Ontem, 8 de abril, fomos a um enterro. Eu e todos do serviço. A mãe de uma caríssima colega partiu. A mobilização foi incrível. Não faltou ninguém. Na capela, familiares desconhecidos para nós; apenas Luciana, nossa amiga, e filha da falecida, a sorrir um sorriso meio trôpego, na tentativa de se aliviar do ocorrido e nos passar, ainda que com dificuldades, o descanso forçoso, natural e quase obrigatório de uma pessoa que amava tanto.
Na lugar, todos de pé a saldá-la, e Luciana, a abraçar a todos, com uma pequena bandeja de chocolates, sendo distribuída por ela, a todos que ali prestavam a última homenagem, ou mesmo uma presença simbólica daqueles que nem mesmo a conheciam, mas que conheciam Luciana e seu esposo.
No momento, passou-me pela cabeça o recente encontro dos meus familiares e amigos no mesmo lugar. Um dos meus irmãos havia morrido, velado e enterrado ali naquele cemitério. A vida é assim.
A bandeja de chocolates, servida pela colega de trabalho, me lembrou alguns filmes americanos, nos quais, em velórios são servidos bolos, tortas, até pizzas, no “último encontro” com o morto. Coisa de americano(?). Bem... Deveria ser! Fiquei sabendo que, mais tarde, a mesma colega teria feito um almoço aos familiares e amigos destes, talvez, pelo mesmo motivo. Respeitemo-la... Contudo, teria eu que me educar em relação a esse comportamento. Acho que determinadas culturas, por mais belas que sejam, por mais progressivas, ou mesmo avançadas, têm a sua cultura, seu modo de lidar com seus mortos – e nós, a nossa. Em respeito, mais uma vez a minha amiga, digo que ela foi excelente recepcionista, mas nunca eu trocaria a religiosidade, a simplicidade, a união, pela idéia que levou americano a servir tortas ou sei lá o quê (com todo respeito, é claro), no enterro do parente... ou seja, prefiro a cultura nossa com toda ignorância que nos deram.
Um pouco mais tarde, fomos levados a partilhar a última caminhada atrás do ente querido que se foi. Muitos que não conheciam a senhora falecida choravam. Outros, retos como postes, caminhavam eretos, mas o coração tremulava como bandeira ao vento – dava pra sentir tudo isso quando se é apenas expectador. Quando se participa da dor, da real dor, fica muito difícil...
No local, muitas lápides, muita gente, muita paz. Fiquei um tanto quanto distante do enterro, junto com um colega. Ali, comentávamos acerca da brevidade da vida... “Não nos esquecemos que a morte é do corpo”, disso eu a ele. Sem falar que, no inicio, eu cumprimentei Luciana dizendo, em tom apaziguador de choro que sua mãe teria ido para o “desconhecido” (!)... Quanta bobagem, pensei! Quem vai refletir sobre isso? Quem vai querer compreender o que significa “desconhecido” naquele lugar em que todos já sabem e tem a certeza de que todos que morrem, principalmente mães, vão para céu?? Caramba, que besteira...! Mas Luciana, minha colega, “supercultaeinformada”, disse “É mesmo...”, além do sorriso expresso no rosto, com coração cheio de mágoas...
Voltando... Perto do local, ainda a filosofar, para variar, falei dos antigos egípcios, que acreditavam na reencarnação. Falei ao colega que olhava os canteiros humanos, do coração daquele que morria e lá julgamento, ao lado dos deuses, perto de uma balança, sentindo a respiração do deus da morte, o Chacal, que o coração do morto era colocado na bandeja juntamente com uma pena, representando a Justiça, a Ordem, a Disciplina Universal, na outra, e que, se o seu coração pesasse mais que a pena, você reencarnaria... Ou seja, sempre. No entanto, o egípcio sabia que reencarnar era mal, pois o mundo, para eles, era apenas um reflexo, uma ilusão, e que a realidade era viver no pós-vida, além de nossas compreensões... O faraó, claro, disse eu, jamais voltaria, pois seu coração era leve tal qual aquela pena... Lindo, não?
Ainda comentei sobre Barqueiro – uma simbologia profunda, na antiga Grécia, da qual, até hoje, tentam tirar algo dela, mas não conseguem; a pessoa morre, é cremada, com seus olhos amarrados em moedas. No portal dos deuses, a pessoa pega uma barca e, ao final da viagem, paga o Barqueiro, e consegue a plenitude. Daqui também se pode lembrar da Barca de Isis, e de muitas outras culturas de simbologias semelhantes.
Enfim, pude me deliciar com outras culturas dentro do âmbito em que nos falam acerca do pos mortem, e pude perceber o quanto o cristianismo derrubou tais culturas e implantou outras absurdas em todo o mundo. A cultura do céu e do inferno, tão sem base, sem estrutura, que não se consegue entender, ainda que se leia tanto, a clássica Bíblia, talvez por que nos tiraram a chave da interpretação... Resultado: todos acreditam em reais céus e reais infernos!... Fazer o quê?
A vida, assim, nos remete a simbolismos acerca de tudo, até mesmo da morte, essa indesejável criatura. Nos remete mais que isso, a livros inteiros – não os de páginas e capas duras – livros belos cuja compreensão somente o sábio sabe ler. Nós, não, ainda temos que ler muuuuuito! E nos reais livros!
