Um sorriso pode trazer a paz real em sua plenitude |
As guerras começam com um gesto ou com uma palavra árdua. Depois delas, milhões de indivíduos se vão. Uma fagulha de cinza de cigarro, involuntária, carrega em si a morte de diversas espécies em incêndios, dentro das quais até mesmo a nossa se vai. Assim, é a dor, a violência, o castigo, a tortura, sempre sombreadas com intenções mórbidas, as quais frutificam a mudança de comportamento de uma sociedade, de uma geração e da humanidade... Tudo por causa de um simples gesto.
E, com toda sua expressividade, o ato singelo pode também desestruturar o mal de um mundo magoado pela corrupção, pelos conflitos e guerras inúteis. Nele, se de coração for, vem-nos a esperança de que, um dia, o próprio ser humano se redima ante seus atos, que, há anos, desordenam um mundo que fica à mercê do homem para sobreviver no universo.
Sabemos, mais do que todos, que é preciso que haja, em nossos meios, batalhas cuja natureza íntima é a busca pela paz, ainda que nos pareça contraditório, pois somos de uma natureza de força e reação, coalizão, mas, nas entrelinhas, sabemos que a paz é o nosso maior ideal. E este não se busca em montanhas, em picos gelados, nos quais iniciantes a Buda se prontificam... A paz se busca aqui e agora.
Entretanto, fazer das batalhas o pão de cada dia, sem mesmo saber o porquê, torna-se vã a nossa busca, pois sabemos que até mesmo os animais, seres predadores – e também respeitadores de sua natureza --, têm seu limite em batalhas. Então, saibamos o nosso!
Benefícios da Guerra
Após anos, sabemos o quanto nos arrependemos com os atos dantescos, como a Guerra do Vietnã, dos Bálcãs, dos Sete Dias, até mesmo da Segunda Grande Guerra, a qual nos custou o “nascimento” de uma besta, cujo maior ideal era dominar o mundo à custa de judeus, negros, ciganos, paraplégicos, enfim, em nome de um ideal às avessas, estruturado por pilares de areia, que é o próprio mal. Sabemos, também, que fechar os buracos antigos não nos dá tempo da redenção, mas ficarmos presos a um passado sem respostas a um futuro que precisa de nós.
Tudo isso poderia ter sido repensado, e assim – para o bem de uns, para o mal de outros --, não nasceriam nações comerciais como os Estados Unidos, que, ante a tomada de Perl Harbor, viram-se na “necessidade” de se mostrar como donos das circunstâncias, jogando bombas em nações orientais, como forma de finalizar um processo no qual ele estaria se destacando pelos grandes atos.
Assim, ao demonstrar mais poder de fogo, foi detentor da melhor moeda, do melhor idioma, da cultura... Ou seja, a guerra, para determinados países, foi (e é) um bom negócio, ainda que inocentes se vão sem o mínimo de razão.
Todo mal é análogo a uma montanha. E a montanha se fez. E nela as razões porque foi feita se vão. Quem observa uma, se indigna com ela, ou a admira. As guerras são assim: montanhas altíssimas em cima de vários milhões de inocentes, traumatizados, loucos, a mostrar, em seu cimo, a bandeira da paz...
Não sabemos nós, todavia, até agora, que a montanha da guerra se fez com a mínima poeira da natureza humana, e que preferiu optar pela dor e não pelo sorriso (ou pelo abraço, pela brandura da paz) que nos espera sempre no alto de nossas almas.
A alma do homem, que dá vida à montanha, no entanto, não é um produto que se faz em fábricas ou que se vende em feiras ou lojas em liquidação. A alma humana é plástica, é vento, é fogo, é o fluir das ondas e ao passo o canto do sabiá nas manhãs de domingo. Ela se identifica com o belo, com o justo, com o que há de mais verdadeiro no universo.
Não é difícil se apaixonar por uma poesia, ou mesmo por um pôr do sol. E quando a alvorada se faz, muitos correm de suas casas apenas para vê-la – e em muitos países, somente para reverenciá-lo. E do alto de nossas reais montanhas, vimos mares, pássaros em extinção cantando canções que o próprio homem nunca as ouviu. E ao acordar pela manhã, ao ver o filho sonífero em seu quarto, sorrindo pelo sonho que teve, sem mesmo abrir os pequenos olhos, ele agradece a Deus pelos dias que o fizeram vivo na terra.
Esses são sentimentos sagrados, pois não há nenhum ser no planeta que o sinta ao não ser nós, seres humanos. Sentimentos profundos que podem ser transpassados a todos, sem medo, estruturados pelo Bem, pelo Amor e pela Justiça, regados pela verdade de uma natureza pura, advinda dos deuses e do deus interior de cada homem por meio de gestos que podem nos levar a sermos mais humanos, todos os dias.
Epíteto/Platão/Sócrates...
O grande mestre de Marco Aurélio, Epíteto, que um dia foi um escravo, mas também filósofo estoico, nos deixou máximas incríveis, em um livro homônimo, no qual diz “devemos sempre idealizar a natureza como um todo para com ela nos harmonizar”.
Explica Epíteto, na verdade, que em simples atos corretos, interligados com o desprendimento, em função do sagrado, podemos buscar não somente a paz, mas a resolução de muitos problemas que nos enclausuram, porém não nos retirando o que temos, o que conseguimos na vida. Apenas não nos importando tanto quanto nos importamos com as coisas banais.
Marco Aurélio, seu discípulo, mais tarde, em batalhas, escreve seu único livro “Meditações”, aperfeiçoando o que o mestre lhe impôs, sempre buscando através de atos simples, retos, a harmonia da vida, com Deus.
Na República Platônica, o autor faz alusão à Justiça, ao Bem, à Verdade, mas todos direcionados a nós, como se a única chance de obtemos sucesso da perfeição fosse a busca interna. Ele tinha razão.
Sócrates, e o seu “Conheça a Ti Mesmo, e conhecerás o Universo”, resume, antes de todos, a prontificação humana na busca determinada pelo seu lugar no universo. E Cristo, “Eu sou a Luz, e a Verdade”, deixa-nos claro que somos mais que meros corpos em busca de prazeres sem sentido. Somos grãos em busca da duna perdida, e ao mesmo tempo somos o mar, o céu, as estrelas, o infinito puro e divino, assim como tudo que é sagrado e divino.
Não é sonho, é real. Podemos mudar o mundo com pequenos gestos simples e humanos, dentro do que somos, ainda que não acreditamos. Gestos, como vimos, podem matar milhões, mas podem fazer nascer seres maravilhosos, dedicados, voluntários em causas nobres.
Acreditemos nisso!
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