Deméter, deusa da agricultura, na Grécia. |
O mais predominante das etapas de iniciação era a
coragem e a dação do jovem que iria fazer parte de um novo mundo, melhor
dizendo, de uma nova vida. Seu coração, firme, o levaria a níveis mais
dificultosos possíveis, os quais se tornariam mais difíceis com o subir dos
degraus, assim como no Antigo Egito... Mas falemos dele mais tarde.
Ao contrário do que se pensa, a
reclusão de tais indivíduos iniciados não existia, mas sim o modo de lidar com
a vida, com as pessoas, com o próprio mundo; assim como uma lâmina, suas
palavras cortavam outras que se desvencilhavam da verdade; a mente, diferente
das que tortuosamente corriam para caminhos sem eixo, a do iniciado era reta,
sempre sacralizada, em nome de símbolos que meneavam sua alma.
Seu olhar, ainda mais claro,
visualizava um pouco mais além do natural. Via a política, a religião, a
própria sociedade e sua submissão como necessidades pelas quais a natureza
humana teria que passar. Deus, enfim, significava o manancial invisível,
complexo ao olhar humano, e ao tempo simples ao olhar de uma criança. A
consciência, assim, teria voltado ao senso de pureza, voluntariamente.
Contudo sabia que os deuses eram
forças misteriosas com as quais o homem devia manter-se em comunhão, se
quisesse manter a ordem e o equilíbrio do mundo; sabia, também, que o próprio homem tinha em suas veias o mal que
avassalava a natureza dele próprio, o que fazia com que os iniciados perdessem
um pouco de suas esperanças em relação ao tempo em que viviam, pois, se não
houvesse os rituais sagrados, os meios pelos quais tínhamos acessos aos
mistérios, não haveria mais pontes para o sagrado, apenas vidas seguindo seus
próprios rumos, com interesses diversos.
Elêusis
Já que estamos nos envolvendo o
bastante para entender o complexo ritual mágico nas civilizações, e o porquê
dele, podemos nos estender e retratar um pouco do que foi com os civilizações
ainda mais interessantes. Falamos, em outro texto, um pouco dos druidas e sua
maneira de lidar com o mundo das iniciações.
Então... Vamos avançar, invadir
as escolas de iniciação e delas falar um pouco. Ou melhor, falemos de um dos
mais interessantes, que foi o Mistérios de Elêusis, na Antiga Grécia, realizado
me 6 a.C. e 4 d. C.
Todos sabem que, nesses meios,
havia uma filosofia comparada com a das grandes civilizações do passado, como a
do Antigo Egito, e há alguns autores até que dizem acerca desse processo como
uma cópia daquela civilização, pois o simbolismo é profundo. Em razão dessa
profundidade, cristãos à época, por não compreenderem a literalidade dos
rituais, chamavam-no de pagãos. Ou seja, sem deus.
Mas os segredos de Elêusis, até
hoje, atormentam filósofos, historiadores, sociedades, arqueólogos, pois não
deixaram muitas pistas do seu significado. Claro! Era secreto! Porém, um dos
mistérios, aludido por Homero, o qual discorre acerca de uma filha de Zeus, a
qual, segundo conta o mito, fora raptada por Hades, deixa-nos em sintonia com a
tendência não só dos mitos, como também da razão dos segredos que se mantinham
nessa escola.
Deméter, deusa da agricultura,
mãe da raptada, fora em busca da filha, deixando o mundo que comandava como
deusa à mercê de tudo e desolado, gerando fome aos mortais. Deméter teria
conseguido trazer a filha, e enfim, as colheitas voltaram, mas, em razão do
acordo feito com Hades, Perséfone, a filha, teria que ficar um terço ao lado do
marido, a cada ano...
Como no país do Nilo, muitos dos
gregos sobreviviam da agricultura, da terra, da chuva, de modo a acreditar que
deuses, potencialidades sagradas, estivessem por trás das realidades que ali
aconteciam, como chuva em excesso, perda da plantação, às vezes, um eclipse...
Enfim, até aqui, como se percebe mesmo até hoje na atual Dinamarca, entre
outras, que deuses planejavam o futuro do ser humano, e não menos na antiga Grécia,
berço do conhecimento Ocidental, na qual filosofias tradicionais fizeram caminhos
para o pouco que o homem moderno tem de bom na educação.
No mito...
...Quando a filha da deusa é
raptada, percebe-se que fora a da deusa da agricultura e do maior dos deuses,
Zeus, os quais percebem a falta da filha e deixam seus “postos”, desvencilhando
de suas obrigações como deuses. Não tanto para Zeus, mas principalmente para
Deméter, a qual, segundo conta, viajara para Atena, ido a Elêusis, construído um
templo em homenagem à filha, e a trazido dos infernos.
É notório pensar que o plantio
devia ter sofrido com a falta de chuva, ou que os deuses teriam saído em busca
de sua “filha”, e ao trazê-la, as colheitas teriam sido férteis. No entanto,
nos meses em que Perséfone estivesse com o deus do subterrâneo, viria a improdutividade
nas colheitas e assim por diante.
Os rituais...
...com a finalidade de trazer
elementos secretos e reavivar as colheitas, eram feitos por muitos, incluindo
mulheres e escravos. Segundo historiadores, o culto secreto incluía sacrifícios
de animais e dias de jejum para os candidatos a iniciados, os mystai. Sacerdotisas carregavam objetos
sagrados dentro de cestas sobre a cabeça; deuses eram representados pelos
participantes, com trajes simbólicos, aqui, diziam, homens se vestiam de trajes
femininos...
Baubo, deus do divertimento, era
representado com piadas, com bebidas que deixavam os jovens mais alegres, e sob
esse efeito contagioso de paz e vivacidade, a estátua de Dionísio, deus da
fertilidade, do vinho, era carregada. Depois disso, diziam frases enigmáticas
que simbolizava a iniciação nos mistérios...
À noite, em Elêusis havia uma
cerimônia num templo chamado Telesterion, comandada por um sacerdote,
Hierofantes. Nela, para finalizar havia exibição de falos, representações de
pênis, assim como no país das pirâmides, em que havia o deus Mino, a
representar a fecundidade.
Em Elêusis, durante muito tempo,
houve tais celebrações, ainda que não estivesse de acordo com seus objetivos
tradicionais, mas deixaram no passado provas de que o ser humano, não somente
na Grécia, precisa, de alguma forma, dos mistérios, dos rituais, ainda que soe
para muitos brincadeira de crianças, pois o homem, em relação ao conhecimento,
nada mais é que uma criança dotada de consciência única ao que faz e pensa.
Os mistérios de Elêusis nunca serão imitados.
Voltamos com mais mistérios.
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