João, o do meio, o primeiro dos homens a nascer, o primeiro a partir: um dia a gente se encontra, mano! |
Aqui eu falo um pouco da origem de tudo. Espero não ser um
tanto quanto rasteiro, e se for, não posso ser mais profundo, em razão da
grande emoção que me toma.
UM POUCO DA SUA ORIGEM
E minha mãe nasceu sob o sol da valentia das grandes
guerreiras que nunca tombaram. Colocava latas de água na cabeça, num sol cru,
torrando a céu aberto na terra dos homens inocentes: uma Paraíba simples, na
qual candidatos a vereador, a governador... presidente eram (ou ainda são) vistos
como heróis, e para alguns, Deus.
Em uma terra seca, onde famílias se multiplicam, como na
Bíblia, “crescei e multiplicai”, pais e mães largam filhos nas ruas em busca de
dinheiro difícil, a vender pirulitos, puxa-puxa, balinhas de boteco, ou antes
para alimentar o pobre pai que não pode ir em busca de um emprego na cidade...
Ali, em uma época difícil, nada melhor do que dar a melhor
educação ou a pior, ainda que não queira. E minha mãe, pela graça divina, teve
a melhor junto ao seu pai, que dela cuidou desde sua juventude, dando carinho,
amor, força e exemplos de um grande
homem – seu nome era Basílio. Minha mãe, mesmo depois de seus setenta anos de
vida, nunca conseguiu esquecer-se dele. Chorava lágrimas saudosas a um pai realmente
herói, mesmo depois de muuuito tempo. Queria tê-lo conhecido.
De sua mãe, que se fora cedo demais, não falava tanto, mas,
pelo rosto fino, e pela delicadeza de minha mãe, apesar dos pesares, devia ter
sido uma grande mulher. Devia, em um tempo ainda mais escasso do que este, ter
sofrido tanto quanto qualquer pessoa para alimentar seus filhos...
Minha mãe teve irmãos. Deles, falava apenas de um Damião,
forte, moreno, alegre, amistoso, dizia, e que nunca tivera inimigos. Um porte
parecido com do seu filho número um, João de Deus, o qual, dentre os filhos,
fora o único que conseguira fixar-se profissionalmente e criar uma vida palpável,
ao contrário deste que lhes fala, que, apesar dos estudos, do emprego, tenta um
lugar ao sol.
João, assim como Raimundo, o segundo filho, teve que
trabalhar cedo, e, após vários anos, em lavagem de carro, engraxate, conseguiu
passar em um concurso simbólico na Câmara dos Deputados, em uma outra época, um
tanto quanto mais atual do que a descrita acima, mas que concurso era apenas
uma palavra, não sinônimo de dificuldades. Entretanto, cada época tem a sua...
Mas para nós, tudo era difícil. Não havia uma educação
voltada aos estudos, ainda que precário, e sim à busca da estabilidade
financeira, estrutural, básica, ou seja, o que importava era comida na mesa,
comida na mesa e comida na mesa...
Raimundo, apesar de ser da mesma época, não conseguira
chegar no dia da prova, e a perdeu. Até hoje pergunta-se o porquê de aquele dia
não ter sido idêntico ao de seu irmão, João, que entrou e nunca mais saiu do Congresso.
E graças à cultura da Casa, fez nele vários cursos, especializou-se, terminou
seu segundo grau, comprou um casa, e nela criou seus filhos... João faleceu em
dois mil e nove, vítima de leucemia. A dor de minha mãe foi mortal.
Quanto a Raimundo, hoje, servidor do executivo, trabalha no
ministério da Saúde, e mora junto de seus familiares, em uma casa que ele mesmo
fez, dado ao lote que ganhara por direito. Os dois, João e Raimundo, tiveram uma grande
história junto a sua mãe e pai. Pois foram obedientes, trabalharam e se
educaram nos termos não escritos de nossa genitora.
O pai, que sempre vivera de amigos da grande construção, ensinou-nos
que o trabalho e a dedicação à família – assim tal qual minha mãe – era tudo; em
1988, nosso pai nos deixou, com uma doença que muitos até hoje tentam deixá-la
voluntariamente, por achar que não é doença: a bebida.
Mas minha mãe, após sua ida, o que era de se esperar, e que
já vinha ocorrendo quando nas viagens de meu pai, cuidara de nós, até o fim de
seus dias com a maestria de sempre.
Continuo no próximo texto...
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