Nada melhor do que sentir o poder da montanha. |
“A palavra eclético, atualmente, significa aceitar tudo de
bom grado, o que, na realidade, pode ser perigoso, pois, se somos humanos,
devemos respeitar nosso corpo e mente tal qual respeitamos nossa casa. Vocês
não aceitariam baratas por todos os lados de suas casas, não é?... Então
façamos com que sejamos nossas casas, e nossos olhos e mentes filtros naturais.”
Formado em Regência pela UnB, além de Direito e Filosofia,
meu amigo professor Carlos Ilha dava aulas de filosofia clássica em Nova
Acrópole, uma respeitada escola na qual tive o prazer de estudar durante muito
tempo...
Ilha estava a se referir ao Ser. Sei que para muitos soa como
algo confuso, complexo até, e confesso que, no inicio, para mim, também. No
entanto, para desfazer determinadas opiniões preconceituosas em relação ao que
o mestre disse, posso tentar dizer algo...
O Ser, inviolável, impenetrável, sutilíssimo, cúspide maior
dos seres em geral, seríamos nós. Segundo autores mais complexos como Platão,
Helena P. Blavatsky, Parmênedes, seria o Nows – o espírito no homem. Bem... É
melhor que sintetizemos essa aula...
Na realidade, se formos mais além, vamos dizer que o homem
precisa entender que existe o Inegoísmo, a Vontade, a Bondade... Todos de uma
maneira além-pura, inviolável, sem os quais não há possibilidade de sê-lo. Entender
que penetrar no Ser seria tentar moldar, primeiramente, uma personalidade, a
qual, dentro que nos foi dado desde o nascimento, precisa ser moldada para
elevar-se e chegar ao fim do topo, ou pelo menos parecer-se com ele.
E nessa tentativa eterna de o homem lidar consigo mesmo, em
batalhas diárias entre o Bem e o Mal, nos surgem possibilidades de declinar e
elevar nossas características humanas, não animais, podando, pelo grande Ideal,
até um dia encostarmos nas vestes de prata do grande espírito.
Mas... Engana-se quem diria “então a personalidade é algo
mau?”... Depende do que você entende por mau, porque tudo que há na vida –
assim como foi e é demonstrado por várias civilizações – pode-se chamar-se de
necessidade, de bom, de certo... Mas, por outro lado, misterioso, obscuro,
indizível... E assim por diante.
A personalidade é o chamado degrau necessário para chegarmos
ao que realmente somos. Por isso, como acreditavam no passado, há a necessidade
de entender as diversas vidas após a morte (o que seria apenas um rótulo), a saber
que todos a possuímos, e que levamos conosco, tão naturalmente quanto uma brisa
que bate num mar.
E podando nossa personalidade, a cada vida, estaríamos sempre
mais perto do Ser, ou seja, mais perto do que realmente somos. Ilustrando...
Assim como um grande círculo que possui um pequeno ponto dentro, ao centro, e
ao redor deste vários pontos, podemos dizer que o ponto seria o ser, e que os
outros que estariam ao seu redor seriam os “eus” diários que aparecem em nossa
personalidade, durante o correr de nossas vidas.
Tais pontos, que estariam ao redor do ponto maior ao centro,
teriam que estar voltados ao maior como filhos ao pai. Mas estamos falando de
personalidade, atributos, ser... Nada que a ele se iguala. Por quê?
Mais uma vez ilustrando...
Se olharmos para o sol e queremos entendê-lo, o que podemos
fazer? Pesquisamos e buscamos saber a realidade física que foi esse grande disco.
Mas se nos aprofundarmos, teremos a possibilidade de compreender o quão
misterioso foi para determinadas nações; e mais, se iniciarmos um processo ritualístico
– baseado na tradição – veremos que o sol, agora não este que vemos e nos iluminamos,
faz parte de nós como a própria necessidade de viver.
Assim é a personalidade, o ser, seus atributos... são apenas
um. Mas o primeiro tem sua necessidade de ser, assim como o segundo. Não
podemos, no entanto, dizer que um é mau e o outro é bom! Todos participam de
acordo com a sua natureza, ainda que não saibamos.
No entanto, é mais que necessário intuir: não nascemos
vocacionados ao ser. É preciso mais que uma vida para viver, ainda que em
simples atos, pequenos momentos, e saibamos o quanto precisamos nos ver no
espelho da grande Vida.
Eclético?
O ecletismo, baseado no que foi dito, seria a abrangência de
tudo, sem o mínimo filtro, sem o mínimo referencial. E isso nos leva a trazer à
tona valores que não interessam ao ser, ao mais puro, o não egoísta e sim a uma
personalidade volúvel, plástica, que se vai como saquinhos ao vento por
qualquer coisa, qualquer brisa.
Uma personalidade que titubeia nas decisões, e que se limita
a não ter limites nenhum. E assim, de acordo com sua natureza, assim sempre o
será, afastar-se-á do ser, do grande espírito, dos mistérios da Vida, é cairá
no fosso dos conceitos sem conceitos...
E quando o ecletismo nos vem como simples ponte para o não
preconceito, na realidade, vem-nos como uma frágil construção que se igualará
aos maiores castelos de areia. Por isso, precisa-se entender que aqueles
pontos, ao redor do grande ponto ao centro, somos nós em busca de uma resposta
ao que realmente somos, mas que só a encontramos quando olhamos para dentro...
Dentro de nós.
Obrigado, mestre.
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