sábado, 8 de dezembro de 2012

A pequena história de superação de um anjo.




Ainda ontem, sexta, dia 7 de dezembro, fui a um evento que, com certeza, marcou a minha vida e a de minha esposa. Nosso filho, Pedro, de quatro anos, em meio a várias crianças de sua idade, em uma despedida de professores e coleguinhas, por ser final de ano, esboçava o que pai e mãe chamam de superação solitária.
Vamos à história...
 
A festinha, já que estamos perto do Natal, tinha de tudo, até papai Noel vascaíno, mas com pretensões de um grande pai, que amava todas as crianças que ali cantavam, brincavam, e sorriam em um coral imenso – com mais de cem crianças --, reunindo todas as salas da instituição.
Os pais, claro, com seus celulares e máquinas de última moda, beiravam à loucura e quase não deixavam os pequenos em paz, quando os viam entrar. Havia uma diretora adjunta, que me parecia uma roliço mamífero fora dágua caindo no meio de todas as crianças somente para consertar alguns picorruchos que saiam e voltavam da cena...
Mesmo assim, soava como um grande conto de Natal. Pois meu filho estava ali, como um exagerado em tamanho, bem no meio do grande coral, à vontade, cantando, sorrindo, cutucando seus amiguinhos, e, ao contrario dos anos anteriores, quando nos via – eu e minha esposa – chorava, mas não chorou, e sim, sentiu-se bem, protegido, amado, apesar de nossa distância em relação a ele no palco.
Pedro Achilles...
Hoje é visto como um menino que precisa se integrar, brincar com outros meninos, vivenciar brincadeiras diferentes, contudo, sua natureza tímida o faz ser meio arredio em relação a outras crianças. Ele só não brinca, mas também não gosta de dividir sés brinquedos...
Para psicólogos, isso é o fim. Para mim, nada mais que natural. Há momentos em nossa vida que não gostamos de dividir nada, e há, em criança, a mesma fase, só que de modo mais forte – às vezes, porque pais não estão próximos de nós, às vezes, porque nós não vamos com a cara dos outros coleguinhas, que possuem, em si, uma outra natureza...
Assim, preocupados com seu jeito de ser, nós, pais de Pedro, procuramos opiniões e mais opiniões, com a finalidade de nos dar uma chave para a resolução desse pequeno problema, o qual estava fazendo com que nosso filho ficasse aquém do mundo das crianças que o cercava.
Pedro não somente tinha dificuldades em integra-se como também com pessoas adultas, as quais se aproximava dele e queriam sua amizade. Isso, acredito, não é problema, apenas uma outra fase pela qual o pequeno está passando e superando.
Por outro lado, alguns dizem que ele já nasceu com personalidade, pois não vai com qualquer pessoa, seja ela de qualquer nacionalidade, cor, sexo... Parece-nos que ele enxerga algo além do alcance dos outros, pois, para alguns, ele revela-se amistoso e, para outros, um bichinho de pelúcia difícil de por no colo...
Isso, como eu dissera, não era problema. E sim a integração. Ao ficar nos cantos com seus dinossauros de plástico, que tanto gosta de levar à creche, meu filho, nos instantes em que todos se divertiam com todos, era o único a ficar preso em seu mundo. Solitariamente brincava, e solitário terminava o dia. Sua mãe o buscava, ele sorria, corria para o colo dela, e em casa, ao contrário de seu comportamento no pequeno colégio, falava pelos cotovelos.

