Na Escola: Pai, obrigado por essa riqueza. |
Ontem, antes de dormir, meu filho, de quatro anos, aprendia
a orar. Juntando suas mãozinhas, e ao lado da mãe, fazia-me sorrir com seus
atos pequenos, que significavam a eternidade. Ali, do lado oposto ao meu, filho
e mãe pediam a Deus proteção, paz e agradeciam pelo dia que vivenciaram...
Não sei se conseguirei esquecer a mágica das palavras que
saiam da boca de minha esposa, repetidas de maneira linda por Pedro, o qual,
apesar do tamanho, um pouco grande para um menino de sua idade, parecia-me, aos
meus olhos, um anjo.
Um anjo que claudicava nas palavras, e que as pronunciava sem
saber seu significado, seu real valor; porém, quando unia suas pequenas mãos,
quase que fechando os olhinhos, meu coração se partira em muitos, e quase
chorei...
A paz que meu filho me passava não era a mesma de um
silêncio que se consegue com o fim dos barulhos, não era a paz que governos,
homens, mulheres, mães vão atrás. Era a mesma que há muito o espirito humano
tenta explicar, e não consegue.
Pedro e sua mãe, um par perfeito de dois logos, cujo
terceiro sou eu, se infiltravam sorrateiramente num mundo sublime, de leveza,
semelhante apenas aos jardins imensos que se combinam com músicas que nos
elevam e atravessam nossa alma, de vez em quando. Era de levitar.
Eu, como expectador, sorria baixinho, colocando meu rosto
num travesseiro, e ao mesmo tempo pensava... “meu Deus, que lindo!”. Nunca em
minha vida pensara eu que poderia sentir a pureza de um ato, a verdade de um
pessoa, o amor na sua forma mais concreta.
A beleza ali se fez; o amor também. A paz que senti, ainda
que o momento fosse um tanto lúdico, transcendeu minha compreensão de mundo. Ou
seja, refleti acerca das crianças, das pessoas, da sociedade, de um mundo, até
mesmo sobre Deus, o que sempre faço.
Tudo isso em questão de segundos. Assim, de alguma forma, pude
participar do refazimento de um universo que precisa da atenção do homem. Um
universo que se putrefa com o tempo,
e vira lixo a depender de nossos atos, de nossa hipocrisia...
A oração bela de meu filho – na qual ele dizia “Papai do
Céu, proteja minha mamãe, meu papai...” – fez-me pensar que precisamos não
apenas da simplicidade, mas trabalhar a favor dela. Somos complexos, no
entanto, e buscamos a simplicidade em meio a confusões, a conflitos, a loucuras
diárias... Enfim, estamos sendo incoerentes com nossos princípios, os quais nos
fez buscadores de soluções claras, límpidas, e hoje, presos em bolas de neves
que criamos, chegamos a procurar batatas em pés de goiabas, e vice-versa.
Hoje, em meio a um universo que nos pede organização não
somente externa, ficamos estáticos e teóricos tentando entender o que significa
paz interna. Paz interna, descobri, é a
oração do meu filho.
...E voltando à oração, depois que me via sorrir baixinho
ele dizia, “aí, mãe, o papai não que fazê!” – já sentindo a importância do
pequeno ritual, no qual, acredito, se continuar, vai trazer a ele a paz que
merece em toda sua vida... Pois, como dizia um grande filósofo hindu, “Nas
orações, não nos comunicamos apenas com Deus, mas com todos”.
E naquele dia, fiz minha pequena oração – pois acredito em
atos que nos distinguem das demais espécies – e ela, a oração, não é apenas
esse complemento diferenciador, mas uma forma deixada pelos sábios, uns em
forma de trabalho, outros em busca de um ideal, mais outros em forma de
práticas diárias em respeito e dedicação, mas a maioria, na calada da noite,
agradecendo aos céus, seja ele exterior ou interior, pelo grande dia, pela
preparação para o outro.
E aqui, agradeço.
Pai, obrigado pelo grande e lindo filho que tenho.
Dê-lhe conhecimento, amor e segurança. Proteja-o, Pai.
Pela linda esposa e companheira,
Pela grande família,
Pelos irmãos, e pela grande mãe que tive e terei sempre.
Pai, guarde a todos em seu coração.
Obrigado.
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