segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Prelúdio de Uma Saudade, parte II - Origens

João, o do meio, o primeiro dos homens a nascer, o primeiro a partir: um dia a gente se encontra, mano!

 
Aqui eu falo um pouco da origem de tudo. Espero não ser um tanto quanto rasteiro, e se for, não posso ser mais profundo, em razão da grande emoção que me toma.
 
UM POUCO DA SUA ORIGEM

E minha mãe nasceu sob o sol da valentia das grandes guerreiras que nunca tombaram. Colocava latas de água na cabeça, num sol cru, torrando a céu aberto na terra dos homens inocentes: uma Paraíba simples, na qual candidatos a vereador, a governador... presidente eram (ou ainda são) vistos como heróis, e para alguns, Deus.

Em uma terra seca, onde famílias se multiplicam, como na Bíblia, “crescei e multiplicai”, pais e mães largam filhos nas ruas em busca de dinheiro difícil, a vender pirulitos, puxa-puxa, balinhas de boteco, ou antes para alimentar o pobre pai que não pode ir em busca de um emprego na cidade...
Ali, em uma época difícil, nada melhor do que dar a melhor educação ou a pior, ainda que não queira. E minha mãe, pela graça divina, teve a melhor junto ao seu pai, que dela cuidou desde sua juventude, dando carinho, amor, força  e exemplos de um grande homem – seu nome era Basílio. Minha mãe, mesmo depois de seus setenta anos de vida, nunca conseguiu esquecer-se dele. Chorava lágrimas saudosas a um pai realmente herói, mesmo depois de muuuito tempo. Queria tê-lo conhecido.

De sua mãe, que se fora cedo demais, não falava tanto, mas, pelo rosto fino, e pela delicadeza de minha mãe, apesar dos pesares, devia ter sido uma grande mulher. Devia, em um tempo ainda mais escasso do que este, ter sofrido tanto quanto qualquer pessoa para alimentar seus filhos...
Minha mãe teve irmãos. Deles, falava apenas de um Damião, forte, moreno, alegre, amistoso, dizia, e que nunca tivera inimigos. Um porte parecido com do seu filho número um, João de Deus, o qual, dentre os filhos, fora o único que conseguira fixar-se profissionalmente e criar uma vida palpável, ao contrário deste que lhes fala, que, apesar dos estudos, do emprego, tenta um lugar ao sol.
João, assim como Raimundo, o segundo filho, teve que trabalhar cedo, e, após vários anos, em lavagem de carro, engraxate, conseguiu passar em um concurso simbólico na Câmara dos Deputados, em uma outra época, um tanto quanto mais atual do que a descrita acima, mas que concurso era apenas uma palavra, não sinônimo de dificuldades.  Entretanto, cada época tem a sua...
Mas para nós, tudo era difícil. Não havia uma educação voltada aos estudos, ainda que precário, e sim à busca da estabilidade financeira, estrutural, básica, ou seja, o que importava era comida na mesa, comida na mesa e comida na mesa...
Raimundo, apesar de ser da mesma época, não conseguira chegar no dia da prova, e a perdeu. Até hoje pergunta-se o porquê de aquele dia não ter sido idêntico ao de seu irmão, João, que entrou e nunca mais saiu do Congresso. E graças à cultura da Casa, fez nele vários cursos, especializou-se, terminou seu segundo grau, comprou um casa, e nela criou seus filhos... João faleceu em dois mil e nove, vítima de leucemia. A dor de minha mãe foi mortal.
Quanto a Raimundo, hoje, servidor do executivo, trabalha no ministério da Saúde, e mora junto de seus familiares, em uma casa que ele mesmo fez, dado ao lote que ganhara por direito.  Os dois, João e Raimundo, tiveram uma grande história junto a sua mãe e pai. Pois foram obedientes, trabalharam e se educaram nos termos não escritos de nossa genitora.
O pai, que sempre vivera de amigos da grande construção, ensinou-nos que o trabalho e a dedicação à família – assim tal qual minha mãe – era tudo; em 1988, nosso pai nos deixou, com uma doença que muitos até hoje tentam deixá-la voluntariamente, por achar que não é doença: a bebida.
Mas minha mãe, após sua ida, o que era de se esperar, e que já vinha ocorrendo quando nas viagens de meu pai, cuidara de nós, até o fim de seus dias com a maestria de sempre.
 
Continuo no próximo texto...

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