Ajuda de Santa Rita

Ao me encontrar em casa, sempre me chamava para brincar com os seus, e eu, louco de saudade, ficava até mais tarde com ele... A amizade que tanto eu esperava o dia todo. Mas a preocupação com o seu comportamento começou a tomar dimensões. E um dia, uma professora de nome Rita, graças a sua experiência, disse “nada disso, o Pedro tem que brincar com os outros!”, quebrando o tabu de outras professoras que o deixavam distante.
Essa preocupação divina com nosso filho nos fez pais dedicados, nos fez adentrar em seu mundo como se ele, Pedro, fosse um menino que tivesse reais problemas – mas era uma questão de estilo.
Rita, a professora, o fez brincar, ainda que não quisesse, com outros meninos. Se não desse, fazia com que outros fossem até ele e tentar compartilhar seus brinquedos, e meu querido filho, como sempre, não abria mão de seus mistérios.
Porém, como todo mistério leva tempo para ser desvendado, Pedro precisava de tempo e espaço. E deram, e demos. Respeitamos seu limite, seu comportamento, e, levando em conta os princípios da grande professora que foram seguidos por várias outras, meu filho começou a falar com outras crianças, a brincar com elas, mas a divisão dos brinquedos ainda é o mais difícil...!
Difícil ou não, sinto que este último comportamento é pra lá de normal, e é. Contudo, para alguns... E isso nos incomoda, pois, qualquer que seja seu jeito de lidar com as coisas, agora, é visto como se necessitasse de um especialista...!
E por falar em especialista, fomos obrigados a procurar uma fono porque Pedro, em razão de outros probleminhas, não pronunciava algumas consoantes. E acabamos nos deparando com uma excelente fono, contudo minhas experiências de vida sempre disseram que cada criança tem seu modo de entender e seu ritmo para aprender tudo.
Mas... os grandes especialistas sempre dizem que a vida de hoje não é a de ontem. Se podemos “interferir”, no bom sentido, para que seu filho possa sair de seu mundinho ou aprender mais rapidamente tudo, então vamos fazê-lo.
Eu era contra, mas quando a fono me disse que ele podia ser um menino em meio a outros como vitima de buyling – nome dado ao comportamento de pessoas que transformam a vida de outras em infernos – e acabei por concordar.. E hoje, com o passar dos meses, vejo meu filho melhor do que antes...
Pedro, no entanto, ainda tinha um pouco de medo em lidar como parceiro de seus colegas. Nos outros anos, a exemplo disso, meu filho chorou, saiu no meio das festas de fim de ano, de natal, de modo que era o único a sair das rodas, dos corais... e nós, chateados, dizíamos “não precisa chorar, é só uma festa; tem seus amigos, as professoras... papai tá aqui, mamãe...”, enfim, havia três anos que dizíamos a mesma coisa.
Hoje, dedilhando esses caracteres com a paciência dos anjos, com a paz de meu filho, confiando nos deuses, sei o quanto me senti quando o vi, pela primeira vez, forte, firme, sorridente, amado por todas as professoras e amigos, como se fosse aquele menino especial, tanto quanto qualquer outro, que um dia, no cantinho da sala de aula, brincava sozinho, talvez chorasse sozinho, com saudades da mãe e do pai. Talvez...
Talvez eu seja um pai problemático, que ache que tudo isso é  um grande problema, descartando tantos outros pelos quais passam todos por tão pouco e conseguem lidar com a coisa. Talvez precisamos amar mais, ficar muito mais com ele do que com nossos mundos frios e bárbaros, feitos de guerras e dores. Se minha mãe estivesse viva, ela teria a resposta para tudo rs.
E tudo isso se desfez quando nossos olhares ficaram voltados ao grande coral, no qual iam se reunir mais de cem crianças (ou mais). Aos poucos foram chegando, pelo meio da plateia de pais, os anjinhos de branco, e de gorro vermelho de papai Noel, assim pareciam-se mais netos do barbudo, ou mesmo ajudantes dele.
Pedro, à vontade, foi se aproximando do palco, afincou-se em seu lugar de sempre, por ser o maior da turma, viu seus amiguinhos se aglomerarem ao seu redor, e por fim, ao seu lado, e em três fileiras de anjos, de cima para baixo, Pedro era a maior das crianças – e até ai, tudo bem. E era mesmo.
Naquele momento, eu e minhas esposa já na espreita, atrás das cadeiras, fomos aos poucos nos aproximando do coral. O medo em vê-lo desistir mais uma vez, por mais um ano, nos fazia temerosos.
 
O dia, no entanto, estava iluminado, e os anjos de todos os tipos saudando seus pequenos irmãos. O sol, do lado de fora, fazia seu papel, ao irradiar o grande palco. E os sorriso dos pais brilhavam à frente dos filhos que davam suas vozes como filhos que queriam ver seu papai (Noel). Não, o dia era perfeito.
 
Eu, ao contrário dos pais que tiravam fotos, filmava meu filho, que se harmonizava com todos seus coleguinhas, e, quando nos viu, não chorava ou nos queria ao seu lado, e sim cantava, sorria, e buscava se exibir como um menino que superava a todos, ou pelo menos a si mesmo.
 
 
Eu fui às lagrimas.
 

Um comentário:

  1. não entendi muito bem essa historia, mas do que deu para entender e bem bonita

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