sábado, 25 de agosto de 2012

Prelúdio de Uma Saudade, parte I


EEETA, Saudade!
Vou tentar dividir com vocês um sentimento. E dele, extrair um pouco do aprendizado de um ser que nos deixou há sete meses, e que completaria setenta e cinco anos dia sete de setembro. Ela é minha mãe. E como a maioria das mães que se vão, sempre nos deixam um grande aperto no coração, ou como sempre me sinto... um lado meu que se foi.
A Mãe das Mães

Éramos felizes em uma casa de madeira na qual cunhados, noras e casais amigos se faziam como reis e príncipes, cotejados por uma senhora que, no meu entender, era a rainha das a rainhas. Minha mãe, a linda Josefa Camelita, nascida na Paraíba, e que depois de adulta, e de passar por todas dificuldades inerentes à sua época, veio para Brasília, criou oito filhos maravilhosamente, e nos ergueu moral e religiosamente, dentro de um barraco simples, esburacado, no qual até trancas de paus serviam de chaves, e nos amou até o fim de seus dias...
Dia sete do próximo mês, dia da Independência, há exatos setenta e cinco anos, nascera minha mãe. Um poço de valentia, humildade, coragem, e amor a Deus – sua arma para enfrentar um mundo que se esvai em um modernismo desconfiável, no qual juventudes respondem os mais velhos, e são direcionadas pela lei da televisão que nos faz apologias constantes das drogas, sexo e violência, coisas que, em sua época, não havia tanto, pois o muito era uma brincadeira nas ruas regada de segurança, sem as preocupações de hoje, que fazem pais do mundo todo repensarem o termo educação.
E ela, que nascera numa época na qual sentimentos em relação à política, à religião, à família eram mais que sagrados, passou pelos cantos desse país em paus-de-arara, trouxe uma criança no ventre em meio a poeira e dor, revitalizado-se em cada problema, ao contrário dos seres humanos comuns, que choram o resto de suas vidas, ou então reclamam, e se matam... Ela pisava forte num chão de pedras pontiagudas, ou em lama quando chovia, nos conduzindo com suas parcas ferramentas didáticas, pois não tinha sequer o primário...
Isso, no entanto, assim como sempre nos foi legado pelos grandes homens – escravos sábios, senhoras heroínas – era o menos necessário, porque a vida exige coragem que vem do coração, lá do fundo da alma, e nos revela que somos frios e fracos quando não dar o primeiro passo em direção a qualquer de nossos objetivos. E minha mãe, a dona de nossos corações, nos deixou, em cada canto de sua casa, que hoje sozinha representa o todo, ou mesmo sua sombra, que não se mede...
Hoje, ao escrever essas linhas curtas, tenho a vontade de usar ternos belos (além de todos) para retratar minha mãe, porém, tenho pouco espaço, ainda que tivesse milhões de paginas em braço, então, assim me reporto com o que tenho: minha simplicidade, um termo que sempre se assemelhou a genitora dos meus dias, para dizer o quanto a amo.
Dona Josefa – Zefinha, Zefa, irmanzinha, irmã, mãe, -- era mais que uma pessoa de bem, era a pessoa mais teimosa que conheci. Sua morenez, uma cor de índio forte, de um bisavô que teria sido; um corpo duro, com mãos pequenas, pernas meio tortas, as quais claudicavam devido a um problema de varizes que a fez, por quase quinze anos, uma mulher mais decidida, porém mais estratégica com relação à vida, pois deixara de realizar trabalhos, nos quais a dedicação e disciplina foram seu emblema e bandeira.
Via-se a infelicidade em seu rosto ao saber que precisava se cuidar mais. Via-se o ódio em saber que vivia ao redor de jovens – entre filhos e genros – que, com pernas ótimas, não tinham amor ao trabalho, ou mesmo a atividades relacionadas ao manuseio, ao caminhar, enfim, dizia que “hoje, os jovens têm tudo, por isso fica mais fácil ser preguiçoso”, o que era uma afirmativa real estruturada no que ela havia aprendido sobre a vida. E vivia banhada de razões, e eu fico cabisbaixo só de pensar que houve dias em que digladiei com ela algumas vezes pelo simples fato de querer crescer...
E cresci, mas não foi em minhas digladiações com a mãe das mães, mas pela célula do bem que ela me dera em vida, a deixar bem claro que nossos sonhos só são reais quando damos passos em direção a ele; quando me dizia que o homem só é homem quando teme a Deus, e que a mulher, só é mulher, quando respeita o homem – minha mãe parecia saber mais sobre a cultura egípcia do que muita gente, porque, naquele país, o homem era símbolo maior que unia Deus com a Terra; e a mulher, em seu trabalho afincado nos desejos naturais de seu logos, produzindo, amando o que fazia, sendo para o homem ou para os deuses, não reclamaria do seu papel como hoje o faz – e me dizia que eu, esse ser que lhes fala, teria que ser mais determinado, assim como seu pai o fora, para conseguir meus objetivos... Estava certa, de novo.
Eu, que possuo uma natureza física não muito beneficiada, escutei minha mãe até os vinte e dois anos de idade, depois disso ficara embutido, em mim, a sua filosofia de amor e coragem, da qual não apenas um, mas todos meus irmãos dessa educação tiraram proveito, claro, cada um de acordo com o seu entendimento... e possibilidades.
No próximo texto continuo... Abraços.

3 comentários:


  1. Mãe é mãe... Saudades da minha todos os dias, todos os dias, todos os dias, todos os dias, todos os dias, todos os dias...

    Saudades de você também, querido RégisBama, mas você eu ainda posso abraçar, ainda bem!

    Uma semana maravilhosa pra você!

    Lulupisces.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Lu, minha querida, a saudade é como uma dor pequena que não passa, mas é energia em nossos corações, é caminhada lenta, é sonho, é paz.

      Um filos-abraço, Lulu!

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