Atender ao chamado: algo maior que o coração. |
O mais interessante
nisso tudo é que, antes de ser um ser normal por assim dizer, o iniciado, como
podemos dizer, já sucinta uma forma de lidar com a natureza de maneira
diferente. Ou seja, dentro de seu coração burla uma vontade hibrida, ou seja,
uma mistura entre o bem o mal, entre a matéria e o espirito, entre a magia e a
realidade, entre o exotérico e esotérico...
Ou melhor dizendo... Todos temos esse chamado, porém não
ouvimos! Aqueles mais especiais, donos de si mesmos, ou de uma coragem simples,
ao passo maior que uma montanha, atendem ao chamado, à vocação, a si mesmo.
Em nossos dias, não é diferente, porém há mais
possibilidades de desvirtuamento graças a mestres que não o são, a instituições
falhas, e assim, perdendo-se em devaneio pelo reflexo, o fiel se vai como uma
folha ao vento, como plásticos em furacões, a depender de seu estado, ou melhor
problema, então é sucumbido pelas palavras de senhores da oratória,
desconhecedores da tradição, mas conhecedores do vão.
Tais senhores, já implicitados por Platão no mito da
caverna, não assombram, mas se valem de monstros em forma de homens, de
máscaras bondosas, de fieis seguidores de um bem inventado. Isso em todos os
aspectos, político, religioso, científico e até filosófico, com intuito de
esconder os reais interesses.
Não é de hoje, claro. Até mesmo, há dois mil anos, antes
de Cristo, as civilizações douradas que se têm notícia, foram corroídas por
pretensões humanas da pior espécie, porém houve naquela data senhores que já
conheciam as duas faces da moeda e conseguiram fincar-se em apenas uma: a do Bem.
Falo dos grandes mestres da humanidade, dos quais nos saíram
palavras, máximas, livros, conhecimentos, vida prática, ou até mesmo sem que
deixassem algo, se tornaram mitos, no bom sentido da palavra, e transformaram o mundo. Neste último exemplo
cabe citar nosso amigo e querido Jesus, que virara Cristo, depois de iniciado,
e que, apesar de trazer à tona valores maiores do que o homem, não escrevera
nada. Apenas seus discípulos, depois de séculos!
O mesmo aconteceu com Sócrates, o qual, depois de sua morte,
fora homenageado por seu maior discípulo, Platão, que, iniciado, transformou o
Ocidente, ainda que desvirtuado em alguns meios filosóficos e cristãos.
O chamado
Cristian Jacq, um dia, nos contou a história daqueles homens
que um dia trabalhavam no feitio dos belos desenhos de dentro das pirâmides, as
quais serviram, por muito tempo, de templos iniciáticos aos egípcios. O nome de
um dos personagens era Paneb.
Paneb trabalhava na agricultura com seus pais, pobres, mas
não tinha muito apreço ao que fazia, mesmo sabendo que era essencial à sua família.
A razão de Paneb não era apenas a falta de amor ao que fazia, mas ao que
sentia. Todos os dias, depois do pôr do sol, sentava-se em meio ao plantio,
pegava lápis especiais para pintura e iniciava o que ele chamava de agonia...
Nosso personagem desenhava com brilho a natureza. Era o que
mais sabia fazer. Contudo, não se sentia satisfeito, pois seu pai dizia que
aquilo não era trabalho para um homem forte, que era seu filho, o qual detinha
em suas veias uma fonte de amor à arte, mas não era apreciada pelos motivos
expostos.
Assim, um dia, seu coração gritou mais alto, e soubera que
os artesãos da pirâmide precisavam de artistas para continuar as obras da
tradição. E foi. Mesmo sendo um grande artista, Paneb sentiu que não era apenas
bater à porta e dizer “agora, quero ser um iniciado nos mistérios das artes
profundas”, não, não era.
Deixando sua família à mercê do pai, Paneb foi ao encontro da
grande voz que ressoava em seu coração. E não voltara nunca mais. A principio,
correra sem direção, distribuindo saraivadas de tapas, em brigas, colhendo mais
que arroz e trigo, colhera inimigos por onde andara, e conseguira enfim chegar
aos templos, nos quais, ali, vários discípulos e sacerdotes por perto
trabalhavam como deuses na confecção de desenhos, os quais, até hoje, intrigam
turistas no mundo inteiro...
E Paneb, por achar que seria um deles de imediato, conseguira
fazer mais inimigos, o que salientou mais distância ao seu Ideal. Isso, no
entanto, não lhe dispersou. Muito pelo contrário. A voz que ouvia de seu
coração era tão forte que conseguira buscar, em meio a intrigas e desavenças, a
concórdia, a paz, e a amizade de todos.
E assim, a cada dia, passou a frequentar o vilarejo onde seria, primeiramente, um filho
de uma grande família, diferente daquela que um dia fugira. E mais que isso:
com o passar dos anos, foram feitos vários trabalhos, e neles, como se era de
saber, um pouco dos mistérios.
Assim, agindo em função de algo maior – os deuses! – Paneb iniciara
uma nova forma de desenho. Neles o brilho era o mesmo, porém de um relevo
especial, do qual daria para se admitir que eram quase reais. E mais. Muito
mais.
Depois de anos, então, os sacerdotes puderam apreciar dos
mais simples aos mais complexos trabalhos do candidato à artista do templo.
Viram que Paneb não só melhorava em artes, mas seu caráter fora apreciado
quando o pré-discípulo passava por situações de conflito, o que lhe dera mais
caráter de confronto consigo mesmo.
Paneb foi iniciado nos mistérios, após. Seu nome mudara, sua
pessoa mudara, sua forma de lidar com as pessoas e mundo, idem.
Aquele jovem que um dia brilhava antes que o sol lhe tomasse,
brilhava mais ainda. Paneb, agora, antes de artista era um ser que entendia os
mistérios das artes divinas.
A Beleza e a Coragem do Coração
Hoje em dia, claro, ficamos à espreita desses sentimentos
que desperta uma luz interna, da qual, porém, não entendemos nada. Mistérios
que nos batem à porta em chamados abstratos, sem cor e desejos, mas que nos
guiam em forma de pessoas, instituições, pais, mães, mestres... de modo que nos
enlouquecem ou mesmo nos mata de tanto chamar.
São os chamados. Um chamado, no entanto, vem de uma
simplicidade notória, tal qual o de uma mãe, que chama o filho na hora do
almoço, e escutamos apenas quando nos interessa. O chamado, tão sagrado quanto,
revela sensações desconhecidas, beirando a dor, ao passo frios e compassados
como o de um mestre maior que nos direciona a uma montanha solitária.
E teimosos que somos, não ouvimos, e quando ouvimos
acreditamos que não somos especiais, e que tudo não passa de um “sensação”
humana... Claro, não há sensações além das nossas. Não há meios de encontrar o
sagrado sem que seja por intermédio dele...
A beleza é infinita, pois transcende a envergadura das
paralelas de Einstein, da comunicação dos anjos, das palavras sublinhadas pelas
nuvens, do sentido do arco-íris. Não há mais coragem do que aceitar a si mesmo,
ou em aceitar sua vocação seja para o que for... gari, cobrador, varredor de
rua, sapateiro, escritor de poucas linhas, poeta de poucas palavras, sem
livros; não há nada mais corajoso do que aceitar a condição de ser o que somos,
negros, gordos, magros, deficientes, pálidos, indianos, africanos,
brasileiros...
Temos que aceitar nosso primordial chamado.