reflexão acerca do que somos. |
É natural comparações a respeito de tudo, principalmente quando nos referimos a algo ou a alguém do nosso estado social, psicológico, familiar... De modo que não paramos mais. É uma natureza que temos que enfrentar, mesmo porque não é um vício ou algo mal, muito pelo contrário. Na realidade, comparar é sempre necessário, principalmente quando o fizemos com o passado em relação ao presente, ou mais ainda, nossas atitudes anteriores – de há muito – com as nossas atuais.
Isso nos dá ânimo para prosseguir. Mas, ao perceber que estamos dentro de um ciclo vicioso de comparações, aí, sim, essa virtude torna-se um vício. Ou seja, um mal. Por exemplo, quando observo crianças ao léu, vestidas de nada, comendo aquele pão do qual falamos tanto em brincadeiras, nos referindo às pessoas que trabalham em demasia, ou mesmo que sofrem mais ainda. Olhamos, baixamos a cabeça e não tem como não sentir aquele sentimento de pena, dó, horror, às vezes, “comparado” ao nosso meio, dentro do qual nos alimentamos, vivemos, sorrimos e sabemos, teoricamente, qual o nosso caminho...
Eles, não. Apesar de serem mulheres, homens e crianças ao lixo, com vidas próprias, foram levados por problemas circunstanciais a viverem no lixo, ou mesmo dele. Dali, as comparações só cabem aos abutres...
Não deixemos, no entanto, de nos iludir, pois dentro do âmbito inexorável da questão, ainda que sejamos pobres, miseráveis, ricos em demasia, milionários, somos humanos. Uma raça que, independente do lugar em que estejamos, das condições sociais nas quais nos encontramos, vivemos, queremos e podemos observar o pôr do sol, sentir o cheiro da chuva, amar, ser amado; podemos nos embriagar de paixões, perdoar e, a depender do outro, perdoado.
Nossos olhares, no entanto, ao perceber que somos mais ou menos que outros, se eleva ou se esconde debaixo da terra, tais quais avestruzes. O mundo em que vivemos, querendo o não, se desfaz ou cria estruturas fortes maiores que as grandes torres arranha-céus do mundo.
Parece até que somos robôs programados para comparar, comparar, e comparar... E assim quando acordamos de um racional mais frio que geleira (!), mais comparações há. O que não podemos, todavia, como foi dito, é criar monstros mentais, que nos que levam a pensar acerca de nossa existência e cair em devaneios existenciais, pois a matéria, em si, sozinha, sem o elemento semântico vital, não vai a lugar algum.
E caímos em contradições, em medos, em pânicos, e lá vêm a psicologia e seus divãs tentarem nos convencer que somos portadores de males mentais, os quais fazem apologia a si mesmos e que não acreditam que há outros melhores que eles.
É complexo. Porém, se analisarmos do ponto de vista filosófico, vamos nos esquecer dessa tranqueira...
Se observarmos uma planta ao lado da outra, vêm-nos à mente meios naturais comparativos em relação estado delas: bonitas, feias, murchas, grandes, pequenas, com aquele ar de torná-las melhores, sempre que podemos delas cuidar. A comparação, aqui, querendo ou não modifica a natureza de uma planta, mas não a sua essência. Quer dizer, torná-la melhor do que a outra não fará com que tornem-se menos planta, ainda que murchem, fiquem feias, porque tal natureza, a da planta, fará com que precise de amor, carinho, cuidados em geral, o que fará com que ela tornar-se-á, inexoravelmente, uma planta maior e melhor.
A água, a terra, o ar, o meio em geral em que vivem são elementos naturais que, independentemente do pensamento humano, vão fazer daquele ser vivo uma planta. E antes disso, a semente que germina também o é, pois guarda, dentro de si, com certeza, a planta, não um animal, uma pedra, etc, mas uma planta.
No âmbito humano, o mesmo. Antes de nascer, dentro do ventre da mulher-mãe, há um ser vivo, o qual será um novo Beethoven, um novo Mozart, sei lá, mas, antes de ser um artista, um pai de família, um homem, ele é um ser humano. E quando crescer tornar-se-á uma pessoa responsável ou não, levará multidões ao delírio, ou não, mas antes, será um ser humano.
Contudo, colherá em sua vida frutos que ele mesmo plantou e dará amor ou ódio aos seres em sua volta, e conhecendo o livre arbítrio, nos trará mais paz ao mundo, esperanças a ele, ou, no pior da questão, será um grande bandido, armado de razões para sê-lo, dando vazão a outros, influenciando-os, e transformando a sociedade em um caos. Esses deixam de ser humanos, e não merecem ser comparados a nada.
Fiquemos, assim, com os grandes homens de todas as épocas com os quais sempre nos baseamos e nos comparamos.
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