segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Feliz Nastral




 
Há milhares de razões para um bom Natal, e milhões para um mau, pois nós, homens e mulheres, transformamos tudo em algo relativo – como dizia Einstein, tudo é... – talvez baseado em tudo que fazemos, opinamos, agimos, e por que não dizer criamos?... O que invalida a essência das coisas que vêm com o intuito de alegrar, nos fazer melhor, nos integrar.
Mas a realidade é mais embaixo... Há mais um fator que invalida a essência das coisas, que é o problema que atinge o âmago do individuo e o transforma em um vegetal-humano, ou antes de tudo, em um animal pensante. Situação na qual somos reais australopithecus (!), pois a raiz de nossas almas está presa em nossos instintos, e, por isso, caímos em um fosso sem fundo, de uma personalidade presa no labirinto de seus devaneios.
E hoje, após vários devaneios tristes que me interpõe o ser, fico a refletir sobre as eras nas quais eu fui feliz, juntamente com minha família toda, sem aquele desagrado astral que um dia se formou no dia em que minha mãe se foi.
Há de me perdoarem, pois mãe é a deusa que nos resguarda dos males até sua ida para o manancial da bem-aventurança, e que um dia, mesmo sabendo que um dia esse ser se vai, a dor e a queda de nossos dias é quase inexorável.
E sofremos, e morremos; e no levantar... a falta de sentido para o viver se sobressai ao do sobreviver. Mas... Levantamos, e começamos a sorrir sinicamente ao vento, assobiando uma musica seca, da qual não se encontra ritmo, letra, harmonia... Apenas uma dor que se vai com o juntar dos lábios.
O estômago sente o frio de uma imaginação que não para como prensas ritmadas pelo botão de um cérebro físico que, por Deus, como gostaríamos que não existisse. As imagens de uma senhora sorrindo sozinha quando fazia seu jantar, de uma criança-idosa que amava cuidar, servir, viver, sonhar com projetos inacabáveis, depois que se foi nos fez chorar mais sozinhos, com ar de abandonados, sem a pessoa que um dia achávamos que nunca iria morrer (e ao mesmo tempo, sim)...
... E, agora, as luzes de uma data nos vêm como filmes em preto e branco, sem as cores reais. Até mesmo o senhor barbudo, que carrega os eternos brinquedos do pequenos, me soa como um velho ridículo e mentiroso, carregando pesadelos financeiros a mando dos capitalistas.
Tudo morreu. Nem mesmo as flores que eram mais flores nessa data se irradiam, desabrocham, elevam, perfumam. São apenas botões de plástico, que morrem e no outro dia são esquecidos. Assim como nós.
...Luzes que encantavam, brilhavam, davam tons de um mundo melhor... se foram – pelo menos até nossos rios se forem e entrarem novos rios, novas águas, a transpassar novas pedras, novos mundos.
Tudo nos lembra. A comida, regada ao carinho das mãos leves, porém calejadas de experiências dos dias em que chegava a Brasília dos homens de bem; a pessoa forte no meio de todos, com palavras certeiras que nos davam semblantes de crianças grandes; o sorriso belo advindo de uma face sofredora, a qual não se sentia nem medo, nem dor, apenas o prazer de estar junto de seus filhos grandes, netos, bisnetos, e outros por chegar.
Era uma mãe que tinha o natal em si. Pedia reunião para limpeza da grande casa, mas sempre o fazia antes dando um show de juventude, ainda que doesse a perna em meio a um tempo covarde. Depois de tudo, achei que não o tempo, mas nós éramos covardes.
Nada pior do que o Natal de agora, que surge como uma data natural, sem seu grande objetivo. Nós, hoje, tentaremos obedecer à ultima ordem de minha mãe... Talvez, a mais difícil delas: nos reunir em torno de uma alma oculta aos nossos olhos, em forma de integração, amor, paz, lembranças, e elevar nossos instintos para algo que está acima de nossas possibilidades.
Mas vamos tentar, mãe, pois nada melhor do que materializa-la e trazê-la como num sonho do mundo das mães que se foram e que viraram estrelas a nos iluminar onde quer que estejamos.

 
A Benção, mãe.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....