quarta-feira, 17 de abril de 2013

Processos Iniciáticos: Caminhos para o sagrado III



Deméter, deusa da agricultura, na Grécia.




O mais predominante das etapas de iniciação era a coragem e a dação do jovem que iria fazer parte de um novo mundo, melhor dizendo, de uma nova vida. Seu coração, firme, o levaria a níveis mais dificultosos possíveis, os quais se tornariam mais difíceis com o subir dos degraus, assim como no Antigo Egito... Mas falemos dele mais tarde.

Ao contrário do que se pensa, a reclusão de tais indivíduos iniciados não existia, mas sim o modo de lidar com a vida, com as pessoas, com o próprio mundo; assim como uma lâmina, suas palavras cortavam outras que se desvencilhavam da verdade; a mente, diferente das que tortuosamente corriam para caminhos sem eixo, a do iniciado era reta, sempre sacralizada, em nome de símbolos que meneavam sua alma.

Seu olhar, ainda mais claro, visualizava um pouco mais além do natural. Via a política, a religião, a própria sociedade e sua submissão como necessidades pelas quais a natureza humana teria que passar. Deus, enfim, significava o manancial invisível, complexo ao olhar humano, e ao tempo simples ao olhar de uma criança. A consciência, assim, teria voltado ao senso de pureza, voluntariamente.

Contudo sabia que os deuses eram forças misteriosas com as quais o homem devia manter-se em comunhão, se quisesse manter a ordem e o equilíbrio do mundo; sabia, também, que  o próprio homem tinha em suas veias o mal que avassalava a natureza dele próprio, o que fazia com que os iniciados perdessem um pouco de suas esperanças em relação ao tempo em que viviam, pois, se não houvesse os rituais sagrados, os meios pelos quais tínhamos acessos aos mistérios, não haveria mais pontes para o sagrado, apenas vidas seguindo seus próprios rumos, com interesses diversos.

Elêusis

Já que estamos nos envolvendo o bastante para entender o complexo ritual mágico nas civilizações, e o porquê dele, podemos nos estender e retratar um pouco do que foi com os civilizações ainda mais interessantes. Falamos, em outro texto, um pouco dos druidas e sua maneira de lidar com o mundo das iniciações.

Então... Vamos avançar, invadir as escolas de iniciação e delas falar um pouco. Ou melhor, falemos de um dos mais interessantes, que foi o Mistérios de Elêusis, na Antiga Grécia, realizado me 6 a.C. e 4 d. C.

Todos sabem que, nesses meios, havia uma filosofia comparada com a das grandes civilizações do passado, como a do Antigo Egito, e há alguns autores até que dizem acerca desse processo como uma cópia daquela civilização, pois o simbolismo é profundo. Em razão dessa profundidade, cristãos à época, por não compreenderem a literalidade dos rituais, chamavam-no de pagãos. Ou seja, sem deus.

Mas os segredos de Elêusis, até hoje, atormentam filósofos, historiadores, sociedades, arqueólogos, pois não deixaram muitas pistas do seu significado. Claro! Era secreto! Porém, um dos mistérios, aludido por Homero, o qual discorre acerca de uma filha de Zeus, a qual, segundo conta o mito, fora raptada por Hades, deixa-nos em sintonia com a tendência não só dos mitos, como também da razão dos segredos que se mantinham nessa escola.

Deméter, deusa da agricultura, mãe da raptada, fora em busca da filha, deixando o mundo que comandava como deusa à mercê de tudo e desolado, gerando fome aos mortais. Deméter teria conseguido trazer a filha, e enfim, as colheitas voltaram, mas, em razão do acordo feito com Hades, Perséfone, a filha, teria que ficar um terço ao lado do marido, a cada ano...

Como no país do Nilo, muitos dos gregos sobreviviam da agricultura, da terra, da chuva, de modo a acreditar que deuses, potencialidades sagradas, estivessem por trás das realidades que ali aconteciam, como chuva em excesso, perda da plantação, às vezes, um eclipse... Enfim, até aqui, como se percebe mesmo até hoje na atual Dinamarca, entre outras, que deuses planejavam o futuro do ser humano, e não menos na antiga Grécia, berço do conhecimento Ocidental, na qual filosofias tradicionais fizeram caminhos para o pouco que o homem moderno tem de bom na educação.

No mito...
...Quando a filha da deusa é raptada, percebe-se que fora a da deusa da agricultura e do maior dos deuses, Zeus, os quais percebem a falta da filha e deixam seus “postos”, desvencilhando de suas obrigações como deuses. Não tanto para Zeus, mas principalmente para Deméter, a qual, segundo conta, viajara para Atena, ido a Elêusis, construído um templo em homenagem à filha, e a trazido dos infernos.

É notório pensar que o plantio devia ter sofrido com a falta de chuva, ou que os deuses teriam saído em busca de sua “filha”, e ao trazê-la, as colheitas teriam sido férteis. No entanto, nos meses em que Perséfone estivesse com o deus do subterrâneo, viria a improdutividade nas colheitas e assim por diante.
Os rituais...

...com a finalidade de trazer elementos secretos e reavivar as colheitas, eram feitos por muitos, incluindo mulheres e escravos. Segundo historiadores, o culto secreto incluía sacrifícios de animais e dias de jejum para os candidatos a iniciados, os mystai.  Sacerdotisas carregavam objetos sagrados dentro de cestas sobre a cabeça; deuses eram representados pelos participantes, com trajes simbólicos, aqui, diziam, homens se vestiam de trajes femininos...

Baubo, deus do divertimento, era representado com piadas, com bebidas que deixavam os jovens mais alegres, e sob esse efeito contagioso de paz e vivacidade, a estátua de Dionísio, deus da fertilidade, do vinho, era carregada. Depois disso, diziam frases enigmáticas que simbolizava a iniciação nos mistérios...

À noite, em Elêusis havia uma cerimônia num templo chamado Telesterion, comandada por um sacerdote, Hierofantes. Nela, para finalizar havia exibição de falos, representações de pênis, assim como no país das pirâmides, em que havia o deus Mino, a representar a fecundidade.

Em Elêusis, durante muito tempo, houve tais celebrações, ainda que não estivesse de acordo com seus objetivos tradicionais, mas deixaram no passado provas de que o ser humano, não somente na Grécia, precisa, de alguma forma, dos mistérios, dos rituais, ainda que soe para muitos brincadeira de crianças, pois o homem, em relação ao conhecimento, nada mais é que uma criança dotada de consciência única ao que faz e pensa.


Os mistérios de Elêusis nunca serão imitados.




Voltamos com mais mistérios.

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