O Herói nosso de cada dia não
possui batalhas como as de outrora, ou mesmo se veste com o elmo com a
finalidade de dar medo ao adversário; o herói de hoje não possui escudos com o
símbolo de sua campanha. Não possui lanças, martelos, coletes de aço. O herói
de hoje não reivindica tronos ou mesmo aquela Liberdade... Os do passado...
talvez.
Heróis do passado, heróis do
presente, ainda quer se distanciam em sacralidades, objetivos, ideais, possuem
algo em comum. São heróis. Os do passado realizavam feitos em nome de Deus, não
dos homens. Tinham suas vitórias em homenagem ao Logus, ao uno. A virtude, temperança, o amor, instrumentos dos quais
tiravam suas garras naturais de um guerreiro, eram suas armas.
O herói de hoje, um tanto quanto
distanciado da realidade de outrora, de seu eu, reivindica seu salário, seus
direitos, sua família... Reivindica a paz em sua casa, a integração de uma sociedade
aos seus direitos, das bases políticas,
religiosas; o herói de hoje vive distante dos heróis do passado em questões que
se revelam mais duras, como a de iniciar uma revolução em favor dos próprios
homens, no sentido mais brando possível.
O herói sagrado pintava-se para a
guerra; o de hoje, sobrevive em meio a cores que o confundem em seus ideais,
por mais nobres que sejam, pois partidos, sociedades, religiões, o fazem
perdido, o fazem sem batalhas voluntarias, em uma guerra tão ampla quanto seus
próprios pensamentos.
As diferenças se ampliam no campo
idealístico, principalmente. Mas se unem numa só palavra. Herói. Vem de Eros,
deus do Amor. Heróis, na raiz da palavra, seria o ser que se adentra com amor
na consecução de suas batalhas, a saber que sua vitória não é aquela que se
inicia apenas pelo fato de ser apenas uma batalha cheia de palavras e sangue...
Seria, a seu ver, mais que isso... Seria, mais tarde, a lanterna de outras...
Ela seria lembrada pela forma como foi levada, conseguida entre aqueles que
deram a alma não apenas pela batalhas, mas pelos deuses... Nesse espírito, a
Guerra de Troia nasceu. Falemos disso depois.
EGITO
Os egípcios, naturais de batalhas
esplendorosas, tinham o seu rei-deus. Estes homens, que ocupavam a principal
função do estado, iam a batalhas, venciam, e nestas tinham seus ideais de
harmonia universal. Não havia genocídios, apenas a necessidade de trabalhar em
função dos seres humanos, do cosmos, de tudo... Algo um tanto quanto mais
brando com relação ao que temos atualmente.
Ramsés, o grande, ao viver desse
grande ideal, era um dos melhores homens de sua época, não porque era um faraó,
mas porque abarcava responsabilidades maiores que ele mesmo, pois além de suas
obrigações de homem, era também um semideus, o qual dava a seu povo o esplendor
de seu governo de Ética, Princípios, Moralidade, e muito mais sob a tutela de
Maät, deusa da Ordem.
Sabe-se que este faraó em uma
batalha contra os Hicsos, povo que seria um dos maiores inimigos daquele país,
fora a campo levado pela vontade de vencer e destruir o inimigo, porém, ainda
que houvesse força para tanto, fora abandonado pelos seus homens no meio da
luta.
Ramsés sentiu-se só, mas, dentro
de sua alma, vira que seu país necessitava de equilíbrio, paz, no sentido mais
social e universal possível, e, fazendo uma longa oração a Seth, levantou-se,
subiu em seu carro de rodas frágeis, no qual apenas ele e seu serviçal cabiam,
apenas ele, no entanto, lá estava e ao seu lado seus animais de estimação, um
cão e um leão, dignos de qualquer rei, prontos para a maior das batalhas, a de
Kadeshi, na qual o homem-deus armou-se e partiu para cima de todos os seus
inimigos, deixando alguns mortos outros com medo do confronto por ver em seus
olhos a guerra de um homem, a imortalidade. O rei venceu.
Assim como Ramsés, muitos faraós
foram heróis. Assim como o grande rei, todos eles se viram na obrigação de
equilibrar e harmonizar o país das pirâmides, como se fossem reais pontes
necessárias para esse equilíbrio... Hoje, não há heróis assim.
Romanos, Espartanos...
Os soldados romanos, tão
criticados no presente em razão da violência que os faziam guerreiros
imbatíveis, eram mais que isso. Tinham em sua alma uma cidade que também os
amava. Roma. A grandeza em espírito traduzida em organização política,
religiosa, familiar, fazia a diferença. Os homens tinham pelo que lutar. Aqui,
uma época na qual valores humanos eram respeitados, e que o que saísse dessa
ideia teria que ser inimigo de Roma.
Os romanos, que possuíam em sua
alma a conquista, às vezes tomavam cidades sem mesmo uma luta, pois sabiam os
bárbaros da fama não somente dos guerreiros, mas da própria Roma, a qual
tentava harmonizar – e não tomar -- aquele estado sitiado por ela, não o
tornando escravo. A maioria se sentia assim, claro. Por mais que seja desequilibrado
o sistema, era aquele que tinham escolhido; contudo, Roma tinha uma ideia
grandiosa, a de tornar o mundo harmônico – dar a cada um o que lhe seria de
direito – sob a sua bandeira... Isso talvez a atrapalhasse.
