quinta-feira, 4 de abril de 2013

A Pesca



Já pescou alguma coisa hoje?



Um dia um grande professor nos disse “quando eu vou pescar, fico pensando: ‘o que posso pescar da vida?’”, e continuou... “Muitos não se questionam a respeito. Nem querem saber. Mas, no lago da vida, temos que sempre que fazer essa pergunta, se não acabamos por não pescar nada”...

Isso tudo antes de iniciar uma aula de filosofia, na qual todos ficavam de olhos atentos às palavras e sorrisos infinitos que saiam de seus olhos, sempre que nos via com nossas feições pasmas, arregaladas, como crianças frente ao desconhecido...

Realmente somos crianças. Em algum nível, claro. A natureza nos faz enfrentar certos mistérios dentro dos quais ficamos cegos naqueles instantes, e prontos para correr. É humano, é natural ter medo do desconhecido, mas é muito mais dar um passo à frente, como se o medo fosse uma energia benéfica, não maléfica, a ponto de sairmos correndo... É preciso ser questionador, mas é muito mais preciso dar passos rumos às respostas, mesmo que achemos que tais questionamentos sejam portas.

É inerente a todos o medo, o não medo, o desespero, a falta de iniciativa graças a pensamentos retrógrados; mas também é preciso retroagir – não de medo – às vezes, para que possamos enfrentar o problema com mais garras, assim como uma catapulta que volta uma pedra até o inicio com a finalidade de soltá-la ao seu objetivo, a depender, tão longe quanto da primeira vez...

E a pesca?

A essência da vida sabemos. Dar passos rumo a ela, difícil. Com mentes voltadas a problemas, ficamos sempre para a ultima hora ir a uma igreja, a uma viagem, cuidar de si mesmo, no sentido mais filosófico possível, enfim... Refletir acerca de Deus e seus mistérios.

Contudo, e apesar de tudo, nem quando estamos em paz, conseguimos ficar em paz, pois a correria, agora, toma conta de nossos corpos, mentes, veias, com se estivéssemos correndo, trabalhando, e, novamente, com aquela sensação de que não há mais nada a fazer do que ser um homem do tempo de hoje – preocupado, sorriso falso, bem por fora, mas desesperado por dentro, iludido com as resoluções politicas, e... Louco para sair na sexta-feira e tomar uma cerveja com os amigos...

Talvez não saibamos, mas a tônica maior, além daquela básica que sabemos, é integrar, além de refletir; é comungar valores, além de trabalhar; é traduzir o que somos em cada tarefa, além de pensar em terminá-la. É subsistir ao mal, antes de querer o bem. É tentar amar a si mesmo, antes de amar o próximo...

Não há outro meio de se conhecer a Deus, senão nos meandros pelos quais passamos, ou seja, aquele que os deuses nos dão todos os santos dias. Não é pensar em igrejas, em paz, em amor, se não sabemos lidar com pessoas em nossos caminhos. Não há pensar em calmaria, se não conseguimos apaziguar nossa própria guerra pessoal. É impossível.

Buscar a Deus nas mínimas coisas é belo, é humano. É um ato que fora praticado deveras por muitos filósofos, mas cada um o fizera de acordo com suas possibilidades, o que quer dizer que não estacionaram no tempo e iniciaram processos de questionamentos, com as mãos no queixo, como a estátua “o pensador” de Rodin. Todos eles, sem exceção, colheram frutos de suas vidas, que foram tão perturbadas quanto às nossas, e colocaram, em suas sacolas, apenas “peixes” que valiam a pena...

Somos filósofos também, mas estamos deixando que os problemas sejam uma segunda pessoa, ou terceira, ou quarta, de modo a interferir em nossas práticas naturais em busca de mistérios, em busca de Deus. Claro que um sala vazia, com paredes brancas, cheia de quadros belos, e uma música clássica, de preferência de Bach, nos concederia mais possibilidades de reflexões, nos facilitando a busca da paz, do amor, por meio de pensamentos sagrados, como numa oração...

Porém, a vida nossa de cada dia nos leva a pensar que não podemos pensar em Deus, praticá-lo, busca-lo, reverenciá-lo, de forma que nascem mais problemáticos a cada dia do que em toda a existência humana! É um erro.
Temos que harmonizar tudo com todos, ao Todo. Essa é palavra de ordem. Quer dizer, trazer à tona nossos melhores sentimentos, palavras, atos, valentia, coragem, temperança, moral, ética, aqui e agora, seja no trabalho, em casa, no banheiro, como se a igreja estivesse presente, aqui e agora. Se não há tal possibilidade, aprendamos com os erros – e façamos isso de uma máxima real, e que não fique apenas como uma frase de efeito depois de um escorregão, pois todos os erros são necessários, assim como a falta de luz precedendo a própria luz.

Um dos nossos males talvez seja esse, a incoerência – como eu sempre digo em meus textos --, pois, mesmo depois dos escorregões, caímos em outro, em outro, em outro... Como se por nada tivéssemos passado! É assim mesmo... Não precisamos pirar. Se nesse caldeirão temos tudo, por que não levamos todos eles para nossa Caixa de Pandora (nossas almas), e harmonizamos?

Difícil. Somos deseducados desde eras passadas, e não vai ser agora que vamos levar para o nosso dia a dia o que nos fizeram acreditar com mentiras que se tornaram verdades. Mesmo assim, é sempre bom, quando observarmos a natureza, a de fora, saber que nossas naturezas, pela qual passamos diariamente, não estão desconectadas com o todo. E se nos abstivermos desse pensamento, vamos correr atrás de uma paz que já está em nós, há muito, e não sabemos...

Afinal de contas, Deus está em tudo.

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