quinta-feira, 14 de junho de 2012

Heróis de Ontem e de Hoje.

O Herói nosso de cada dia não possui batalhas como as de outrora, ou mesmo se veste com o elmo com a finalidade de dar medo ao adversário; o herói de hoje não possui escudos com o símbolo de sua campanha. Não possui lanças, martelos, coletes de aço. O herói de hoje não reivindica tronos ou mesmo aquela Liberdade... Os do passado... talvez.

Heróis do passado, heróis do presente, ainda quer se distanciam em sacralidades, objetivos, ideais, possuem algo em comum. São heróis. Os do passado realizavam feitos em nome de Deus, não dos homens. Tinham suas vitórias em homenagem ao Logus, ao uno. A virtude,  temperança, o amor, instrumentos dos quais tiravam suas garras naturais de um guerreiro, eram suas armas.

O herói de hoje, um tanto quanto distanciado da realidade de outrora, de seu eu, reivindica seu salário, seus direitos, sua família... Reivindica a paz em sua casa, a integração de uma sociedade aos seus direitos,  das bases políticas, religiosas; o herói de hoje vive distante dos heróis do passado em questões que se revelam mais duras, como a de iniciar uma revolução em favor dos próprios homens, no sentido mais brando possível.

O herói sagrado pintava-se para a guerra; o de hoje, sobrevive em meio a cores que o confundem em seus ideais, por mais nobres que sejam, pois partidos, sociedades, religiões, o fazem perdido, o fazem sem batalhas voluntarias, em uma guerra tão ampla quanto seus próprios pensamentos.

As diferenças se ampliam no campo idealístico, principalmente. Mas se unem numa só palavra. Herói. Vem de Eros, deus do Amor. Heróis, na raiz da palavra, seria o ser que se adentra com amor na consecução de suas batalhas, a saber que sua vitória não é aquela que se inicia apenas pelo fato de ser apenas uma batalha cheia de palavras e sangue... Seria, a seu ver, mais que isso... Seria, mais tarde, a lanterna de outras... Ela seria lembrada pela forma como foi levada, conseguida entre aqueles que deram a alma não apenas pela batalhas, mas pelos deuses... Nesse espírito, a Guerra de Troia nasceu. Falemos disso depois.

EGITO

Os egípcios, naturais de batalhas esplendorosas, tinham o seu rei-deus. Estes homens, que ocupavam a principal função do estado, iam a batalhas, venciam, e nestas tinham seus ideais de harmonia universal. Não havia genocídios, apenas a necessidade de trabalhar em função dos seres humanos, do cosmos, de tudo... Algo um tanto quanto mais brando com relação ao que temos atualmente.

Ramsés, o grande, ao viver desse grande ideal, era um dos melhores homens de sua época, não porque era um faraó, mas porque abarcava responsabilidades maiores que ele mesmo, pois além de suas obrigações de homem, era também um semideus, o qual dava a seu povo o esplendor de seu governo de Ética, Princípios, Moralidade, e muito mais sob a tutela de Maät,  deusa da Ordem.

Sabe-se que este faraó em uma batalha contra os Hicsos, povo que seria um dos maiores inimigos daquele país, fora a campo levado pela vontade de vencer e destruir o inimigo, porém, ainda que houvesse força para tanto, fora abandonado pelos seus homens no meio da luta.

Ramsés sentiu-se só, mas, dentro de sua alma, vira que seu país necessitava de equilíbrio, paz, no sentido mais social e universal possível, e, fazendo uma longa oração a Seth, levantou-se, subiu em seu carro de rodas frágeis, no qual apenas ele e seu serviçal cabiam, apenas ele, no entanto, lá estava e ao seu lado seus animais de estimação, um cão e um leão, dignos de qualquer rei, prontos para a maior das batalhas, a de Kadeshi, na qual o homem-deus armou-se e partiu para cima de todos os seus inimigos, deixando alguns mortos outros com medo do confronto por ver em seus olhos a guerra de um homem, a imortalidade. O rei venceu.

Assim como Ramsés, muitos faraós foram heróis. Assim como o grande rei, todos eles se viram na obrigação de equilibrar e harmonizar o país das pirâmides, como se fossem reais pontes necessárias para esse equilíbrio... Hoje, não há heróis assim.

Romanos, Espartanos...

Os soldados romanos, tão criticados no presente em razão da violência que os faziam guerreiros imbatíveis, eram mais que isso. Tinham em sua alma uma cidade que também os amava. Roma. A grandeza em espírito traduzida em organização política, religiosa, familiar, fazia a diferença. Os homens tinham pelo que lutar. Aqui, uma época na qual valores humanos eram respeitados, e que o que saísse dessa ideia teria que ser inimigo de Roma.

