sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O Brilho Humano

... Podemos escolher entre trabalhar nossos vícios, debilidades, interesses, enfim, de modo que sejam canalizados em torno de uma causa. O vício pode virar virtude, a debilidade, concentração, consciência, e nossos interesses, elevados, voltados a causas nobres. É dar sempre o primeiro passo, o  qual, em uma linha imaginária, vai titubear, como um bêbado e sempre voltar a ela, por meio de pequenas consequências, as quais nos orientam.

Isso, no entanto, não vai nos nortear eternamente, mas sim a nossa percepção ante a vida, em experiências que vão nos fazer melhores -- ou piores. No nosso caso, em busca do triunfo perdido, estamos tentando nos afastar das amarras e observar mais a vida, refletir sobre ela, sobre o que podemos ou não, mas sempre concatenados com esse ideal. 

O que vai nos nortear de algum modo, na verdade, além da percepção, é o  nosso comportamento, nossos pensamentos, a inclinação natural que temos em relação ao sagrado, até mesmo ao profano. Observá-los, planejá-los, traçar metas, caminhar.  Isso tudo pode ser feito em pequenos testes, como se fôssemos cientistas malucos, na tentativa de conhecer melhor a pessoa e por consequência a nós mesmos.

Posso ilustrar isso por meio de um filme belíssimo, com Robin Willian, em "Pat Adans, o Amor é Contagioso". Em papel inesquecível, Willian é um paciente que teria feito análise em uma clínica para perturbados psicologicamente e lá descobrira sua vocação para lidar com pessoas. Foi atrás desse ideal. Virou estudante de medicina, e quando calouro fazia experiências fantásticas no pátio da faculdade: ele parava o individuo, e dizia, "boa tarde!", isso bem alto, depois escrevia em um pequeno bloco qual a reação daquela pessoa.

Outra parte interessante é que Pat (Robin Willian) não parava quieto e impressionava a todos, que, em seus quartos, estudavam noite a dentro, enquanto ele, sempre em sua práticas campestres, parecia nem pegar nos cadernos: mesmo assim, suas notas eram as melhores, o que causava um pouco de inveja aos supostos estudantes de medicina que não tinham prática humana e se importavam mais com notas do que com pessoas.

Pat adentrava em vários locais proibidos, nos quais apenas os médicos formados, com experiência, tinham passagem. Mas fazia tudo aquilo para buscar mais, entender mais, e ser mais útil ao seus futuros pacientes, fossem eles negros, brancos, pobres ou não, raivosos, e se infiltrava em hospitais sem ser chamado, com a alegria e discrição de sempre -- e conseguia retirar o que queria.

Um dia, entrou naquele hospital um senhor cuja personalidade estava sempre em fúria, e ninguém gostaria de se aproximar dele, muito menos cuidar dele, pois este ofendia o primeiro e o segundo, e o terceiro que o aborrecesse. Mas não contava com o coração de Pat Adans, sua voluveidade, sua paz interna e alegria contagiante, que eram percebidas em seu rosto, e que desarmava a muitos. 

Demorou, mas o aluno de medicina, que não ligava muito para remédios, nem para números de pacientes, mas a seus nomes, entrar e conquistar mais um. Adans, assim como em uma construção, moldou, planejou, persistiu e conseguiu ser o melhor amigo daquele que viam como o paciente "monstro".

Depois de refletir acerca desse filme, posso dizer que isso nos faz melhores; que nada nesse mundo é de um dia para o outro e quando nos referimos a pessoas, seres belos ou não, intrigantes, misteriosos, até mesmo os "cães raivosos", nos passam sentimentos de desistência da vida, simplesmente pelo fato de que desistimos de nós, do próximo e de tudo.

Pat Adans, esse personagem belíssimo, nos belisca e nos acorda e nos faz refletir ao que podemos fazer em relação ao ser humano, não apenas como médicos, mas como aquele profissional que se encaixa em sua profissão e faz questão de ser um pouco melhor todos os dias, pois sabe que a pedra a ser moldada somos nós, ou mesmo ele.

Hoje, em razão desse "esquecimento" involuntário da espécie em direção ao seu ideal, somos mais profissionais que humanos, e assim surgem médicos desumanos, juízes, advogados, atores,  governantes, todos sem finalidade humana, ainda que seu produto a ser trabalhado seja nós e a ele.

Por isso e muito mais que devemos ir atrás do Conhecer a Si Mesmo, como algo que não nos assombra, e sim algo que nos faça nos entender no sentido mais belo e prático da questão, e se não der certo, se não conseguimos, ainda que dentro de nossas possibilidades, voltemos ao degrau anterior e comecemos novamente, pois precisamos dar frutos humanos.





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