Há milhares de razões para um bom
Natal, e milhões para um mau, pois nós, homens e mulheres, transformamos tudo
em algo relativo – como dizia Einstein, tudo é... – talvez baseado em tudo que
fazemos, opinamos, agimos, e por que não dizer criamos?... O que invalida a essência
das coisas que vêm com o intuito de alegrar, nos fazer melhor, nos integrar.
Mas a realidade é mais embaixo...
Há mais um fator que invalida a essência das coisas, que é o problema que
atinge o âmago do individuo e o transforma em um vegetal-humano, ou antes de
tudo, em um animal pensante. Situação na qual somos reais australopithecus (!), pois a raiz de nossas almas está presa em
nossos instintos, e, por isso, caímos em um fosso sem fundo, de uma
personalidade presa no labirinto de seus devaneios.
E hoje, após vários devaneios
tristes que me interpõe o ser, fico a refletir sobre as eras nas quais eu fui
feliz, juntamente com minha família toda, sem aquele desagrado astral que um
dia se formou no dia em que minha mãe se foi.
Há de me perdoarem, pois mãe é a
deusa que nos resguarda dos males até sua ida para o manancial da
bem-aventurança, e que um dia, mesmo sabendo que um dia esse ser se vai, a dor e
a queda de nossos dias é quase inexorável.
E sofremos, e morremos; e no
levantar... a falta de sentido para o viver se sobressai ao do sobreviver.
Mas... Levantamos, e começamos a sorrir sinicamente ao vento, assobiando uma
musica seca, da qual não se encontra ritmo, letra, harmonia... Apenas uma dor
que se vai com o juntar dos lábios.
O estômago sente o frio de uma
imaginação que não para como prensas ritmadas pelo botão de um cérebro físico que,
por Deus, como gostaríamos que não existisse. As imagens de uma senhora
sorrindo sozinha quando fazia seu jantar, de uma criança-idosa que amava
cuidar, servir, viver, sonhar com projetos inacabáveis, depois que se foi nos
fez chorar mais sozinhos, com ar de abandonados, sem a pessoa que um dia achávamos
que nunca iria morrer (e ao mesmo tempo, sim)...
... E, agora, as luzes de uma
data nos vêm como filmes em preto e branco, sem as cores reais. Até mesmo o
senhor barbudo, que carrega os eternos brinquedos do pequenos, me soa como um
velho ridículo e mentiroso, carregando pesadelos financeiros a mando dos
capitalistas.
Tudo morreu. Nem mesmo as flores
que eram mais flores nessa data se irradiam, desabrocham, elevam, perfumam. São
apenas botões de plástico, que morrem e no outro dia são esquecidos. Assim como
nós.
...Luzes que encantavam, brilhavam,
davam tons de um mundo melhor... se foram – pelo menos até nossos rios se forem
e entrarem novos rios, novas águas, a transpassar novas pedras, novos mundos.
Tudo nos lembra. A comida, regada
ao carinho das mãos leves, porém calejadas de experiências dos dias em que
chegava a Brasília dos homens de bem; a pessoa forte no meio de todos, com
palavras certeiras que nos davam semblantes de crianças grandes; o sorriso belo
advindo de uma face sofredora, a qual não se sentia nem medo, nem dor, apenas o
prazer de estar junto de seus filhos grandes, netos, bisnetos, e outros por
chegar.
Era uma mãe que tinha o natal em
si. Pedia reunião para limpeza da grande casa, mas sempre o fazia antes dando
um show de juventude, ainda que doesse a perna em meio a um tempo covarde. Depois
de tudo, achei que não o tempo, mas nós éramos covardes.
Nada pior do que o Natal de
agora, que surge como uma data natural, sem seu grande objetivo. Nós, hoje,
tentaremos obedecer à ultima ordem de minha mãe... Talvez, a mais difícil delas:
nos reunir em torno de uma alma oculta aos nossos olhos, em forma de
integração, amor, paz, lembranças, e elevar nossos instintos para algo que está
acima de nossas possibilidades.
Mas vamos tentar, mãe, pois nada
melhor do que materializa-la e trazê-la como num sonho do mundo das mães que se
foram e que viraram estrelas a nos iluminar onde quer que estejamos.
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