terça-feira, 19 de junho de 2012

Caminhos da Cidade


Imagens que se vão.



Ao andar pelos bares da Cidade (Brasília), sinto, apesar dos anos que nela tenho, um estranhamento... Sei que nosso mental, enraigado do marasmo nacional, em conjunto com os problemas internacionais, nos torna um pouco lentos, quase parados, sem finalidades mil, seja onde estamos.

Talvez por isso me sinto enclausurado, como se estivesse em uma caixa (não de Pandora!), na qual filhos se curvam a uma mãe fria, sem respeito, e que faz questão de manter esse “brio”, ou seja, de uma criatura embalada pelo passado honroso, que, há muito, se foi, e que o presente nada mais é que elevação desse passado, retirando de todos a visão de uma realidade a qual não nos edifica nem um pouco...

Feita pelos ideais de um homem, Brasília, hoje, configura-se o respeito em forma de Capital do Brasil, na qual entraram seres maravilhosos, heróis que levantaram, aos poucos, essa grande ornamentação, a que tanto nos inclinamos quando saímos de casa...

Porém, sentimos o desespero, lá dentro do coração, ao saber que somos obrigados a ser o que o presente quer que sejamos... “A Capital da Educação”, “A Capital da Saúde”, “A Capital do Poder”... Eu, particularmente, não me sinto bem ao saber que toda essa marketing nada mais é que uma busca desenfreada para ser algo, não o que diz ser.

Sentimos, ainda, que somos tais quais bonecos, presos a essa razão sem razão, a esse ideal que, desde que somos gente, torna-se mais utopia do que um ideal. Este último, pelo menos, nos tornaria mais perto de uma realização; enquanto utopia...

Sabemos que a política é o ponto forte da Capital, sabemos também que se entende por política a arte de enganar a todos, até mesmo aquele que diz ser político. A falha talvez venha daí... Um dia ouvi de um grande professor a frase “política é uma estátua que há muito foi suja por nós, mas que um dia foi limpa”... E faz sentido...

A questão, no entanto, é que vivemos em torno de leis maiores do que aquelas que nos embutem no dia a dia, daquelas que um dia serviram para todos e que hoje, graças ao termo "imunidade", somos obrigados a ver ladrões de barras de chocolates presos no lugar de grandes ladrões de vidas, de gerações.

O mesmo professor sempre nos educou com relação a uma política ideal, daquela que muitos acreditam que é um sonho, ou seja, que só se realiza quando dormimos... Ele falava da República platônica, que nos fala de um mito, o da Caverna, na qual vários seres são educados, desde a infância. E algemados, acreditam em tudo, até mesmo em falácias claras, em discursos, em sombras, ou seja, em relatividades.

Daqueles, sai um ser que estava entre aqueles cujo tratamento não era diferente, porém havia conseguido se levantar, sair, e ver o sol – o mundo real. Ao voltar à Caverna,  Platão dá o nome do ato política... Ou seja, aquele que está acima de qualquer suspeita, que sabe da verdade, que viu e que tem tendência a ajudar... É o Político, na República (que fique bem claro...).



Então se buscássemos essa qualidade em cada um de nós, talvez fôssemos tão políticos quanto aos atuais. Para isso, seria necessário refletir acerca de nossas algemas, ou seja, nossas amarras que nos impedem de ver a realidade. Algemas impostas, na maioria das vezes, pelos donos da caverna, os quais se revelam mais donos do que nunca, em uma cidade que significa para muitos um Egito tradicional, pelo qual todos habitantes morriam... Mas estamos longe de sê-lo.

Não se pode ter orgulho de algo que não nos dá retorno ainda que damos a alma. Esse tempo se foi. Hoje, precisamos dar valor ao que está perto de nós, como os grandes amigos, família; aos grandes que ainda salvam muitos com gestos simples; ao filho que ama, que respeita, aos seres que não perderam a viagem da vida,  e que sabem o seu lugar onde quer que esteja...

Brasília, hoje, nos engana, não com suas construções, mas com a falsidade que se esconde por detrás dos sorrisos, das roupas elegantes, do menino que vai à escola para aprender, mas que, em pouco tempo, vai ser um assassino em potencial... E do menino que nasce às margens desse.. Poder, o que podemos esperar?

Hoje, em prol de Brasília e do Mundo, converso em demasia com meus sobrinhos, incansavelmente. Por serem adolescentes, de aparência incrédula em relação ao mundo, à vida, se enfurnam em televisões e seus programas cavernosos; faço questão de levar-lhes um pouco da filosofia do bem-viver, indo atrás de seus objetivos com suas próprias mãos. E tento ser um pai presente ao meu filhão, em todos os aspectos, para vingar uma infância que meu pai não pôde me dar com sua presença. E nem poderia. Falo muito de um mundo que podemos ter aqui e agora, com nossas forças internas, elevando o mental à ideias maiores ainda que tudo...!

Ah, no fundo sou um sonhador, não utópico. Apenas um sonhador que implora todos os dias a paz a Deus, e que minha família, apesar dos pesares, tenha fé na resolução dos problemas, pois eles nunca se vão, na medida em que somos o que somos. Humanos.

Na realidade, aqui, Brasília é o meu mundo. Aqui, eu nasci e aqui vou desaparecer. Assim como minha mãe que se foi como um dos melhores seres que já conheci, eu também pretendo, pelo menos, chegar à sua sombra.





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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....