quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Maior das Ideias

A ideia é tão forte quanto aço. Cuidado.

Não sei se se lembram de uma grande cena do filme Gladiador, quando o ator Joaquim Phoenix, em sua grande interpretação como Comodus – filho legítimo de Marcus Aurélius --  discutia a respeito de Roma com sua irmã. Ele, ao contrário do pai, que seguia ou queria seguir a tradição, tentando voltar  a um passado no qual a grande cidade tinha seus princípios embalados pelos deuses e os seguia --, queria nada mais que nada menos começar do zero, a partir de seu reino, o qual obteve sarcasticamente: matando o grande pai.
Sua irmã, com mais aceitação da grande filosofia paterna, falava belamente sobre Roma, quando o irmão lhe dera  a pergunta propositalmente de volta... “O que é Roma?”. Ela, com todo seu charme e elegância, e sabedoria, devolveu-lhe.. “Roma é uma ideia”.

Em outro grande filme, agora com aspectos mais atuais, para ser mais claro, que nos faz adentrar em um mundo mais mental, psicológico, o filme "Origem", com Leonardo Di Caprio, e grande elenco, nos conta a história de investigadores de mente.  Homens capazes de entrar em sonhos por intermédio de sistemas sensoriais, nos quais a pessoa, se aceitar, tem invadida sua mente, para que possa elucidar seus problemas ou, como fora percebido na película, para encontrar segredos adormecidos.
No início, Di Caprio, um dos agentes invasores de mente, diz a um empresário, “Se eu disser para o senhor ‘não pense em elefantes’, o senhor já pensou, entende?”... “O que eu quero dizer é que nada é mais forte que uma ideia implantada”.
Assim... quando pensamos... e mais tarde somos imbuídos de uma ideia... está já se fez. Assim como uma célula que, do nada, aparece e, mais tarde, toma forma de um pulmão... de um coração... a ideia, com o tempo, se torna forte, e com o passar dos anos, dos séculos, uma grandiosa forma universal. Realmente, é incrível.
Temos, no entanto, que repensar, pensar, tentar entender, por nós mesmos, o que significa esse aço oculto, e ao passo concreto, como cordas de aço, como pontes físicas, e ao mesmo tempo abstrato, nos quadros, nas pinturas cubistas, supra-realistas, nas modernas...
A ideia se manifesta a partir de uma brisa fina, que burla nosso inconsciente, que mais tarde torna-se um vento, e muito mais depois um redemoinho que nos leva a todos. A ideia, aqui, torna-se perigosa, pois revela-se mais forte que outros pensamentos, sejam eles bons, virtuosos, práticos, mas que ficam como plásticos ao vento se não são tão fortes e firmes.
E quando se trata de ser humano, principalmente, somos obrigados a dizer que até mesmo ideias contrárias às reais nos faz crer que somos incapazes de raciocinar, comandar a nós mesmos, ter nossas escolhas, enfim, de não ter nossas próprias ideias...
Não é assim, não podemos ser assim. MAS, se acreditamos que não podemos, que não conseguimos, que somos os piores (nem melhores que ninguém ou qualquer coisa), somos obrigados a procurar psicólogos, psicoterapeutas, pois a ideia de que somos filhos do nada já se enraizou em nossa mente e tomou conta de nossos corpos e almas... Nessa última, quando atingida, vêm-nos igrejas, templos, tendas, jogos de azar... afim de dizer o que no fundo não encontramos, graças à primeira premissa enraizada, presa, e que nos diz “não vale à pena ser humano”... (vamos fugir disso!).

Há empresários de sucesso que conseguiram impor-se a partir de ideias. Histórias de grandes homens que, quando humildes, sem moradia, sem pai nem mãe, conseguiram com meras palavras do tipo “Eu vou conseguir”, “Eu sou o melhor”, “Eu não morrerei agora, pois preciso terminar minha mensagem”... não são meras histórias, são fatos reais. Imbuidos de uma vontade além-razão, conseguiram.
O grande lutador Murrandi Alli, um dos melhores, se não o melhor do mundo até hoje no box, chegava ao ringue pulando como se já tivesse ganho a luta. Pegava o cinturão dourado e dizia “Esse é meu”. Isso, olhando e rindo da (e na ) cara do adversário... O resultado? Não preciso dizer (tá bom, eu digo!), Ali ganhava em poucos rounds e, no final de tudo, o cinturão era dele.

