Já pescou alguma coisa hoje? |
Um dia um grande professor nos disse “quando eu vou pescar,
fico pensando: ‘o que posso pescar da vida?’”, e continuou... “Muitos não se
questionam a respeito. Nem querem saber. Mas, no lago da vida, temos que sempre
que fazer essa pergunta, se não acabamos por não pescar nada”...
Isso tudo antes de iniciar uma aula de filosofia, na qual
todos ficavam de olhos atentos às palavras e sorrisos infinitos que saiam de
seus olhos, sempre que nos via com nossas feições pasmas, arregaladas, como crianças
frente ao desconhecido...
Realmente somos crianças. Em algum nível, claro. A natureza
nos faz enfrentar certos mistérios dentro dos quais ficamos cegos naqueles
instantes, e prontos para correr. É humano, é natural ter medo do desconhecido,
mas é muito mais dar um passo à frente, como se o medo fosse uma energia
benéfica, não maléfica, a ponto de sairmos correndo... É preciso ser
questionador, mas é muito mais preciso dar passos rumos às respostas, mesmo que
achemos que tais questionamentos sejam portas.
É inerente a todos o medo, o não medo, o desespero, a falta
de iniciativa graças a pensamentos retrógrados; mas também é preciso retroagir –
não de medo – às vezes, para que possamos enfrentar o problema com mais garras,
assim como uma catapulta que volta uma pedra até o inicio com a finalidade de
soltá-la ao seu objetivo, a depender, tão longe quanto da primeira vez...
E a pesca?
A essência da vida sabemos. Dar passos rumo a ela, difícil.
Com mentes voltadas a problemas, ficamos sempre para a ultima hora ir a uma
igreja, a uma viagem, cuidar de si mesmo, no sentido mais filosófico possível,
enfim... Refletir acerca de Deus e seus mistérios.
Contudo, e apesar de tudo, nem quando estamos em paz,
conseguimos ficar em paz, pois a correria, agora, toma conta de nossos corpos,
mentes, veias, com se estivéssemos correndo, trabalhando, e, novamente, com
aquela sensação de que não há mais nada a fazer do que ser um homem do tempo de
hoje – preocupado, sorriso falso, bem por fora, mas desesperado por dentro,
iludido com as resoluções politicas, e... Louco para sair na sexta-feira e
tomar uma cerveja com os amigos...
Talvez não saibamos, mas a tônica maior, além daquela básica
que sabemos, é integrar, além de refletir; é comungar valores, além de trabalhar;
é traduzir o que somos em cada tarefa, além de pensar em terminá-la. É subsistir
ao mal, antes de querer o bem. É tentar amar a si mesmo, antes de amar o
próximo...
Não há outro meio de se conhecer a Deus, senão nos meandros
pelos quais passamos, ou seja, aquele que os deuses nos dão todos os santos
dias. Não é pensar em igrejas, em paz, em amor, se não sabemos lidar com
pessoas em nossos caminhos. Não há pensar em calmaria, se não conseguimos apaziguar
nossa própria guerra pessoal. É impossível.
Buscar a Deus nas mínimas coisas é belo, é humano. É um ato
que fora praticado deveras por muitos filósofos, mas cada um o fizera de acordo
com suas possibilidades, o que quer dizer que não estacionaram no tempo e
iniciaram processos de questionamentos, com as mãos no queixo, como a estátua “o
pensador” de Rodin. Todos eles, sem exceção, colheram frutos de suas vidas, que
foram tão perturbadas quanto às nossas, e colocaram, em suas sacolas, apenas “peixes”
que valiam a pena...
Somos filósofos também, mas estamos deixando que os
problemas sejam uma segunda pessoa, ou terceira, ou quarta, de modo a
interferir em nossas práticas naturais em busca de mistérios, em busca de Deus.
Claro que um sala vazia, com paredes brancas, cheia de quadros belos, e uma
música clássica, de preferência de Bach, nos concederia mais possibilidades de
reflexões, nos facilitando a busca da paz, do amor, por meio de pensamentos
sagrados, como numa oração...
Porém, a vida nossa de cada dia nos leva a pensar que não
podemos pensar em Deus, praticá-lo, busca-lo, reverenciá-lo, de forma que
nascem mais problemáticos a cada dia do que em toda a existência humana! É um
erro.
Temos que harmonizar tudo com todos, ao Todo. Essa é palavra
de ordem. Quer dizer, trazer à tona nossos melhores sentimentos, palavras,
atos, valentia, coragem, temperança, moral, ética, aqui e agora, seja no
trabalho, em casa, no banheiro, como se a igreja estivesse presente, aqui e
agora. Se não há tal possibilidade, aprendamos com os erros – e façamos isso de
uma máxima real, e que não fique apenas como uma frase de efeito depois de um
escorregão, pois todos os erros são necessários, assim como a falta de luz
precedendo a própria luz.
Um dos nossos males talvez seja esse, a incoerência – como eu
sempre digo em meus textos --, pois, mesmo depois dos escorregões, caímos em
outro, em outro, em outro... Como se por nada tivéssemos passado! É assim
mesmo... Não precisamos pirar. Se nesse caldeirão temos tudo, por que não
levamos todos eles para nossa Caixa de Pandora (nossas almas), e harmonizamos?
Difícil. Somos deseducados desde eras passadas, e não vai
ser agora que vamos levar para o nosso dia a dia o que nos fizeram acreditar
com mentiras que se tornaram verdades. Mesmo assim, é sempre bom, quando
observarmos a natureza, a de fora, saber que nossas naturezas, pela qual
passamos diariamente, não estão desconectadas com o todo. E se nos abstivermos
desse pensamento, vamos correr atrás de uma paz que já está em nós, há muito, e
não sabemos...
Afinal de contas, Deus está em tudo.
Afinal de contas, Deus está em tudo.
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