quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ser e Envelhecer


“Ser velho é não ter ideais, objetivos, projetos...” LC.


Não sei ainda o que é envelhecer. Mas observo minha mãe, uma senhora de mais de setenta anos, com oito filhos – sete, um já falecido recentemente --, como um grande referencial a ser adotado por mim e por muitos, espero que por todos que a conheçam. Uma diva terrena, firme em suas convicções, que leva a vida como um rolo compressor em cima dos problemas, dos males que vêm e dos que estão por vir.

Sua natureza tão forte adveio de uma infância sofrida, na qual pais e mães – ainda que tão pertos, não puderam dar a ela tudo que necessitava. Muito pelo contrário, teve que trabalhar como doméstica, deixando seu maior sonho pelos cantos – o desejo de estudar, ler, saber, entender, conhecer e ser alguém.

Hoje, ser alguém, tenho a certeza de que independe de querer ser, mas sim pelo caráter demonstrado em caminhos pelos quais passamos. Semelhante um soldado que não perdera a racionalidade em plena batalha... Minha mãe, forte como um touro, religiosa mais que qualquer sacerdote cristão, nos passa uma velhice regada de caráter fibroso. Quem a vê alimenta as esperanças, de paz e amor em sua vida. Não foi preciso, dna. Joseja, o estudo para ser alguém. A senhora é e sempre será alguém, o qual demonstrará a luta pelas mínimas coisas, ainda que não seja regadas de valores maiores do que os nossos, nem os de grande interesse, ainda que não seja relevante, mas que tenha em seu cunho um pouco da sobriedade humana para ser alimentada.

Cícero, o grande orador grego, que soube envelhecer, disse um dia que pedimos a Deus para envelhecer bem, mas não nos contentamos com ela – a velhice – quando nos é chegada. Por quê? Não temos instrumentos – caráter formado desde a juventude para lidar com ela –, e isso nos corrói as entranhas, sendo fortes ou não.

É por isso que se deve alimentar de paz e fortaleza nossas almas, já que pretendemos chegar ao “fim” de nossas caminhadas bem seguro; é por isso que, sempre que pretendemos viver bem, que tenhamos orgulho de todas as idades, principalmente a maior, seja em qualquer âmbito que a considerarmos. Pois não há nada mais belo em nós que passar uma experiência que tenhamos orgulho de nós mesmos.

Quando se é jovem, precisamos mostrar que o somos – sempre falando o que bem quer, passando por experiências inúteis, levando gírias ao nosso pífio vocabulário, se esquivando de problemas que são nossos, correndo em direção ao mal, sorrindo ao nada... Enfim, somos frutos de épocas que não souberam nos educar – e o reflexo dessas imagens só o vemos quando mais velhos --, como se fosse genocídio em massa, mesmo não nos enterrando.

É de invejar aquele que passa por tudo isso e ainda possui o caráter formado, elevado a uma boa educação a ser passada. Esse nos faz acreditar que a vida tem recompensa, e que a evolução existe, pois criamos referenciais, como totens indígenas, lá nos alto, mas com um simbolismo profundo acerca do céu e da terra.

Epílogo

Atualmente, o medo de envelhecer combina-se com o medo da morte. Mas são percalços naturais pelos quais se passa, querendo ou não. Aliás, algumas coisas – as mais importantes – não dependem de nós, humanos. O que criamos sim, talvez, mas, mesmo assim, titubeamos em sua realização. O que quero dizer é que, já que podemos resolver determinados problemas, ainda que difíceis, vamos fazê-lo, não aqueles com os quais lidamos naturalmente, advindo dos deuses. Esses são provas naturais pelos quais temos (ou pelo menos tínhamos) que passar sem mágoas, enfrentando, sorrindo, saboreando a vida tal qual uma criança que cresce, desenvolve-se e vive sua plenitude na velhice – mas não nos tornamos crianças! E sim sábios! Uma condição pela qual nenhum animal ou planta por ela passa, apenas humanos. E envelhecer é isso. Saborear a vida aos poucos, até o presente maior nos seja concebido: a sabedoria de enfrentar a morte como se fosse um brinquedo, uma viagem ou um desprendimento de uma pedra que há muito nos segura pelos pés.

E a velhice seria a ponte entre o homem e o mistério.

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