre baseadas nas antigas, porém revigoradas para o seu moderno viver...
O homem-mito de hoje quer sobreviver em evidência, em nome de um povo iletrado que o amará pelo que fizera por simples obrigação natural, porém, graças a um mundo em frangalhos, ganha e obtêm o direito de ser lembrado eternamente, às vezes por uma ponte que construiu, por uma casa que presenteou, pela bondade a uma família, por canções que um dia fez, pelo cabelo moderno que um dia usou, pelas palavras fortes que pronunciou...
Enfim, o mito de hoje é o homem que quer ser lembrado. Contudo, pelo simples trabalho que outros grandes homens fizeram, os homens-mitos olham para trás e observam que até mesmo os maiores generais da história e os grandes heróis de guerra não foram tratados como mitos, mas como seres humanos que realizaram suas tarefas sempre em consonância com o mito (real) a que se referenciavam e obedeciam.
O homem-mito do passado se configurava em torno de ideologias maiores e com um propósito ainda maior. Suas guerras não eram genocidas, sua educação não era meramente informal, mas com formato voltado ao caráter humano, às vezes transpondo limites em idades tenras a depender de sua cultura que dele exigia a vontade, a força e a realização – aqui, nada melhor para basear-se nas realizações dos heróis míticos, pois tinham elementos que religavam o simples soldado ao grande feito.
Por isso dir-se-ia que Julio César era um semideus, pois, em cada batalha, realizava ações míticas (que nem mesmo os seres mais simples compreendiam) de tão belas e sobrehumanas que eram. Assim o foi Alexandre da Macedônia, Marcus Aurélio; e no Egito, Ramsés, dentre outros faraós que realizavam façanhas tão fantásticas, que, até hoje, duvidam deles e os chamam de mito.
E estão certos. Todos eles brilham no céu de nossos sonhos como figuras que nos norteiam como estrelas que vão a nossa frente sempre a nos levar para outros sonhos, o de nos transformar em deuses. Esse é o papel do mito.