Assim, meio que confortável com a conversa, fomos embora, ou melhor, voltamos ao trabalho. Voltamos ao ciclo.
Na lugar, todos de pé a saldá-la, e Luciana, a abraçar a todos, com uma pequena bandeja de chocolates, sendo distribuída por ela, a todos que ali prestavam a última homenagem, ou mesmo uma presença simbólica daqueles que nem mesmo a conheciam, mas que conheciam Luciana e seu esposo.
No momento, passou-me pela cabeça o recente encontro dos meus familiares e amigos no mesmo lugar. Um dos meus irmãos havia morrido, velado e enterrado ali naquele cemitério. A vida é assim.
A bandeja de chocolates, servida pela colega de trabalho, me lembrou alguns filmes americanos, nos quais, em velórios são servidos bolos, tortas, até pizzas, no “último encontro” com o morto. Coisa de americano(?). Bem... Deveria ser! Fiquei sabendo que, mais tarde, a mesma colega teria feito um almoço aos familiares e amigos destes, talvez, pelo mesmo motivo. Respeitemo-la... Contudo, teria eu que me educar em relação a esse comportamento. Acho que determinadas culturas, por mais belas que sejam, por mais progressivas, ou mesmo avançadas, têm a sua cultura, seu modo de lidar com seus mortos – e nós, a nossa. Em respeito, mais uma vez a minha amiga, digo que ela foi excelente recepcionista, mas nunca eu trocaria a religiosidade, a simplicidade, a união, pela idéia que levou americano a servir tortas ou sei lá o quê (com todo respeito, é claro), no enterro do parente... ou seja, prefiro a cultura nossa com toda ignorância que nos deram.
Um pouco mais tarde, fomos levados a partilhar a última caminhada atrás do ente querido que se foi. Muitos que não conheciam a senhora falecida choravam. Outros, retos como postes, caminhavam eretos, mas o coração tremulava como bandeira ao vento – dava pra sentir tudo isso quando se é apenas expectador. Quando se participa da dor, da real dor, fica muito difícil...
No local, muitas lápides, muita gente, muita paz. Fiquei um tanto quanto distante do enterro, junto com um colega. Ali, comentávamos acerca da brevidade da vida... “Não nos esquecemos que a morte é do corpo”, disso eu a ele. Sem falar que, no inicio, eu cumprimentei Luciana dizendo, em tom apaziguador de choro que sua mãe teria ido para o “desconhecido” (!)... Quanta bobagem, pensei! Quem vai refletir sobre isso? Quem vai querer compreender o que significa “desconhecido” naquele lugar em que todos já sabem e tem a certeza de que todos que morrem, principalmente mães, vão para céu?? Caramba, que besteira...! Mas Luciana, minha colega, “supercultaeinformada”, disse “É mesmo...”, além do sorriso expresso no rosto, com coração cheio de mágoas...
Voltando... Perto do local, ainda a filosofar, para variar, falei dos antigos egípcios, que acreditavam na reencarnação. Falei ao colega que olhava os canteiros humanos, do coração daquele que morria e lá julgamento, ao lado dos deuses, perto de uma balança, sentindo a respiração do deus da morte, o Chacal, que o coração do morto era colocado na bandeja juntamente com uma pena, representando a Justiça, a Ordem, a Disciplina Universal, na outra, e que, se o seu coração pesasse mais que a pena, você reencarnaria... Ou seja, sempre. No entanto, o egípcio sabia que reencarnar era mal, pois o mundo, para eles, era apenas um reflexo, uma ilusão, e que a realidade era viver no pós-vida, além de nossas compreensões... O faraó, claro, disse eu, jamais voltaria, pois seu coração era leve tal qual aquela pena... Lindo, não?
Ainda comentei sobre Barqueiro – uma simbologia profunda, na antiga Grécia, da qual, até hoje, tentam tirar algo dela, mas não conseguem; a pessoa morre, é cremada, com seus olhos amarrados em moedas. No portal dos deuses, a pessoa pega uma barca e, ao final da viagem, paga o Barqueiro, e consegue a plenitude. Daqui também se pode lembrar da Barca de Isis, e de muitas outras culturas de simbologias semelhantes.
Enfim, pude me deliciar com outras culturas dentro do âmbito em que nos falam acerca do pos mortem, e pude perceber o quanto o cristianismo derrubou tais culturas e implantou outras absurdas em todo o mundo. A cultura do céu e do inferno, tão sem base, sem estrutura, que não se consegue entender, ainda que se leia tanto, a clássica Bíblia, talvez por que nos tiraram a chave da interpretação... Resultado: todos acreditam em reais céus e reais infernos!... Fazer o quê?
A vida, assim, nos remete a simbolismos acerca de tudo, até mesmo da morte, essa indesejável criatura. Nos remete mais que isso, a livros inteiros – não os de páginas e capas duras – livros belos cuja compreensão somente o sábio sabe ler. Nós, não, ainda temos que ler muuuuuito! E nos reais livros!
Assim, meio que confortável com a conversa, fomos embora, ou melhor, voltamos ao trabalho. Voltamos ao ciclo.
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