segunda-feira, 29 de abril de 2013

Processos Iniciáticos: caminhos para o sagrado VII

O CHAMADO PARA A INICIAÇÃO



Atender ao chamado: algo maior que o coração.


           

O  mais interessante nisso tudo é que, antes de ser um ser normal por assim dizer, o iniciado, como podemos dizer, já sucinta uma forma de lidar com a natureza de maneira diferente. Ou seja, dentro de seu coração burla uma vontade hibrida, ou seja, uma mistura entre o bem o mal, entre a matéria e o espirito, entre a magia e a realidade, entre o exotérico e esotérico...

Ou melhor dizendo... Todos temos esse chamado, porém não ouvimos! Aqueles mais especiais, donos de si mesmos, ou de uma coragem simples, ao passo maior que uma montanha, atendem ao chamado, à vocação, a si mesmo.

Em nossos dias, não é diferente, porém há mais possibilidades de desvirtuamento graças a mestres que não o são, a instituições falhas, e assim, perdendo-se em devaneio pelo reflexo, o fiel se vai como uma folha ao vento, como plásticos em furacões, a depender de seu estado, ou melhor problema, então é sucumbido pelas palavras de senhores da oratória, desconhecedores da tradição, mas conhecedores do vão.

Tais senhores, já implicitados por Platão no mito da caverna, não assombram, mas se valem de monstros em forma de homens, de máscaras bondosas, de fieis seguidores de um bem inventado. Isso em todos os aspectos, político, religioso, científico e até filosófico, com intuito de esconder os reais interesses.

Não é de hoje, claro. Até mesmo, há dois mil anos, antes de Cristo, as civilizações douradas que se têm notícia, foram corroídas por pretensões humanas da pior espécie, porém houve naquela data senhores que já conheciam as duas faces da moeda e conseguiram fincar-se  em apenas uma: a do Bem.

Falo dos grandes mestres da humanidade, dos quais nos saíram palavras, máximas, livros, conhecimentos, vida prática, ou até mesmo sem que deixassem algo, se tornaram mitos, no bom sentido da palavra, e  transformaram o mundo. Neste último exemplo cabe citar nosso amigo e querido Jesus, que virara Cristo, depois de iniciado, e que, apesar de trazer à tona valores maiores do que o homem, não escrevera nada. Apenas seus discípulos, depois de séculos!

O mesmo aconteceu com Sócrates, o qual, depois de sua morte, fora homenageado por seu maior discípulo, Platão, que, iniciado, transformou o Ocidente, ainda que desvirtuado em alguns meios filosóficos e cristãos.


O chamado


Cristian Jacq, um dia, nos contou a história daqueles homens que um dia trabalhavam no feitio dos belos desenhos de dentro das pirâmides, as quais serviram, por muito tempo, de templos iniciáticos aos egípcios. O nome de um dos personagens era Paneb.

Paneb trabalhava na agricultura com seus pais, pobres, mas não tinha muito apreço ao que fazia, mesmo sabendo que era essencial à sua família. A razão de Paneb não era apenas a falta de amor ao que fazia, mas ao que sentia. Todos os dias, depois do pôr do sol, sentava-se em meio ao plantio, pegava lápis especiais para pintura e iniciava o que ele chamava de agonia...

Nosso personagem desenhava com brilho a natureza. Era o que mais sabia fazer. Contudo, não se sentia satisfeito, pois seu pai dizia que aquilo não era trabalho para um homem forte, que era seu filho, o qual detinha em suas veias uma fonte de amor à arte, mas não era apreciada pelos motivos expostos.

Assim, um dia, seu coração gritou mais alto, e soubera que os artesãos da pirâmide precisavam de artistas para continuar as obras da tradição. E foi. Mesmo sendo um grande artista, Paneb sentiu que não era apenas bater à porta e dizer “agora, quero ser um iniciado nos mistérios das artes profundas”, não, não era.
Deixando sua família à mercê do pai, Paneb foi ao encontro da grande voz que ressoava em seu coração. E não voltara nunca mais. A principio, correra sem direção, distribuindo saraivadas de tapas, em brigas, colhendo mais que arroz e trigo, colhera inimigos por onde andara, e conseguira enfim chegar aos templos, nos quais, ali, vários discípulos e sacerdotes por perto trabalhavam como deuses na confecção de desenhos, os quais, até hoje, intrigam turistas no mundo inteiro...

E Paneb, por achar que seria um deles de imediato, conseguira fazer mais inimigos, o que salientou mais distância ao seu Ideal. Isso, no entanto, não lhe dispersou. Muito pelo contrário. A voz que ouvia de seu coração era tão forte que conseguira buscar, em meio a intrigas e desavenças, a concórdia, a paz, e a amizade de todos.

E assim, a cada dia, passou a frequentar  o vilarejo onde seria, primeiramente, um filho de uma grande família, diferente daquela que um dia fugira. E mais que isso: com o passar dos anos, foram feitos vários trabalhos, e neles, como se era de saber, um pouco dos mistérios.

Assim, agindo em função de algo maior – os deuses! – Paneb iniciara uma nova forma de desenho. Neles o brilho era o mesmo, porém de um relevo especial, do qual daria para se admitir que eram quase reais. E mais. Muito mais.

Depois de anos, então, os sacerdotes puderam apreciar dos mais simples aos mais complexos trabalhos do candidato à artista do templo. Viram que Paneb não só melhorava em artes, mas seu caráter fora apreciado quando o pré-discípulo passava por situações de conflito, o que lhe dera mais caráter de confronto consigo mesmo.

Paneb foi iniciado nos mistérios, após. Seu nome mudara, sua pessoa mudara, sua forma de lidar com as pessoas e mundo, idem.

Aquele jovem que um dia brilhava antes que o sol lhe tomasse, brilhava mais ainda. Paneb, agora, antes de artista era um ser que entendia os mistérios das artes divinas.



A Beleza e a Coragem do Coração


Hoje em dia, claro, ficamos à espreita desses sentimentos que desperta uma luz interna, da qual, porém, não entendemos nada. Mistérios que nos batem à porta em chamados abstratos, sem cor e desejos, mas que nos guiam em forma de pessoas, instituições, pais, mães, mestres... de modo que nos enlouquecem ou mesmo nos mata de tanto chamar.

São os chamados. Um chamado, no entanto, vem de uma simplicidade notória, tal qual o de uma mãe, que chama o filho na hora do almoço, e escutamos apenas quando nos interessa. O chamado, tão sagrado quanto, revela sensações desconhecidas, beirando a dor, ao passo frios e compassados como o de um mestre maior que nos direciona a uma montanha solitária.

E teimosos que somos, não ouvimos, e quando ouvimos acreditamos que não somos especiais, e que tudo não passa de um “sensação” humana... Claro, não há sensações além das nossas. Não há meios de encontrar o sagrado sem que seja por intermédio dele...

A beleza é infinita, pois transcende a envergadura das paralelas de Einstein, da comunicação dos anjos, das palavras sublinhadas pelas nuvens, do sentido do arco-íris. Não há mais coragem do que aceitar a si mesmo, ou em aceitar sua vocação seja para o que for... gari, cobrador, varredor de rua, sapateiro, escritor de poucas linhas, poeta de poucas palavras, sem livros; não há nada mais corajoso do que aceitar a condição de ser o que somos, negros, gordos, magros, deficientes, pálidos, indianos, africanos, brasileiros...


Temos que aceitar nosso primordial chamado.

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