Vamos nos transportar no tempo. Quando Roma era dominada pelos grandes heróis. Julius Caesar, ou Júlio César, em sua viagem para dominar a grande Gália, teve que pegar um trecho de navio, barco, sei lá... Nesse mesmo dia, grande tempestade se fez, e todos gritando desesperados não sabiam o que fazer, pois o capitão (ou melhor), o general Júlio César estava simplesmente a dormir em seu pequeno quarto, que nos parecia hoje mais com um porão.
Foi quando um dos marinheiros correu até seu quarto, acorda-o, e grita “capitão, estamos afundando, vamos todos morrer!”. Depois de ter ouvido o grande marinheiro, César olhou para ele e disse... “Não, não vamos morrer. Vamos conquistar a Gália e voltar”...
Com indignação, o soldado ainda lhe perguntou “Como o senhor tem tanta certeza, general??”.. O grande homem riu e disse “Porque eu sou Júlio César”. E voltou a dormir.
Realmente. Quem conhece esses seres, que parecem mais deuses em forma de homens, não precisa contar-lhes o resto. Júlio César dominou a Gália e voltou para Roma.
Para que possamos ter, no entanto, antes de tudo uma confiança à Júlio César, à Murrand Ali, é preciso confiar em si mesmo, treinando ideias de elevação moral. Esses homens, claro, já nasceram especiais, e não foi difícil conquistar o mundo que queriam, mas nós, seres que se tornam especiais com o tempo, precisamos entender que ideia é uma faca de dois gumes, é um corredor à parte de outro corredor, é uma via de mão dupla, é a depender de quem nos leva, ou traz, o precipício, o abismo para o nosso fim.
Um exemplo disso foi, entre muitas do tipo, uma reportagem a respeito da Igreja Universal do Reino de Deus, na qual vários fiéis são almejados com finalidade de contribuir voluntaria ou involuntariamente, com dizimo, sei lá... de modo que, segundo reza o principio de todas as seitas, terão eles de volta todo “tesouro” perdido em forma de reinos celestes. A reportagem, perdão, falava de um casal que havia contribuído há anos com tudo que ganhava, e mais, acreditavam que teriam muito mais de volta (!@#$%¨&* !!)...
A ideia aqui é forte.  Não apenas nessa igreja. Há outras, mas não sei se piores.  Ideia de céu e inferno como forma de ônus e bônus vagueia nesses templos de areia, ideias de aço, como forma de ganho para a entidade. Sim, claro. Se não trabalham, não têm casas imensas, carros do ano, castelos... Passam a ter da forma mais manipulável possível. E isso é real.

Não adianta. Rádios vão tocar a música; televisões vão passar programas; bispos vão gritar em sua cara; pessoas vão fingir quedas; homens vão deixar suas famílias... Tudo em nome de seus interesses; em nome de uma ideia que eles próprios "acreditam", e ao mesmo tempo sabem que é a melhor de todas para trazer a todos – como no filme do tocador de flautas e os ratinhos – e fazer-lhes acreditar que sabão é queijo. E comem se disser-lhes que vão ganhar o céu... E mais, ainda encontram no livro sagrado lastros para tanto. A idade média era mais sutil!
Hoje, se penso em ideias religiosas, no entanto, penso na ideia romana, egípcia, grega... a de que somos parte de tudo, e ainda somos um pouco de Deus. Por que não? Sim, somos sim. Se tenho um filho, com todas as características que possuo, posso dizer que ele tem um pouco de mim... E eu tenho um pouco do meu pai, e humanidade tem muito de Deus, e o Universo inteiro é Deus.
Essa ideia não descarta, não dissolve, não mata, não discrimina, não perturba, não preconceitua, e desenvolve em nós uma energia desconhecida, tão latente e forte que nos revela segredos que há muito diziam (e dizem) que nos fazem mais humanos.
Nós somos uma ideia divina. Estamos aqui, tentando nos compreender com questionamentos, vivencias, experiências, belas ou não, como minideuses em uma história mítica. Somos homens e mulheres buscando o Logus maior que nos religa; somos a eternidade se questionando acerca da própria eternidade...
Somos um projeto divino que deu certo, advindo de uma ideia mais divina ainda.

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