Talvez seja o mais difícil dos silêncios, esse ao qual me refiro acima. Talvez, na parte mais longínqua do espaço, ou em sepulcros, como a palavra indica, onde não há pessoas, insetos, árvores farfalhando. Não há mulheres se lamentando, homens se gabando, até mesmo quando não falam, pois há o barulho das mentes se digladiando racionalmente, dos olhos tristes, a queres dizer algo, ou do coração louco a explodir de paixão por alguém que não retribui...
Estranho... Precisamos tanto do silêncio, desse momento mágico que os deuses nos presenteou e ao mesmo tempo nos sentimos sós, quando nos encontramos presos aos nossos sentimentos, às nossas reflexões. Será por que temos medo de nos deparar conosco mesmos? Ou não? Será que o silêncio nos faz ir de encontro ao mal, ao ponto de nos infiltrarmos no mais severo do pensamento e não mais voltar?
É uma questão psico-filosófica. Segundo a psicologia atual, não devemos nos sentir sós, ou melhor, não estarmos sós, presos ao que chamamos ego. Este, tão elevado, tão possuidor de raízes materialistas das quais cuidamos e colhemos seu frutos, que é preciso ter alguém para nos abrir em detrimento de algo que nos sufoca... Nosso ego.
Prova disso são pessoas que não param de falar em demasia sobre si mesmas, e se esquecem de que estão acompanhadas, e acreditam naturalmente que devem ser ouvidas, ainda que façamos cara de desinteressados. Para tais pessoas, surgimos em sua vida como latões de depósito nos quais o forçoso aprendizado, advindo de uma vida sem qualquer ânimo, têm por obrigação abrir a tampa.
Por outro lado, há pessoas que em silêncio ficam, em razão do medo de se expressarem e serem sucumbidas pelo maltrato psicológico de outros, que se subjugam racionalmente melhores... E assim, em meio a turmas, ou a duas ou três pessoas, se calam, firmando-se em um silêncio que, a depender da pessoa, pode ensinar ou prejudicar.
Mesmo assim, melhor a tomada de consciência, do centro, da razão, e tentar buscar algo melhor do que um silêncio imposto.
Por outra visão...
Filosoficamente devemos deixar de ter medo do silêncio, desse que, segundo dizem, nos leva à solidão. Precisamos dele, desse meio no qual nos subjugamos, refletimos, melhoramos. Precisamos buscá-lo, reivindicá-lo, se puder, em lugares que, por natureza, pedem o silêncio...
Em casa, quando há a possibilidade de encontrar um lugar, seja o seu quarto, seja na sua sala, quando todos estiverem dormindo, seja no seu escritório, ou então, em sua cama, antes de dormir, sempre com o objetivo de rever o que se fez durante o dia, e peneirar o que sobrou, colocando o restante em seu devido lugar... No corpo.
Na alma, esse segundo ser que nos acorda para a vida, fica o que de bom pescamos no dia anterior, com a finalidade de nos elevar sempre, ainda que saibamos o que vamos encontrar durante o dia, ou mesmo na semana inteira.
Não precisamos ter medo do silêncio, apesar de ele nos acusar de maldades, de nos colocar na parede e nos sufocar às vezes com sua grandeza. Mas, por nossa natureza evolutiva, temos que traçar nossas metas, rever nossos pensamentos, atos, sonhos, projetos, nossa ideologia, seja ela partidária ou não.. (espero que não), contanto que tenha em seu topo nossa identidade, que venha.
O silêncio sepulcral
Sabemos que no espaço não se pode haver barulho em razão do vácuo. E sabemos, também, que é impossível encontrá-lo dentro de nosso meio. de nossas possibilidades, mas não é impossível que apenas tal silêncio seja responsável para rever nossos atos -- então, vamos viver com o que temos, sobreviver em meio a pessoas que singram o mesmo mar que nós, que sonham, que se revelam apaziguadoras, não perturbadoras, e saibamos lidar com elas.
Vamos buscar o silêncio naquele lugar idílico, cheio de amor e paz, a que tanto almejamos quando nos chega a hora mais misteriosa do dia, a alma.
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