Os romanos, que possuíam em sua alma a conquista, às vezes tomavam cidades sem mesmo uma luta, pois sabiam os bárbaros da fama não somente dos guerreiros, mas da própria Roma, a qual tentava harmonizar – e não tomar -- aquele estado sitiado por ela, não o tornando escravo. A maioria se sentia assim, claro. Por mais que seja desequilibrado o sistema, era aquele que tinham escolhido; contudo, Roma tinha uma ideia grandiosa, a de tornar o mundo harmônico – dar a cada um o que lhe seria de direito – sob a sua bandeira... Isso talvez a atrapalhasse.

Aqui, somam-se heróis. Um império que durou mais de quientos anos precisou de guerreiros que fizessem seu papel. Há histórias de homens que morreram por Roma, pelo maior dos ideais que encontraram.

Há histórias nas quais se dizem que um dia um grande soldado levou consigo uma mensagem de apenas resguardar a fronteira de uma das cidades tomadas por Roma, e não se exaltar, caso viesse acontecer algo que o desse medo, como o avanço bárbaro – que para os romanos era costume enfrentar; não sozinhos...

Após o ocorrido, generais romanos foram ao encontro do homem cujas tropas que tinham como responsabilidade resguardar a fronteira daquela cidade, porém não haviam conseguido.  A maioria tinha tombado. Encontraram o soldado... E antes de falecer nas mãos de um dos generais, ouviu um deles dizer... “você salvou Roma”.

As batalhas tinham heróis que salvaram os ideais de Roma, os quais resguardavam não somente fronteiras, famílias, seus deuses, mas principalmente o espírito romano. E hoje, o que nos falta é esse espírito romano em cada cidade, em cada pais.

Hoje, heróis vão às ruas pedir empregos, pedir paz, pedir amor, pedir... tudo. Os heróis romanos, em cada atitude, não apenas nas guerras, mas principalmente em casa, eram coerentes com aquilo que acreditavam; mais que isso... eles se vestiam da própria lei.

Há relatos de que, um dia, César ficou sabendo que seus soldados não iriam mais as suas batalhas, pois estavam se arriscando por muito pouco. César, o grande general, foi ao parlatório das reuniões secretas, olhou para cada um – mais de trezentos soldados – e disse-lhes “soldados!” – César, que sempre os tratava como “meus amigos” – “temos uma grande batalha, a batalha de nossas vidas, defender nossos sonhos!”... Os soldados, desde a primeira fala, haviam concordado, pois jamais tinham negado um pedido de seu amado general, o qual jamais tinha perdido uma batalha. Alguns choraram e pediram perdão, outros já se enfileiravam... César, mais uma vez, tinha vencido.

O herói César, que nunca havia perdido uma batalha, tinha seus motivos de alavancar seus homens, pois sabia que uma batalha não se ganha apenas com teorias, mas com estratégias em prosseguir com seus planos, os quais se harmonizavam com o maior deles. Roma.

E assim, era o grande Leônidas, general espartano, o qual fazia transbordar a ira de Xerxes, majestade da Pérsia, quando recebia de seus batedores a noticia de que o grande rei tinha tomado a maior parte da atual Europa. O general, com trezentos homens, e Xerxes, com mais de dez mil, dizia ao batedor... “Se sua majestade quiser se entregar, tudo bem”.

Nesse espírito, Leônidas conseguiu deter, em mais de duas semanas, com seus trezentos homens, mais de um milhão de homens de Xerxes, um dos mais cruéis reis da Pérsia. Leônidas perdeu a batalha, mas, graças a ele, o  gregos tiveram tempo de se armarem e vencerem o grande rei, cujo exército já não era o mesmo depois das Termópilas (i)..

AQUILLES

Aquilles – guerreiro espartano da Guerra de Troia, era temido não apenas pela força, mas pela destreza e impiedade aos inimigos, os quais o viam como um semideus – e era – pois Aquilles, em uma guerra real, era um figura mitológica criada por Homero. Mitológica pelo fato de trazer em sua figura elementos universais... (já tratados aqui nesse blog).

Mesmo assim, reunindo tais elementos, Homero quis nos dizer que, ainda que sejamos heróis, por mais belos que sejamos, mais fortes que sejamos, por mais guerras que vencemos, precisamos de caráter, de disciplina, de ordem e sacralidades para os quais lutar, e se perderiam com o tempo, e ele tinha razão. E o Calcanhar de Aquiles representava essa falta.

Hoje, ser herói é esquecer da semântica que nos faz vivos e lutadores por algo maior que nós mesmos. Hoje, ser herói é lembrar que temos forças para acordar cedo, não reclamar da esposa, do filho, da segunda-feira; brigar por posições no trabalho, pelo dinheiro fácil, pelas férias não tiradas...; hoje, ser herói é vencer as drogas, o vicio como um todo; vencer nosso racionalismo doentio que vive em prol de nossos erros; hoje, ser herói é levantar a cabeça apesar dos pesares – corrupção, injustiça, violência, medo de sair de casa... Psicoptas, etc.

Hoje, nosso maior calcanhar somos nós mesmos. Portanto, o que fica de Aquilles em nós é o que deve ser conquistado. Resgatar esse herói em nós é o nosso ideal.



Aos meu Filho, Pedro Achilles.

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