Aqui, somam-se heróis. Um império
que durou mais de quientos anos precisou de guerreiros que fizessem seu papel.
Há histórias de homens que morreram por Roma, pelo maior dos ideais que
encontraram.
Há histórias nas quais se dizem
que um dia um grande soldado levou consigo uma mensagem de apenas resguardar a
fronteira de uma das cidades tomadas por Roma, e não se exaltar, caso viesse
acontecer algo que o desse medo, como o avanço bárbaro – que para os romanos
era costume enfrentar; não sozinhos...
Após o ocorrido, generais romanos
foram ao encontro do homem cujas tropas que tinham como responsabilidade
resguardar a fronteira daquela cidade, porém não haviam conseguido. A maioria tinha tombado. Encontraram o
soldado... E antes de falecer nas mãos de um dos generais, ouviu um deles
dizer... “você salvou Roma”.
As batalhas tinham heróis que
salvaram os ideais de Roma, os quais resguardavam não somente fronteiras,
famílias, seus deuses, mas principalmente o espírito romano. E hoje, o que nos
falta é esse espírito romano em cada cidade, em cada pais.
Hoje, heróis vão às ruas pedir
empregos, pedir paz, pedir amor, pedir... tudo. Os heróis romanos, em cada
atitude, não apenas nas guerras, mas principalmente em casa, eram coerentes com
aquilo que acreditavam; mais que isso... eles se vestiam da própria lei.
Há relatos de que, um dia, César
ficou sabendo que seus soldados não iriam mais as suas batalhas, pois estavam
se arriscando por muito pouco. César, o grande general, foi ao parlatório das
reuniões secretas, olhou para cada um – mais de trezentos soldados – e
disse-lhes “soldados!” – César, que sempre os tratava como “meus amigos” –
“temos uma grande batalha, a batalha de nossas vidas, defender nossos
sonhos!”... Os soldados, desde a primeira fala, haviam concordado, pois jamais
tinham negado um pedido de seu amado general, o qual jamais tinha perdido uma
batalha. Alguns choraram e pediram perdão, outros já se enfileiravam... César,
mais uma vez, tinha vencido.
O herói César, que nunca havia
perdido uma batalha, tinha seus motivos de alavancar seus homens, pois sabia
que uma batalha não se ganha apenas com teorias, mas com estratégias em
prosseguir com seus planos, os quais se harmonizavam com o maior deles. Roma.
E assim, era o grande Leônidas,
general espartano, o qual fazia transbordar a ira de Xerxes, majestade da Pérsia,
quando recebia de seus batedores a noticia de que o grande rei tinha tomado a
maior parte da atual Europa. O general, com trezentos homens, e Xerxes, com
mais de dez mil, dizia ao batedor... “Se sua majestade quiser se entregar, tudo
bem”.
Nesse espírito, Leônidas
conseguiu deter, em mais de duas semanas, com seus trezentos homens, mais de um
milhão de homens de Xerxes, um dos mais cruéis reis da Pérsia. Leônidas perdeu
a batalha, mas, graças a ele, o gregos
tiveram tempo de se armarem e vencerem o grande rei, cujo exército já não era o
mesmo depois das Termópilas (i)..
AQUILLES
Aquilles – guerreiro espartano da
Guerra de Troia, era temido não apenas pela força, mas pela destreza e
impiedade aos inimigos, os quais o viam como um semideus – e era – pois Aquilles,
em uma guerra real, era um figura mitológica criada por Homero. Mitológica pelo
fato de trazer em sua figura elementos universais... (já tratados aqui nesse
blog).
Mesmo assim, reunindo tais elementos,
Homero quis nos dizer que, ainda que sejamos heróis, por mais belos que
sejamos, mais fortes que sejamos, por mais guerras que vencemos, precisamos
de caráter, de disciplina, de ordem e sacralidades para os quais lutar, e se perderiam com o
tempo, e ele tinha razão. E o Calcanhar de Aquiles representava essa falta.
Hoje, ser herói é esquecer da semântica
que nos faz vivos e lutadores por algo maior que nós mesmos. Hoje, ser herói é
lembrar que temos forças para acordar cedo, não reclamar da esposa, do filho,
da segunda-feira; brigar por posições no trabalho, pelo dinheiro fácil, pelas
férias não tiradas...; hoje, ser herói é vencer as drogas, o vicio como um
todo; vencer nosso racionalismo doentio que vive em prol de nossos erros; hoje,
ser herói é levantar a cabeça apesar dos pesares – corrupção, injustiça,
violência, medo de sair de casa... Psicoptas, etc.
Hoje, nosso maior calcanhar somos
nós mesmos. Portanto, o que fica de Aquilles em nós é o que deve ser
conquistado. Resgatar esse herói em nós é o nosso ideal.
Aos meu Filho, Pedro Achilles.
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